Sinopse: Pedro Diniz tem um desafio e um problema pela frente.
O desafio: filmar um roteiro magnífico capaz de surpreender o público e conquistar o prêmio mais importante do cinema brasileiro.
O problema: não ter a menor ideia de como fazer isso.
Aos 25 anos, recém-formado, Pedro está convencido de que é um sujeito muito especial, que tem a missão de usar o cinema como instrumento para melhorar o mundo. Diagnosticado na adolescência com uma doença degenerativa que o condenaria à cegueira, ele contraria a lógica da medicina quando a perda de sua visão estaciona de forma inexplicável. Enquanto comanda o último cineclube de São Paulo e trabalha em uma videolocadora na periferia, Pedro planeja seu próximo filme - a obra que vai consagrá-lo. E, para animar as coisas, conhece a intrigante Cristal, uma ruivinha decidida, garçonete e estudante de física nuclear, que mexe com seu coração.
A perspectiva idealista de Pedro, porém, sofre sérios abalos. Atormentado por um segredo, ele parte com os amigos Fit, Mayla e Cristal numa longa viagem até Pirenópolis, em Goiás, a bordo de um Opala envenenado. Com câmeras nas mãos e espírito de aventura, a equipe técnica improvisada está disposta a usar toda a sua criatividade na filmagem, feita na estrada ao sabor de encontros inesperados e de sentimentos imprevisíveis. E o jovem cineasta descobre que, quando o destino foge do script, nada supera o apoio de grandes amigos. (Skoob)
GOMYDE, Maurício. Surpreendente! Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
Para entender Surpreendente!, pense em um filme que te deixou feliz. Aquele que você não sabe dizer porque gosta tanto, mas que deixou seu coração transbordando de amor. Aquele, que pode até parecer bobo aos olhos de outra pessoa, mas que tocou seu coração e te fez suspirar e pensar em como a vida pode ser boa. Aquele que, mesmo que você saiba que nunca poderia acontecer na realidade, ainda assim te enche de esperança.
Cinema felicidade: é assim que Pedro Diniz classifica os filmes que se enquadram na descrição acima. E se Surpreendente!, de Maurício Gomyde, fosse um filme, acredito que se encaixaria facilmente nessa categoria.
"- E seu filme é sobre o quê?
- Sinceramente? - Pedro deu um demorado gole no chope. Cristal balançou a cabeça. Ele suspirou e soltou:
- Não faço a menor ideia..."
Há algum tempo, tive oportunidade de ler outro livro de Maurício. Na época, achei sua obra precipuamente despretensiosa, muito embora a tenha descrito como um texto que "preza pela ausência de complexidade". Nesta leitura, tive a mesma impressão, já que é nítido que o autor não tem a intenção de criar um livro cheio de reviravoltas mirabolantes e sentimentos conflituosos.
Há, sim, altos e baixos relevantes à história do personagem principal. Não se trata de uma leitura morna, devo dizer. Só que esse não é o ponto alto do livro, e sim o toque sonhador inserido em cada gesto do protagonista, a força dos seus relacionamentos, a vontade e genuinidade de buscar aquilo que acredita. Especialmente porque, mesmo quando tudo parecia já estar perdido para Pedro, quando ele se sentia sem fé, ele mostrou, de outras formas, que sempre há esperança.
"O Opala roncou cidade adentro e assim partia, rumo ao interior do Brasil, a equipe de cineastas mais improvável da história. Na bagagem, nada além de um pequeno equipamento, algumas ideias na cabeça, e a vontade de cada um dos três amigos de registrar a viagem de sua vida. Pedro não sabia se as respostas para o que o destino havia lhe apontado cruzariam seu caminho, mas tinha certeza de que precisava seguir em frente. [...]"
Maurício Gomyde se destaca pela leveza de sua escrita, pelas nuances de conto de fadas que insere em suas obras. O livro é cheio de clichês e pode até ser que o enredo não seja lá muito surpreendente de verdade, mas não precisa disso para ser especial. Ele encanta pela simplicidade, pela amizade, pelos simples momentos em que a vida mostra como é especial só pelo fato de ser vida.
Comecei a leitura sem grandes expectativas e fui presenteada com sorrisos bobos no rosto e com lágrimas nos olhos. E claro, também ganhei de brinde a edição incrível do livro. Por isso tudo, Surpreendente! pode não ser uma obra grandiosa, mas é uma bela obra, como o cinema felicidade.