Especial #17: Melhores de 2014

Pela primeira vez na história do Conjunto da Obra, todos os integrantes do blog conseguiram se reunir para falar, juntos, de livros!

E o tema da vez é: quais foram as melhores leituras de 2014?

Vamos descobrir quais as melhores leituras de 2014, segundo o ponto de vista de cada membro dessa equipe?




Aristóteles e Dante Descobre os Segredos do Universo: a primeira coisa incrível desse livro é, sem sombra de dúvidas, o nome. Como curso Ciência e Tecnologia, tudo que envolve esse ramo da filosofia que também abrange a física, metafísica e astronomia me interessa. Assim que vi esse título, já estava ligeiramente apaixonada. Mas o mais incrível de tudo é a forma como esse livro, que conta de uma forma bem simples e leve o dia-a-dia de dois adolescentes que estão descobrindo sua sexualidade num meio caótico envolvendo famílias problemáticas, lembranças e segredos, me surpreendeu e mexeu comigo. É uma história linda sobre amor e, acima de tudo, companheirismo.
Memórias de Uma Gueixa: acho que, de todos os livros que li na vida, esse foi o que mais tive vontade de ler. Tanto que, quando finalmente consegui um exemplar para minha coleção (que é um dos mais especiais de todo, já que foi o meu amor que me deu), fiquei com tanto medo de lê-lo e me decepcionar que o peguei já com dor no coração. É claro que ele não deixou nem um pouco a desejar e também é claro que se tornou um dos meus livros preferidos da vida. Arthur Golden nos apresenta uma garotinha de nove anos que é vendida para um okiya, após a morte da sua mãe. A partir daí conhecemos todos os detalhes, até mesmo os mais sujos, da vida de uma gueixa. É simplesmente incrível.





Trash foi, para mim, a melhor leitura de 2014. O livro conseguiu unir o drama de três garotos que vivem no lixão, sem ser apelativo, a uma aventura emocionante em busca de um segredo que pode mudar a vida deles e de mais uma dezena de pessoas. Raphel, Gardo e Rato conquistam o leitor através de suas ações rodeadas por um ideal ingênuo de justiça e lealdade. Depois de muitas situações perigosas, a história termina de forma melancólica e alegre, dando um sopro de esperança sobre a vida de pessoas que sobrevivem em uma condição sub-humana, mas que são mais honestas e confiáveis do que aqueles que governam politicamente o país e moram em palácios de soberba e corrupção.






Minhas leituras este ano foram em geral levinhas, bobas até, mas a maioria me fez grudar nas páginas, pois foram boas surpresas. Um dos livros que comecei a ler despretensiosamente e que me conquistou por completo foi Olho por Olho, de Jenny Han e Sobhan Vivian, assim como sua sequência, Dente por Dente. É uma história um pouco adolescente, mas com um lado sombrio que dá um equilíbrio ótimo à trama e, quando percebi, já estava até os dedos dos pés envolvida. Além disso, o último livro lançado, Dente por Dente, termina de uma maneira tão inesperada que estou há meses esperando que terceiro livro seja logo publicado. Ao mesmo tempo em que diverte, dá medo! É uma delícia!
Não é muito difícil descobrir o mistério por traz de O segredo do meu marido, de Liane Moriarty, mas na verdade não é isso que faz do livro tão gostoso de ler. São as possibilidades com as quais a autora brinca, as consequências de cada pequeno ato, os "e se..." de nossas vida. Além disso, a escrita da autora tem um quê especial, uma mistura de humor, drama e ironia, algo que não dá de definir com palavras ou explicações. Não é um livro que tenha algo específico e especial, mas uma mistura de elementos que me fizeram refletir bastante.





O Diário de Suzana para Nicolas - James Patterson. É sempre muito difícil escrever sobre as melhores leituras, mas "O Diário de Suzana para Nicolas" não poderia ficar de fora. Uma das mais emocionantes leituras deste ano, fiquei realmente muito surpresa com o final do livro e com a sensibilidade do autor (tão conhecido por romance policiais). James Patterson me conquistou justamente pela carga dramática e romântica da história, e foi impossível não chorar. O livro (como o próprio nome sugere) é boa parte escrito em forma de diário de uma mãe para seu filho, e acompanhar o redescobrimento da protagonista, a paixão que o casal tem, o amor incondicional pelo filho e as pequenas coisas que nos são descritas foi realmente cativante. Eu marcaria "O Diário de Suzana para Nicolas" como a mais emocionante e bonita leitura do ano <3 Para os favoritos? (i)Magina'. Leiam, leiam, leiaaam.
Os Contos de Beedle, O Bardo - Rowling. Para quem gosta de Harry Potter é maravilhoso. Dos três livros da Biblioteca de Hogwarts, "Os Contos de Beedle, o Bardo" é o meu favorito. É o livro onde mostra as Relíquias da Morte (O Conto dos Três Irmãos) e é muito esclarecedor. Para quem não sabe, "Os Contos de Beedle, O Bardo" é o livro que Dumbledore presenteia Hermione no último livro da saga e que possui importância magnífica. O livro é mega levinho e rápido de ler, e para os fãs de HP é livro indispensável. Uma das melhores leituras do ano, sem dúvidas <3




E vocês, já leram algum desses? Quais leriam?

Um grande beijo de todos os integrante do Conjunto da Obra e o mais sincero desejo de que 2015 comece MUITO BEM, ok?

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Garota Exemplar - Gillian Flynn

Sinopse: Uma das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise. Com 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo – o maior sucesso editorial do ano, atrás apenas da Trilogia Cinquenta tons de cinza –, "Garota Exemplar" alia humor perspicaz a uma narrativa eletrizante. O resultado é uma atmosfera de dúvidas que faz o leitor mudar de opinião a cada capítulo. Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi. Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião pública – e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy –, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo, e sem dúvida amargo, mas seria um assassino? Com sua irmã gêmea Margo a seu lado, Nick afirma inocência. O problema é: se não foi Nick, onde está Amy? E por que todas as pistas apontam para ele? (Skoob)

FLYNN, Gillian. Garota Exemplar. Intrínseca: 2013. 448 p.


Quando Nick e Amy se conhecem, sentem uma conexão que os leva ao casamento. O primeiro beijo que trocam retrata de forma literal a maneira doce e romântica com que iniciam o relacionamento.

“Quando viramos a esquina, uma padaria está recebendo um carregamento de açúcar a granel, levando-o para o porão como se fosse cimento, e não conseguimos ver nada além das silhuetas dos entregadores na nuvem branca e doce. (...) Seus cílios estão cobertos de açúcar, e antes de se inclinar ele limpa o açúcar dos meus lábios para poder sentir meu gosto.”

Ele é jornalista de cultura pop (filmes, séries, livros, etc); Amy escreve testes de personalidade, mas sua principal renda vem dos pais, Rand e Marybeth, os dois autores de uma séria famosa de livros infanto-juvenis chamados de Amy Exemplar. Todos pensam que as histórias da personagem são baseadas nas experiências da filha deles, mas Amy é o oposto da perfeição da Amy dos livros. Ela não joga tênis, não toca piano, nem é tão inocente, entretanto seu brilho e a fixação que deixa por onde passa é igual.

“Tenho um ligeiro déficit de atenção, e sempre achei minha esposa um tanto ofuscante, no sentido mais puro da palavra: perder a visão clara, especialmente, ao olhar para uma luz brilhante. Era suficiente estar perto dela e ouvi-la falar, nem sempre importava o que ela estava dizendo. Deveria, mas não importava.”

Por causa da explosão da Internet, os dois são demitidos de suas respectivas funções. Não há mais lugar para jornalistas de papel. Graças ao dinheiro de Amy, os dois passam a viver de ociosidade no apartamento de Nova York. E a ociosidade é um inimigo que consome e revela a avareza dos sentimentos humanos.

A situação piora quando descobrem que Rand e Marybeth também são demitidos, por causa das baixas vendas dos livros, e gastaram praticamente todo o dinheiro. Assim, quando Margo, ou Go, a irmã de Nick, liga e avisa que a mãe dos dois está morrendo de câncer, ele decide deixar tudo para trás e arrastar Amy para a cidade natal, North Carthage, no Missouri, para ajudar Go a cuidar da mãe. Uma cidade pequena, sem conhecidos, é um acréscimo perigoso à falta do que fazer.

Nick usa os últimos recursos financeiros que possuem e compra um bar, onde Go o ajuda a cuidar dos clientes. Amy passa os dias em casa.

Então, um dia, o vizinho telefona e avisa Nick que o gato de Amy está na rua e a porta da frente da casa aberta. Quando ele chega para ver o motivo, se depara com os móveis da sala revirados, vidro quebrados e o desaparecimento de Amy.

A autora consegue fazer o leitor ter sentimentos contraditórios em relação a Nick e Amy. Você começa sentindo simpatia; depois, desconfiança, antipatia, estranheza, incredulidade, raiva e pena. Falar o motivo seria comentar os vários pequenos segredos, que não chegam a ser realmente surpreendentes, porque a autora distribui as pistas no decorrer de toda a história e não apenas no fim, e estragaria o prazer da leitura.

A sinopse faz referência a um casamento em crise. Considero que é uma descrição muito superficial e que conduz a um raciocínio que não chega nem perto do que a história realmente transmite.

“Senti minha alma murchar. Amy estava usando a caça ao tesouro para nos reaproximar. E era tarde demais. Quando escreveu aquelas pistas, ela não tinha ideia do meu estado de espírito. Por que, Amy, por que você não fez isso antes? Nosso timing nunca foi bom.”

Os capítulos são alternados pela narração dos fatos em primeira pessoa por Nick, e pela leitura do diário de Amy. É fácil identificar pequenos traços de comportamentos fora do normal em ambos. Aos poucos, é possível perceber que existe algo de errado. Ao fim do livro, depois que conheci toda a história e o que cada personagem é realmente capaz, não consegui decidir o quanto de irreal eles são.

“Amigos enxergam a maioria dos defeitos um do outro. Cônjuges enxergam cada horrível pedacinho deles.”

Sociopatia não é uma doença incomum hoje em dia, principalmente com a facilidade que ela pode ter para se desenvolver com o uso da Internet. Uma pessoa com esse problema pode ter sua compulsão sem ser descoberta. E quando alguém com essa doença encontra uma outra pessoa que não possui uma personalidade forte o suficiente para se impor, mais, que por causa de sua deficiência em ser, prefere deixar que o outro controle a situação, formam um casal perfeito, mas doente. Não se trata de manter um casamento estável, mas sim de não perder a sanidade mental. Nick e Amy não são um casal em crise, mas duas pessoas terrivelmente doentes que encontraram na companhia um do outro a desculpa para se isolarem dentro de seu mundo deturpado.

“Eu reconheceria sua cabeça em qualquer lugar. E o que havia dentro dela. Também penso nisso: sua mente. Seu cérebro, todas aquelas espirais, e seus pensamentos disparando por essas espirais como centopeias rápidas e frenéticas. Como uma criança, eu me imagino abrindo seu crânio, desenrolando seu cérebro e vasculhando-o, tentando capturar e entender seus pensamentos. No que você está pensando, Amy? ”

Garota Exemplar é um livro muito bem escrito. Possui vários pontos falhos de raciocínio, principalmente na distribuição das pistas e nas suas explicações. Tanto que em certo ponto, uma delas é justificada apenas com o pressentimento do personagem. A solução final é apressada e esquece de explicar coisas que qualquer detetive obtuso iria investigar. Ao contrário do fim, as primeiras cem páginas são muito arrastadas, com explicações demais, e eu quase desisti da leitura e passei outro livro na frente, mas depois ele melhora e acaba convencendo.

Seja persistente que vale a leitura. ;)

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Eleanor & Park - Rainbow Rowell


Sinopse: Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e “grande” (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo. (Skoob)
ROWELL, Rainbow. Eleanor & Park. Novo Século: 2014. 328 p.


Primeiro, vocês precisam saber que esse não é mais um caso de amor à primeira vista, se é que vocês acreditam mesmo nisso... Quando a garota nova, toda estranha e de um cabelo muito ruivo e cacheado, entra no ônibus tentando em vão não chamar muita atenção, a primeira coisa que Park pensa é se manter longe dela. Mas eis que surge um problema: não há lugar disponível no ônibus se não o que está ao lado dele, e é aí que essa estória de um amor nada perfeito começa.

Apesar de se encontrarem todos os dias, não trocam uma palavra. Park, que é viciado em quadrinhos, os lê dentro do ônibus e percebe que Eleanor tenta lê-los despistadamente. A partir daí ele começa a levar uma série de gibis para ela todos os dias, num silêncio absoluto, e demora um certo tempo para eles começarem a se falar. Mas quando começam... 

Eleanor é a irmã mais velha de uma família grande e muito desestruturada: mora com o padastro agressivo, uma mãe submissa e mais quatro irmãos pequenos. Não bastasse isso, é alvo de chacotas por qualquer lugar que passe. Park, apesar de viver em um ambiente aparentemente comum, o fato de ser mestiço (sua mãe, além de super protetora, é asiática) o incomoda bastante. Como o livro se passa na década de 80, devemos levar em consideração que o bullying era considerado, digamos, normal.

Era muito raro encontrar alguém assim, ele pensava.
 Alguém pra amar para sempre; alguém que
 também o amaria para sempre. E o que fazer quando 
essa pessoa nasce meio mundo distante?

Ao longo dos capítulos vamos acompanhando o amadurecimento do relacionamento dos protagonistas. Após certo tempo, Eleanor passa a frequentar a casa de Park praticamente todos os dias. Apesar de uma certa rejeição da mãe do garoto no início, justamente por ela ser um pouco diferente das garotas normais (por exemplo, o fato de ela usar roupas mais largas a incomoda bastante), a família acaba recebendo a menina de braços abertos. 

Ai gente, toda vez que ela tinha que voltar para casa me doía o coração. Era muito difícil ver o jeito que ela vivia dentro daquele lugar. Só para vocês terem ideia, nem escova de dentes ela tinha. Além disso, dormia em um quarto minúsculo com todos os irmãos e tinha aguentar os frequentes surtos do padrasto, que agredia a mãe sempre que tinha a menor oportunidade. 

O que mais gostei em Eleanor & Park não foi o romance propriamente dito, e sim a quantidade de realidades que foram retratadas, se é que dá para entender essa minha expressão. Não é mais uma história de uma garota que tem baixa auto estima (por motivo algum, diga-se de passagem) que se apaixona pelo mocinho, é um romance real, cheio das qualidades, mas também dos defeitos. E não é só romance. Há também toda a verdade por trás das famílias aparentemente perfeitas e toda crueldade das que já sabemos que não são. 

O livro, além de trazer uma estória extremamente linda, conta com uma infinidade de referências musicais (só de ter Beatles-meus-amores-da-minha-vida, já dá para vocês terem uma noção) e literárias impecáveis. Eleanor & Park é um livro para quem é munido de nenhum preconceito e portador de toda a sensibilidade do mundo. Com uma narrativa deliciosa, Rainbow Rowell conquistou cada pedacinho do meu coração, da mesma forma que espero que conquiste os seus.


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O lado mais sombrio - A. G. Howard

Sinopse: Alyssa Gardner ouve os pensamentos das plantas e animais. Por enquanto ela consegue esconder as alucinações, mas já conhece o seu destino: terminará num sanatório como sua mãe. A insanidade faz parte da família desde que a sua tataravó, Alice Liddell, falava a Lewis Carroll sobre os seus estranhos sonhos, inspirando-o a escrever o clássico Alice no País das Maravilhas. Mas talvez ela não seja louca. E talvez as histórias de Carroll não sejam tão fantasiosas quanto possam parecer.
Para quebrar a maldição da loucura na família, Alyssa precisa entrar na toca do coelho e consertar alguns erros cometidos no País das Maravilhas, um lugar repleto de seres estranhos com intenções não reveladas. Alyssa leva consigo o seu amigo da vida real o superprotetor Jeb , mas, assim que a jornada começa, ela se vê dividida entre a sensatez deste e a magia perigosa e encantadora de Morfeu, o seu guia no País das Maravilhas.
Ninguém é o que parece no País das Maravilhas. Nem mesmo Alyssa... (Skoob)
HOWARD, A. G. O lado mais sombrio. Splintered #1. Novo Conceito Editora, 2014.


Eu sempre tenho minhas desconfianças quando um livro é publicado com muito alarde. Não que ele não possa ser bom só por causa dessa avalanche midiática, mas a tendência é de que as expectativas fiquem lá em cima e a leitura seja frustrante. Mesmo assim, a capa linda de O Lado Mais Sombrio e o fato de ser uma releitura de um clássico me convenceram a não esperar muito e iniciar logo a leitura do livro escrito por A. G. Howard. Sinceramente? Arrependo-me de não ter lido antes.

Nunca fui fã de Alice no País das Maravilhas, confesso. A história de Lewis Carroll sempre foi maluca demais para minha cabeça lógica, e eu sempre empacava em alguns pontos que deixavam de ter sentido. Achei que essa era uma impressão que havia impregnado em mim desde criança, e que talvez pudesse ser mudada, mas mesmo com a nova versão do filme em 2010, por exemplo, a impressão se manteve.

Só que O lado mais sombrio é uma visão completamente nova sobre a obra: é contemporâneo, e Alyssa, protagonista desta releitura, poderia ser como qualquer adolescente, não fosse o fato de ouvir plantas e insetos. Essa singularidade é algo que assombra todas as mulheres descendentes de Alice Lindell, a garota que inspirou o livro de Carroll. Para salvar sua mãe e a si mesma da loucura, Alyssa precisa encontrar o País das Maravilhas e desfazer todos os erros de Alice, a única forma de quebrar a maldição.

"Depois da morte da mãe, Alison foi criada por uma variedade de parentes. Meu pai acha que essa instabilidade contribuiu para sua doença. Sei que é mais do que isso, sei que é algo hereditário, por causa dos meus pesadelos recorrentes e dos insetos e plantas. E ainda há a presença que sinto por dentro. Aquela que vibra e me obscurece quando estou com medo ou hesitante, me incitando a ir além dos meus limites." (p. 24)

O livro é descrito em primeira pessoa pela protagonista, e o tom juvenil fica claro durante a narrativa. Neste aspecto, a autora conseguiu alcançar o tom certo, já que, ao mesmo tempo que Alyssa se embrenhava em uma aventura num mundo desconhecido, ela descobria a si mesma, sua força, e vivia seu primeiro amor com a maturidade de uma garota da sua idade.

O País das Maravilhas é tão “problemático” quanto eu lembrava. Os seres são diferentes, desconhecidos, e isso deixa o leitor apreensivo, já que não se sabe o que esperar. Da mesma forma, não se sabe em quem confiar. A “Lagarta” não é nada como poderíamos imaginar, e não se sabe se seus conselhos servem para ajudar ou têm um objetivo diferente do que parecem ter. É como se, durante toda a história, Alyssa precisasse tomar cuidado, já que nem tudo é o que parece.

"[...] Às vezes penso que não estou sozinha em minha própria cabeça, que há partes de outra pessoa lá dentro, alguém que me incita a seguir além dos limites." (p. 16)

Essa incerteza, porém, é o que dá mais charme ao enredo, visto que a curiosidade fica aguçada para que se desvende os segredos, para ver onde a trama levará. Howard conseguiu recriar o País das Maravilhas sem perder a essência, mas com um olhar inovador. Um olhar mais sombrio, meio gótico, que pode transformar todas as Maravilhas do mundo de Carroll em algo amedrontador.

As aventuras de Alyssa são inconstantes, imprevisíveis, devastadoras... e apaixonantes. Também pudera, se a garota tem dois personagens tão diferentes e opostos como companhia. Jebediah é o porto seguro, o amigo que sempre esteve ao seu lado, aquele por quem sempre foi apaixonada, aquele com quem sempre pode contar, racional e maduro - mas que namora outra garota. Pelo olhar de Alyssa, não se pode ficar imune ao encanto de Jeb. Do outro lado, Morfeu é instável, arrogante, desleal, mas tem um passado e um comportamento que conseguem derrubar as barreiras de Alyssa. É ele também o responsável por despertar o lado negro da protagonista.

"Jeb é estável, forte e genuíno - meu cavaleiro em sua armadura reluzente. Morfeu é egoísta, suspeito e sublime - o caos encarnado. Impossível comparar.
E aqui estou eu, a união de tudo isso. A luz e a escuridão ao mesmo tempo. Caso eu cedesse a um de meus lados, será que eu teria de abdicar do outro? Meu coração dói ao pensar nisso. De alguma maneira, sinto que preciso dos dois para estar completa." (p. 269)

Fiquei fascinada pelo novo País das Maravilhas criado por Howard. A narrativa rica em detalhes, as descrições de seres diferentes e assustadores, as paisagens exuberantes e a lógica do enredo, envolveram-me por inteiro nessa fantasia. O final foi quase perfeito, não fosse um pequeno detalhe que ficou em aberto, mas a história poderia terminar por aqui mesmo. Ainda assim, a trama é tão viciante que, no mesmo dia que terminei a leitura, corri para ler A mariposa no espelho, que nos dá apenas mais um pouquinho de Jeb e de Morfeu. E, agora, Atrás do Espelho me aguarda.



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Especial #16: Desejos de Um Feliz Natal

http://brunaconstantino.blogspot.com.br/
2014 foi um ano inusitado. Coisas que eu nunca esperei aconteceram, coisas que eu nunca pensei ter coragem de fazer foram feitas. Algumas coisas por impulso, algumas pela vontade racional, outras por necessidade. Foi um ano maravilhoso, que, também com seus problemas e dores, ajudou-me a crescer muito. Eu saio mais forte de 2014. Muito mais forte. Eu tenho uma segurança com minha vida que nunca pensei que viria a ter e, sinceramente, isso é maravilhoso.

Refletindo sobre esse ano, e com essa energia do Natal que paira no ar por esses dias, eu precisei escrever algo. Não é a primeira vez que essa vontade de simplesmente falar sobre tudo e sobre qualquer coisa me vem nessa época, e aqui está a prova. Mas, de alguma forma, há algo ainda mais especial desta vez.

O Conjunto da Obra cresceu. Além de novas parcerias, ele agora tem uma família maior para cuidar dele. E eu não poderia ter sido mais realizada na escolha de cada um dos membros dessa nova equipe, que vem me surpreendendo e fazendo desse espaço melhor a cada dia, com uma dedicação e atenção que eu não poderia esperar. Agradeço e agradecerei sempre à Ana Clara, ao Carlos e à Sofia, que tornaram possível manter esse blog nos momentos mais difíceis de 2014.

Agradeço ainda mais aos leitores que sempre visitam aqui. Esse espaço é feito para vocês, e cada postagem é organizada com cuidado para que vocês queiram ler e tenham sempre vontade de voltar. Meu desejo maior é que vocês consigam sentir o carinho depositado aqui a cada palavra.

Por todas as minhas alegrias esse ano, pessoais, profissionais e também no blog, quero mais do que nunca desejar que o papai noel traga muitas alegrias a todos vocês, e que seus corações se encham de amor e paz, como o meu está neste momento. Que terminem o ano realizados, que consigam alcançar cada um de seus objetivos e tenham a sensação de dever cumprido. E que os momentos em família ou com os amigos venham cheios de carinho daqueles que amam.

Mas, ainda para aqueles que o natal possa não ser tão perfeito, é bom pensar que 2015, um novo ano, se aproxima, e uma nova oportunidade começará. Que tal fazê-lo ainda melhor?

Obrigada por tudo, a todos. Que Deus os ilumine e que sempre, sempre, sejam cheios de luz para superar as dificuldades e saborear as vitórias.

Um grande beijo e muitos livros,



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A probabilidade estatística do amor à primeira vista - Jennifer E. Smith

Sinopse: Com uma certa atmosfera de Um dia, mas voltado para o público jovem adulto, A probabilidade estatística do amor à primeira vista é uma história romântica, capaz de conquistar fãs de todas as idades. Quem imaginaria que quatro minutos poderiam mudar a vida de alguém? Mas é exatamente o que acontece com Hadley. Presa no aeroporto em Nova York, esperando outro voo depois de perder o seu, ela conhece Oliver. Um britânico fofo, que se senta a seu lado na viagem para Londres. Enquanto conversam sobre tudo, eles provam que o tempo é, sim, muito, muito relativo. Passada em apenas 24 horas, a história de Oliver e Hadley mostra que o amor, diferentemente das bagagens, jamais se extravia. (Skoob)

SMITH, Jennifer E.. A probabilidade estatística do amor à primeira vista. Galera: 2014. 224 p.

Por quatro minutos, Hadley, uma garota de 17 anos, perde seu voo para a Inglaterra, onde o pai vai casar com uma mulher que ela não conhece e nem aprova. Consegue outro voo, só que terá de esperar quase 4 horas no aeroporto, o que significa que pode não chegar a tempo para o casamento.

Por quatro minutos, Hadley conhece Oliver, um garoto de 18 anos, que também está indo para a Inglaterra, que oferece ajuda para carregar sua bagagem e que está no mesmo voo que ela, sentado bem ao seu lado.

Durante as horas seguintes, até desembarcarem na Inglaterra, eles se apaixonam. Conversam sobre seus pais, seu passado, planos para o futuro e, principalmente, adoráveis trivialidades. Só que Hadley está indo para um casamento, e Oliver está indo... bem, para outro compromisso, cuja similaridade é que também envolve o pai.

“Parece impossível que tenha gostado de alguém como Mitchell quando existia uma pessoa como aquele garoto no mundo, alto e elegante, com os cabelos desarrumados, olhos verdes e mostarda no queixo, como se fosse uma pequena imperfeição que faz com que o quadro todo fique mais bonito”

Jennifer E. Smith sabe como criar conversas inofensivas e ao mesmo tempo instigantes entre Hadley e Oliver. Elas são doces, meigas, fazem o coração bater mais forte. A cada beijo roubado, ou não, de Oliver em Hadley, não há como não sorrir ou suspirar. Não há como não se apaixonar pelo casal.

E o livro funciona muito bem nesse sentido.

Entretanto, Smith parecia não saber disso enquanto escrevia.

A narrativa é em terceira pessoa, mas ficamos apenas sabendo o que Hadley pensa ou sente. Oliver é uma incógnita para o leitor. Também apenas acompanhamos os acontecimentos de Hadley, nunca de Oliver. Fica estranho. Seria mais natural se a narrativa fosse em primeira pessoa, feita por Hadley.

“Fica tão surpresa em vê-lo quanto ele ficou em vê-la na igreja mais cedo, e sua chegada repentina e inesperada a deixa fora de si, faz seu estômago revirar, acaba com o resto de compostura que ainda tem, destrói seu autocontrole. Ele chega devagar, quase perdido no meio das sombras por causa do terno escuro até que a luz do hotel  o envolve por completo.
– Oi – diz Oliver, quando está mais perto, e, pela segunda vez, naquela noite, ela começa a chorar.”

Os melhores momentos do livro, conforme disse à pouco, são quando Hadley e Oliver estão juntos. Eu precisei fazer algo de que vocês vão rir: contei as páginas em que isso acontece. Das 222 páginas, eles aprecem juntos em apenas 72! O resto do livro é praticamente todo sobre o drama que Hadley faz pelo casamento do pai com a nova mulher. Como não há motivo para tanto drama, uma vez que o pai ama a nova esposa, e a mãe não ficou triste com a separação, pelo contrário, aceitou e até arrumou um namorado de quem gosta, a história fica maçante, e eu me vi pulando páginas à procura de quando Oliver iria aparecer novamente.

O que descobrimos é que o drama de Hadley sobre a nova vida do pai se deve à sua imaturidade e insegurança, condizentes com sua juventude. É aquele egoísmo de perdermos nosso ponto de referência paterno. Ela sabe que o pai e a mãe estão felizes com a nova situação, mas ela mesma não está, sente-se traída, deixada de lado.


“– É aquela velha história – disse o pai – , se você ama alguém, deixe que se vá.
– E se não voltar?
– Alguns voltam, outros não – respondeu e apertou o nariz da filha. – Eu sempre vou voltar.
– Mas você não tem luz – explicou. O pai sorriu.
– Quando estou com você, tenho sim.”

Quando descobri o motivo de Oliver ter ido para a Inglaterra, aí fiquei mais confuso, porque o drama dele com o pai é infinitamente mais interessante do que o de Hadley, e, no entanto, em momento algum é explorado.

A leitura de A probabilidade estatística do amor à primeira vista é deliciosa nas 72 páginas em que acompanhamos a descoberta desse sentimento por Hadley e Oliver. No fim, fiquei com a sensação de ter um delicioso chocolate na mão, mas só poder dar uma mordida e jogar o resto fora. Fica aquela vontade de mais.

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Promoção: A Verdade Sobre Nós


A verdade sobre nós tem uma premissa clichê, mas não se resume a isso, e me vi completamente mergulhada na história.

A partir de hoje, junto à Editora Intrínseca, o Conjunto da Obra irá presentear também um leitor com um exemplar do livro em uma promoção!

Para participar é simples: basta seguir o blog  Conjunto da Obra pelo Google Friend Connect (clicar em "Participar deste site" na barra lateral direita) e preencher essa entrada no formulário. Depois, várias outras entradas serão abertas, para quem quiser ter ainda mais chances.

a Rafflecopter giveaway

As inscrições serão feitas por meio da ferramenta Rafflecopter. Para os que ainda têm dúvidas sobre como utilizá-la, podem ver este tutorial aqui. As inscrições são válidas até dia 15 de janeiro, e o resultado será divulgado em até 7 dias, neste mesmo post.

Após o resultado, o Conjunto da Obra entrará em contato com o vencedor por e-mail, que deverá ser respondido em até 48 horas. O exemplar será remetido pela Editora Intrínseca.


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Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo - Benjamin Alire Sáenz


Sinopse: Dante sabe nadar. Ari não. Dante é articulado e confiante. Ari tem dificuldade com as palavras e duvida de si mesmo. Dante é apaixonado por poesia e arte. Ari se perde em pensamentos sobre seu irmão mais velho, que está na prisão. Um garoto como Dante, com um jeito tão único de ver o mundo, deveria ser a última pessoa capaz de romper as barreiras que Ari construiu em volta de si. Mas quando os dois se conhecem, logo surge uma forte ligação. Eles compartilham livros, pensamentos, sonhos, risadas - e começam a redefinir seus próprios mundos. Assim, descobrem que o amor e a amizade talvez sejam a chave para desvendar os segredos do Universo. (Skoob)
SÁENZ, Benjamin Alire. Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo. Seguinte: 2014. 392 p.  


É sempre muito complicado para mim falar das coisas que eu odeio, mas às vezes eu acho que falar das coisas que eu gosto demais pode se tornar extremamente mais difícil. A primeira coisa que me conquistou nesse livro, logo de cara, foi o título. Achei a coisa mais incrível do mundo e foi daí que surgiu a minha vontade de lê-lo. Não quis ler sinopse, resenhas, nem nada relacionado ao livro, ou seja, a história foi uma total surpresa para mim.

O livro, que se passa em 1987, narra a história de dois garotos com nomes e personalidades bem diferentes, Aristóteles e Dante, mas que acabam se tornando amigos de uma forma muito doce e rápida. Narrado pelo ponto de vista do Ari, o livro leva o leitor para o mundo que é a cabeça de um adolescente de 15 anos que não tem nenhum amigo.. Para a sorte do Ari, isso muda quando, em uma tarde ensolarada na piscina, Dante aparece em sua vida.

Saénz consegue retratar de uma forma bem simples e bonita tudo o que se passa na cabeça de adolescentes que ainda estão se descobrindo. É claro que essas descobertas envolvem temas polêmicos (não para mim, mas para a sociedade, o que eu acho um absurdo) como homossexualidade, mas também temas muito comuns que atingem até as pessoas com a vida mais "perfeita", como problemas familiares e a temida distância. 

Todos esperavam algo de mim. Algo que eu simplesmente não podia dar.
Então passei a me chamar Ari.
Se tirasse uma letra, meu nome seria Ar.
Achava que devia ser ótimo ser o Ar.
Eu poderia ser alguma coisa e nada ao mesmo tempo. 
Ser necessário e invisível. 
Todos precisariam de mim e ninguém conseguiria me ver.

A família de ambos os personagens tem um papel super importante na história. É incrível a maneira como cada família, apesar de serem totalmente diferentes, tem o amor pelos filhos como ponto em comum. E vejam bem, esse amor é um ponto crucial para Dante e Ari que fazem escolhas o tempo todo e têm o total apoio dos pais. 

É inegável o quanto Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo mexeu comigo. Em partes porque a história é realmente linda, mas também porque eu convivo diariamente com o tipo de realidade de Ari e Dante e sei de todas as dificuldades. A maneira como Saénz trabalha isso é formidável. Me emocionei demais em vários trechos e antes mesmo de ter terminado, já soube que seria um favorito.

Como o próprio nome sugere, o livro se trata de descobertas. É uma obra totalmente original e com muito mais do que aparenta ter. Além de nos fazer conhecer as dúvidas dos personagens, nos instiga a tentar descobrir, também, os segredos do nosso próprio Universo.

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A verdade sobre nós - Amanda Grace


Sinopse: Madelyn Hawkins está cansada. Cansada de ser sempre perfeita. Cansada de tirar A em tudo. Cansada de seguir à risca os planos que os pais fizeram para ela. Madelyn Hawkins está cansada de ser algo que não é, algo que não quer ser. E então ela conhece Bennet Cartwright. Inteligente, sensível, engraçado. A seu lado, ela se sente livre e independente. Uma história que poderia muito bem ter um final feliz, não fosse por um detalhe: Maddie tem apenas 16 anos, e Bennet, além de ter 25 anos, é seu professor. Pressionada pelos pais a participar de um programa para jovens talentos, Maddie pula dois anos do Ensino Médio e vai direto para a faculdade, onde conhece e se apaixona pelo professor de biologia. O sentimento é recíproco, e para dar uma chance àquele novo relacionamento que lhe faz tão bem, ela decide não contar para Bennet sua idade. Não demora muito para que as coisas comecem a dar errado, e as consequências da farsa de Maddie ganham contornos devastadores quando a verdade vem à tona. (Skoob)
GRACE, Amanda. A verdade sobre nós. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. 208 p.


A primeira vez que li a sinopse de A verdade sobre nós, de Amanda Grace, esperava uma história de tragédias, de dor, tudo causado por uma garota mimada que resolveu ser diferente. Mesmo com essa primeira impressão, depois das resenhas que li, percebi que a maioria dos leitores se sentia tocado pelo história; por isso, resolvi arriscar. E, que bom, eu não podia estar mais enganada.

Madelyn conta todos os detalhes da história de amor que viveu com Bennet, seu professor, por meio de uma carta endereçada a ele. Desde o início, percebe-se que ele já descobriu a verdade em relação à idade de Madelyn e que algo deu muito errado, e é esse o motivo que a faz escrever. Mas não sabemos ao certo o que aconteceu, pois a autora só deixa escapar pequenos detalhes, que só passaram a fazer sentido depois da metade do livro.

"Nossa caminhada foi em um sábado, e passei a manhã seguinte olhando sua página no Facebook, torcendo para, de alguma forma, você atualizá-la, mencionar um fim de semana incrível. Perdi as contas de quantas vezes meus dedos pairaram no botão Adicionar aos Amigos.
Eu sabia que não podia fazer aquilo. Sabia que precisávamos esconder o que quer que estivéssemos nos tornando, mas, meu Deus, eu queria algum tipo de contato com você, e ainda não havíamos trocado telefones. Então, naquele dia agonizante de sonhos e pensamentos e o desejo de vê-lo, tudo o que me restava era esperar." (p. 73)

A curiosidade para descobrir o desfecho, e mais ainda para descobrir toda a história que levou a esse desfecho, faz a leitura dinâmica e rápida. A linguagem simples não tirou a qualidade da obra. Amanda Grace conseguiu dar um toque delicado à narrativa, com algo verdadeiro, e se sentir na pele de Madelyn não era difícil. Também, conseguiu fazer de seus personagens inteligentes e divertidos, sem forçar. Por isso, é fácil se encantar por Bennet através dos olhos de Maddie, torcer para que tudo dê certo entre eles.

Para muitos, o problema do livro será exatamente a protagonista. Ela realmente é um pouco mimada, como eu imaginava, e é bastante egoísta, característica que ela mesma percebe durante o enredo. Porém, particularmente, consegui me colocar no lugar dela e não sei se, naquela situação, teria feito diferente. Talvez eu seja egoísta também por isso, mas eu não consegui julgar. Eu queria que ela fizesse diferente, mas ela não fez.

"E ali estava você, planejando o que faríamos juntos depois.
O que faríamos no dia seguinte, na semana seguinte, durante o inverno.
Você nos via juntos. Por bem mais tempo do que uma noite.
Você nunca quis que eu fosse um caso, queria que eu fosse sua namorada. Queria que eu fosse sua, assim como eu queria desesperadamente que você fosse meu." (p. 156)

Ainda que a personalidade da personagem possa ser desagradável, a obra trata exatamente do momento em que Madelyn deixa de ser uma adolescente e passa a ser adulta, o modo como ela amadurece. Mesmo que o romance seja o foco, o enredo trata dos problemas em casa, dos conflitos internos, de todos os aspectos da vida da protagonista. A partir disso, o livro mostra que nem todos são perfeitos, e que é a partir das imperfeições que se pode melhorar, tomar atitudes. E Bennet foi importante para Maddie por isso, porque ele conseguiu fazer com que ela visse que existiam outras possibilidades.

Por mais que o leitor já saiba o final da história no início do livro, ainda há aquela ponta de esperança de que algo novo surja. E, para ser sincera, surge, mas Amanda Grace novamente não segue regras e faz do jogo seu.

Mergulhei inteira em A verdade sobre nós, senti-me devastada com o que aconteceu, apesar de a tragédia ser apenas interna, tanto para mim quanto para os personagens e, ainda agora, queria mais e melhor.


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Novidades #86: Dezembro com a Novo Conceito


Galerinha querida, o ano está acabando e com isso vem todas aquelas coisas boas das festas, os sentimentos mais puros que tanto fazem bem para nós, não é?

E também, não poderia deixar de ser, é um mês que traz sempre boas novidades na literatura, e algumas editoras, inclusive, se inspiram nas datas festivas para os seus lançamentos.

É o caso da Novo Conceito, que trouxe livros especiais para dezembro:



O inverno é a estação mais aconchegante do ano, mas Jenny Breslin não se sente nada confortável. Tudo na sua vida a total ausência de romance, o emprego chatíssimo no banco foi tocado pela mágica das festas de fim de ano. A simples ideia de passar por mais um Natal com a sua mãe extravagante e Harry, o novo namorado dela, a enche de pavor. Mas isso é na vida real...

No Twitter, as coisas não poderiam estar mais interessantes. Nele, Jenny tem uma carreira em ascensão, uma vida amorosa sensacional e uma agenda superconcorrida. Então, em uma noite de bebedeira, Jenny está tuitando com suas amigas Zahra, Fiona e Kerry. E de repente ela as convida para passar alguns dias em sua casa em Dublin. À medida que a sua vida virtual entra em rota de colisão com a sua verdadeira rotina, Jenny não sabe para onde correr. Tudo parece contribuir para mostrar que a existência das suas companheiras de Twitter é um milhão de vezes mais interessante do que a sua. O fim de semana chega, e segredos são compartilhados. Jenny começa a perceber que, enquanto ela sonhava, as coisas acontecem bem depressa.
Será que é muito tarde para que ela volte a assumir o controle da sua própria e verdadeira vida?


Meu nome é Ivan.
Eu sou um gorila.
Não é tão fácil quanto parece...

Ivan mora dentro de um shopping e nunca tinha pensado em voltar para a natureza até o dia em que a pequena Ruby, um filhote de elefante, foi comprada pelo dono do circo.
Baseado em fatos reais, O GRANDE IVAN é uma história deliciosa, cheia de humor, ao mesmo tempo doce e inteligente, sobre os direitos dos animais e sobre a força da amizade.
Não importa quantos anos você tem... Você deveria ler este livro hoje, agora mesmo. Aliás, o que você está esperando para começar?



Victoria morreu em um trágico acidente, deixando sua filha Holly sob a responsabilidade do seu irmão, o solteiro convicto Mark. O tio Mark não se sentia muito preparado para cuidar da menina, mas assumiu o compromisso de devolver o sorriso aos seus lábios. No entanto, ele descon fia de que não esteja fazendo um bom trabalho, uma vez que Holly nunca mais falou desde que ficou órfã. Uma cartinha para o Papai Noel revela um desejo que pode ser a chave da felicidade de Holly: ela só quer ter uma mãe.

Maggie perdeu o marido em uma batalha contra o câncer e não quer jamais - passar por tudo isso de novo. Por isso, ela fechou seu coração e prometeu a si mesma dedicar-se somente a sua nova loja de brinquedos em Friday Harbor, que permite às crianças viajar um pouco nas asas da imaginação. A amizade entre Maggie e Holly (que até passou a acreditar em fadas!) ao mesmo tempo comove e preocupa o tio Mark. Ele tem certeza de que a nova amiga fará bem a sua sobrinha, mas precisa decidir se a deixará entrar em sua própria vida...
Nós também torcemos, do fundo do coração, para que Holly tenha uma linda noite de Natal.


E então, quais vocês querem ler?



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Mentirosos - E. Lockhart

Sinopse: Cadence vem de uma família rica, chefiada por um patriarca que possui uma ilha particular no Cabo Cod, onde a família toda passa o verão. Cadence, seus primos Johnny e Mirren e o amigo Gat (os quatro "Mentirosos") são inseparáveis desde os oito anos. Durante o verão de seus quinze anos, porém, Cadence sofre um misterioso acidente. Ela passa os próximos dois anos em um período conturbado, com amnésia, fortes dores de cabeça e muitos analgésicos, tentando juntar as lembranças sobre o que aconteceu. (Skoob)

LOCKHART, E.. Mentirosos. Seguinte: 2014. 272 p.

Harry Sinclair tem três filhas: Carrie, Bess e Penny. Carrie é mãe de Johnny e Will; Bess é mãe de Mirren, Liberty, Taft e Bonnie; Penny é mãe de Cadence. Uma vez por ano, todos vão para a ilha particular da família e ficam nela durante todo o verão. Quando Mirren, Johnny e Cadence estão com oito anos, Carrie é abandonada pelo marido e começa a namorar Ed, um comerciante de artes de ascendência indiana, que tem um sobrinho chamado Gat, garoto de pele morena e cabelos escuros, o oposto dos Sinclair.

Cadence se apaixona de imediato.

Mas Gat não respondeu. Estava olhando para mim. Seu nariz era grande, a boca, meiga. Pele bem morena, cabelo preto e ondulado. Corpo carregado de energia. Parecia que alguém tinha dado corda nele. Como se procurasse alguma coisa. Era todo contemplação e entusiasmo. Ambição e café forte. Eu poderia ficar olhando Gat para sempre.”

A chegada de Gat aproxima Johnny de Cadence e Mirren, que antes não gostava muito de brincar com elas, e os quatro, devido às constantes confusões que arrumam na ilha, começam a ser chamados de os Mentirosos pela família. Mas Gat também acentua o desprezo e o preconceito de Harris, o avô dos três garotos.  

O único fracasso de meu avô foi nunca ter tido um filho homem, mas não importa. As filhas dos Sinclair eram bronzeadas e afortunadas. Altas, alegres e ricas, aquelas meninas eram como princesas de um conto de fadas. Eram conhecidas em Boston, Harvard Yard e Martha’s Vineyard por seus cardigãs de caxemira e festas grandiosas. Foram feitas para virar história. Foram feitas para serem princesas e estudarem nas melhores escolas, terem estátuas de marfim e casas majestosas.”

Harris é o patriarca da família. Ele é o dono do dinheiro e da decisão de para quem deixará a maior parte de sua herança depois que morrer. E Cadence é a primeira neta, a mais velha e sua preferida. Fica claro seu descontentamento quando flagra ela e Gat se beijando no sótão da mansão.

Gat permaneceu em pé. 
Ele precisava abaixar a cabeça por causa do teto inclinado do sótão.
– Cuidado, meu jovem – disse meu avô, curto e grosso.
– Perdão?
– Cuidado com a cabeça. Você pode se machucar.
–  O senhor tem razão – disse Gat. – O senhor tem razão, posso me machucar.
– Então tome cuidado – meu avô repetiu

As três filhas de Harris travam uma batalha de interesses para cada uma delas conseguir mais atenção do pai e, consequentemente, o favoritismo para a herança. Harris, claro, sabe e abusa de seu poder sobre elas. Ele é aquele tipo de homem que não ameaça diretamente. Ele faz isso de forma discreta, através de indiretas ou conversas de duplo sentido, que são aquelas que metem mais medo, porque são as mais verdadeiras, por não serem ditas com raiva, mas sob controle, com frieza.

Então, quando meu avô disse que podia deixar seu dinheiro para Harvard construir um centro acadêmico e pediu nossa opinião, não estava envolvendo a família em seus planos financeiros. Estava fazendo uma ameaça.

Nessa tempestade que é o relacionamento das filhas com o pai, das ações interesseiras, da necessidade de se conseguir cada vez mais, os quatro garotos tentam se manter unidos e aproveitar os únicos meses em que podem ser autênticos, os únicos meses em que ficam juntos, uma vez que durante o resto do ano, eles vivem em pontos diferentes do país.

Gat é o ponto em comum entre eles, é o farol que ilumina a verdadeira face de Harris. Cadence é a mais sensível, e a paixão que sente por Gat aumenta sua sensibilidade com relação às ações cheias de interesse, que sua mãe a obriga a fazer para manter a preferência de Harris.

No verão em que os quatro, Cadence, Gat, Mirren e Johnny, estão com quinze anos, o mesmo verão que a paixão entre Cadence e Gat aflora de maneira irreversível, algo acontece. Cadence sofre uma acidente, perde a memória dos últimos dias e fica dois anos longe da ilha. Quando retorna e reencontra os dois primos e Gat, tenta, com a ajuda deles, descobrir o que aconteceu. 

É Cadence quem narra a história e, junto com ela, percorremos as 270 páginas de Mentirosos em busca daquilo que ela esqueceu. Nesse processo, sentimos o amor dela com Gat, a amizade com Mirren e Johnny, a revolta com as ações interesseiras das três filhas de Harris, a indignação, o respeito e a admiração que esse mesmo Harris transmite de forma contraditória, e dor. O livro é impregnado de dor. É o que você, leitor, irá sentir em maior intensidade. Até no momento em que Cadence descobre o amor, ela faz com dor.

E eu vi Gat,
E vi aquela rosa na mão dele,
e, naquele momento, com a luz do sol entrando pela janela e brilhando sobre ele,
as maçãs sobre a bancada da cozinha,
o cheiro de madeira e maresia no ar,
eu rotulei de amor.

Cadence não se poupa do sofrimento. Ela é exagerada nas descrições do que sente com um motivo: ela precisa transmitir a intensidade da dor, e só através de metáforas exageradas é possível dimensionar o que sente.

Na primeira noite, chorei, roí as unhas e tomei vinho roubado da despensa de Clairmont. Girei impetuosamente céu adentro, furiosa, golpeando estrelas em seu ancoradouro, rodopiado e vomitando. Bati o punho na parede do chuveiro. Lavei a vergonha e a raiva em água fria, muito fria. Depois fiquei tremendo na cama como o cachorro abandonado que era, pele tremendo sobre os ossos.

Dois anos após o acidente, quando Cadence retorna a ilha, ela está diferente. Ela mudou. Ela não é a mesma pessoa. O amor que sente por Gat e por seus primos é o mesmo, mais intenso, até, mas ela volta com uma dose maior de dor, mais profunda.

Tenho quase dezoito anos.
Tenho um cartão de biblioteca bem gasto e pouco mais que isso, embora more em uma
casa enorme cheia de objetos caros e inúteis.
Eu era loira, mas meu cabelo agora está preto.
Eu era forte, mas agora sou fraca.
Eu era bonita, mas agora pareço doente.

Ela doa todas as suas coisa, mesmo antes de descobrir o que aconteceu. Ela quer se tornar vazia, se punir, ficar sem nada. A única coisa que ela não abandona é Gat, Johnny e Mirren. Na ilha, eles podem ser autênticos. Eles não precisam atuar para a sociedade, fingindo serem o que não são. Por isso, eles anseiam tanto por esse pequeno período do ano e temem o momento em que ele termina. 

E esse momento, no verão dos 15 anos, fica mais evidente quando Cadence e Gat ouvem uma conversa, que indica a ordem de Harris para Gat não retornar à ilha no verão seguinte, na tentativa do avô separar o garoto da neta. Isso seria o fim do amor entre os dois, e o fim da amizade com Mirren e Johnny. Seria o fim da alegria que enchia os quatro de força para suportarem o meses que os separavam do verão seguinte. 

Assim, a tragédia fica anunciada.

A escrita de Lockhart é apaixonante na mesma medida em que é impregnada de dor. Ela sabe transmitir uma carga enorme de emoção através de frases curtas, muitos pontos finais e quebras de linha, dando um tom de tragédia e de desespero que se estende por toda a história.

Mas Lockhart não escreve nenhum desses sentimentos de forma aberta. Ela é sutil. Ela coloca a carga emocional entre as linhas de seu texto, nas palavras bem escolhidas, ou até mesmo na falta delas, quando, por exemplo, ela usa a descrição de um beijo para indicar o choro de Gat.

Encontrei Gat na trilha da costa e corri até onde ele estava, olhando para a água. O vento estava forte e meu cabelo voava no olho. Quando eu o beijei, seus lábios estavam salgados.

Nunca havia lido nada de Lockhart e fiquei impressionado com a facilidade com que ela envolve o leitor e consegue descrever a personalidade real de cada personagem, como a duplicidade maquiavélica de Harris, ou o desespero das três filhas em conquistarem sua atenção por puro interesse financeiro, ou no desapontamento dos quatro Mentirosos a cada vez que percebiam essas situações.

Até a página 240 eu tinha quase certeza de que Mentirosos seria, fácil, o melhor livro do ano. Então, na página 241, eu confirmo aquilo que suspeitava desde o início, mas me recusava a acreditar, uma vez que as pistas que apontavam para isso eram negadas, na mesma medida, por pistas que apontavam em sentido contrário, e que eu descrevo no final desta resenha, depois de um enorme alerta de spoiler. O grande segredo. 

Que decepção!

Preciso dizer que sou reticente quanto a livros de modinha. E, sim, eles existem em grande quantidade. Algumas vezes eles fazem jus à fama... outras, não. Este, infelizmente, é um desses casos. Explico o motivo: também odeio quando um autor usa o conceito, ou a ideia, de outro autor para construir uma história. Não vejo nada de errado em semelhanças, mas, no caso de Mentirosos, tudo é construído exatamente sobre um segredo que já foi usado mais de uma vez em filmes e livros, que não cito aqui, claro. E o murmurinho à volta do livro é, injustamente, por causa de algo que não foi criado pela autora.

A história de Lockhart, até a página 240, é muito, muito boa. Se ela tivesse mantido a sequência dos eventos sem recorrer a esse segredo, o livro seria devastador por mérito próprio e não pelo que outro autor criou.

E quando digo devastador, não estou exagerando. E isso não chega a ser completamente positivo, porque nele reside um segundo erro de Lockhart.

Toda boa história precisa de uma moral, uma mensagem, algo que justifique tudo o que aconteceu, de forma boa ou não. Em Mentirosos, não existe moral. A única mensagem que o livro deixa é, na verdade, um sentimento: dor.

Nenhum dos personagens fica com nada. Harris perde aquilo que tinha de mais precioso e não valorizava; as filhas perdem qualquer chance de favoritismo; os Mentirosos perdem a esperança. E tudo isso, sem um aprendizado. Todos os personagens, principalmente Cadence, tornam-se apenas uma casca vazia ambulante de pura dor. 

Para um livro, esse é um dos piores pecados: ele não consegue deixar nada que importe, além de um enorme desconforto sem significado.

E mais triste é reconhecer que esse defeito poderia ser tão facilmente contornado se o grande mistério não existisse, se Lockhart mantivesse a narrativa de forma sequencial, usando sua própria criatividade para finalizar os acontecimentos na ilha, ao invés de se preocupar em usar um conceito que não era seu para deixar o leitor chocado.

Pena pelo desperdício. Foi isso que senti ao finalizar a leitura de Mentirosos. E arrependimento por não ter fechado o livro na página 240 e ficar com uma das melhores histórias de 2014... até a página 241.

O trecho a seguir está oculto e só pode ser lido depois de selecionado com o ponteiro do mouse. Ele discute o mistério por trás da perda de memória de Cadence e o que aconteceu na ilha, ou seja, está carregado de SPOILERS! Se já leu a obra, ou não se importa em descobrir o final do livro, vá em frente ;)

Segundo alerta: se não assistiu aos filmes O Sexto Sentido e Os Outros, também não continue!  

Lockhart construiu sua história sobre a base do relacionamento dos quatro jovens de 15 anos com suas mães e o avô. Para esconder o fato de que Johnny, Mirren e Gat morreram no incêndio da mansão de Harris na ilha, e que Cadence, quando retorna dois anos depois, se relaciona com seus fantasmas, ela faz com que eles interajam com objetos materiais, como quando vão de caiaque a enseada pular das pedras, quando jogam tênis ou quando bebem vinho no telhado da nova casa do avô. Isso oculta as pistas que o leitor poderia identificar, como o fato de Carrie, a mãe de Johnny, andar de madrugada vestida com o casaco do filho, os quatro nunca estarem juntos na presença de um adulto ou nenhum deles ter respondido aos e-mails de Cadence durante os dois anos que ela ficou se recuperando depois da tragédia. Essa foi uma estratégia usada pela autora para distanciar o leitor de filmes como O Sexto Sentido ou Os Outros, onde o segredo é o mesmo: os personagens principais estão mortos e não sabem o que são, e nem o expectador. 

Em Mentirosos, Johnny, Mirren e Gat sabem que estão mortos, sabem que Cadence não se lembra e nem consegue distinguir o que eles são, e, mesmo assim, não fazem nada para ajudá-la a se lembrar. Pior que isso. Gat estimula o amor de Cadence por ele. Isso até ela se lembrar. Então os três vão embora, sem mais nem menos, e sem ajudá-la a suportar a dor da descoberta. 

Essa opção usa um artifício que é o oposto ao que se conhece para enganar o leitor. Se ele desconfia em certa altura de que os três morreram, logo sua atenção é desviada por eles interagirem com o ambiente ou por agirem de forma totalmente condizente com uma pessoa viva. A premissa é de que não seria possível, uma vez que são fantasmas. 

A tentativa forçada de ocultar o segredo não esconde furos na narrativa, como a desculpa usada para ninguém contar a verdade a Cadence, ou nenhuma das mães dos garotos, ou Harris, estranharem Cadence não perguntar pelos três, uma vez que ela não se lembrava de que eles haviam morrido. Ela podia não se lembrar da tragédia, mas com certeza se lembraria de Johnny, Mirren e Gat e estranharia eles não estarem na ilha.

O Sexto Sentido e Os Outros são mais coerentes e eficientes, porque ambos constroem a história de forma original, sem a preocupação de serem descobertos pela semelhança com outra obra. Essa preocupação não só atrapalha a coerência de Mentirosos, como diminui a qualidade da obra. 

Infelizmente... :(


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