AVIT, Clélie. Eu Estou Aqui. Editora Fábrica 231, 2016. 288p.No cenário frio e asséptico de um hospital surge a paixão entre Elsa, uma montanhista em coma há cinco meses depois de cair durante uma escalada, e Thibault, que se refugia no quarto da moça, por não querer visitar o irmão, o motorista bêbado que causou a morte de duas adolescentes num acidente automobilístico.Delicadamente composto, o romance mostra o envolvimento gradual entre dois personagens cuja comunicação se dá instintivamente. Enquanto Thibault pode conversar e incentivar Elsa a retomar o domínio de suas ações, a jovem ouve, percebe e sente toques em seu corpo, mas não tem como comunicar seus desejos e anseios. Os dois passam a se conhecer tanto pelo que transmitem um ao outro – Thibault em suas confidências, Elsa tentando demonstrar que corresponde a seus estímulos – quanto pelo que os amigos da montanhista comentam a respeito do rapaz ou falam a ele sobre Elsa. Junto da moça em coma, Thibault sente-se tranquilo e protegido da revolta contra o irmão, internado em estado grave no mesmo hospital. Elsa, embora cercada pela família e por amigos, se entusiasma com a ousadia de Thibault, que não se acanha em beijá-la. E quando os parentes discutem a possibilidade de desligar os aparelhos que a mantêm viva, é com ele que Elsa conta para lutar por sua própria sobrevivência.Narrado em primeira pessoa, alternando os relatos dos dois protagonistas, Clélie Avit consegue abordar problemas universais e atuais, como eutanásia, violência no trânsito e alcoolismo. As novas famílias urbanas também se superpõem aos laços biológicos. Thibault acompanha a mãe ao hospital, mas se recusa a enfrentar a situação do irmão, à beira da morte por um desastre causado por irresponsabilidade.
Elsa está em coma há cerca de cinco meses devido a um
acidente causado ao praticar montanhismo. Thibault vai ao hospital por causa de
seu irmão que está internado. Em uma dessas visitas, ele erra a porta e acaba entrando no quarto de Elsa. Então ele decide conversar com a moça, mesmo percebendo que
ela está inconsciente.
Essas visitas se tornam cada vez mais frequentes, já que
Thibault vai ao menos uma vez por semana acompanhar sua mãe - Ele só vai ao
hospital por causa dela, já que não consegue perdoar seu irmão e não quer
vê-lo. No quarto de Elsa, Thibault encontra paz. Ele conversa com a moça e até dorme um pouco, mas o
que ninguém sabe, é que Elsa consegue ouvir tudo ao seu redor. Porém, após
algumas visitas Thibault tem certeza que Elsa consegue mesmo ouvi-lo.
Uma paixão delicada e perigosa surge entre os dois, já que
Thibault não sabe se Elsa vai acordar ou se é recíproca. Mesmo assim ele continua
fazendo as visitas, com esperança de que a moça acorde e diga que sente o
mesmo.
Gostei bastante dos capítulos narrados por Elsa. Apesar de ficar um pouco
agoniada com a situação, pois a moça estava presa naquela cama e não conseguindo
fazer outra coisa além de ouvir. Ela identificava até mesmo os sons mais
baixinhos. Além disso, os sons possibilitaram que sua imaginação fluísse
melhor, podendo assim criar as cenas ao seu redor. Suas visitas ganharam cores,
que eram atribuídas de acordo com a percepção de seus sentidos. Durante a leitura
podemos sentir sua dor ao ouvir os médicos dizendo que suas chances de despertar eram quase
nulas e até sua família já não tinha mais esperanças.
Thibault foi um personagem bem confuso para mim. Em
certos momentos ele era delicado e até consegui sentir um pouco de afeto por
ele. Já em outros, ele se tornava um tanto rancoroso e desbocado, até fez uma
cena bem grosseira num bar onde costumava ir. Não foi um personagem que me
agradou, mas ainda assim, torci para que ele tivesse um final feliz.
Eu nunca pesquisei nada sobre coma, mas no livro, Elsa
estava neste estado cerca de cinco meses e já havia a possibilidade de ser
"desligada". Foi um choque pra mim, pois cinco meses é pouco tempo para
decidir uma coisa dessas. Na verdade, não sei se há um tempo certo nestes casos
e isto é uma coisa de se pensar. Também não sei se este caso se enquadra
exatamente na eutanásia, já que a paciente não estava teoricamente sofrendo
(não sentia dor). Mas ela não conseguia sobreviver sem a ajuda de aparelhos, o
que pesou muito no pensamento desta
possibilidade.
Outro tema abordado no livro é o alcoolismo. O irmão de
Thibault matou duas garotas por estar dirigindo bêbado e durante toda a trama
este tema corrói os personagens. Isto mostra que não foi só as garotas e suas
famílias foram destruídas, mas a do condutor também. Fiquei com tanta pena da
mãe de Thibault, que tentava de todas as formas aproximar os irmãos, mas sem sucesso.
Mesmo com esses temas fortes, ainda há um espacinho para um
relacionamento amoroso, ou quase isso. Thibault estava se apaixonando por uma
completa desconhecida que estava em coma e Elsa, se apaixonando por um
desconhecido, sem saber se teria a oportunidade de um dia olhá-lo nos olhos.
Mas é tudo tão sutil, que algumas pessoas podem se decepcionar. Creio que se a
autora aprofundasse um pouco mais os sentimentos dos personagens, o livro
seria mais emocionante. Os personagens secundários não receberam muito destaque
na obra, o foco ficou mais entre os protagonistas mesmo. Parece que os secundários só
estavam ali para preencher espaços entre os dias de Thibault fora do hospital.
O livro é bem fluido, os capítulos são curtos, revezados
entre Elsa e Thibault. A linguagem utilizada é bem simples e encontramos muitos
diálogos, o que torna o livro ainda mais rápido. Apesar da estranheza da situação (não é sempre que um homem entrar num quarto de uma mulher em coma e se
apaixonar por ela), decidi abandonar a lógica e desfrutar da leitura da melhor
maneira possível. Não foi uma leitura que me agradou totalmente, mas fiquei
ansiosa para descobrir o que estava por vir.