Psicose - Robert Bloch

Créditos da imagem: Blog Redatora de Merda.

























Psicose, o clássico de Robert Bloch, foi publicado originalmente em 1959, livremente inspirado no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein. O protagonista Norman Bates, assim como Gein, era um assassino solitário que vivia em uma localidade rural isolada, teve uma mãe dominadora, construiu um santuário para ela em um quarto e se vestia com roupas femininas. Uma história curiosa envolvendo o livro é que Alfred Hitchcock adquiriu anonimamente os direitos de Psycho e depois comprou todas as cópias do livro disponíveis no mercado para que ninguém o lesse e, consequentemente, ele conseguisse manter a surpresa do final da obra.

BLOCH, Robert. Psicose. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013. 240 p.

Acho que não há uma pessoa nesse mundo que não tenha, no mínimo, ouvido falar da famosa cena do chuveiro de Alfred Hitchcock. Até eu que nunca assisti ao filme conheço. É mais provável que não saibam que o filme é, na verdade, uma adaptação do livro homônimo. Também pudera! O cineasta achou a obra tão incrível que comprou as três mil cópias disponíveis e trancafiou todas em um porão, tudo para que não descobrissem o final da trama. 

A maioria de vocês, leitores, deve conhecer a trama. Mary Crane é noiva de Sam há muito tempo e vê seu casamento cada vez mais distante devido a uma dívida de seu companheiro. Surge então uma oportunidade e Mary rouba 40 mil dólares da empresa onde trabalha e foge, indo ao encontro do noivo. Porém, as coisas começam a dar errado quando se vê perdida e exausta, após 18 longas horas de viagem. Ter errado a rota acabou levando a moça para o Bates Motel, um estabelecimento decadente de propriedade de Norman Bates. É óbvio que descansar, naquela altura do campeonato, seria perfeito. Então, Mary decide ficar no hotel aquela noite. 

Tudo parece extremamente normal, inclusive Norman convidá-la para jantar em sua casa. Eles conversam bastante e Norman, que tem uma relação estreita com a mãe (como o Complexo de Édipo), conta para Mary alguns apertos que passa com ela, o que gera uma terrível discussão. Quando Mary retorna ao seu quarto depois do longo dia e vai tomar banho, é morta a sangue frio pela mãe do dono do hotel. O sumiço de Mary leva sua irmã, Lila, e Sam a uma constante busca por ela, o que desencadeia vários acontecimentos.

Claro, o tempo é relativo. Einstein disse isso, e ele não fora o 
primeiro a descobrir — os antigos também sabiam, assim como 
alguns místicos modernos, como Aleister Crowley e Ouspensky. Tinha lido todos, 
tinha até alguns livros deles. A Mãe não aprovava; dizia que 
essas coisas eram contrárias à religião. Mas esse não era o verdadeiro 
motivo. Era porque, quando ele lia esses livros, não era mais o 
filhinho dela. [...] Quando pensava na Mãe, ele voltava a ser 
criança, usava vocabulário de criança, referências e reações infantis.
 Mas quando estava sozinho, não; em verdade, não sozinho, mas 
afundado em um livro, era um indivíduo maduro.

Psicose é um clássico do terror que é consagrado até hoje. Confesso que morria de medo de ler o livro justamente por se tratar de um terror, mas durante a leitura percebi que o ponto alto do livro não é o assassinato em si, mas sim o entendimento da cabeça do personagem principal. Tudo indica que essa relação doentia entre mãe e filho é a principal causadora dos distúrbios psicológicos de Norman. 

Porém, eu realmente acho que Norman já nasceu com alguma coisa maligna dentro dele e que isso foi aflorado com o relacionamento que mantinha com a mãe. Mesmo com todos os abusos psicológicos que sofria, em sua biblioteca pessoal constava alguns livros sobre ocultismo, psicologia anormal e teosofia, o que me leva a acreditar seriamente que ele era mau por natureza. 

É bem difícil falar sobre Psicose sem ter medo de estragar um pouquinho a história. Como eu não sabia nada sobre ela (não assisti ao filme por motivos de medo mesmo, hahaha), tive uma grande surpresa com o final. O livro flui com tanta facilidade que o li em pouco mais de duas horas. É claro que eu não podia deixar de comentar sobre o trabalho gráfico da Darkside, que mandaram super bem na diagramação. Tem até uma foto da cena do chuveiro! Creio que não há livro melhor no mundo para quem gosta de thriller psicológico, super recomendado.

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Novidades #99: Parceria com Leila Kruger

O Conjunto da Obra agora é parceiro da autora Leila Kruger. Vamos conhecer um pouco mais da autora?

Nasceu em Ijuí, Rio Grande do Sul. É romancista, poeta e contista. Tem poemas e contos em jornais, revistas e portais na Internet. Lançou Reencontro, sua primeira obra, um romance, em 2011 pela Editora Novo Século – SP. Após recebeu premiações nas categorias conto e poesia. Lançou o livro de poemas A Queda da Bastilha na Feira do Livro de Porto Alegre em 2012, pela Confraria do Vento – Rio. Em 2014 publicou o livro de crônicas Coração em Chamas, pela Multifoco – Rio, selo Redondezas Crônicas. Participou de várias antologias de poemas e contos entre os anos de 2011 e 2014.


Página no Facebook (sempre atualizada): facebook.com/leilakrugeroficial
Twitter: twitter.com/leilakruger
Instagram: instagram.com/leilakruger
Blog: leilakruger.blogspot.com.br

E agora vamos conhecer algumas de suas obras já publicadas?

"Está bem no fundo. Não se pode alcançar... aos poucos, vai roubando o ar.” Ana Luiza vai perdendo seu fôlego: o fim de (mais) um grande amor, um pai distante, uma mãe fútil, uma amizade complexa e "pessoas que sempre vão embora". Com suas músicas de rock, seus livros e seus cigarros, Ana Luiza vê sua vida desmoronar. "O amor é uma ferida”, ela sentencia. Mas a “garota de olhar longínquo” tem um encontro inesperado com um alguém aparentemente muito diferente dela: os “olhos imensos”, que tudo veem... Presa em seu próprio mundo e rendida ao álcool e às drogas, Ana Luiza tenta fugir. Principalmente do temido amor, que tanto a feriu... Como encontrar, ou reencontrar o próprio destino? Até onde o amor pode ir, até quando pode esperar? O que há além das baladas de rock e dos poemas românticos? Poderá o amor salvar alguém de sua própria escuridão? Às vezes, é necessário perder quase tudo para reencontrar... e finalmente poder amar.


Página no Facebook (com link para o primeiro capítulo): facebook.com/reencontroleilakruger
Primeiro capítulo: https://issuu.com/leilakruger/docs/reencontro_primeiro_capitulo_1560b6e5fae03d
Disponível: Livraria Cultura, Saraiva, Americanas, Submarino, Extra, Ponto Frio, Casas Bahia e outras lojas online e físicas.


"Da Leitura de A Queda da Bastilha ficam algumas conclusões: a primeira é que a poesia brasileira ganha uma nova e exímia autora; a segunda é que é possível, recolhendo elementos cotidianos, transformá-los em poesia falando deste ente tão extraordinário que é o ser humano." (Roberto Schmitt-Prym)
Disponível: Livraria Cultura, Saraiva, Cia. dos Livros











Amar duas pessoas ao mesmo tempo, amar pelo computador, matar por amor, não saber que ama, desistir de amar. Coração em chamas! Apresentam-se aqui dez histórias confessionais de amor e loucura, vividas pelas mais diferentes figuras: uma garota de programa, um padre, um poeta, uma atriz famosa, um milionário e até um amigo do poeta Álvares de Azevedo, do século XIX, entre outros. Eles confessam! Apenas você poderá saber... não conte a ninguém...
Impresso: Livraria Cultura
Em ebook: amazon.com.br

Em breve, resenha de Reencontro aqui no blog ;)

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Todo Dia - David Levithan

Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor. (Skoob)
LEVITHAN, David. Todo Dia. Galera Record: 2013, 280p.

Sempre tenho medo de ler algo quando as minhas expectativas são altas. É algo que não se tem como controlar, eu sei, ainda mais quando tantos leitores fazem inserem um livro entre seus favoritos e tecem inúmeros comentários sobre a história ser tão maravilhosa. Não foi assim para mim, infelizmente. Todo Dia, de David Levithan, foi uma leitura boa, muito boa, mas não chegou a me tirar dos eixos nem ganhou meu coração.

"Todo dia sou uma pessoa diferente. Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa. 
Sempre foi assim."

Nas primeiras 100 páginas, fiquei me perguntando o que, afinal, tinha conquistado os leitores. São somente várias vidas que A nos apresenta e que vive sem interferir, isto é, não vive. Depois de um tempo, percebi-me mergulhada no enredo e, assim como Rhiannon, queria entender que corpo A assumiria no dia seguinte e logo me vi voando nas páginas para terminar a obra e compreender o que aconteceria na vida dos personagens.

"Sou um andarilho e, por mais solitário que isso possa ser, também é uma tremenda libertação. Nunca vou me definir sob os mesmos critérios das outras pessoas. Nunca vou sentir a pressão dos amigos ou o fardo das expectativas dos pais. Posso considerar todo mundo parte de um todo, e me concentrar no todo, não nas partes. Aprendi a observar, muito melhor do que a maioria das pessoas faz. O passado não me ofusca, nem o futuro me motiva. Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver."

A narrativa em primeira pessoa por parte de A aproxima o leitor do personagem e ajuda a entender a condição do protagonista de uma forma natural - não é estranho vê-lo pensar em sua situação, nem forçado quando ele nos faz aceitar sua situação. Pelo ponto de vista dele, também é fácil nos questionarmos a respeito de muita coisa, do modo como vivemos, dos padrões de beleza, do amor pelo amor, sem interesse, e dos tantos outros preconceitos que temos inconscientes. Como ter preconceito em relação a ser homem ou ser mulher, em relação a amar alguém do mesmo sexo ou de sexo diferente, quando se pode ser qualquer coisa diferente todos os dias e ver que, no fundo, todos são apenas pessoas?

O melhor de tudo foi a forma como David Levithan mostrou como as diversas experiências de A trouxe a ele uma compreensão do mundo que quase ninguém tem, uma tolerância e um desapego quase inexistentes hoje. Porque, no fim, o que ele queria era que permanecessem as pessoas, as lembranças. Eu achei lindo como o sentimento de bondade vindo de outra pessoa, o amor por todos sem distinção, fez com que o personagem quisesse mudar, quisesse deixar sua marca no mundo e fazer a diferença.

"Essa é a armadilha de ter algo para o qual se viver:
Todo o resto parece sem vida."
 
Quando teve a oportunidade de ter o que queria, A deixou de lado por amor, por princípios.  Acredito que nunca, na literatura, encontrei alguém menos egoísta e com tanta pureza para simplesmente fazer aquilo que era certo, deixando a si mesmo de lado.

Porém, foi essa mesma abdicação que me conquistou que fez com que o livro terminasse bom, mas não perfeito. Porque A abriu mão das respostas que ele e eu tanto queríamos e, talvez nem seja esse o motivo exato, mas eu senti que algo faltou ao livro, algo que realmente me convencesse e ganhasse meu coração. Porque por mais que A tivesse sentido o amor, buscado uma forma de viver o sentimento - o mais puro deles, devo dizer -, isso nunca aconteceu por inteiro, já que ele sempre foi apenas uma parte de alguém. E por mais que eu gostasse de A exatamente por ser quem era, eu o queria por inteiro no final.

"O que acabou me criando problema foi o conceito de 'amanhã'. Porque, depois de um tempo, comecei a perceber que as pessoas continuavam a falar sobre fazer coisas no dia seguinte. Juntas. E, se eu questionasse, me olhavam de um jeito estranho. Para todas as outras pessoas parecia haver um amanhã em comum. Mas não para mim. E eu dizia: 'Você não vai estar lá", e elas respondiam: 'Claro que vou.' Então eu acordava e elas não estavam lá. E meus novos pais não tinham ideia do motivo da minha chateação."

Todo Dia é lindo, não há como negar, só não conseguiu me conquistar inteiramente e não chegou perto de se tornar meu favorito.

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Novidades #98: Lançamentos Intrínseca


Maio já está quase no fim, ok. Mas eu não poderia deixar de mostrar para vocês - de jeito algum - as tantas coisas boas que a Editora Intrínseca publicou este mês. Tem muito livro bom e de diversos gêneros, para agradar a todos, vamos conferir?



Para todos os garotos que já amei, de Jenny Han — Lara Jean guarda suas cartas de amor em uma caixa que ganhou da mãe. Não são cartas que ela recebeu de alguém, mas que ela mesma escreveu. São confissões sinceras, sem joguinhos ou fingimentos. Até que, um dia, elas são misteriosamente enviadas aos destinatários e, de repente, a vida amorosa de Lara Jean se transforma.

O constante correr das horas, de Justin Go — Das bibliotecas de Londres aos fiordes da Islândia, passando pelos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial e pelas expedições pioneiras ao monte Everest, O constante correr das horas é uma narrativa apaixonante — e grandiosa — que alterna passado e presente com fluidez para falar de um amor que transcende o tempo.

Lugares escuros, de Gillian Flynn — Aos sete anos, Libby Day sobreviveu ao terrível assassinato de sua família e testemunhou contra o irmão, que acabou condenado à prisão perpétua. Vinte e quatro anos depois, a ambígua personagem de Gillian Flynn, autora de Garota exemplar, é procurada por um grupo de pessoas obcecadas pelo crime e começa a investigar o passado. 

Nós, de David Nicholls — Douglas é um bioquímico de 54 anos, casado com Connie e pai de Albie, um jovem que acabou de entrar para a faculdade. Em uma noite, ele é acordado pela esposa, que decide pedir o divórcio. Porém, eles estão prestes a embarcar em uma viagem em família pela Europa. Do mesmo autor de Um dia, Nós traz uma irresistível reflexão sobre relacionamentos.

Navegue a lágrima, de Leticia Wierzchowski — Uma casa de praia, num idílico balneário no Uruguai, é o cenário de duas histórias de amor e perdas, separadas no tempo. Ao entrelaçar as lembranças da editora Heloísa à trajetória dos antigos moradores da casa, Leticia Wierzchowski expõe o inexorável desgaste realizado pela passagem do tempo até nas relações mais sólidas.

É claro que esses são apenas alguns destaques, porque tem muitas outras novidades e, para conferir, basta clicar na estante abaixo:

http://www.intrinseca.com.br/blog/2015/05/lancamentos-de-maio/

Quais vocês gostaram mais?

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Musashi - Eiji Yoshikawa

Sinopse: Este romance épico baseado diretamente na história japonesa narra um período da vida do mais famoso samurai do Japão, que viveu presumivelmente entre 1584 e 1645. O início é antológico, com Musashi recuperando os sentidos em meio a pilhas de cadáveres do lado dos vencidos na famosa batalha de Sekigahara. Perambula a seguir em meio a um Japão em crise onde samurais condenados ao desemprego e à miséria por senhores feudais derrotados semeiam a vilania ditando a lei do mais forte. Musashi será mais um dentre estes inúmeros pequenos tiranos, derrotando impiedosamente quem encontra pela frente até que um monge armado apenas de sua malícia e alguns preceitos filosóficos zen-budistas consegue capturá-lo e pô-lo rudemente à prova. Musashi consegue fugir graças a uma jovem admiradora, para ser novamente capturado, e agora fica três anos confinado numa masmorra onde uma longa penitência toda feita de leituras e reflexões o fará ver um novo sentido para a vida assim como novos usos para sua força e habilidade descomunais. Os caminhos rumo à plenitude do ser jamais são fáceis, e em seus anos de peregrinação em busca da perfeição tanto espiritual quanto guerreira enfrentará os mais diversos adversários, tendo inclusive que sair-se várias vezes de situações desesperadoras. É numa dessas situações que, totalmente acuado, usará pela primeira vez, em meio ao calor da luta e quase inconscientemente de início, a surpreendente técnica das duas espadas, o estilo Niten ichi, que o tornaria famoso pelo resto dos tempos. (Skoob)
YOSHIKAWA, Eiji. Musashi. Estação Liberdade, 1999. 1788 p.


Musashi não é uma leitura fácil. E não digo isso pelas 1800 páginas, divididas em três volumes. Não é fácil, porque você irá ler decisões e ações baseadas numa cultura extremamente fiel a seus costumes e dona de ideais que os ocidentais muitas vezes não compreendem. Mas mais que isso, você irá ler um romance baseado em um personagem real, que tomou as decisões que o romance conta e que criou um estilo ímpar de luta com duas espadas, o Niten Ichi Ryu.

No livro, Yoshikawa cria alguns personagens e os mistura com os reais, seguindo a sequência de eventos da vida de Musashi, cujo nome de nascença era Shinmen Takezō, e viveu o caminho do guerreiro, chamado de bushido, entre 1584 a 1645, época em que as lutas de espada eram, aos poucos, substituídas por armas de fogo rudimentares.

"O pé direito de Musashi recuou cerca de trinta centímetros. Acompanhando o movimento do pé, seu corpo e ambos os braços giraram instantaneamente para a direita. Ato contínuo, a ponta da espada, que havia percorrido a linha do pescoço do menino Genjiro e acabava de retornar à posição original, tornou a saltar com um zumbido, agora para cima, e seguido de um vigoroso kiai, atingiu inicialmente o cotovelo do ancião - que vinha nesse instante descrevendo um movimento descendente - e depois o seu rosto."

O caminho de Musashi era percorrer o país procurando um adversário famoso de forma a aperfeiçoar sua técnica, ou morrer. Nessa jornada, enfrentou dezenas de oponentes e nunca foi derrotado. A sua técnica com duas espadas começou a surgir nas lutas com vários adversários simultâneos, uma vez que usava as duas mãos para conseguir atacar e defender.

Essa é uma diferença que espanta na narrativa: as lutas. Elas não são descritas de forma circense, como nos filmes. Os oponentes se avaliam e atacam, um único golpe, e acabou. Nesse golpe, feito com espadas afiadíssimas, corta-se uma cabeça, ou um braço, ou o tronco. Não existe chance para um segundo ataque.

"Musashi nunca tivera um mestre, fato que, sob o ponto de vista do aprendizado, representara boa dose de sofrimento e certo grau  de prejuízo; visto de um outro prisma, porém, não ter um mestre havia sido uma vantagem."

Por conter fatos reais, existem partes que espantam e deixam uma dúvida moral sobre as ações de Musashi. Ele não deseja apenas aprimorar seu estilo, ele deseja ser um mestre na arte dos duelos. Na vida real, às vezes, para vencer, você precisa atacar o emocional do adversário e, para isso, também às vezes, é necessário escolhas que não são moralmente bem aceitas. O leitor, nesses momentos, precisa compreender a época e o estilo de vida do povo japonês. Não é possível julgar as atitudes de Musashi pelos nossos padrões. Nem as decisões pessoais que ele faz. Seu maior amor é a espada e isso ele diz de forma bem clara em um trecho, que nos choca pela dor dessa escolha.

Musashi é considerada uma das mais importantes obras literárias japonesas. É particularmente interessante acompanhar as mudanças do período histórico que os personagens vivem durante o romance. O autor descreve cada passagem com detalhes da política e da ordem militar, deixando o leitor ciente do ambiente em que cada ação se passa, mas sem se estender além do necessário. A forma da escrita de Yoshikawa é simples e, às vezes, ingênua na descrição das motivações dos personagens. Penso que isso se deve ao costume do autor na sua própria cultura, que acha tão natural cada fato.

"Mas eis que Musahsi surgia impávido pelo portão, expondo-se sem qualquer tipo de camuflagem à luz dos archotes. A visão tinha disso tão inesperada e os espantou tanto que ninguém se lembrou de se adiantar e barrar-lhe o caminho."

O valor existente nas páginas dos livros não é apenas literário ou cultural. É um guia de estratégia para duelos. A obstinação dele pelas técnicas de combate e na busca de conhecimento é impressionante. Ele não foi só admirável na espada, mas também na escrita, na pintura e até como escultor.

Conhecer a vida de Musashi é uma aventura única. Recomendo, apenas após a leitura da obra, procurar conhecer os fatos históricos. São impressionantes e parecem saídos de uma obra de ficção! 

Importante: não faça isso antes, porque sofrerá spoilers gigantescos!

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Conjuntando #41: Abril em Fotos

Hora de mostrar o que aconteceu no Instagram do blog no mês de abril.

Sei que muita gente já viu - e adoro quando o pessoal interage por lá -, pena que não é sempre que consigo postar algo legal. E para quem não acompanhou, aqui vai um resuminho:


 

E vocês, o que têm para contar sobre o mês de abril?

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Novidades #97: Lançamentos Métrica

Queridos, anunciei há algumas semanas nas redes sociais do Conjunto da Obra que o blog foi selecionado para ser parceiro da Editora Tribo das Letras, pelo Selo Métrica. E a Editora está cheia de novidades, contratos com novos autores e divulgação de novos lançamentos. Vamos conferir algumas novidades?

O Retorno de Elizabeth Torny Verdade ou Consequência? serão publicados em versão física, e estão em pré venda desde o último dia 18.

Os moradores da pequena cidade de Palmertorny, escondem um terrível segredo por vinte anos, mas com a chegada de uma bela jovem paranormal esse segredo está ameaçado e a punição pelo mal que causaram no passado está por vir.
Envolvente e excitante O Retorno de Elizabeth Torny, trás uma história cheia de suspense e drama, mas com boas pitadas de humor e sem faltar um bom e atribulado romance.
Com uma linguagem jovem e dinâmica prende o leitor à história trazendo-lhe sensações novas a cada capítulo.
Diferentes culturas, opiniões conflitantes, crenças diversas tudo isso acaba levando as pessoas para o inevitável “pré-conceito” daquilo que não conhecem. Um livro capaz de nos transportar para o sobrenatural aborda o tema polêmico da paranormalidade e nos faz refletir: Em que realmente acreditamos?
Acordar de uma noite de pesadelo, pode significar vivê-los, Elizabeth Torny, não nasceu assim, a tornaram assim.
Dizem que o amor liberta-nos da dor, de toda mágoa e todo rancor, dizem...
Elizabeth Torny, a chave entre a vida e a morte, o sonho e a realidade. Não procure saber da verdade.

Deixada aos cuidados da madrinha desde os sete anos, Alice Barrelin é uma estudante de Biomedicina cujo sonho é tornar-se uma atriz. Apesar da idade avançada, 19 anos, Alice nunca foi beijada. Na sua imaginação, seu beijo não seria suficientemente bom e também não passa pela cabeça dessa jovem acabar enfeitiçada pelos encantos de um cara qualquer. Entretanto, o mundo de Alice vira de cabeça para baixo quando ela conhece o irritante Alec Salles. Existe algo nesse rapaz que a incomoda: o jeito como ele mexe com ela e a deixa soltando suspiros. No entanto, fica claro que ela está perdidamente apaixonada por esse cara que a faz viver intensamente quando ambos são desafiados a um jogo de Verdade ou Consequência. Nesse ponto, não há mais como voltar atrás. O que Alice não sabia era que aquele rapaz escondia um grande segredo: Alec é um garoto de programa. Será que essa paixão estará ameaçada por essa descoberta? Alice encontrará forças para aceitá-lo? Tudo o que sabemos sobre esse casal é que são como fogo e gasolina, mas o desfecho dessa história de amor só o destino poderá dizer.

Empire Scott, Lizie e Um anjo para chamar de meu estarão disponíveis na versão digital:


Empire Scott - Atrás da Porta Vermelha, de Adriana Arebas: Helena Collins é uma mulher linda, jovem e doce. Como todos na vida, ela também tem seus fantasmas. Abusada quando criança, Helena ficou sem falar uma única palavra por muitos anos. Fugiu de casa e perambulo pela cidade de NY, em um dia de muita neve, Helena é encontrada dentro da casa do cachorro da família Clark. Acolhida por eles e por Taylor Smith, um ex agente da inteligência da casa branca, Helena começa a viver novamente. Assim conhece o intratável aos olhos de muitos, Brain Scott, dono de um império e muito ávido para o sexo. A pedra no sapato de Brain chama-se Taylor. Helena vai conhecer o sexo quente com os dois homens de sua vida. Um amor, uma amizade, uma mulher. Mas existe somente uma escolha.

Lizie, de Maria José Tagarro: Elisabeth Batista, a Lizie, é uma garota de 16 anos que estuda no Colégio Excelsior e se considerada praticamente invisível naquele ambiente. Tem três amigas: Camila, Andréia e Sheila e não é muito sociável. Quando suas notas estão baixas em Química e ela precisa ter aulas extras para melhorar a média, conhece novas pessoas, como Beto, um garoto que ama teatro e literatura e se vê mais próxima de Gustavo, um dos garotos mais populares e bonitos do colégio. 

Um anjo para chamar de meu, de Patrícia da Fonseca: A vida na pequena cidade de Santo Anjo se resume a uma única coisa: o anjo Miguel. Centenas de devotos invadem a cidadezinha anualmente em homenagem a um rapaz morto há mais de 50 anos e que, conforme a crença de muita gente, opera milagres. Quando a adolescente Gabriela chega a Santo Anjo para passar alguns dias com sua avó, nem imagina o quanto sua vida irá mudar depois disso. Encantada pela beleza da estátua do anjo Miguel, Gabi entra em pânico quando um incidente terrível envolvendo-a acontece. Quem pode salvar Gabriela da fúria de uma cidade inteira?

E aí, de quais vocês gostaram mais?

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Promoção: 5 Anos do My Dear Library


O My Dear Library está em festa, e o Conjunto da Obra não poderia ficar de fora dessa. E para a festa ficar completa nada como uma super promoção, para comemorar a data em grande estilo. São 7 blogs amigos reunidos para presentear você leitor com muita coisa boa!
 
São seis livros para dois ganhadores, e cada um ainda vai ganhar um kit de marcadores. Não tem como ficar fora dessa não é mesmo? Então o que você está esperando? Venha participar dessa festa!

Promoção – 5 Anos do My Dear Library.

• Blogs Participantes: Conjunto da Obra | De tudo um Pouquinho | Diário de uma Leitora Compulsiva | Livros Pura Diversão | Moonlight Books | My Dear Library | No Mundo dos Livros.

• Prêmios:
- Primeiro Ganhador: poderá escolher 3 livros dentre todos os livros da promoção + 1 Kit de Marcadores;
- Segundo Ganhador: ficará com os 3 livros restantes + 1 Kit de Marcadores;

Os sorteados irão escolher o livro pela ordem do sorteio e para participar basta seguir as instruções do formulário abaixo.
• Informações:
- Não esqueça de ler o Terms &Conditions que está incluso no Rafflecopter;
- Somente para quem tem endereço de entrega no Brasil;
- A promoção vai de 21 de maio a 21 de junho de 2015;
- Serão 2 ganhadores e a escolha dos prêmios será realizado como mencionado acima;
- Para se inscrever basta inserir suas entradas no formulário Rafflecopter abaixo;
- A primeira inscrição é livre, para entradas extras leia a instrução de cada uma;
- Os sorteados serão anunciados neste mesmo post no dia 21 de junho de 2015;
- O primeiro sorteado terá 2 dias para retornar o e-mail com seus dados, ou o será desclassificado e um outro sorteio será realizado para definir um novo ganhador;
- Os blogs serão responsáveis pelo envio do exemplar do livro ou kit de marcadores que cederam. Não sendo responsáveis em caso de dados para o envio do prêmio errado, atraso ou extravio pelos Correios;
- Usar o tweet about the giveaway apenas 1 vez por dia, com a seguinte frase: "O @mydearlibrary está de aniversário e que vai ganhar o presente sou eu!"
- Quaisquer dúvidas entrar em contato através do e-mail: mydearlibrary@gmail.com


a Rafflecopter giveaway


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Quase uma Rockstar - Matthew Quick

Desde que o namorado da mãe as expulsou de casa, Amber Appleton, a mãe e o cachorro moram em um ônibus escolar. Aos dezessete anos e no segundo ano do ensino médio, Amber se autoproclama princesa da esperança e é dona de um otimismo incansável, mas quando uma tragédia faz seu mundo desabar por completo, ela não consegue mais enxergar a vida com os mesmos olhos. Será que no meio de tanta tristeza e sofrimento Amber vai recuperar a fé na vida? Com personagens cativantes e uma protagonista apaixonante, Matthew Quick constrói de forma encantadora um universo de risadas, lealdade e esperança conquistada a duras penas. (Skoob)
QUICK, Matthew. Quase uma Rockstar. Intrínseca, 2015. 256 p.

Matthew Quick me encantou com a leveza de seus personagens em O Lado Bom da Vida, livro no qual conseguiu mostrar que um enredo sem qualquer acontecimento especial poderia ser emocionante, especialmente por causa dos pequenos detalhes. Estava ansiosa para ler Quase Uma Rockstar, do mesmo autor, mas logo nas primeiras páginas me assaltou a impressão de dejavú, junto do medo de o livro ser apenas mais do mesmo. Felizmente, apesar de algumas características semelhantes entre as duas obras, o autor conseguiu guiar este novo enredo e construiu uma história original e mais comovente que a primeira.

Apesar de a vida de Amber Appleton não ter nada de fácil, a garota não perde a esperança e acredita que pode fazer a vida de todos – e a sua própria – melhor. O otimismo inabalável de Amber, sua fé e a ingenuidade bem delineada na narrativa em primeira pessoa foram as características que mais lembraram Pat, de O lado bom da vida. Mas as semelhanças não vão muito além disso. 

“- Eles não estariam fazendo nada disso hoje se não conhecessem você. Estariam jogando videogame, se masturbando ou fazendo qualquer outra coisa que os adolescentes fazem quando não há ninguém por perto.
Não sei o que dizer, então não digo nada.
- Vejo em você uma coisa de que gosto muito, Amber. Você não é igual à maioria das pessoas. Vai fazer alguma coisa muito especial hoje, porque nasceu para isso.” 

Nos primeiros capítulos, Amber se limita a narrar seu cotidiano, a relação que tem com “seus meninos”, os trabalhos voluntários, seja na Igreja do Padre Chee, com as Divas Coreanas por Cristo, ou na casa de repouso, com “seus velhinhos”. A personagem mostra tudo e todos que são importantes para ela, de Donna ao Soldado Jackson (SJ), de Bobby Big Boy (BBB) a sua mãe, e até mesmo as noites no ônibus escolar ilustram o caráter da protagonista.

O texto, cheio de “Sério?”, “Juro.” e “Pois é.”, assim como o habito de abreviar nomes, têm a informalidade com a qual uma adolescente contaria uma história, e ajudam a compor com mais credibilidade as características da obra e da personagem. Essa montagem, inicialmente, me levou a acreditar que teria de lidar com um texto bobo e superficial, mas não poderia estar mais enganada. Novamente esses detalhes fazem parte do enredo tanto quanto a própria Amber, e a obra não seria a mesma sem essas características.

“Ricky nunca mata ninguém no jogo, e ninguém o mata, porque ele tem autismo e tudo o que faz é ficar correndo e fazendo movimentos aleatórios. Devo dizer que adoro o fato de meus meninos levarem isso numa boa – adoro o fato de deixarem Ricky jogar Halo 3 de seu jeito pacifista. Meus meninos são gente boa. Juro.” 

A força da protagonista se esconde por trás de sua ingenuidade, e só se percebe o quão longe ela consegue chegar com o pouco que tem a oferecer quando já se está arrebatado pela garota. Amber não tem preconceitos, tem apenas um monte de amor e coisas boas a distribuir. E é a sua presença, simplesmente, que tem o poder de mudar a vida de todos ao seu redor.

“[...] no fim das contas, isso não significa nada, porque sou uma só, e existem muitas pessoas que não são como eu. Talvez eu seja apenas uma distração divertida para elas. Talvez eu seja só uma menina estranha. Uma pequena atração antes do show de verdade.” 

Quando Amber acredita que a vida quer mostrar a ela que suas crenças poderiam estar erradas, o universo devolve a ela tudo o que ela deu de si. E é então que vem a melhor parte do livro: a prova de que o pouco basta, que o que vale nesse mundo não é o que se tem, mas o que se cultiva. Eu chorei muito nas páginas finais do livro e concluí a leitura repleta de esperança, como Amber.

De alguma forma, Matthew Quick conseguiu manter as principais características de sua escrita em Quase uma Rockstar, sem ser se tornar repetitivo e, ainda mais importante, conseguiu depositar maior intensidade nessa obra simples, doce e linda.

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Novidades #96: Lançamento - Não Espere pelo Amanhã


Já tem data para o lançamento oficial, nos formatos digital e impresso, do novo romance erótico de Josy Stoque. Não Espere pelo Amanhã está fazendo um tremendo sucesso no Wattpad e no Widbook, plataformas de autopublicação grátis nos quais a autora está publicando a história cheia de adrenalina na íntegra até o lançamento.

A data será no Dia dos Namorados, em homenagem ao dia em que Eve Lacerda e Sam Black se conheceram. Se você não tem paciência para esperar as postagens semanais dos capítulos, aguarde o dia 12 de junho para comprar o livro inteiro na Amazon, com um capítulo extra, para ler de uma só vez. E tem mais!!! A pré-venda do eBook começa dia 1º de junho!!! Confirme presença no evento!

PS: Quem estiver acompanhando as postagens, não se desespere! O último capítulo será postado no fim de maio, mas o livro continuará na íntegra nas plataformas grátis até o dia 12/06/2015.

Sinopse: “Ódio e amor nunca foram tão próximos”
Era apenas para ser a primeira missão de Évelyn Lacerda pela Agência Brasileira de Inteligência e mais um dia burocrático para Samuel Black no Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Mas seus caminhos se cruzam em um perigoso jogo de vida e morte, atração e repúdio, amor e ódio. Eles farão qualquer coisa para cumprirem suas missões e se livrarem do desejo e da aversão que surgem entre eles ao primeiro olhar. Para seu azar ou sorte, um inimigo em comum os colocará do mesmo lado e eles terão que lutar juntos para sobreviver.

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Azul é a cor mais quente - Julie Maroh

Sinopse: Clementine é uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos do diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. Em tempos de luta por direitos e de novas questões políticas, "Azul é a Cor Mais Quente" surge para mostrar o lado poético e universal do amor, sem apontar regras ou gêneros. (Skoob)

MAROH, Julie. Azul é a cor mais quente. Martins Fontes: 2013. 158 p.

A essência de Azul é a cor mais quente não é o homossexualismo ou o preconceito, mas o amor, na sua forma mais pura. Todo o resto são obstáculos que precisam sem atravessados para se conseguir chegar a ele. Por isso, a história não é apenas destinada a um público distinto e seus simpatizantes. Clementine e Emma são universais nos seus sentimentos e no amor que compartilham.

Embora Julie Maroh envolva a história de Clem e Emma por acontecimentos e conflitos ligados à liberdade de opção sexual, ao preconceito contra os homossexuais, à discriminação dos colegas, amigos e familiares diante da escolha de um parceiro, ou parceira, do mesmo sexo, o que a autora retrata no seu texto e nas suas pinturas (sim, cada quadrinho é uma pintura, onde o leitor poderá encontrar diversos significados, dependendo da sensibilidade que possui), é a insistente tentativa de uma jovem de 15 anos para amadurecer, se aceitar e assumir um amor que não compreende, mas que a consome toda a vez que se distancia dele.


A viagem que Julie Maroh nos proporciona é carregada de dor e de breves momentos de felicidade. Ela começa no presente, onde os desenhos são coloridos, mas a atmosfera dos ambientes já antecipa o que está por vir. Quando vamos para o passado, toda a cor desaparece dos quadrinhos, com exceção do branco, do preto, das tonalidades entre elas, e do azul. O azul está presente em tudo o que Clem ama: na blusa do primeiro namorado, que logo perde a cor quando Clem descobre que não é esse tipo de amor que busca; e no cabelo de Emma. E a arte se mantém assim, até o momento em que o azul perde importância, o drama se estabelece e o fim se aproxima. Nesse ponto, não há mais motivo para destacar apenas uma cor. E o leitor sente a cada quadrinho o quanto poderá sentir de alegria e dor. 


Por isso mesmo, Azul é a cor mais quente deve ser lido com atenção. Perca-se nos detalhes. Por exemplo, no quadrinho que ocupa toda uma página com apenas uma frase, estampando a importância de seu significado. Ou nos quadrinhos sem balões de fala e que mostram a parte mais preconceituosa e dramática da história, mas onde é possível ouvir cada uma das barbáries ditas, mesmo que só existam desenhos. Nos desenhos onde apenas os olhos dos personagens de destacam, com as lágrimas presas, mesmo que as suas não estejam. Ou nas feições de alegria forçada para ocultar a opressão diante da incompreensão das pessoas pela escolha sexual.

O único senão de toda a história, e toda história tem um, se dá no motivo que a autora arruma para criar um conflito entre Emma e Clem quanto já estão com trintas anos. Essa quebra acaba destoando de toda a sinceridade e por todos os sacrifícios que as duas personagens passaram para ficarem juntas. Inclusive, o motivo apresentado até poderia ser compreendido se tivesse ocorrido quando Clem tinha 15 anos, época da incerteza de sua opção sexual, e não aos trinta, quando já era madura e segura de suas escolhas. Entretanto, isso não é suficiente para sequer arranhar a complexidade e a força do que lemos até então. E nem pelo que ainda está por vir.


O amor de Azul é a cor mais quente, é o amor idílico, que pertence apenas a uma pessoa e que pode durar para sempre, mesmo quando ele é interrompido por infidelidade e imperfeições de caráter. Na vida real, o amor não é único e nem é eterno. Como me disseram uma vez, existem pessoas demais no mundo para você achar que só pode amar uma. Ou que esse amor poderá durar para sempre, independente dos defeitos, das interferências externas e de suas próprias necessidades. O amor precisa ser revisado a cada dia para que perdure. E, mesmo assim, cada um de nós poderá encontrar em mais de uma pessoa o mesmo sentimento arrebatador.


Clem e Emma compartilham um sentimento que desejamos que seja real. Que seja puro, apesar de nossas imperfeições. Que seja aquilo que acreditamos que ele seja: amor!

Ah, o album foi adaptado para o cinema, mas esqueça o filme. Ele nem chega sequer perto do que vai encontrar nos quadrinhos. ;)

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Por Lugares Incríveis - Jennifer Niven


Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, a garota se afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família. Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa, encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os dias e passa a vivê-los.

NIVEN, Jennifer. Por Lugares Incríveis. São Paulo: Editora Seguinte, 2015. 336 p.

Um dos meus maiores medos no mundo literário é ler esses lançamentos que são super comentados. Toda resenha que eu li dizia praticamente a mesma coisa: "pare tudo o que está fazendo e leia esse livro, rápido". É claro ainda que quando o João do blog Amigo do Livro me mandou o e-book por e-mail, fiz exatamente o que todos pediam, parei a minha vida para ler e não voltei enquanto não havia terminado. 

Theodore Finch e Violet Markey estudam no mesmo colégio, mas não possuem o mesmo círculo de amigos. Na verdade, Finch tem apenas dois bons amigos e olhe lá; digamos que o garoto não é muito bem aceito no lugar onde estuda. Violet costumava ser a garota mais popular de todas, aquela que namora o cara perfeito, tem amigos perfeitos e o plano perfeito para a vida. Porém, ela resolve se afastar de tudo desde o acidente de carro que matou sua irmã. Como não é difícil de se imaginar, Violet se sente extremamente culpada por isso. 

Violet e Finch não têm nada em comum, nem mesmo existem um para o outro, até que, parece bastante piegas dizer isto, o destino os une. Piegas, careta, sim. Mas é exatamente isso que acontece. Os dois se encontram no topo da torre do sino do colégio, ambos pensando em se matar, mas eles se salvam. Quer dizer, um salva o outro. A partir daí, os dois começam a viver um relacionamento lindo, onde o ponto mais importante é a aceitação. 

"O que percebo agora é que o que importa não
 é o que a gente leva, mas o que a gente deixa."

Você já ouviu falar alguma vez na vida que cada pessoa carrega uma dor? Não existe ninguém no mundo que não tenha uma coisa escondida lá no fundo. Eu tenho e aposto todas as minhas fichas que você também. Theodore sofre com violência doméstica e o descaso da sua família, é perseguido por todos os valentões do colégio e por isso tem crises depressivas muito fortes, onde ele sofre apagões por longos períodos de tempo. As coisas também não são fáceis para Violet, afinal, é muito custoso superar a morte de uma pessoa importante, principalmente quando se estava lá no momento. Depois que se encontram na torre, os dois acham forças um no outro para continuar. 

A narrativa é em primeira pessoa, alternando entre Violet e Finch. Parece um pouco comum, mas para essa história em especial não poderia ser diferente. Você sente na pele o que os dois personagens estão passando. Por Lugares Incríveis não é um livro leve só porque é protagonizado por jovens. É óbvio que o assunto tratado no livro é pesado e foi exatamente assim que eu me senti enquanto lia. Pesada. Angustiada. Apreensiva e, acreditem, feliz.

Jennifer Niven foi muito além das minhas expectativas. Em seu livro de estreia, a autora conseguiu montar um enredo perfeito, com uma história tocante e cheia de reviravoltas, nada caminhada para o clichê. É impressionante o quando a história de Violet e Finch é concreta e o quanto me fez pensar nas coisas que acontecem ao meu redor. Não sei se dá para explicar o que eu sinto, mas é como se tudo o que aconteceu com eles estivesse muito próximo a mim.

Por Lugares Incríveis conta o tipo de história que você acha que nunca vai acontecer com você ou perto de você até acontecer. Apesar da leitura ser fluida, não é um livro fácil, devido a sua dose de realidade absurdamente crível. Existem livros bons e existe esse livro.

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Novidades #95: Companhia Editora Nacional



Há alguns dias publiquei aqui no blog a resenha do primeiro livro da série Top School!, que tem como título Seleção Natural, e foi publicado pela Companhia Editora Nacional.

Na última semana, recebi uma novidade muito legal, e não podia deixar de divulgar, já que o Conjunto da Obra sempre primou pela literatura nacional: A série Top School será publicada na França! 

A Hachette Jeunesse, um dos cinco maiores grupos editoriais do mundo e maior da França vai publicar a Coleção, escrita pelo brasileiro Toni Brandão. A coleção foi lançada no final do ano passado e chegou até a França através de uma agente literária. Ainda sem previsão de lançamento por lá, a assinatura do contrato foi ratificada na semana passada e prevê o lançamento dos três volumes: Seleção Natural, Beleza Roubada e Código Secreto. 

A Hachette Jeunesse, especializada em livros infantojuvenis está dividida em dois grupos: a Hachette Romans, para livros de texto corrido e por onde sairá a coleção de Toni Brandão; e a Hachette Images para livros ilustrados.

A Coleção Top School tem como público o adolescente entre 11 e 16 anos e narra o cotidiano de uma midiática escola de formação de modelos e artistas teen. Selfies, paquera, mundo digital, família e afeto, competição, respeito, amor, amizade, inclusão social, limites e frustrações são temas presentes em todos os livros da Coleção.

Toni Brandão é um dos poucos autores multimídia do Brasil especializado em público adolescente ou jovem adulto. Com 20 anos de carreira, seus livros somados já venderam 2 milhões de exemplares. Seus livros sempre trazem um olhar reflexivo e bem-humorado sobre os principais temas da atualidade e do universo do novo adolescente. 

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Amigas para Sempre - Kristin Hannah


Tully Hart tinha 14 anos, era linda, alegre, popular e invejada por todos. O que ninguém poderia imaginar era o sofrimento que ela vivia dentro de casa: nunca conhecera o pai, e a mãe, viciada em drogas costumava desaparecer por longos períodos, deixando a menina aos cuidados da avó. Mas a vida de Tully se transformou quando ela se mudou para a alameda dos Vaga-lumes e conheceu a garota mais legal do mundo. Kate Mularkey era inteligente, compreensiva e tão amorosa que logo fez Tully sentir-se parte de sua família. Ao longo de mais de trinta anos de amizade, uma se tornou o porto seguro da outra. Tully ajudou Kate a descobrir a própria beleza e a encorajou a enfrentar seus medos. Kate, por sua vez, a ensinou a enxergar além das aparências e a fez entender que certos riscos não valem a pena. As duas juraram que seriam amigas para sempre. Essa promessa resistiu ao frenesi dos anos 1970, às reviravoltas políticas das décadas de 1980 e 1990 e às promessas do novo milênio. Até que algo acontece para abalar a confiança entre elas. Será possível perdoar uma traição de sua melhor amiga? Neste livro, Kristin Hannah nos conta uma linda história sobre duas pessoas que sabem tudo a respeito uma da outra – e que por isso mesmo podem tanto ferir quanto salvar.
HANNAH, Kristin. Amigas para Sempre. Arqueiro: 2014, 446 p.

Em 2013, quando li Jardim de Inverno, de Kristin Hannah, fiquei fascinada pela escrita da autora e tocada pela carga dramática que suas palavras conseguiam descrever. Desde então, apaixonada que fiquei, sentia a necessidade de conhecer mais obras da autora e conferir se era apenas uma medida que deu certo por acaso, ou se Hannah tinha mesmo o necessário para escrever boas histórias. Amigas para Sempre foi minha opção desta vez e trouxe consigo as emoções mais conflitantes que eu poderia ter durante a leitura, mas tudo o que ficou, ao final, foi o amor.

Na primeira metade do livro, debati-me o tempo todo entre desfrutar da amizade de Kate e Tully ou ficar irritada com as personagens por causa do ciúme e da inveja que, de certa forma, sempre se impunha entre as duas. Porque era claro que as duas se amavam, mas sempre havia aquele sentimento de peso entre elas, a questão de cobiçarem algo que a outra tinha, ou a forma como a outra agia.

Isso se estendeu até certo ponto da narrativa, mas, em algum momento da história, que eu não percebi quando aconteceu, me vi envolvida na vida daquelas meninas, que se tornaram mulheres perante meus olhos, e passei a torcer irremediavelmente para que conseguissem o que queriam, que fossem felizes e estivessem sempre juntas, porque suas vidas estavam tão entrelaçadas que era difícil dizer onde uma terminava e a outra começava. E, por mais diferente que fossem, elas se completavam.

“- Nunca é bom ficar sentada esperando que alguém ou alguma coisa mude a nossa vida. É por isso que mulheres como Gloria Steinem estão queimando sutiãs e fazendo protestos em Washington.
- Para que eu possa fazer amizades?
- Para que você saiba que pode ser o que quiser. A sua geração tem muita sorte. Vocês podem ser o que quiserem. Mas você precisa se arriscar às vezes. Se abrir para o mundo. Uma coisa que eu posso lhe dizer com certeza é o seguinte: na vida, a gente só se arrepende do que não faz.” (p. 27)

Hannah conseguiu criar personagens profundos que, por isso mesmo, se tornaram mais apaixonantes. É engraçado como podemos gostar de alguém que demonstra ser perfeito, mas aquele sentimento avassalador da paixão só vem quando amamos mesmo com todos os defeitos. E foi isso o que aconteceu com os personagens de Amigas para Sempre, todos tinham partes horríveis, atitudes que doíam e, por isso só, consegui criar um vínculo forte com os mesmos.

John e Marah, em minha opinião, são personagens quase mais importantes que as próprias protagonistas, porque, não fossem eles, o livro não seria completo. Foi por causa deles as minhas maiores frustrações sentimentais enquanto acompanhava a trama, mas foi por eles também que senti meu peito transbordando de amor.

Todo o livro é repleto de amor, de amizade, de momentos bons e ruins. Tem partes muito mais romantizadas e doces do que a vida, claro, mas, no fim, o sentimento era de completude e esperança. A última cena, que tinha tudo para ser a mais triste de todas, me deixou com um sorriso na cara e mostrou o quão incrível é amar alguém além de si mesmo.

Para quem quer ler esse livro, recomendo não ler nem a sinopse de Por Toda a Eternidade, sequência de Amigas para Sempre. Os livros podem ser lidos de forma independente, mas eu tentei isso e, acreditem, não valeu a pena. Amigas para Sempre é lindo, repleto de mensagens sobre a vida, e foi ainda mais por me dar tudo aquilo de que eu precisava, sem que eu nem soubesse disso.

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Leituras do Mês: Abril

Olá queridos, como estão?

O assunto de hoje são as leituras do mês de abril. Como foi o mês de vocês?
Minhas provas da Faculdade começaram, então meu ritmo de leitura começou a cair. Li bastante no início de abril, mas o final do mês (e o começo de maio, por consequência) ficou defasado.

As leituras também foram muito boas. Tenho tido sorte na escolha dos livros, apesar de que os romances - que costumavam ser os livros que mais me agradavam -, têm ficado no nível do "bom", enquanto os suspenses têm me feito surtar. rsrs


Os livros físicos do mês foram Top School! - Seleção Natural, que já tem resenha no blog, O Diário de Suzana para Nicolas, lindo, e Caixa de Pássaros que, sem dúvida alguma, foi o melhor do mês.


Meu kindle também não ficou parado e tem sido uma companhia ótima nesses meses de carregar livros de Direito. Nele li Cartas de Amor aos Mortos que eu nem consigo pensar em como expressar a lindeza do livro em palavras ainda, e Dançando sobre cacos de vidro, um pouco clichê e previsível, mas com uma mensagem cheia de significados.

Ainda tenho oito resenhas para escrever, isso sem contar os livros que já li e deixei os comentários nos rascunhos. Falta tempo gente ;~

Ah, mas o mais importante de tudo: em maio o Conjunto da Obra faz aniversário e tem promoção para os leitores! Aqueles que ainda não se inscreveram, não percam tempo ;)

http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/05/promocao-aniversario-conjunto-da-obra.html

E vocês, tiveram novidades em abril?

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Verme! - Jim Carbonera

Sinopse: Entre o fictício e o real, Rino Caldarola narra em primeira pessoa suas desventuras e desatinos em Porto Alegre, sua cidade natal. Inconformado pela escassez de inspiração e à procura de um lugar ao sol no cenário literário brasileiro, o protagonista é o reflexo das desilusões e dos anseios que atormentam uma sociedade cada vez mais conturbada e contraditória. Com uma narrativa insolente e exasperada, Rino constrói e defende seu espaço pessoal utilizando-se de ironia, arrogância e de um erotismo cru. Busca desvencilhar-se de sua mãe coruja e do seu bairro que outrora fora de classe média, mas agora se elitiza em nome do progresso. E, principalmente, luta para desembaraçar sua paradoxal maneira de pensar e ver o mundo. (Skoob)

CARBONERA, Jim. Verme!. Boêmia Urbana: 2014. 200 p.

Aquilo que mina, consome ou corrói lentamente. Essa é uma das definições de verme no dicionário. Quando não possuímos em nossa vida um farol que nos indica a direção de nossos sonhos, de nossos desejos, de nossas ambições, enfim, de qualquer coisa que nos indique qual caminho devemos seguir para alcançar um fim, perdemos a direção e vagamos ao léu.

"Sueco tinha uma vida estável - era cargo de confiança de um vereador. No Brasil, qualquer pessoa metida na política tem uma vida estável. Pode ser da menor cidade do país, mas com certeza não passará necessidades. A política nos dá poder. Num país onde ser corrupto nunca sai de moda, quem trabalha no setor está sempre acima do bem e do mal."

Rino Caldarola, o personagem que parece o espelho de seu autor – e em certos momentos do de Verme!, não temos qualquer dúvida de que é o autor quem conversa com o leitor e não o personagem –, vaga sem direção, empurrado pelo vento, sem conseguir qualquer vislumbre de seu destino final. Ele quer escrever, mas não consegue descobrir um incentivo que faça surgir sua inspiração. Anda sempre com um bloco de anotações e um cantil de bebida. Mora na casa dos pais e vive às custas de um aluguel de um apartamento que possui.

"O maior erro num relacionamento é o sentimento de posse. Neste mundo ninguém conhece ninguém. Devemos estar preparados para o pior. Somos humanos e fracos. Os erros e traições fazem parte dos nossos carmas, assim, como a decisão de perdoar ou não."

Sem um início que prepare o leitor para as próximas duzentas páginas, acompanhamos um ano da vida de Rino na cidade de Porto Alegre. Somos apresentados a situações corriqueiras na vida de um homem – não um homem no sentido de humanidade, mas de um homem no sentido de varão –, e a seus pensamentos e atitudes diante de cada uma. Não existe uma história com começo, meio e fim. Não existe uma linha de ação que culmina em um clímax. Há apenas o que a vida apresenta a cada mudança de dia, e a reação de Rino a cada uma delas.

É fácil definir Rino pelo que ele não é. Ele não é romântico. Não é sentimental. Não é corajoso. Não é covarde. Não é fiel. Não mede as palavras e se expressa da mesma forma que pensa. Numa definição breve e direta, Rino é a representação bruta do sexo masculino, sem qualquer lapidação. É fácil taxar Rino com diversos adjetivos: machista, fiel, egoísta, compassivo, preguiçoso, sonhador, aproveitador, sincero, mulherengo, sedutor, infiel, viril.

Percebem a dualidade?

Ao mesmo tempo que você sente aversão ao personagem, não tem como você não simpatizar com sua sinceridade explicita e com algumas atitudes que demonstram a boa índole como pessoa. Em um momento acompanhamos a total indiferença de Rino com sua irmã, para no momento seguinte acompanhar sua compaixão por um desconhecido professor de história à beira da destruição que ele encontra em um bar. Uma hora, vamos com Rino para casas noturnas da classe média alta, para na outra hora nos sentarmos com ele na calçada e dividirmos nosso cantil de rum com um bêbado.

"Não gosto de enrolação. Todo cara que se passa por amiguinho só está cozinhando a garota para traçar depois. Se não for isso, o cara é vedete e gosta de sentar no pepino."

Rino é contraditório, mas é ao mesmo tempo extremamente coerente com as mulheres. Desde que você o enxergue como o que ele é, sua natureza. Ele não é o príncipe no cavalo branco, nem o cavaleiro de armadura negra. Ele é fiel na presença da mulher com quem está. Apenas nesse momento. Ele canta a garçonete de onde bebe café; ele fica excitado com as garotas de biquíni quando nada na piscina de seu prédio; ele se despede de uma namorada com saudades que duram a mudança de uma noite; ele não se inibe perante qualquer objeto de conquista, e, acima de tudo, ele deixa a mulher com quem fica totalmente ciente de que ele é assim.

"Acho que somos assim, voyeurs naturais. Se não podemos ver os outros transando, nos contentamos com nós mesmos. Somos animais, mamíferos; apaixonados pelo toque, pelo cheiro, pelo suor e pela carne de outrem.AA partir do momento que nos for tirado esse direito - do prazer instintivo - viraremos meros seres decorativos, superficiais e frívolos."

Rino não é o sonho da maioria das mulheres, mas ele é a realidade do que uma mulher pode encontrar como essência no sexo masculino.

Verme! é, acima de tudo, um relato cru, sincero, direto do pensamento masculino, sem adornos, sem rodeios, e, por isso mesmo, ofensivo de tão verdadeiro.

Retire do homem os conceitos individuais aplicados durante a vida que definiram sua personalidade. O que sobrar, é Rino.

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Caixa de Pássaros - Josh Malerman

Romance de estreia de Josh Malerman, Caixa de pássaros é um thriller psicológico tenso e aterrorizante, que explora a essência do medo. Uma história que vai deixar o leitor completamente sem fôlego mesmo depois de terminar de ler.
Basta uma olhadela para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em suicídio. Ninguém é imune e ninguém sabe o que provoca essa reação nas pessoas. Cinco anos depois do surto ter começado, restaram poucos sobreviventes, entre eles Malorie e dois filhos pequenos. Ela sonha em fugir para um local onde a família possa ficar em segurança, mas a viagem que tem pela frente é assustadora: uma decisão errada e eles morrerão. (Skoob)
MALERMAN, Josh. Caixa de Pássaros. Intrínseca, 2015. 272 p.


Já comentei algumas vezes que sou bastante medrosa, e tive até fase de evitar ler suspenses por causa disso. Este ano, porém, percebi que aquelas leituras mais leves ou românticas, que costumavam ser aquelas que mais me agradavam, dificilmente têm conseguido me convencer. Por isso, decidi arriscar leituras menos "confortáveis", como Filme Noturno e Objetos Cortantes, as quais, junto a Caixa de Pássaros, de Josh Malerman, estão entre as melhores do ano até agora. O Carlos também já fez resenha do livro aqui no blog, mas eu não pude perder a oportunidade de ler a obra e preciso compartilhar minha opinião com vocês.

Caixa de Pássaros tem nos pequenos detalhes e nos atos mais cotidianos seu grande trunfo. Narrado em terceira pessoa pelo ponto de vista de Malorie, com períodos objetivos e quase curtos demais, em capítulos também bastante curtos, o livro tem uma dinâmica que, de início, parece que será superficial. No entanto, enquanto compreendemos como Malorie e o mundo todo (ou o que sobrou dele) chegaram àquela situação descrita no livro, percebemos que a grande essência da obra está no que não foi dito.

Os capítulos se alternam em dois momentos da vida da protagonista: o atual, em que ela decide deixar a casa em que vive com os filhos e fazer uma viagem pelo rio de olhos vendados, e alguns anos antes, quando todos começaram a enlouquecer e cometer suicídio por algum motivo que, quem chegava a conhecer, não sobrevivia para contar.

"Mais gravetos se quebram. A coisa se move devagar. Malorie pensa na casa que abandonaram.Estavam seguros lá. Por que saíram? Será que o lugar para onde estão indo é mais seguro? Como poderia ser? Num mundo onde não podemos abrir os olhos, uma venda não é tudo que temos para nos defender?
Saímos de lá porque algumas pessoas decidem esperar as notícias chegarem e outras correm atrás delas."

A questão primordial da obra não está em uma grande ameaça ou algo contra o que se possa lutar. Todos os sentimentos transmitidos por Caixa de Pássaros estão mais relacionados ao não saber, ao desconhecido. Não foram raras as cenas em que o silêncio era o que mais trazia medo.

O medo, aliás, era o cerne da questão: ficava nítido que as pessoas que sobreviviam tinham como maior medo o de enlouquecer; mas o medo da loucura não é uma espécie de loucura ele próprio? Nesse quesito, Josh Malerman foi magistral ao tratar dessa linha tênue entre sanidade e loucura, porque mesmo aqueles que não viram e não estiveram expostos à causa daquele surto tinham tanto medo de enlouquecer que, por momentos, ficavam a ponto disso.

O livro é perturbador mais por coisas subjetivas, como a possibilidade da solidão e a necessidade de se acostumar a um mundo sem céu e sem natureza, do que pela ameaça em si. A simplicidade do enredo, que demonstra uma vida quase normal dentro daquele novo limite de normalidade, provou quão frágil é o psicológico humano e quão expostos estamos, especialmente em razão da desconfiança que temos uns nos outros.

"Ela imagina a casa como se fosse uma grande caixa. Quer sair daquela caixa. Tom e Jules, mesmo do lado de fora, ainda estão naquela caixa. O planeta inteiro está trancado nela. O mundo está confinado à mesma caixa de papelão que abriga os pássaros do lado de fora. Malorie entende que Tom está procurando uma maneira de abrir a tampa. Busca uma saída. Mas ela se pergunta se não há outra tampa acima daquela, e depois mais uma.
Encaixotados, pensa. Para sempre."

Caixa de Pássaros me fez pensar em possibilidades, em loucura, em quão bons podemos ser e, ao mesmo tempo, em quão egoístas somos, mesmo na situação de maior necessidade. Também me fez pensar em como, muitas vezes, é preciso tomar uma decisão e simplesmente seguir em frente, por mais duro que aquilo possa parecer, porque é a única decisão que se pode tomar e ser forte não é opção. Fiquei fascinada pela história, que me deixou uma sensação estranha por dias, e que, ainda que tenha deixado muita coisa em aberto, deu todas as respostas de que eu precisava. Porque, como comentei no início da resenha, a grande essência da obra está no que não foi dito.

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Promoção: Aniversário Conjunto da Obra


Olá queridos leitores!

Maio sempre é mês de festa no Conjunto da Obra, e em 2015 o blog completa 4 anos. Não podíamos deixar a data passar em branco, claro, por isso convidamos vários autores e blogs amigos para comemorar conosco. E a festa, é claro, é para vocês!

Agradeço imensamente àqueles que estão presentes nessa jornada há tanto tempo, leitores e amigos, e mais ainda aos que se dispuseram em contribuir e participar dessa promoção de aniversário:

Autores: Josy Stoque, Carlos Henrique, Peterson Silva e Patrícia Baikal.

REGRAS

- A promoção estará no ar de 05/05 a 31/05; o resultado será divulgado em até 7 dias.
- A promoção é válida somente para quem tem endereço de entrega no Brasil;
- Os livros serão enviados aos ganhadores em um prazo de 40 dias úteis após o recebimento dos dados do ganhador.
- Cada blog/autor será responsável pelo envio do livro que cedeu, por isso os livros chegarão separadamente, em datas distintas;
- Os blogs participantes da promoção não se responsabilizam por extravio ou atraso na entrega dos Correios. Assim como não se responsabilizam por entrega não efetuada por motivos de endereço incorreto, fornecido pelo próprio ganhador e os livros não serão enviados novamente;
- O ganhador terá o prazo de 24h para responder ao e-mail que lhe será enviado;
- Se após o prazo não houver retorno do ganhador, um novo sorteio será realizado para substituir aquele que não responder ao e-mail;
 - Para se inscrever basta inserir suas entradas no formulário Rafflecopter abaixo;
- A primeira inscrição é livre, para entradas extras leia a instrução de cada uma;
- São 5 kits e 5 ganhadores. Há apenas um formulário, então serão cinco sorteados: o primeiro sorteado terá preferência na escolha do kit que receberá, o segundo escolherá um dentre os 4 kits restantes e assim sucessivamente.


KIT 1
 
+ Bottons e Marcadores de "Fugitivos"
+ E-book "A Aliança dos Castelos Ocultos"
+ Acesso ao "Universo Estendido"
+ Kit de marcadores diversos

KIT 2
 
 + E-book "A Aliança dos Castelos Ocultos"
+ Acesso ao "Universo Estendido"
+ Kit de marcadores diversos

 KIT 3
 
  + E-book "A Aliança dos Castelos Ocultos"
+ Acesso ao "Universo Estendido"
+ Kit de marcadores diversos

 KIT 4
  
+ E-book "A Aliança dos Castelos Ocultos"
+ Acesso ao "Universo Estendido"
+ Kit de marcadores diversos

KIT 5
 
+ E-book "A Aliança dos Castelos Ocultos"
+ Acesso ao "Universo Estendido"
+ Kit de marcadores diversos



a Rafflecopter giveaway

Esperamos que todos participem muito, e boa sorte!

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