Desafio de Escrita #1: Fim e recomeços


Resisti ao impulso de manter meus olhos fechados por mais tempo. Eu sabia que estava evitando a luz do dia, embora estivesse sentada naquele banco do parque exatamente para encontrar o sol que aparecera naquela manhã, depois de uma semana inteira de nuvens e escuridão.

Poderia parecer presunção, mas era como se o clima da última semana refletisse meu estado interior. Nuvens e lágrimas que eu pensei que nunca deixariam de verter dos meus olhos se agitavam em uma constante dentro de mim. Mas ali estava eu, depois de dias difíceis, no parque perto de casa, buscando o sol e minha luz própria.

Foi difícil deixar meu apartamento e sair para ver o mundo e respirar. Por outro lado, era bom sentir outras coisas novamente, como a brisa do início do outono, que deixava meu corpo arrepiado e era um bom contraponto às temperaturas ainda altas, ver o verde que me cercava e as pessoas que passavam de um lado para o outro sem compromisso e sem preocupações aparentes.

Era difícil entender como tudo podia mudar em tão pouco tempo. Foi doloroso vê-lo partir. Depois de anos dividindo a vida e os sonhos, não achei que fosse acabar assim, com poucas palavras e uma mala que retirava do meu alcance qualquer vestígio de sua presença. Doeu, como nunca doeu antes, ver os planos de um futuro se desfazerem sob os meus olhos sem que nada pudesse ser feito para evitar o fim. Ele não queria mais, não me queria mais, e pensar nisso era como cravar uma faca em meu peito, tão doloroso que tornava difícil respirar.

Ainda que a dor não fosse desaparecer tão fácil, eu já não era mais uma menininha e sabia que precisava seguir em frente. Eu me doei por inteiro, amei profundamente, mas não foi suficiente. Chorar não resolveria nada, mas eu expurguei o máximo da dor que consegui nos últimos dias e estava pronta continuar agora. Sem ele.

Levantei-me do banco e iniciei uma caminhada leve, observando tudo ao meu redor. Havia tanto verde ali, tanta vida, não fazia sentido eu desperdiçar a minha com tristeza. Pássaros cantavam em alguma árvore ali perto, abelhas passavam de flor em flor e borboletas pousavam em todos os cantos. Perceber essa explosão de cores trouxe algum acalento, ainda que eu não soubesse a razão. Não importava a razão, afinal, porque eu só estava ali para me sentir viva de novo, e era dessa forma que eu me sentia.

Pouco depois de um Jacarandá, uma roseira me chamou a atenção. Repleta de flores de pétalas lilás, as cores se destacavam do entorno, por serem tão diferentes das rosas mais comuns. Nunca havia visto rosas tão bonitas, nem tão hipnotizantes. Embora com certeza aquelas rosas não estivessem ali por minha causa, minha intuição me dizia que eu tinha sido levada a elas para compreender que pode haver beleza mesmo no momento mais triste e que só é preciso abrir um pouco a mente e o coração para enxergá-la.

Com um sorriso no rosto, iniciei meu caminho de volta para casa. Eu sabia que a dor não havia sumido e sabia que ela poderia durar por algum tempo ainda. Sabia também, porém, que a vida nos leva por caminhos surpreendentes e eu estava preparada para as novas surpresas que a vida tinha para me dar.

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Este conto faz parte do Desafio de Escrita, e foi escrito a partir do tema 4 (Você passeia em um parque e encontra a rosa mais bonita que já viu). Espero que gostem!
Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

9 comentários:

  1. Você escreve muito bem, bem interessante este desafios, gosto muito de ler contos, então adorei seu conto!

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  2. Amo contos, principalmente estes capazes de fazer com que refletirmos, sobre momentos momentos e situações pelas quais passamos, por exemplo, ultimamente tenho andado triste, e chateada, porém sei que isto e passageiro, e que logo tudo ficará em seu devido lugar, como descrito nesta estória. Parabéns pelo conto, palavras simples, com fácil entendimento, está no caminho certo.

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    1. Oi Lana, que bom que gostou. Espero que melhore, como a minha personagem ;)

      Beijos

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  3. Ola!! Que conto mais lindo, que desafio interessante esse, Parabéns, gostei muito!!

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  4. Ju!
    Tão lindo seu conto!
    Bom ver como a natureza nos auxilia a superar momentos de perda e de dificuldade.
    Simplesmente adorei!
    Parabéns por participar do desafio.
    Semaninha alegre e feliz!
    “No fundo, morrer não seria nada. O que não suporto é não poder saber como terminará.” (A. Amurri)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  5. Gostei do conto muito bonito e profundo, com sentimentos e me deixou refletido enquanto lia,fui levada para o parque fiquei me imaginando lá rs.

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  6. Adorei o conto, ficou lindo!
    Você tem uma escrita encantadora, que nos até parque e nos faz sentir as emoções.

    beijos

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  7. Nossa parabéns! Você escreve muito bem e adorei ler este conto ♥
    Gostei muito deste desafio, posta mais.
    Beijos.

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