A garota que tinha medo - Breno Melo

Marina é uma jovem que faz tratamento para a síndrome do pânico. Às voltas com o ingresso na universidade, um novo romance e novas experiências, Marina tem seu primeiro ataque de pânico. Sua vida vira de cabeça para baixo no momento mais inapropriado possível e então psiquiatras e psicólogos entram em cena. Acompanhamos suas idas ao psiquiatra e ao psicólogo, o tratamento farmacológico e a psicoterapia. Ao mesmo tempo, conhecemos detalhes de sua vida amorosa e sexual, universitária e profissional, social e familiar na medida em que elas são marcadas pela síndrome. Um tema atual. Uma excelente obra tanto para conhecimento do quadro clínico como entretenimento, narrada com maestria e de uma sensibilidade notável.
MELO, Breno. A garota que tinha medo. Chiado Editora: 2014.

Eu já havia lido uma ou duas resenhas de A garota que tinha medo antes de ter oportunidade de ler o livro, em razão de uma parceria com o autor Breno Melo. Eu sabia que era um livro que tratava de um tema sério, a Síndrome do Pânico, sobre a qual eu pouco conhecia além do nome. Fiquei bastante impressionada ao ler a obra, especialmente com a clareza e a sobriedade com que o tema foi abordado.

A obra é narrada em primeira pessoa por Marina, que conta como sua vida passou a ser influenciada pela Síndrome do Pânico. O texto comenta com riqueza de detalhes tudo o que a realidade daqueles que sofrem a síndrome passa a compreender e trata com naturalidade - que às vezes ainda falta - a natureza deste e de outros distúrbios mentais. Há descrição detalhada de sintomas, das sensações no ápice das crises, bem como alguns termos técnicos, que são explicados de forma simples, para que qualquer pessoa possa entender e tomar conhecimento do que é, de verdade, a síndrome.

"Minha existência sempre havia sido banal e discreta, sem grandes dramas, até que um vendaval, vindo de não sei onde, virou-a de ponta-cabeça. Me tornei a protagonista de uma história que eu não queria interpretar, passei a ser o centro das atenções e a me sentir humilhada. Nunca mais fui a mesma depois do primeiro ataque, temendo as pessoas ou os lugares. Tinha medo de passar por outros ataques, que poderiam acontecer a qualquer momento."

Ao mesmo tempo que o livro aborda com precisão de detalhes esse "pedaço" de Marina, ela, definitivamente, não se resume a isso. Breno conseguiu construir uma personagem complexa, que tem toda uma vida afora o distúrbio, com crenças, religião, gostos literários, paixões e todos os outros elementos presentes na vida de qualquer um, mas que tem todas as suas "partes" influenciadas pela síndrome.

Particularmente, não vi muitas semelhanças minhas com a personagem, a não ser o fato de ser bastante exigente comigo mesma, mas mesmo assim consegui me sentir próxima de Marina. A maneira como o texto foi escrito, com interrupções da protagonista para comentários e devaneios, deu um tom de diálogo ao texto e a impressão de que Marina conversava com o leitor. Ver os acontecimentos por seu ponto de vista, suas motivações e justificativas, permitiu-me compreendê-la. São interessantes as reflexões fugazes da personagem,  sejam eles a respeito do amor, da fé, da vida.

"Dizem que não nascemos com a sensação de medo, mas que a adquirimos ou a aprendemos; e o aprendizado se dá através da observação de terceiros. Ver alguém com medo exagerado diante de um trovão ou de uma barata pode nos levar, na tenra infância, a acreditar que os trovões ou as baratas são exageradamente perigosos. E então crescemos com essa ideia adormecida em algum lugar de nossas mentes. Numa linguagem mais clara, nossos medos irracionais estão em nosso inconsciente, nesse terreno em que quase ninguém pisa."

Algo que me deixou bastante intrigada, no início, foi o fato de a história ter como pano de fundo o Paraguai. Por que o Paraguai? Porém, conforme o enredo se desenrolava, percebi quão pouco eu sabia dessa país vizinho, e Breno traz tantos elementos da cultura, da história e da geografia do país que logo me percebi querendo saber mais.

A única coisa que realmente me incomodou durante a leitura foi o uso recorrente de diminutivos. Sei que muitas vezes usamos palavras assim no dia a dia, mas não é algo agradável de ver na literatura.

A garota que tinha medo é uma leitura com um peso a mais, por trazer um tema tão importante, que nem sempre tem seu devido espaço. É um livro técnico o suficiente para explicar a doença, mas com o entretenimento necessário para aqueles que buscam algo mais leve.


Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

7 comentários:

  1. Oi Julia, fiquei feliz que ao longo da leitura você foi tendo suas respostas ;) Eu tbm não curto narrativas com diminutivos, parece meio forçado quando falado naturalmente né?! Adorei a resenha!

    Beijos,
    Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  2. Oi Julia, fiquei feliz que ao longo da leitura você foi tendo suas respostas ;) Eu tbm não curto narrativas com diminutivos, parece meio forçado quando falado naturalmente né?! Adorei a resenha!

    Beijos,
    Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  3. não conhecia o livro! achei o tema atual e bem abordado, sem cair na pieguice. achei bem legal a personagem se fazer entender, como vem com um problema como é a síndrome do pânico, poderia ser confuso pra quem ler. apesar de não gostar de capas com modelos, essa funcionou, passou um toque de melancolia. tá anotado a dica, achei bem interessante =)

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  4. Oi Julia!
    Não conhecia o livro nem o autor, mas já está na lista de desejados! Não sei muito sobre a doença e acho legal quando os autores incluem doenças/assuntos pouco conhecidos nas suas histórias. Não deixa de ser uma maneira de manter as pessoas informadas.

    Beijos,
    Epílogos e Finais

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  5. Bom dia Julia,

    Esse é mais um livro que fico conhecendo aqui, gosto de livro que abordam temas importantes, vi que gostou bastante e os diminutivos é apenas um detalhe, dica anotada...abraço.


    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  6. Oi Jú, tudo bem?
    Primeira vez no seu cantinho e adorei aqui, parabéns ♥ Ainda não tive oportunidade em ler esse livro (vi ele pela primeira vez aqui no seu blog), mas me aparenta ser bem interessante pois eu nunca li um livro que tenha uma protagonista com o síndrome do pânico e no entanto, assim como você falou tem um tema muito importante! Fiquei encantado com sua palavras e me deixou um gostinho de quero mais agora HAHAHA.
    Beijos,
    Luan || http://umgrandevicioliterario.blogspot.com.br/

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  7. também peguei birra com os diminutivos hahaha, mas depois me acostumei ^^
    Adorei a leitura

    www.saidaminhalente.com

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