Sinopse: Em Depois de você, Lou ainda não superou a perda de Will. Morando em um flat em Londres, ela trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, Lou cai do terraço. O terrível acidente a obriga voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la.
Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente. (
Skoob)
Recebido em parceria com a Editora.
MOYES, Jojo.
Depois de Você. Intrínseca, 2016. 320 p.
Jojo Moyes sempre foi uma autora que me encantou. Os livros dela são singelos e dificilmente há algo grandioso na história, mas o que está por trás de suas palavras delicadas é que toca nosso coração. Por mais bobo que o enredo pareça às vezes, há sempre algo que consegue nos emocionar e o vínculo com os personagens é tão grande que, por vezes, sentimo-nos como se fôssemos os próprios. Com Como eu era antes de você foi dessa forma que me senti: amei com Lou e sofri com ela, chorei demais com um final que eu sabia ser inevitável, e a perspectiva de como tudo seria depois daquilo me fez ler logo a sequência, Depois de você.
Diferente da maioria dos leitores que já haviam lido o primeiro livro há algum tempo e que ficaram com receio da sequência que, em tese, não iria acontecer, eu não tive tempo para criar barreiras quanto a ler o segundo livro. Quando comecei o primeiro, já estava com Depois de Você em mãos, então a consciência de sua existência era nada mais do que uma situação já concretizada. Essa constatação foi fundamental para não criar grandes expectativas e, apesar de ter gostado muito mais de Como eu era antes de você, o segundo livro, apesar de algumas falhas, é inegavelmente uma boa continuação. Aviso para quem não leu o primeiro livro que a resenha contém spoilers.
"Eu mal conseguia dizer o nome de Will. Ouvindo histórias sobre relações familiares, os casamentos de trinta anos, as casas, vidas e filhos compartilhados, eu me sentia uma fraude. Eu havia sido cuidadora de alguém durante seis meses e o vi pôr fim à própria vida. Como é que essas pessoas desconhecidas poderiam entender o que Will e eu havíamos significado um para o outro durante esse tempo? Como eu poderia explicar que tínhamos nos entendido muito depressa, que compartilhávamos piadas simples, verdades bruscas e segredos sinceros? De que maneira eu poderia relatar que aqueles poucos meses haviam mudado a forma como eu me sentia em relação a tudo? Que ele modificara tão completamente meu mundo que nada mais fazia sentido sem ele?"
Louisa Clark precisava seguir em frente. Depois da morte de Will, ela viajou pela Europa, viveu algumas experiências que achou que ele gostaria que vivesse, mas não conseguia mais se sentir inteira, mesmo dezoito meses depois que tudo aconteceu. Após um grave acidente, seus pais exigiram que ela participasse de um grupo de apoio ao luto, e a situação começou, aos poucos, a avançar. Ela não esperava, porém, que alguém do passado de Will fosse bater à sua porta, e que esse acontecimento fosse mudar tudo o mais à sua volta.
Lou já não parece mais a garota que deixou Stortfold. Aquele bom humor e inocência da personagem no primeiro livro a abandonaram, e há certa amargura em todos os seus pensamentos. É claro que um acontecimento como aquele não deixaria de afetá-la, mas, por vezes, eu não conseguia enxergar que se tratava da mesma personagem do primeiro livro. Esse foi um aspecto incômodo deste segundo volume, haja vista que, muitas vezes, eu precisava me lembrar que se tratava de uma continuação, porque a diferença no tom da narrativa facilmente me levava a pensar que se tratava de outra protagonista, em uma obra diferente.
"- Dezoito meses. Dezoito meses inteiros. Até quando vai ser assim? - pergunto na escuridão. E pronto, posso senti-la fervendo de novo: aquela raiva inesperada. Dou dois passos olhando para os meus pés. - Porque isso não parece vida. Não parece nada.
Dois passos. Mais dois. Hoje à noite vou até o canto.
- Você não me deu uma vida, deu? De jeito nenhum. Só acabou com a minha antiga. Desfez em pedacinhos. O que eu faço com o que sobrou? Quando é que vai parecer... - Abro os braços, sentindo na pele o ar fresco da noite, e percebo que estou chorando outra vez. - Vá se foder, Will - murmuro. - Vá se foder por ter me deixado."
Outro detalhe que não me agradou muito foram as muitas situações criadas para Lou nesta sequência. Já não bastava o sofrimento que a acompanhava, ter de lidar com a queda do telhado de um prédio, uma adolescente rebelde, fotografias comprometedoras, um ex-noivo sem noção, um novo relacionamento e a situação complicada de seus pais, entre outras coisas, tudo de uma vez só, deu-me a impressão de que não havia história para 320 páginas de livro, e que, só por esse motivo, foram incluídas no enredo outras situações, às vezes até exageradas, para completar o volume.
Por outro lado, muitos aspectos da obra também me agradaram. Uma grande surpresa foi a pessoa que bateu à porta de Lou. No início, o pensamento que tive foi que era um absurdo criar algo tão inesperado. Pela sinopse, minha aposta inicial era de que seria alguém próximo de Will antes do acidente que traria a Lou outras recordações sobre ele. Mas não foi, e eu poderia esperar qualquer coisa, menos aquilo. Passado o choque inicial, vi que a escolha não poderia ter sido mais acertada, uma forma de trazer esperança e de manter viva a memória de Will.
"- Tudo bem. Enfim. Tenho uma pergunta de verdade. Quanto tempo acha que a gente leva para superar a morte de alguém? Quer dizer, de alguém que a gente realmente amou.
Não sei direito por que perguntei isso a ele. Foi de uma falta de sensibilidade quase cruel, considerando as circunstâncias. Talvez fosse medo de que o mulherengo compulsivo estivesse prestes a pôr as mangas de fora.
Os olhos de Sam se arregalaram um pouco.
- Hum. Bem... - Ele olhou para sua caneca e depois para os campos sombrios. - Não tenho certeza se algum dia a gente supera."
Acho que o melhor aspecto dessa sequência, no entanto, foi a oportunidade de conhecer os rumos que a vida dos personagens do primeiro livro seguiram. Não só o de Lou, mas o de Sr. e da Sra. Traynor, de Nathan e até mesmo de Patrick. Mesmo porque, como Lou mesma comenta durante o livro, a história foi linda até o momento em que Will os deixou, mas e depois? E os que ficaram? E os relacionamentos que surgem depois disso? Amizades, lembranças, necessidade de seguir em frente. Foi interessante ver como cada um lidou com a sua dor. Essa era a proposta de
Depois de você e acho que o livro cumpriu seu papel perfeitamente.
Depois de você é bastante diferente de
Como eu era antes de você. Trata-se de uma nova história, com vínculos relevantes no livro anterior, que mostra ser possível lembrar o passado com amor, sem, no entanto, deixar de olhar para o futuro.