Créditos da foto: Altamente Ácido |
"Você acredita em contos de fadas?" Pergunta Eduardo Spohr no prefácio. E continua, "Alguma coisa me diz que até o final deste livro você passará a acreditar". Para que o feitiço Yabu dê certo, é necessário que esqueça tudo o que você sabe sobre contos de fadas. Branca de Neve não é apenas uma jovem ingênua, mas também uma implacável caçadora de zumbis. Cinderela guarda um terrível segredo, que selará seu destino para sempre. Rapunzel está longe de ser uma reles menina isolada numa torre. E a morte da Pequena Vendedora de Fósforos revela uma tradição macabra de morte e psicopatia que vai muito além de uma inocente história infantil. Em Branca dos Mortos e os sete zumbis, Fábio Yabu resgata a tradição clássica dos contos de fadas dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen, onde as histórias, mais que um simples entretenimento, servem como lições para moldar o caráter das crianças, na maior parte das vezes por meio do medo. Aqui, não há meias-palavras nem eufemismos. O mundo encantado de Yabu é atormentado, sombrio e com altas doses de tensão sexual. Branca dos Mortos e os sete zumbis foi lançado pela primeira vez sob o pseudônimo Abu Fobiya numa edição limitada com venda apenas pela Internet pelo selo NerdBooks, responsável pelo lançamento de autores como Eduardo Spohr e seu best-seller A batalha do apocalipse, e logo se tornou uma obra cult entre os fãs de literatura de terror. Agora, a Globo Livros revela os sortilégios contidos nesta coletânea para o grande público e o brinda com um conto inédito. Um livro para ler com as luzes acesas. Bons sonhos.YABU, Fábio. Branca dos Mortos e os Sete Zumbis. São Paulo: Globo Livros, 2013. 200 p.
Para ser sincera, não sou fã de livros de terror. O motivo óbvio é o medo que eu sinto quando leio coisas do gênero. E quando eu digo medo, quero descrever aquele frio na barriga, suor frio e mil pesadelos que tenho em uma só noite (já podem me chamar de maria-mole). Acontece que apesar de tudo, resolvi pegar esse para ler e, por Deus, não me arrependo.
Por incrível que pareça, eu não fiquei com medo. O que senti, na verdade, foi certa repulsa e, muitas vezes, indignação. Mas não entenda isso como uma coisa ruim: a meu ver, essa é a intenção do autor. O livro reúne 11 contos que já conhecemos, mas de uma forma espantosamente macabra. Fábio Yabu muda a direção de todos os contos para uma coisa mais sangrenta e assustadora. E o mais interessante do livro é que o autor foge do tradicional feliz para sempre com muita originalidade, o que me surpreendeu bastante.
"A verdade é que, tivesse tido a oportunidade, e se
esta fosse uma história feliz, Cindehella poderia ter seguido os
passos do pai, ou se aventurado no desconhecido campo
da alquimia, e assim contribuído para o avanço da ciência.
Mas esta não é uma história feliz."
O mais legal da obra é que os contos conversam entre si. Um personagem ou estória de um é citado em outro. Sempre tem algum detalhe que dá a entender que todos eles estão ligados por um fio, tornando-os um. Apesar de ter gostado de todos os contos e o mais marcante ser Branca dos Mortos e os 7 Zumbis, os que mais me cativaram foram Cindehella e o Sapatinho Infernal, Samarapunzel e O Fim De Quase Todas as Coisas. Yabu usa e abusa da sua criatividade ao tornar estórias infantis em uma trama para recomendada para adultos, sem tirar a ideia principal dos contos de fadas que, aqui, se tornam contos de bruxas.
Não posso deixar passar em branco a arte de capa, que é maravilhosa, e as ilustrações do Michel Borges, que mostram com sutileza o que está por vir em cada conto. Branca dos Mortos e os 7 Zumbis é um livro divertido, de leitura bem rápida, fácil e contagiante, que faz você querer trocar as versões originais por essa maravilha criada por Fábio Yabu, que em sua primeira edição publicou sob o pseudônimo de Abu Fobiya.