BECKETT, Bernard. Gênesis. Intrínseca, 2009. 176 p.Sinopse: Na ocasião em que a Terra foi arrasada pela Peste, os sobreviventes reuniram-se em uma nova sociedade. Separados do mundo exterior por uma cerca em pleno oceano, vivem em absoluto isolamento – aviões que se aproximam são abatidos; refugiados, executados. Até que um soldado escolhe romper com as regras e, em vez de disparar, resgata das águas uma menina. Seu nome é Adam Forde. Ele muda para sempre o curso da História.
Anaximandra, uma jovem de 14 anos, estudou a fundo esses dados históricos. Numa sala com pouca luz ela está sentada diante de três Examinadores para uma exaustiva prova de quatro horas. Adam Forde, seu herói, morto há bastante tempo, é o tema do exame. Se aprovada, ela será admitida na Academia – a instituição de elite que governa aquela sociedade utópica. Anax, porém, está prestes a descobrir que nem tudo consta dos registros acadêmicos. Há fatos, imagens, arquivos a que nem todos têm acesso. Antes que a avaliação termine, virão à tona o obscuro segredo da Academia e a realidade assustadora daquele admirável mundo novo.
Inquietante e de uma ingenuidade encantadora, Gênesis conduz a um futuro em que antigas – e eternas – questões filosóficas se chocam com o avanço tecnológico – quando o significado de ser humano, ter consciência e ter alma tornam-se questões centrais. (Skoob)
Em um futuro não determinado,
vivendo em uma sociedade evoluída e de total paz, Anaximandra se prepara para
realizar o exame que poderá mudar sua vida: entrar ou não na Academia, sonho de todos os que vivem em sua época. Como
tema de estudo a apresentar para os examinadores, ela escolheu abordar a vida de
Adam.
Adam nasceu em 2058, época da
República de Platão, que havia sido fundada em uma ilha isolada do restante do
mundo com o objetivo de proteger os homens da Guerra e das doenças. Na
República, a sociedade era estratificada de acordo com as capacidades das
pessoas, e as regras eram claras: tudo que viesse do exterior da ilha deveria
ser destruído.
Adam não fazia idéia das
conseqüências que um ato seu teria para a história. Uma noite, fazendo a guarda
do lado sul da ilha, Adam avista um barco com uma pequena garota e, contrário a
tudo o que lhe foi ensinado durante toda a vida, poupa a vida dela,
escondendo-a em uma caverna. Só que os governantes da República querem manter a
todo o custo a frágil estabilidade que instituíram, e o feito de Adam não
estava em seus planos.
"Vocês, humanos, orgulham-se de ter criado o mundo das Ideias, mas nada pode estar mais distante da verdade. A Ideia penetra na mente vinda de fora. Ela muda a mobília de posição para se acomodar com mais conforto. Encontra outras Ideias que ali já residem e trava lutas ou forma alianças. [...] E, então, sempre que surge uma oportunidade, a Ideia envia suas tropas de choque em busca de outras mentes para infectar.[...]" (pág. 111)
"Vocês, humanos, orgulham-se de ter criado o mundo das Ideias, mas nada pode estar mais distante da verdade. A Ideia penetra na mente vinda de fora. Ela muda a mobília de posição para se acomodar com mais conforto. Encontra outras Ideias que ali já residem e trava lutas ou forma alianças. [...] E, então, sempre que surge uma oportunidade, a Ideia envia suas tropas de choque em busca de outras mentes para infectar.[...]" (pág. 111)
Gênesis, de Bernard Beckett, foi, para mim, uma verdadeira frustração. É contraditório afirmar isso, pois o livro foi surpreendente, ousado e inesperado, mas eu quis tanto mais dele que me senti decepcionada. O livro é bom, não me entendam mal; mas minhas expectativas eram outras, e a história me levou por caminhos tão arrebatadores que me sinto até culpada de não ter gostado. Já sentiram isso?
A narrativa de Beckett, nesta obra, se dá de maneira singular. Quase como uma peça de teatro, o autor intercala cenas que todos os presentes vêem, como uma narração, momentos de fala, citando antes do dito o nome da pessoa que o diz, e também pensamentos de Anaximandra, que muda todo o foco. Essa mistura foi não usual, diferente e nada complicada. As informações foram dadas aos poucos, o que, junto à escrita fantástica do autor, nos deixam hipnotizados pela história. No início, não sabemos nem ao menos o que seria a Academia, Adam ou a República, vamos descobrindo conforme a personagem apresenta os dados coletados aos examinadores.
O ponto alto da história, definitivamente foi a filosofia subentendida em cada fala de Adam, que buscava explicar principalmente a pergunta estampada na capa do livro: O que realmente significa ser humano? Diferente do que imaginei que seria, não se torna cansativo ou maçante: é profundo, mexe com nossas mais arraigadas concepções. Várias citações lindas ou inteligentes podem ser anotadas das menos de 160 páginas do livro, e isso me encantou.
Mas como eu citei, nem tudo me agradou. Achei que o autor iria passar mais da vida de Adam, da relação entre ele e a garota que salvou, das consequências que ISSO traria à história. Escrevi "isso", em caixa alta, exatamente porque é aí que não vemos as consequências, já que o caminho traçado a partir dessa ruptura é totalmente outro. É esse ato que muda a história, mas eu fiquei esperando por mais informações que não vieram. Queria saber mais sobre a vida fora da ilha, como aconteceu a citada grande guerra, o que aconteceu à garota salva por Adam, entre várias outras coisas que, obviamente para quem leu o livro, ficaram abertas.
Espero que esta resenha não tenha ficado extremamente confusa, mas não queria soltar algum spoiler e estragar a surpresa que pode ser o que fará o livro bom para quem ler.
Espero que esta resenha não tenha ficado extremamente confusa, mas não queria soltar algum spoiler e estragar a surpresa que pode ser o que fará o livro bom para quem ler.