Sinopse: "Ninguém mais escreve cartas hoje em dia", Marina pensava. Até que um dia uma caiu em suas mãos por engano e mudou o rumo de sua vida. Levou-a ao lugar que ela sempre sonhou. E a conhecer o amor do jeito que nunca imaginou, da forma mais improvável do mundo... (Skoob)GOMYDE, Mauricio. Ainda não te disse nada. Porto 71, 2011. 236 p.
Existem algumas histórias com o poder de sugar o leitor para além daquilo que está escrito; as palavras já não são mais vistas como palavras. O que se vê são imagens, são sorrisos, e até sentimentos. E foi exatamente assim que se desenvolveu Ainda não te disse nada, de Mauricio Gomyde.
Com o sonho de buscar seu futuro no mundo da moda, como estilista, Marina deixa a família e a pequena cidade onde creceu para tentar o mundo em São Paulo. Na escola de moda onde estava matriculada, fez algumas amigas para a vida toda: Francine e Thaís. Assim como também Dona Jane, sua colega de trabalho na agência dos Correios.
Sua rotina não poderia ter outro nome, principalmente porque, todos os dias, seus horários e atividades se repetiam. Até que, por um encontro brevíssimo com Julia - uma cliente da agência onde trabalhava -, tudo mudou. Ela, que pensava que ninguém mais mandava cartas hoje em dia, se vê com uma em mãos, e precisa decidir se assume a incumbência de responder, para não deixar que aquelas belas palavras de Heitor tenham sido registradas em vão. E escrever uma carta de resposta poderia ser muito mais importante para Marina do que ela poderia supor.
"- Ih, desse jeito você nunca vai saber qual é o prazer de escrever... Fechar o envelope... Selar...
Marina acompanhou, de boca aberta, o ritmo das palavras da Dona Jane.
- ... Postar... Esperar a resposta por dias... Receber... Saborear a letra da pessoa... Imaginar o momento em que ela escreveu cada linha - Dona Jane olhou para cima, fechou os olhos, sorriu e continuou, lenta: - Não vai saber como é bom sentir a presença da pessoa ali... Naquele papel [...]" (p. 18)
Com uma narrativa e linguagem simples, Mauricio Gomyde consegue encantar. A proposta do texto também preza pela ausência de complexidade, mas é este aspecto que torna a leitura tão prazerosa. Nas belas frases inseridas nas páginas do livro, pode-se tirar tantas lições quanto se desejar. Mas a principal delas, é sobre a força dos sonhos, especialmente quando se tem os pés no chão.
Os sonhos que Marina não são poucos nem fáceis. Mesmo assim, ela sabe que não pode perder o foco e simplesmente devanear. Ela luta por eles de maneira racional, trabalhada, metódica. E sabe-se que é essa a diferença entre quem apenas sonha e quem busca e consegue realizar.
Apesar de algumas passagens com os personagens secundários estarem ali apenas para mostrar os que se faziam presentes na vida de Marina, sem uma relevância real para a história, eu gostei muito da maioria deles. Os irmãos da protagonista eram especialmente interessantes, ainda mais quando tinham personalidades tão diferentes, como opostos que se complementavam. Francine e Thaís davam um ar de graça à trama, e apesar de não ter criado um vínculo mais aprofundados com as personagens, gostei muito delas.
É impossível deixar de gostar do livro, e eu fiquei suspirando com o final. Ainda que eu soubesse, antes de ler, o que realmente iria acontecer no final por dedução, nada tirou seu brilho. Acho que apenas fiquei querendo mais, aquele epílogo não foi o suficiente para mim. Para os que gostam de um livro leve e um romance fofo é mais do que indicado.