Tudo o Que Nunca Contei - Celeste Ng

Sinopse: Na manhã de um dia de primavera de 1977, Lydia Lee não aparece para tomar café. Mais tarde, seu corpo é encontrado em um lago de uma cidade em que ela e sua família sino-americana nunca se adaptaram muito bem. Quem ou o que fez com que Lydia — uma estudante promissora de 16 anos, adorada pelos pais e que com frequência podia ser ouvida conversando alegremente ao telefone — fugisse de casa e se aventurasse em um bote tarde da noite, mesmo tendo pavor de água e sem saber nadar? À medida que a polícia tenta desvendar o caso do desaparecimento, os familiares de Lydia descobrem que mal a conheciam. E a resposta surpreendente também está muito abaixo da superfície. Conforme analisa e expõe os segredos da família Lee — os sonhos que deram lugar às decepções, as inseguranças omitidas, as traições e os arrependimentos —, Celeste Ng desenvolve um romance sobre as diversas formas com que pais, filhos e irmãos podem falhar em compreender uns aos outros e talvez até a si mesmos. Uma uma observação precisa e dolorosa do fardo que as expectativas da família representam e da necessidade de pertencimento. Um romance que explora isolamento, sucesso, questões de raça, gênero, família e identidade e permanece com o leitor bem depois de virada a última página. (Skoob)
NG, Celeste. Tudo o Que Nunca Contei. Intrínseca, 2017. 304 p.


Em uma manhã pacata de um dia qualquer em 1977, a vida da família Lee vira de pernas para o ar. Isso porque Lydia, a filha preferida e aluna modelo, se atrasa para o café da manhã. Mas o que os Marilyn e James nem desconfiam é que, nesse horário, Lydia já está morta há muito tempo. Depois de alguns dias torturantes de espera, eles finalmente recebem a notícia: o corpo da adolescente de 16 anos foi encontrado no lago da cidade. O mistério que paira no ar é o que realmente aconteceu com a garota, já que ela tem pavor de água. Será que alguém teria coragem de machucá-la ou seria suicídio? São essas as respostas que ficamos tão ávidos para descobrir junto com os Lee.

Quando iniciei a leitura de Tudo o Que Nunca Contei, imaginava que a história seria toda voltada para uma investigação policial, mas o que eu encontrei foi totalmente o contrário - e não, isso com certeza não foi ruim. Aqui, além de descobrirmos quem realmente era Lydia Lee, conhecemos um pouco do casal e os seus outros filhos, Nathan e Hannah. Apesar de importante, a morte de Lydia serviu como um estopim para escancarar os dramas familiares vividos pelos Lee - incluindo várias coisas que são citadas de quando a filha do meio ainda era viva.

O que mais chama atenção na obra é a obsessão de Marilyn e James por Lydia. Os dois simplesmente depositaram todos os sonhos deles em cima da filha, sem nem saber se ela estava ou não disposta à realizá-los. Marilyn via em Lydia a jovem que poderia ter sido, enquanto James deseja a todo custo que a filha prove para todos que sua descendência sino-americana não a faz melhor nem pior que ninguém. É claro que, para a filha, isso vinha atrelado à várias cobranças, pressão e intensa necessidade de agradar os pais.

Obviamente esse comportamento recaía sobre os outros filhos, que não dispunham da atenção necessária. Nathan, o filho mais velho, é um jovem extremamente inteligente e esforçado que claramente tem um futuro promissor, mas que não recebe o devido reconhecimento. Já Hannah é totalmente invisível e esquecida, tanto que se acostumou a receber migalhas dos pais e até mesmo dos irmãos e ficar satisfeita com isso.

Outro ponto importante que foi retratado na história é o preconceito vivido pela família Lee. Marilyn é americana, enquanto James é filho de pais chineses, e ambos sofreram muito com o casamento. Como todos nos sabemos, a história se passa nos Estados Unidos na década do auge da discriminação racial. O machismo naquela época também era bem pronunciado e Celeste Ng deu um grande enfoque para o tema, que continua em alta.

A narrativa de Tudo o Que Nunca Contei é não-linear, ou seja, não obedece especificamente uma linha de tempo. Celeste mescla passado e futuro para explicar que, para toda ação, há uma reação de mesma intensidade e, por isso, a história parece um verdadeiro quebra-cabeças. Além disso, vários pontos de vista são explorados, garantindo que ficássemos a par dos sentimentos de todos os membros da família. É por isso que gosto de dizer que esta obra não possui um personagem principal, e sim um conjunto de protagonistas que estão totalmente interligados.

A leitura de Tudo o Que Nunca Contei é bastante envolvente tenho certeza que isso se dá pela genialidade da escrita da Celeste Ng. Fui fisgada por essa trama que mostra claramente como o comportamento nossos avós, pais e irmãos podem desencadear uma série de reações em cadeia que, querendo ou não, têm efeitos arrasadores na nossa própria história. 

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O Último Adeus - Abbi Glines

Sinopse: River Kipling, mais conhecido como Capitão, está em Rosemary Beach para montar um restaurante de luxo para seu patrão. Dono de um passado sórdido e de um presente misterioso, ele não vê a hora de concluir o trabalho e ir embora da cidade para realizar seu sonho: abrir um negócio próprio à beira-mar num lugar onde ninguém tenha ouvido falar dele.
Mas, quando Capitão conhece Rose Henderson, sua ânsia de partir de repente fica em segundo plano. Há algo na risada dela que é familiar demais, e o modo como ela olha para ele o faz lembrar de alguém importante que perdeu há muito tempo. No entanto, a única coisa que Rose revela é que é uma mãe solteira que trabalha duro para sustentar a filha.
Enquanto tenta desvendar os segredos da linda ruiva de óculos engraçadinhos e curvas estonteantes e entender por que ela mexe tanto com seus sentimentos, Capitão precisa fugir da marcação cerrada de Elle, a ex-namorada que não mede esforços para afastá-lo de Rose. Ao mesmo tempo, tem que encarar os fantasmas de seu passado para se tornar um homem melhor e construir um futuro do qual possa se orgulhar.
Nesta sequência da série Rosemary Beach, Abbi Glines mais uma vez escreve uma narrativa ardente e emocionante. Com personagens verossímeis e heróis imperfeitos, O último adeus fala sobre o inesgotável poder de transformação do amor. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
GLINES, Abbi. O Último AdeusRosemary Beach #13. Arqueiro, 2017. 224 p.


O Último Adeus é o 13º livro da saga Rosemary Beach da autora Abbi Glines. Apesar de não ter lido os outros livros da saga, me encantei com a história de Rose e Capitão. O livro é bem clichê, mas nem por isso deixamos de gostar da narrativa.

Rose é uma mãe solo que faz tudo pela filha, ela se mudou para Rosemary Beach quando descobriu que o pai da menina, por quem ela estava procurando há dez anos, estava lá trabalhando em um restaurante. Logo ela conseguiu um emprego no lugar e começou a analisar Capitão, para saber se ele era um pai digno de sua filha.

Capitão tem um passado obscuro e misterioso, fantasmas o perseguem até hoje e isso faz com que ele seja extremamente fechado e um tanto insensível. Por várias vezes fiquei com muita raiva da forma como ele agia, mesmo seu passado tortuoso não é motivo suficiente para se portar de forma tão rude e machista. É muito interessante ver sua evolução, e como ele muda seu comportamento de uma hora para outra diante da mesma situação.

"Ignorei aquilo. Eles não conheciam Capitão. Eles não conheciam o garoto que ele foi ou a vida que teve que enfrentar. Mas eu não sabia o que ele tinha passado nos últimos dez anos. Talvez a energia perigosa que todos eles sentiam fosse real. Uma imagem dele rindo com Franny sobre uma história que ela lhe contou me veio à cabeça, mas afastei o pensamento. Ele não era perigoso. Eles achavam que seu cabelo ligeiramente longo, dourado pelo sol, preso para trás em um coque samurai, e a barba por fazer, lhe davam a aparência de alguém perigoso. Mas eu gostava daquela barba. Gostava muito. Me fazia pensar em coisas. Coisas que eu não tinha há bastante tempo."

Os capítulos são intercalados entre os pontos de vista de Capitão e de Rose. Além disso, dentro de alguns capítulos tem-se a separação entre passado e presente, para que possamos conhecer a história do casal por completo. Os dois tiveram um passado complicado e a forma como um cuidava do outro é realmente emocionante. Fica claro que um era tudo que o outro tinha, por isso vê-los tão afastados no presente é de cortar o coração.

"Merda. Fiquei encarando Rose enquanto ela passava pela porta e entrava no salão. Ela tinha razão. Era Brad que estava dando em cima dela. Eu estava observando os dois a noite toda e podia afirmar que ele não gostou nem um pouco quando Patricia lhe contou que Rose disse que eles eram apenas amigos. Parecia que ele estava ansioso para conversar com ela sobre isso assim que o restaurante fechasse."

Nos dez anos em que eles não se viram muita coisa aconteceu e os dois mudaram, Rose agora está mais forte e independente e Capitão está mais sombrio e misterioso. O fato de Rose encontrar um homem completamente diferente do menino que ela amou um dia a deixa bem receosa em relação a apresentá-lo a sua filha, ela é uma mãe extremamente protetora que coloca sua filha em primeiro lugar independente da ocasião.

Abbi Glines conseguiu me conquistar de uma forma que eu não era conquistada havia um tempo. Com uma história envolvente, O Último Adeus nos prende até a última página e ainda deixa um gostinho de quero mais. Como eu disse, não li os outros livros da saga, mas, se eu tiver a oportunidade, com certeza vou lê-los um dia.


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Book Haul - Agosto

Agosto está acabando e vou aproveitar o finzinho do mês para mostrar para vocês o que chegou aqui na caixa postal. Não foram muitos livros esse mês, mas tem muita coisa legal, inclusive com livros inesperados que eu amei ter recebido.


O primeiro livro que chegou em agosto foi Ninguém Nasce Herói, que eu recebi da Editora Seguinte para resenhar no blog Roendo Livros. O livro veio autografado pelo autor e a proposta da trama é ótima e inovadora, estou bem curiosa para ler.


Recebi um pacotinho da Editora Pandorga com livros lindíssimos e que me deixaram curiosa pela leitura. O primeiro deles foi Promíscuo ser de partitura finita, um dos lançamentos mais recentes da Editora. O livro é bem curtinho, devo ler em breve.


Ainda da Editora Pandorga recebi dois livros da série Runaway Train, entre eles Música do Coração, que é o primeiro livro da série. Estou com saudades de ler new adults e um que mistura música e paixão? Acho que vou gostar.


Também da série Runaway Train, publicada pela Editora Pandorga, chegou Cordas do Coração, que é o terceiro livro. Tenho a impressão de que são livros independentes e eu realmente espero que sejam, já que o volume dois não veio.


Um presentinho surpresa da Editora Record me esperava na caixa postal na semana passada e eu quase saí dançando de alegria. rsrs Faz muito tempo que não leio um bom chick-lit e ainda mais tempo que não leio nada da Sophie Kinsella, mas acho que agora não tenho mais desculpas. Minha vida não tão perfeita com certeza fará parte das minhas próximas leituras.


O último livro recebido foi Geekerela, um dos últimos lançamentos da Editora Intrínseca que tem empolgado os leitores por aí. Por alguma coincidência da vida, uma das minhas últimas leituras foi uma adaptação de Cinderela, e agora eu estou ainda mais curiosa para ver como essa nova trama se desenvolve.

Gostaram dos livros? Querem ver resenha de algum em especial?

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A Cabana - Willian P. Young

Sinopse: A filha mais nova de Mackenzie Allen Philip foi raptada durante as férias em família e há evidências de que ela foi brutalmente assassinada e abandonada numa cabana. Quatro anos mais tarde, Mack recebe uma nota suspeita, aparentemente vinda de Deus, convidando-o para voltar àquela cabana para passar o fim de semana. Ignorando alertas de que poderia ser uma cilada, ele segue numa tarde de inverno e volta a cenário de seu pior pesadelo. O que encontra lá muda sua vida para sempre. Num mundo em que religião parece tornar-se irrelevante, "A Cabana" invoca a pergunta: "Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?" As respostas encontradas por Mack surpreenderão você e, provavelmente, o transformarão tanto quanto ele. (Skoob)
YOUNG, William P. Jackaby. Editora Sextante, 2008. 256 p.


A história de A Cabana pode ser dividida em dois temas distintos, mas convergentes: superação e religião. O primeiro tema, trata da difícil superação da perda de uma filha, morta por um maníaco estuprador. O segundo tema, faz a ligação dessa superação com a ajuda da religião. Enquanto o primeiro é plenamente satisfatório e entrega uma carga emocional que prende o leitor, o segundo falha a partir do momento em que apresenta uma propaganda religiosa que não entrega uma solução aceitável para o que se propõe.

Metade de A Cabana mostra o relacionamento de Mack, o personagem principal, com sua família, a viagem que fazem para acampar, o acidente da canoa no centro do lago, o desparecimento da menina mais nova, a busca por ela realizada pela polícia e a constatação de que ela foi assassinada por um estuprador. Toda essa parte não deixa de lado a religião, pelo contrário. Em todas as páginas, o leitor é convidado a acreditar que existe algo mais, tanto na vida dos personagens, quanto na sua própria vida.

A outra metade do livro, quando Mack recebe um convite para encontrar Deus na cabana onde foram encontradas as evidências de que a filha foi morta, parte para um lado teológico que tenta fazer o leitor compreender que Deus não é responsável pelas desgraças humanas, e que Deus não irá salvar ninguém dessas desgraças. Entretanto, isso não quer dizer que Deus não estará ao seu lado quando elas acontecerem.

Toda a conversa de Mack com Deus, Jesus e o Espírito Santo sobre responsabilidades, especificamente sobre o motivo de Deus não ter salvo uma criança das mãos de um assassino, é plenamente satisfatória, lógica, independente da religião de quem está lendo. Entretanto, a partir do ponto em que o autor parte para o julgamento das não ações, ou seja, se Deus é culpado por não interferir, a narrativa passa a transmitir uma propaganda religiosa que destrói o que foi lido até então.

O autor tenta fazer o leitor aceitar que Deus não abandona uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um pecado, porque todos nós somos seus filhos, e ele, como pai, trata todos de forma igual. Ou seja, todo pecado pode ser perdoado. E ponto. Mas aí reside o erro, porque não existe um ponto no final dessa afirmação, mas, sim, uma vírgula. Todo pecado pode ser perdoado, desde que o pecador se arrependa de coração. Não é o caso de A Cabana. E esse é o ponto falho da narrativa. Não existe arrependimento no pecador da história.

E o exemplo dado para ilustrar isso é a parte mais absurda e incoerente da narrativa. É dito a Mack que ele deve escolher um dos seus filhos para ser condenado ao Inferno por seus pecados. Ele, obviamente, se recusa e diz que não consegue, que não vai fazer. E então, é feito um comparativo com Deus, que age da mesma forma conosco, com seus filhos. Acontece que os filhos de Mack não assassinaram e estupraram uma menina indefesa. O autor coloca qualquer crime, seja ele de qual teor for, no mesmo patamar, para forçar uma ideia que não tem fundamento próprio. E quando você força uma ideia sem fundamento, vira propaganda. A partir desse ponto, o livro perde qualquer credibilidade com sua mensagem.

Pior ainda, o autor simplesmente muda as atitudes de Mack, um personagem que até o momento se recusava a aceitar a impunidade do monstro que matou a filha. Com esse exemplo incoerente, Mack muda de ideia de uma linha para a outra, perde sua tristeza interior e compreende aquilo que o autor não conseguiu encontrar uma forma de fazer compreender.

A Cabana acaba não funcionando como uma história de superação, porque a concretização dessa superação se dá sobre fundamentos mal construídos e mal explicados; e também não funciona como mensagem religiosa, porque subverte os ensinamentos através de uma interpretação errada sobre o que é pecado, julgamento e perdão. A única coisa que o autor acerta, é que nós sempre estamos acompanhados, nunca estamos sozinhos, desde que tenhamos fé.

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Mais do Que Isso - Patrick Ness

Sinopse: Um garoto se afoga, desesperado e sozinho em seus momentos finais. E morre. Então ele acorda. Nu, ferido e com muita sede, mas vivo. Como pode ser? Que lugar é este, tão estranho e deserto? Enquanto se esforça para compreender a lógica de seu pior pesadelo, o garoto ousa ter esperança. Poderia isto não ser o fim? Poderia haver mais desta vida, ou quem sabe da outra vida? (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
NESS, Patrick. Mais do Que Isso. Novo Conceito, 2017.432p.


Sabe aqueles livros que te surpreendem do começo ao fim? Então, esse é um desses livros! O livro já começa narrando detalhadamente a morte cruel de Seth, o que me deixou bem assustada, e a cada página ficava mais curiosa para saber o que o motivou a fazer aquilo e onde ele iria parar após sua morte.

Creio que devido à sinopse não revelar muita coisa, tudo foi uma grande surpresa para mim, a todo momento tentava adivinhar o que estava acontecendo e confesso que não cheguei nem perto da grandeza da história. Não vou poder contar muito aqui, pois qualquer coisa que escrever poderá ser spoiler e o legal mesmo é ler sem saber o que te espera.

Seth é um jovem de dezessete anos que cometeu suicídio, motivado por tantos problemas e culpas que cercavam sua vida. Ele acorda nu e faminto, num lugar onde pensa ser o inferno, mas em sua memória ele se lembra de lá.

“Aqui está o garoto, afogando-se. Nestes últimos momentos, não é a água que o está derrotando; é o frio. Sugou-lhe toda a energia do corpo e lhe contraiu os músculos até uma dolorosa inutilidade, independentemente do quanto ele luta para se manter na superfície. Ele é forte e jovem, quase dezessete anos, mas as ondas gélidas continuam chegando, cada uma aparentemente maior do que a última.”


A história gira em torno de Seth, que tenta achar respostas naquele lugar abandonado e descobrir o motivo de ter ido par lá, naquele lugar onde houve tanto sofrimento, para ele e sua família.

“Se essa é apenas uma velha lembrança empoeirada na qual ele está preso, talvez não seja nem mesmo um lugar, talvez seja apenas o que acontece quando seus minutos finais de morte passam a ser uma eternidade.”

O livro é narrado em terceira pessoa e é dividido em quatro partes com vários capítulos, e esses capítulos são mesclados entre o presente, onde Seth tenta descobrir o que está acontecendo e onde está e lembranças do seu passado que vem em sonhos, um passado que é cheio das suas histórias traumáticas.

Seth é daqueles personagens que dá vontade de abraçar e dizer que tudo vai ficar bem. Ele é tão bom e ainda assim carrega tanta culpa... A cada lembrança que ele tem, vamos conhecendo um pouquinho mais sobre ele e descobrindo como ele se sentia.


Eu não conhecia o autor e fiquei surpresa com a forma que ele conseguiu entrelaçar essa história. É um misto de suspense e ficção científica que eu nunca tinha visto,  é uma história bem complexa, tem que ter atenção ao ler para conseguir captar todas as informações possíveis para aproveitar ainda mais a leitura.

Indico muito essa história, ela é focada em Seth, porém, existem outros personagens que não posso descrever aqui, mas que merecem ser lembrados por serem tão especiais. Algumas questões sobre tudo que vivemos, a dúvida se tudo é real e aquela questão que provavelmente todos já devem ter pensado que é imaginar se por acaso pudéssemos voltar no tempo, faríamos tudo diferente? São bem presentes na leitura e te prenderá do começo ao fim. 

"Você nunca sentiu que deve haver mais? Como se houvesse mais em algum lugar distante, pouco além do alcance, se ao menos você pudesse chegar lá?"



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Cinder & Ella - Kelly Oram

Sinopse: Faz quase um ano que Ella Rodriguez, 18, esteve em um acidente de carro que a deixou aleijada, com cicatrizes e sem a mãe. Após uma recuperação difícil, ela foi obrigada a atravessar o país para viver com o pai que a abandonou quando era uma criança. Se ela quiser escapar de seu pai e de sua horrível família adotiva, ela precisa convencer os doutores de que é capaz, física e emocionalmente, de viver sozinha. O problema é que ela ainda não está pronta. O único modo de se curar é se reconectar com a única pessoa no mundo que ainda significa algo para ela: seu melhor amigo anônimo, Cinder. Brian Oliver é a sensação de Hollywood e tem a fama de sempre causar problemas. Existem muitos rumores sobre sua participação no filme O príncipe druída, mas seus assessores dizem que o único modo de passar de adolescente sedutor para ator da lista A é mostrar que seus dias de selvageria ficaram para trás e que agora ele amadureceu. Para aplacar os comentários sobre a reputação de bad-boy, seu assessor arranja um casamento falso com a coadjuvante Kaylee. Brian não está animado com a noiva falsa ou o casamento, mas ele fará qualquer coisa para conseguir sua nomeação ao oscar. Até que o e-mail de uma antiga amiga da internet muda tudo. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora
ORAM, Kelly. Cinder & Ella. Editora Pandorga, 2016. 304 p.


Acredito já ter mencionado por aqui que eu adoro releituras de contos de fadas, especialmente quando a trama consegue manter as características principais da história original e, ao mesmo tempo, ousar e trazer uma história completamente nova. Cinder & Ella, de Kelly Oram, consegue fazer tudo isso, conquistou-me por completo e, ao final, ainda me deixou com o coração transbordando de sorrisos por ter sido um dos livros mais fofos e românticos que li nos últimos tempos.

Na trama, Ellamara tem em "Cinder" um amigo e, muito embora eles se conheçam há anos, sua amizade se restringe ao mundo virtual. Por conta disso, um não faz ideia da real identidade do outro. Quando precisa de alguém para enfrentar suas perdas, é nele que ela vai buscar apoio. Afinal, sua vida mudou completamente com o acidente que matou sua mãe, deixou-a cheia de sequelas e cicatrizes e fez com que tivesse que cruzar o país para morar com o pai que a abandonou quando era criança, e Cinder é o único porto seguro que ela tem longe de todo o seu sofrimento, o único que a conhece apenas pelo que ela realmente é. Será que esse relacionamento tem chance de partir para o mundo real?

"Fiquei sentado na cadeira, olhando para o e-mail enquanto a sala girava ao meu redor. Ella estava viva; Ella tinha me enviado um e-mail. E sentia a minha falta. Era quase bom demais para ser verdade."

O livro intercala as perspectivas de Ella e de Brian, sempre em primeira pessoa, e é ótimo poder acompanhar os dois personagens principais. Vou ser sincera ao dizer que não gostei da protagonista logo no início. Tudo que os outros falavam era interpretado por ela como uma ofensa pessoal e a garota não se esforçava muito para melhorar sua própria vida. Ela agia como se a raiva do pai, do lugar onde estava, da escola, do mundo fosse fazer alguma coisa mudar, só que só piorava tudo. Entendo que Ella já tinha sofrido bastante e que se fechar talvez fosse uma tentativa de se proteger, mas inconscientemente me irritava com ela. Depois de um tempo, porém, passei a entender melhor a personagem - e ela passou a ver as coisas de outra forma, também -, e aí fui conquistada por ela.

Brian também não era a melhor pessoa do mundo antes de Ella reaparecer em sua vida, com um ego enorme e nenhum coração; depois que ela fez contato, foi como se ele fizesse o maior esforço para ser alguém que merecesse ter a presença da garota em sua vida, doce, fofo, divertido, incrível. Adorei ver o quanto eles se importavam um com o outro, seus diálogos cheios de provocações, que no fundo demonstravam os reais sentimentos que tinham um pelo outro.

Os personagens secundários também tiveram grande relevância na trama. Eu adorei os amigos de Ella, em especial a forma como Juliette se transformou no decorrer da trama, e me encantei com Rob e tudo o que ele representou na recuperação de Ella.

"- Existem pessoas lá fora que serão capazes de enxergar além das suas cicatrizes e ver a garota lá dentro - disse Daniel -, mas você não vai encontrá-las se focar escondida dentro dessa casa o dia todo."

Cinder & Ella é uma releitura muito bonita de Cinderella. A madrasta e as irmãs "más" estão presentes, os amigos costureiros e a "fada madrinha" também, e Ella é, a princípio, a gata borralheira de quem ninguém quer se aproximar. São várias as referências ao conto de fadas original, e foi incrível a forma como a autora conseguiu misturar isso tudo num enredo tão atual e denso, tratando ainda de temas como depressão, bullying, suicídio, entre outros tópicos bastante sérios. Além disso, não seria um conto de fadas se não tivesse uma boa lição, e o livro de Kelly Oram mostra que não são as aparências que importam, mas as pessoas para além delas. A história tem ainda uma bela mensagem de esperança, de recomeço e de superação, que deixa a trama ainda mais completa e rica.

Em resumo, Cinder & Ella vai muito além do romance e conquista pela densidade de seu enredo. Trata de assuntos sérios com a leveza de uma trama adolescente, presenteando-nos com uma edição linda e caprichada, cheia de detalhes, e com muito calorzinho no coração.

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Novidades #177: Programação Bienal do Rio

Oi pessoal! Perceberam que há alguns dias eu não trouxe mais conteúdos pro blog além das resenhas? Estou em uma correria danada por aqui e o cansaço também traz a falta de inspiração, então está difícil. Mas já estou sentindo a empolgação voltar, então logo devo trazer coisas legais para vocês.

Hoje, quis aproveitar a proximidade com a Bienal do Livro do Rio, que começa na próxima semana, para divulgar as programações de algumas das Editoras parceiras do blog. Claro que não vou colocar todas as programações por aqui, vou apenas indicar o que eu gostaria de acompanhar - mas que não posso, já que não vou - e onde achar outras informações sobre os eventos.

Editora Intrínseca


A Editora Intrínseca tem muita coisa legal, a começar pela presença da autora Jenny Han, no dia 2 de setembro. Também estarão presentes outros autores publicados pela Editora, como Isabela Freitas, Pedro Gabriel, Raony Phillips, Miriam Leitão, entre outros. A Editora ainda programou um encontro com leitores. Todas as informações sobre os eventos podem ser encontrados nessa postagem.

Editora Arqueiro

A Editora Arqueiro também tem presença internacional, com Abbi Glinnes no dia 3 de setembro. E é claro que autoras nacionais como Thalita Rebouças e Samanta Holtz também marcarão presença por lá. Quem quiser acompanhar todos os eventos programados, pode acompanhar pela página da Editora no Facebook.

Ler Editorial


A Ler Editorial vem se destacando com o lançamento de livros nacionais e, com essa proposta, nem podia ser diferente: todos os dias, seu estande contará com a presença de diversos autores do catálogo, como Kel Costa, Eva Zooks, Juliana Mendes, Robson Gabriel, Catarina Muniz, Catia Mourão e muitos outros. Além disso, outros autores independentes marcarão presença por lá. Os eventos da Editora podem ser acompanhados nesse link do Facebook.

Editora Pandorga


A Editora Pandorga também divulgou recentemente sua programação, que conta com lançamentos de diversos livros, como Até o Limite, de Myrna Andreza, e As coisas não são bem assim, de Renata R. Corrêa, com a presença dos autores, além de um bate-papo e sessão de autógrafos com as autoras de Amor de Todas as Formas. A lista de datas e horários pode ser vista aqui.



Quem aí vai estar por lá? O que vão ver? Dividam a empolgação comigo e me contem tudo!

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Provence - Bridget Asher

Sinopse: A vida de Heidi com o filho Abbot tornou-se um jogo para manter viva a memória de Henry, bom pai e marido exemplar. Manter uma vida normal em um mundo em que Henry não existe mais está cada dia mais complicado. Heidi precisa lidar com o filho que se tornou um verdadeiro maníaco por limpeza e com a sobrinha Charlotte, uma adolescente problemática.
Uma casa em Provence, na França, que pertence à família de Heidi há gerações, é rica em histórias de amor e surpreendentes coincidências. Heidi e sua irmã mais velha, Elysius, passavam os verões lá quando crianças, com sua mãe. Mas a casa, as lembranças e os segredos de Provence haviam ficado no passado, mas agora, com o incêndio na propriedade, a casa precisa ser salva por Heide. Ou será que é Heide que precisa ser salva pela casa?
Uma história de recomeço, amor e esperança em face à perda, onde uma pequena casa na zona rural do sul da França parece ser a responsável por curar corações partidos há anos. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
ASHER, Bridget. Provence. Editora: Novo Conceito, 217. 368 p.


"Devemos ser sinceros quando o mundo não faz sentido..."

Provence é um romance que promete muitos suspiros e corações partidos, mas que também nos ensina que o amor verdadeiro é para sempre. 

Heide tinha uma vida perfeita, um marido que a amava muito, era realizada profissionalmente e, para completar sua família, tem um filho chamado Abbot. Mas tudo isso desmorona com a morte do seu marido e grande amor. 

Ela já não consegue mais manter a ordem em sua vida, está machucada e não consegue seguir em frente, já que perdeu a outra parte da sua alma, o que a mantém em movimento é seu filho, que está sofrendo as consequências da perda do seu pai e do desequilíbrio sentimental de sua mãe. 

"O amor não tem a ver com compromisso."

No meio dessa tempestade de dor, Heide recebe a notícia de que a casa de campo da família pegou fogo e ela recebe a missão de viajar até Provence para reconstruí-la, levando consigo seu filho e a enteada de sua irmã. A casa é conhecida por fazer milagres, quem sabe lá ela não cure seu coração partido. 

O livro é dividido em duas partes, a primeira fala sobre a perda que os personagens sofreram e tudo o que vem junto com ela, enquanto a segunda parte fala sobre recomeço, amor e esperança, e nos mostra que nem sempre seguir em frente é fácil, mas que vale a pena tentar. 

Provence é um lindo romance que me fez refletir bastante sobre a perda, não só de um ente querido, mas pessoal, porque quando uma pessoa que amamos morre, uma parte de nós também vai com eles e seguir em frente não quer dizer abrir mão daquela pessoa ou tudo o que ela importou em sua vida, porque dentro de você o amor ainda prevalece e isso é o que importa.

"O maior presente é poder amar alguém, como ele a amava."

A edição está bem simples, a capa é fofa, não encontrei nenhum erro de ortografia, as letras são confortáveis e as páginas amareladas. A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista da Heide, acompanhamos desde o começo seu desespero e dor, mas com o passar do tempo suas descobertas e vitórias do dia-a-dia, sem deixar de lado o romance. 

Ser feliz mesmo na dor não é errado, é parte da vida, por mais que hoje doa, chegará um dia em que só as lembranças felizes permanecerão e é nesse dia que você descobrirá que viver, vale a pena, apesar da dor e dos amores perdidos. 

Então se você curte um bom romance, mas não daqueles que enfeitam tudo, e sim um que partirá seu coração, mas que te ensinará o valor que tem as pessoas em nossas vidas, não deixem de conferir Provence.

"Eis uma forma de colocar a coisa: a perda é uma história de amor contada de trás para frente... Toda boa história de amor guarda outra história de amor escondida dentro dela."



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Jackaby - Wiliiam Ritter


Sinopse: Abigail Rook deixou sua família na Inglaterra para encontrar uma vida mais empolgante além dos limites de seu lar. Entre caminhos e descaminhos, no gelado janeiro de 1892 ela desembarca na cidade de New Fiddleham. Tudo o que precisa é de um emprego de verdade, então, sua busca a leva diretamente para Jackaby, o estranho detetive que afirma ser capaz de identificar o sobrenatural. Contratada como assistente, em seu primeiro dia de trabalho Abigail se vê no meio de um caso emocionante: um serial killer está à solta na cidade. A polícia está convencida de que se trata de um vilão comum, contudo, para Jackaby, o assassino com certeza não é uma criatura humana. Será que Abigail conseguirá acompanhar os passos desse homem tão excêntrico? Ela finalmente encontrou a aventura com a qual tanto sonhara. Prepare-se para desvendar este mistério! Um livro destinado aos fãs de Sherlock Holmes e Doctor Who. Eleito o melhor livro jovem 2014 pela Kirkus Review e um dos 40 melhores YA da estação pela CNN e vencedor do prêmio Pacific Northwest 2015. (Skoob)
RITTER, William. Jackaby. Editora Única, 2015. 256 p.

Quando comprei o livro, não sabia bem o que esperar de Jackaby. A promessa na capa era a de uma mistura de Sherlock Holmes e Doutor Who, com aventuras passadas na velha Londres. Ou seja, poderia ser algo muito, muito ruim...ou não.

Felizmente, é uma das mais divertidas aventuras que já li. Só que na verdade, é uma mistura de Sherlock Holmes e Supernatural, porque é um detetive, com o dom de ver criaturas fantásticas, sua ajudante cética e muitos assassinatos e monstros sobrenaturais. E isso meio que me surpreendeu, porque não esperava que a história entrasse tanto quanto entra nesse mundo.

Jackaby é uma cópia fiel de Sherlock, inclusive com sua frieza de comportamento e raciocínio, seus tiques para descobrir pistas, seu escritório caótico e sua total inabilidade para interagir com as pessoas. E Abigail, a jovem donzela que entra à força na vida de Jackaby, é um reflexo mais divertido do Dr. Whatson. Isso, porque ela é simpática, atrevida, persistente, sarcástica, enfim, totalmente cativante e a melhor personagem do livro. Sua presença é tão marcante, não só por ser ela quem narra a aventura, que chega a ofuscar a de Jackaby. E isso não é ruim, porque, pelo tom rude do detetive, o leitor poderia não se interessar pela obra.

O mesmo acontece com os livros de Conan Doyle. A principal função do Dr. Whatson não é auxiliar Holmes, mas criar uma ponte de identificação do leitor com a história. Whatson é o próprio leitor, que acompanha o detetive e vai descobrindo, aos poucos, o que está acontecendo. Ele é a nossa personificação dentro do livro. Abigail tem exatamente a mesma função.

Quanto à narrativa, que por ser em primeira pessoa, e pela visão de uma mulher frágil em um mundo onde a mulher ainda não tem vez, torna-se bastante intimista, interessante e facilita a sensação de perigo e impotência. Além disso, todas as descrições dos locais, situações e monstros, são muito bem escritas, na medida certa, sem cansar a leitura ou criar parágrafos inúteis. A aventura é contada na sua essência, e isso torna a leitura mais ágil, mais interessante.

Os personagens secundários são interessantes e têm uma função específica dentro da história, como uma fantasma, um homem transformado em um pato, um policial jovem, que mantém um segredo, um delegado turrão, entre outros. O interessante, é que todos convergem em um ponto da história, criando uma dramaticidade que deixa as últimas páginas do livro difíceis de largar.

Dentre as criaturas, não pense que as conhece conforme elas vão aparecendo. O autor se baseou nas lendas escocesas e inglesas, dando uma novidade a alguns monstros que o leitor pensa conhecer por outras obras. Eu mesmo achei que dois deles seriam uma coisa, e depois descobrir que eles eram algo totalmente diferente. Inclusive na forma de matar. Ou seja, se eu fosse o detetive e me baseasse, por exemplo, no que pode matar um vampiro, teria me ferrado, porque não seria um vampiro que eu iria enfrentar, mas algo semelhante, de outras lendas.

Jackaby é uma série que já tem três volumes, mas apenas um publicado no Brasil, o que é uma pena, uma vez que fiquei ansioso para a leitura de uma nova aventura. Indico muito para quem gosta de livros policiais, de fantasia e de terror. Tudo misturado com mãos competentes, proporcionando uma leitura deliciosa.

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O Torcicologologista, Excelência - Gonçalo M. Tavares

Sinopse: “Tudo o que é sério tem dois lados divertidos”: duas excelências conversam sobre amenidades e vãs filosofias. Autoridades de coisa nenhuma, os personagens travam diálogos que beiram o absurdo, mas um absurdo com método e um (curioso) rigor científico. Há aqui, é claro, a prosa habilidosa, a fuga dos padrões e toda a inventividade de Gonçalo M. Tavares. Nas entrelinhas, o leitor encontra uma visão crítica da sociedade e suas incongruências em um texto que é, do início ao fim, marcado pelo humor.
Neste livro, Gonçalo coloca algumas “excelências” a debater, elucubrar, sofismar, sobre como se faz uma revolução, o tempo, o espaço, a linguagem, o corpo, entre dezenas de assuntos. E aí está o torcicologologismo da coisa: os diálogos nos fazem olhar para outros lados dos assuntos propostos e até mesmo para outros lados da ideia de lógica.
“É como se os personagens quisessem dizer que sofremos de torcicolo das ideias, sempre olhando para as mesmas ideias, para o mesmo lado de todas as questões”, explica na orelha do livro o curador da Coleção Gira, Reginaldo Pujol Filho. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
TAVARES, Gonçalo M. O Torcicologologista, Excelência. Dublinense, 2017. 252.


O Torcicologologista, Excelência é dividido em duas partes, sendo a primeira - a maior parte - um diálogo e a segunda traz uma cidade contemporânea.

Na primeira parte do livro há um diálogo entre Excelências, onde os personagens estão a discutir o cotidiano, desde como se faz uma revolução até a diferença entre bem e mal. Há uma constante crítica à sociedade atual e à forma como vivemos. A estupidez humana é tratada nas entrelinhas e por várias vezes rimos de nós mesmos.

"- Metade do seu corpo é corajosa. Por exemplo, os seus olhos são corajosos, mas entretanto suas pernas fogem. É isso?
- Exacto. Aliás, os meus olhos nunca fogem. Ficam sempre no mesmo lugar, o que foge são as minhas pernas. No fundo, sou um corajoso a nível óptico."

De uma forma única, o autor nos traz novas definições para conceitos conhecidos, tais como moda, beleza e coragem. Além de novas definições, tem-se também a reflexão sobre a propagação das ideias nos dias de hoje e sobre a forma como agimos diante de determinadas situações. Nesta parte há uma tentativa de se entender a existência humana e suas peculiaridades.

"- A gula é, então, um pecado semelhante ao mau ouvinte, àquele que não dá atenção aos outros. É afinal um pecado não da barriga, mas dos ouvidos, da audição.
- A gula é um pecado auditivo, eis uma boa definição."

Na segunda parte, o autor retrata a cidade moderna, tratando as pessoas por números ao invés de nomes. Um verdadeiro caos, onde a esperança é pouca e as pessoas são obcecadas, doentes. Nesta parte o mais interessante é ver que, mesmo que não seja uma história da forma com a qual a maioria de nós está acostumado, há uma ligação dos fatos, uma conexão entre uma linha e outra.

"O Número 1 diz que quer mudar de casa.
O Número 2 diz que quer mudar de emprego.
O Número 3 diz que quer mudar de cidade." 

O Torcicologologista, Excelência, apesar de ter uma leitura fluida, não é para qualquer um, pois não traz uma história pronta, um conto com o qual nos encantamos. Me identifiquei muito com a obra por causa da relação que os diálogos têm com o nosso cotidiano. Gonçalo M. Tavares tem um estilo bem diferente do que estou acostumada a ler, mas tive uma experiência única com esta obra e acho que todos deveríamos ler algo do gênero de vez em quando.


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Um Menino em Um Milhão - Monica Wood

Sinopse: Quinn Porter é um guitarrista de meia-idade que nunca conseguiu deslanchar na carreira. Enquanto aguardava sua grande chance na música, foi um marido e pai ausente, e jamais conseguiu estabelecer um vínculo afetivo com o filho, uma criança obcecada pelo Livro dos Recordes e algumas peculiares coleções. Quando o menino morre inesperadamente, alguém precisa substituí-lo em sua tarefa de escoteiro: as visitas semanais à astuta Ona Vitkus, uma centenária imigrante lituana. Quinn assume então o compromisso do filho durante os sete sábados seguintes e tenta ajudar Ona a obter o recorde de Motorista Habilitada Mais Velha. Através do convívio com a idosa, ele descobre aos poucos o filho que nunca conheceu, um menino generoso, sempre disposto a escutar e transformar a vida da sua inusitada amiga. Juntos, os dois encontrarão na amizade uma nova razão para viver. Um Menino em Um Milhão é um livro sensível, poético e bem-humorado, formado por corações partidos e aparentemente sem cura, mas unidos por um elo de impressionante devoção pessoal. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora

Wood, Monica. Um Menino em Um Milhão. Editora Arqueiro, 2017. 352p.


Eu juro que tentei não gostar do Quinn por ter abandonado o filho, mas ao longo do livro foi praticamente impossível não entender o lado de um personagem que pecou, e muito, por ser extremamente sonhador. Quinn sempre foi um pai ausente por achar que não era capaz de compreender o jeito estranho do filho, uma criança com uma inteligência fora do normal desde pequena e com hábitos bastante peculiares. Além disso, sua paixão pela música sempre falou mais alto. Ser um guitarrista de sucesso sempre foi o grande objetivo da vida dele, deixando como segundo plano até mesmo a própria família. Tive que deixar meu julgamento de lado já que ele estava pagando um preço bem alto pelas escolhas que fez no passado.

"Em um dia normal ele teria convidado algum amigo para comer um sanduíche na rua, ou jantado com a família barulhenta de um deles, mas de repente ele se sentiu um homem transparente: não queria que os conhecidos olhassem para ele, e muito menos para dentro dele."

O Menino, como é conhecido durante toda a história, era uma criança de 11 anos tão especial que foi capaz de unir duas pessoas completamente diferentes mesmo após a sua morte. Na verdade, o vínculo que passa a interligar a vida de todos os personagens do livro é justamente o fato de eles não saberem como seguir em frente agora que essa criança não existe mais em suas vidas.

Uma das pendências que o menino deixa para trás é cuidar de sua amiga de 104 anos, Ona Vitkus, todos os sábados. Procurando por uma penitência, Quinn decide terminar o serviço do filho cuidando da velha senhora pelo tempo necessário. O que ele não esperava era encontrar nessa centenária uma melhor amiga e a mulher que iria lhe apresentar todos os sonhos e ambições de seu próprio filho.

Através de um projeto do menino com o intuito de colocar Ona Vitkus no Livro dos Recordes, Quinn e sua ex-esposa acabam encontrando uma maneira de permanecer mais um pouco com a memória do filho reavivada enquanto passam pelo período de luto. E é comovente acompanhar a dor da mãe pela ausência do filho, muitas vezes se apoiando no ex-marido – a pessoa que ela mais deveria odiar na face da terra -, e a dor do pai que sabe que perdeu alguém muito importante, mas não sabe muito bem como reagir a isso.

"Ela vinha se saindo muito bem sozinha. Até que apareceu aquele menino para reacender no peito dela a chama das possibilidades, uma chama desde muito apagada e difícil de acomodar aos 104 anos de idade."

Não tem como não se encantar com a forma pela qual Ona Vitkus começa a história, uma centenária que está contando os dias para partir, e de como a vida dela muda em poucas semanas após conhecer o menino, se tornando uma pessoa que conta os dias para viver cada vez mais tempo até alcançar um objetivo determinado. Sem contar que é algo belo e ao mesmo tempo trágico acompanhar a narração dela sobre a própria história de vida e de como o seu ponto de vista é capaz de mudar sobre o seu passado mesmo após tantos anos terem se passado. Isso porque ela passa a perceber o quanto era ingênua e sonhadora, e de como muitas vezes foi passada para trás e enganada sem nem ao menos se dar conta disso.

Um Menino em Um Milhão é um livro maravilhoso que nos ensina a dar valor as pessoas que mais amamos enquanto ainda há tempo, mesmo que muitas vezes sem compreendê-las por completo.  Um livro que nos ensina que ter um objetivo definido é algo fundamental em nossa vidas.

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Novidades #176: Lançamentos Editoras Parceiras

No fim de agosto terá início a Bienal do Rio de Janeiro, e as editoras já estão com tudo na preparação para o evento. Algumas editoras anunciaram inúmeros lançamentos, e vou aproveitar para mostrar alguns divulgados pelas editoras parceiras para esse mês. Quem quiser ver mais informações sobre os livros, basta clicar nas capas:

Novo Conceito


Editora Pandorga

 
 

Ler Editorial

 

Grupo Editorial Pensamento




De qual capas mais gostaram? Quais querem ler?

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A Poção Secreta - Amy Alward

Sinopse: A Princesa do Reino de Nova toma acidentalmente uma poção do amor, e se apaixona por si mesma! Para encontrar o antídoto que possa curá-la, o rei mobiliza todos numa expedição chamada Caçada Selvagem. Competidores do mundo todo saem em busca dos mais raros ingredientes em florestas mágicas e montanhas geladas, enfrentando perigos e encarando a morte para encontrar a fórmula da poção secreta. Dentre eles, está Samantha, uma garota comum que herdou dos seus ancestrais alquimistas o talento para preparar poções. Esta pode ser a oportunidade para reerguer a decadente loja de poções da família, afinal o mundo todo estará acompanhando a Caçada nas mídias sociais. Será que ela conseguirá descobrir a cura e salvar a Princesa? (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora
ALWARD, Amy. A Poção Secreta. Diário de uma Garota Alquimista #1. Editora Jangada, 2017. 368p.


A Poção Secreta é um livro do qual eu não iria necessariamente atrás, mas a Ju precisava de ajuda e ele pareceu legal, então pensei: Por que não? Também achei que podia ser um jeito de ver se eu gosto desse tipo de livro, já que eu tenho interesse na coleção Magic in Manhattan da Sarah Mlynowski, que é sobre bruxas. Acredito que a abordagem dos mundos pode ser parecida, além de que muitas bruxas são espécies de alquimistas, já que fazem poções.

O livro é o primeiro de uma trilogia, que eu creio que se chamará Diário de uma Garota Alquimista. É meio confuso porque esse nome é usado também como um "subtítulo". Nesse primeiro volume, nós somos apresentados à Samantha e acontece a Caçada Real. Ele é dividido em capítulos em primeira pessoa da Samantha e da Princesa Evelyn.

Um ponto negativo para mim foram os capítulos da princesa, pois eles só servem para mostrar o que a poção fez com ela e o perigo caso não achem uma cura, mas algumas vezes, no capítulo, não aconteceu nada além de mostrar ela apaixonada por si mesma. O jeito que fizeram essa paixão eu também não gostei muito. Talvez só eu tenha pensado assim, mas eu achei que ela ia ficar apaixonada por si mesma mais num sentido egocêntrico, mas ela ficava achando que a pessoa no espelho era mesmo outra pessoa, e ao ouvir si mesma dizendo que o nome era Evelyn resolveu que como elas eram xarás, ela iria chamar a amada de Lyn e chamar a si de Evie. Quando ela reflete no passado, ela pensa sobre a pressão para se casar, por exemplo, e parece com a cabeça bem no lugar nesses momentos, mas não consegue perceber que quem ela está apaixonada, além de menina (que, obviamente, haveria preconceito, além de não gerar herdeiros biológicos e a questão de que a princesa só consegue virar rainha ao se casar com alguém. Precisa de um rei para haver uma rainha), é igual a ela. Mas como eu acho que você tem que esquecer um pouco da lógica nesse tipo de livro, isso não faria muita diferença na leitura para mim, não fosse os capítulos repetitivos dela.

Esse foi o primeiro livro que eu li que mistura os dias de hoje com os dias antigos (tipo a monarquia), e também o primeiro misturando modernidade e magia, já que em Harry Potter, os dois mundos são bem separados, e eu amei como foi escrito o mundo de A Poção Secreta. Os países tem nomes diferentes, como Nova e Bharat, mas poderiam ser qualquer país que nós conhecemos. Dá para relacionar Nova com a Inglaterra, por ser fria e chuvosa, e Bharat com países da África ou América Latina, por ser tropical e não muito desenvolvido. Eles usam redes sociais e carros tanto como teletransporte. Os "comuns" e os Talentosos vivem na mesma sociedade e têm plena consciência do que se passa com os outros, apesar de haver uma segregação. Eu realmente adorei essa mitologia. A autora até inventa propriedades de ingredientes de poções para coisas do nosso dia-a-dia como chocolate.

Outra coisa ótima nesse livro é que ele tem um final totalmente fechado, algo que eu não tinha certeza se aconteceria, até porque alguns momentos parecia que os personagens estavam muito longe de achar a poção certa. E não só foi um final que não obriga você a ler o próximo volume, como também foi um bom final, na minha opinião.

Ainda não sei se lerei os próximos livros da série, acho que lerei despretensiosamente, se aparecer uma oportunidade, como foi com esse. Mas eu adorei esse primeiro livro e gostei até do romance que, apesar de não me incomodar na maioria das vezes, ultimamente não tem me deixado muito empolgada também, e em A Poção Secreta eu realmente torci pelo casal.


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