Carta a D. - André Gorz


Sinopse: Uma das declarações de amor mais conhecidas e emocionantes de nosso tempo, este livro é também uma afirmação comovente de companheirismo entre duas pessoas apaixonadas."Você está para fazer 82 anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que 45 quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz 58 anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca." Assim André Gorz inicia sua carta de amor a Dorine, mulher ao lado de quem ele passou a vida e que há alguns anos sofria de uma doença degenerativa incurável.Como um dos principais filósofos do pós-guerra francês, Gorz escreveu inúmeros livros influentes, mas nenhuma de suas obras será tão amplamente lida e lembrada quanto esta carta simples e bela, em que ele rememora tanto a história de companheirismo, amor e militância do casal como a trajetória intelectual que percorreram juntos.Um ano após a publicação de Carta a D., um bilhete encontrado na casa onde moravam fez as vezes de pós-escrito à narrativa: André e Dorine tiraram a própria vida juntos, numa renúncia comovente a viver sozinhos. (Skoob)

Livro recebido como cortesia da Editora.
GORZ, André. Carta a D.: História de um amor. Companhia das Letras, 2018. 112 p.


Embora já tivesse visto um exemplar de Carta a D. História de um amor na edição da Cosac Naify, não tinha muita ideia sobre quem era André Gorz ou sobre o que o livro tratava. Quando recebi em casa uma cortesia da Companhia das Letras, em nova edição, simples, mas extremamente bonita, como uma caixinha externa que dá um toque todo especial, senti minha curiosidade aumentar. 

A leitura é bastante curta, mas carregada de sentimentos. Trata-se de um livro fininho e em tamanho menor que o comum, por isso, embora tenha mais de 100 páginas, provavelmente não teria 50 em um tamanho normal. Isso não significa que seja superficial, porque o relato de André Gorz é extremamente sincero e ele despe sua alma de uma forma como poucos homens têm coragem de fazer.

"O capítulo deveria marcar a principal reviravolta da minha vida. Deveria mostrar como o meu amor por você - ou melhor, a descoberta do meu amor por você - por fim me levaria a querer existir; deveria mostrar como a minha relação amorosa com você iria se tornar a razão de uma conversão existencial."

Gorz foi um filósofo austríaco, radicado na França, que se tornou conhecido por suas reflexões sobre sociedade e existencialismo. Embora seu trabalho e seu pensamento político estejam nítidos em Carta a D., eles estão longe de ser o ponto principal da obra. O livro é dedicado a Dorine, esposa do autor, e ele tenta refletir nessas poucas páginas o quanto sua mulher foi importante para ele, não só em relação ao que ele sentia, mas no quanto ele dependeu dela para ser o que era.

O autor conseguiu mostrar, ao narrar a vida dos dois desde que se conheceram, o quanto sua perspectiva de vida foi influenciada por Dorine, a única mulher que amou. É claro que nem tudo era perfeito, afinal se trata de uma história e de um depoimento real, mas foi no comum que esse amor foi construído. Um relacionamento que durou quase 60 anos sem dúvidas foi construído com muita parceria, amizade e amor.

"A base sobre a qual a nossa relação se erguia mudou no curso desses anos; nosso relacionamento se tornou o filtro pelo qual passava minha relação com o real."

Gorz consegue mostrar também que, embora o nome em cada trabalho fosse o dele, na verdade tudo o que fazia era vinculado a Dorine. Era ela quem lhe dava suporte, quem lhe trazia reflexões e lhe fazia ver por outras perspectivas. Tanto que, sem a esposa, ele não viu mais sentido em viver. Dorine e Andre abdicaram da vida juntos, em 2007, um ano depois da publicação desse livro.

Leia Mais
16 comentários
Compartilhe:

A Caçadora de Dragões - Kristen Ciccarelli

Sinopse: Quando era criança, Asha, a filha do rei de Firgaard, era atormentada por sucessivos pesadelos. Para ajudá-la, a única solução que sua mãe encontrou foi lhe contar histórias antigas, que muitos temiam ser capazes de atrair dragões, os maiores inimigos do reino. Envolvida pelos contos, a pequena Asha acabou despertando Kozu, o mais feroz de todos os dragões, que queimou a cidade e matou milhares de pessoas — um peso que a garota ainda carrega nas costas. Agora, aos dezessete anos, ela se tornou uma caçadora de dragões temida por todos. Quando recebe de seu pai a missão de matar Kozu, Asha vê uma oportunidade de se redimir frente a seu povo. Mas a garota não vai conseguir concluir a tarefa sem antes descobrir a verdade sobre si mesma — e perceber que mesmo as pessoas destinadas à maldade podem mudar o próprio destino.

Livro recebido como cortesia da Editora.
CICCARELLI, Kristen. A Caçadora de Dragões. Iskari #1. Editora: Seguinte, 2018, 398 p.


A Caçadora de Dragões é o primeiro volume da trilogia Iskari, da autora Kristen Ciccarelli, publicado pela Editora Seguinte. Nesse livro, conheceremos a história de Asha, uma caçadora de dragões que é temida por todos, inclusive seu próprio povo. 

Asha é uma caçadora de dragões. Ela cresceu cercada por tragédias, quando ainda era criança perdeu sua mãe de forma bem prematura. Asha tinha muitos pesadelos e sua mãe apelou para todos que pudessem ajudar, mas nada deu certo e foi aí que ela começou a contar histórias antigas e proibidas para ajudar a menina com os pesadelos, e deu certo, mas tudo tem um preço e ela acabou sucumbindo por causa dessas histórias. 

"Algumas história são perigosas demais para serem contadas."

Como se isso já não fosse o bastante, Asha leva consigo a culpa da morte de milhares de pessoa. Segundo as lendas, as histórias antigas atraem dragões e foi isso que Asha fez, contou uma história que atraiu Kozu, o primeiro dragão, mas as coisas não sairam como era esperado e Kozu retaliou toda a cidade e marcou Asha com o fogo de dragão. 

Muitos anos depois, Asha está em busca de vingança. Por causa de Kozu ela é uma pária perante os seus e ganhou o nome de Iskari, que basicamente é aquela que atrai morte e destruição. Ela está prometida em casamento a um homem odioso, mas seu pai – O Rei Dragão – tem poder para desfazer esse noivado, o que ele quer em troca é a cabeça de Kozu, para que assim o Rei acabe com todas as histórias de uma vez por todas.

"Aonde Namsara levava risadas e amor, Iskari levava destruição e morte."

Asha parte então nessa jornada, unindo o útil ao agradável, sua vingança contra Kozu, que foi a sua destruição, e o fim do noivado com o comandante. Mas nem tudo é o que parece e Asha irá questionar tudo o que sabe, tudo o que é e tudo o que imaginou ser.

A Caçadora de Dragões é uma história que me surpreendeu muito, ela traz personagens corajosos e valentes, que estão dispostos a fazer qualquer coisa pelo que acreditam ser o certo. Temos mistérios, aventuras e uma história bem construída, sem esquecer, claro, o romance, que foge um pouco dos padrões, mas que deixa aquela sensação quente no peito. 

Asha é uma protagonista que está longe de ser perfeita, ela é forte e determinada, mas também cresceu marcada por tragédias e acontecimentos que ninguém deveria passar e isso teve o seu preço, ela também e impulsiva e por diversos momentos mete os pés pelas mãos, todavia, o que mais marcou para mim em sua personalidade, foi o seu senso de justiça e determinação em fazer o que era certo. 

"Se alguém a abrisse e olhasse, encontraria um interior similar ao seu exterior: repleto de cicatrizes. Assustador, terrível."

O romance desse livro é algo bem clichê, todavia, eu gostei que ele não é o foco do livro. Um ponto que eu achei interessante nesse sentido é que a Asha teve que abrir mão dos seus medos e preconceitos pelo amor proibido que estava sentindo, ao meu ver, o romance serviu para fortalecer a personagem e quebrar alguns paradigmas que ela mesmo tinha em relação ao que é certo e errado. 

Os personagens secundários foram de grande participação na trama como: Jarek o odioso noivo de Asha, Torwin o escravo de Jarek, Roa uma nativa que teve grande participação na trama, e Dax, irmão de Asha, noivo de Roa, herdeiro do trono de Firgaard e protagonista principal do segundo livro, que tem previsão de lançamento em inglês dia 25 de setembro.

"Onde as histórias antigas eram contadas, havia dragões, onde havia dragões, havia destruição, traição - e fogo, principalmente."

A edição está bem bonita, eu adoro essa capa e, depois de ler o livro, entendo a ligação que ela tem com a história. As folhas são amareladas e as letras confortáveis, encontrei dois erros de revisão, mas nada que atrapalhasse o desenvolvimento da história. A narrativa é feita em terceira pessoa, a escrita da autora é leve e bem fluída, no decorrer da história, temos algumas das histórias proibidas, o que torna tudo ainda mais interessante. 

No contexto geral, A Caçadora de Dragões é um livro cativante, que introduz de maneira bem dinâmica o mundo dos dragões, eu estou muito ansiosa pelo segundo livro, espero que após o lançamento da edição gringa, a Editoria não demore lançar aqui no Brasil.


Leia Mais
15 comentários
Compartilhe:

Conjunto de Ganhadores #28

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje quero mostrar mais algumas fotos que recebi com os prêmios sorteados aqui no blog. Adoro saber que os livros chegaram bem aos seus novos donos, então sempre peço para quem é sorteado nas promoções dividir aqui comigo as imagens deles. Pode me marcar nas redes sociais, enviar por e-mail, tudo vale! rsrs


A primeira foto é da Maíra e já é antiga, mas eu percebi que não tinha mostrado ela por aqui ainda.  O livro Pequenas Grandes Mentiras foi recebido em razão do sorteio do livro em parceria com a Editora Intrínseca, e ela me marcou lá no Instagram. Aproveito para dizer que tem outra promoção de livro da Liane Moriarty com inscrições ainda abertas aqui no blog ;)


A Angela, que sempre está por aqui, recebeu os livros A caminho do verão e Uma canção de ninar que ganhou no Top Comentarista de Fevereiro e me marcou lá no Instagram também. Adorei a foto com esses livros lindos!


A última foto do dia é da Rudy, que está sempre por aqui também e que recebeu Meu Romeu e Minha Julieta por conta do sorteio do Top Comentarista de Março. A foto foi publicada no blog dela, Alegria de viver e amar o que é bom, e eu peguei emprestada (rsrs).

Sei que ainda estou devendo o envio de alguns livros, mas logo que conseguir me organizar devo postar, ok? E, please, me mandem fotos sempre!

Leia Mais
17 comentários
Compartilhe:

Reconstruindo Amelia - Kimberly McCreight

Sinopse: Kate Baron, uma bem-sucedida advo­gada, está no meio de uma das reuniões mais importantes de sua carreira quando recebe um telefonema. Sua filha, Amelia, foi suspensa por três dias do Grace Hall, o exclusivo colégio particular onde estuda. Como isso foi acontecer? O que sua sensata e inteligente filha de 15 anos poderia ter feito de errado para merecer a punição?
Sua incredulidade, no entanto, vai aos poucos se transformando em pavor ao deparar, no caminho para o colégio, com um carro de bombeiros, uma dúzia de policiais e uma ambulância com as luzes desligadas e portas fechadas.
Amelia está morta.
Aparentemente incapaz de lidar com a suspensão, a garota subiu no telhado e se jogou. O atraso de Kate para chegar a Grace Hall foi tempo suficiente para o suicídio. Pelo menos essa é a versão do colégio e da polícia.
Em choque, Kate tenta compreender por que Amelia decidiu pôr fim à própria vida. Por tantos anos, as duas sempre estiveram unidas para enfrentar qualquer problema. Por que aquele ato impulsivo agora?
Suas convicções sobre a tragédia e a pró­pria filha estão prestes a mudar quan­do, pouco tempo depois do funeral, ela recebe uma mensagem de texto no celular:
Amelia não pulou.
Alternando a história de Kate com registros do blog, e-mails e posts no Fa­cebook da filha, Reconstruindo Amelia é um thriller empolgante que vai surpreender o leitor até a última página. (Skoob)
MCCREIGHT, Kimberly. Reconstruindo Amelia. Arqueiro, 2014. 352p.


Amelia morreu devido a uma queda do telhado da escola. O livro tenta descobrir se tratou-se de um suicídio, acidente ou assassinato.

Mãe solteira e muito ocupada com o trabalho, Kate pela primeira vez perdeu completamente o interesse profissional após a morte da filha, mas ainda assim voltou à firma apenas duas semanas depois, pois precisava de uma distração. Nesse dia, ela passa a receber mensagens de texto sobre Amelia e, incentivada pelo chefe, tenta descobrir quem as mandou e também finalmente toma coragem de investigar os objetos da filha, que acredita que a polícia não olhou. Nisso, ela vai descobrir muitas coisas que não sabia sobre a menina, e eventualmente chegará à uma conclusão sobre sua morte. Assim, o livro é um drama, um suspense, e tem um pouco de romance e comédia também.

As frases da capa "Quanto da sua vida você conta para sua mãe?" e "Você realmente sabe o que se passa na cabeça da sua filha?" vão guiar muito a narrativa, ainda mais considerando que o livro é narrado tanto por Kate quanto por Amelia, intercalado com mensagens de texto, emails, blogue, posts de Facebook  e entradas de diário. Nas partes da Kate, você vê essa preocupação constante de ser de certa forma culpada pela morte da filha por ter sido ausente, não saber o que estava se passando. Nas partes da Amelia, porém, você vê que ela amava a mãe e achava a relação entre elas ótima apesar do fluxo de trabalho da matriarca, porém, algumas vezes que ela sentia que era hora de contar, a mãe não podia ouvir, e depois simplesmente o momento passara. Você geralmente não imagina que o momento certo nunca vai chegar de novo.

Eu também não teria contado para a minha mãe, até coisas bem mais leves eu não conto porque ela é bem menos aberta que a Kate. Eu não sei se minha mãe aceitaria tudo aquilo, já a Amelia sabia que a mãe provavelmente entenderia, mas simplesmente às vezes temos dificuldade de assumir até para nós mesmos e criar coragem para contar pra alguém, ainda mais nossa família, leva ainda mais tempo. E às vezes tem também o medo de que seus pais vão tomar alguma decisão para melhorar a situação, que na verdade pode piorar tudo. Um dia, eu reclamei para a minha mãe de umas meninas da escola que falavam mal de mim e depois que a minha tia educadora disse que isso era bullying e a aconselhou a falar na escola, minha mãe falou com o diretor que falou com as meninas. O problema é que minha mãe não sabia da história toda e eu podia ter me dado mais mal que elas porque também falei mal delas (eu fiquei brava e queria desabafar, sei lá) e o meu foi público numa rede social, enquanto eu precisaria de testemunhas para provar que elas falaram oralmente. Ainda bem que não deram prosseguimento ao assunto. A Kate e a Amelia definitivamente tinham uma relação muito melhor do que têm muitas famílias em que a mãe não trabalha, no próprio livro vemos isso, porém algumas vezes ela devia sim ter dado mais atenção. Ao mesmo tempo, a Amelia teve momentos que quis que a mãe adivinhasse o que ela queria em vez de dizer logo e essa é uma abordagem  complicada.

O formato do livro é maravilhoso porque nós vamos descobrindo a vida da Amelia da mesma forma que a Kate: "fuçando" as mensagens de texto, emails. Mas para nós é numa ordem diferente, já que nós temos desde o começo do livro. O blog mencionado, na verdade eu nem sei dizer se é um blogue ou um boletim, mas é como em Gossip Girl, cheio de fofocas dos alunos da escola dela. As semelhanças com Gossip Girl não param por aí, já que a escola é particular numa parte rica de Nova York. Só esse fato já justifica ter muitas semelhanças, e eu não explicarei todas, mas este livro é bem mais pesado. Você vê a Blair e amigas dela em GG fazendo coisas absurdas, mas como você não tem a visão pelas pessoas afetadas, a maioria das pessoas nem liga e ama a Blair, e já aqui nós temos a visão da vítima. Aliás, Reconstruindo Amelia é do tipo que mostra os piores tipos de seres humanos mesmo e, apesar de construir bem todo mundo e haver a possibilidade de você passar a odiar personagens que achava bons ou deixar de odiar outros, ele não tenta fazer ninguém considerar aqueles comportamentos normais e certos como Gossip Girl parece fazer ao desenvolver os personagens sem fazê-los se desculpar e com os telespectadores esquecendo totalmente do que eles fizeram de ruim ou desculpando tudo. Tem um pouco de Big Little Lies também, talvez simplesmente escolas com pessoas ricas sejam sempre retratadas assim.

O final foi um pouco surpreendente. De tudo de ruim ou misterioso que vai aparecendo, isso foi uma das últimas coisas que eu pensei que poderiam estar relacionadas. Mas o legal também é como o livro inteiro vai surpreendendo a gente, meio que como surpreende a Kate. Tem coisas que nós e Kate vamos descobrir que nem Amelia sabia.

A autora mora na região em que o livro se passa e por isso eu acredito que o livro deve ser bem verossímil. Apesar dos locais serem inventados, ela coloca exatamente quantos minutos levaria de um local para outro e eu não costumo ver isso em livros, então provavelmente ela se baseou em distâncias reais. As descrições também são imagens que ela deve ver todo dia. E ela tem duas filhas que acredito serem de uma idade próxima, e elas provavelmente estudam por ali e ela deve ter pegado muito do que ela mesma vê dos alunos. E é advogada e foi sócia de uma firma enorme, o que diz que todos os termos jurídicos devem estar corretos, não que faça muita diferença para nós que não entendemos nada. Mas dá para ver que essa história deve ser bem pessoal para a Kimberly.

Este livro foi um dos melhores que eu já li. Ele é muito instigante, bem escrito e faz pensar muito. É interessante para pais e filhos lerem e aprenderem coisas. Por exemplo, a Kate era do tipo que não verificava nada que a filha fazia no celular e Internet. Não que eu ache que todos os pais precisam confiscar e olhar como alguns fazem, mas ela nem sequer olhava o Facebook dela. Quando eu vi em Big Little Lies falarem que uma personagem não devia ficar olhando o Facebook da filha, que isso era tipo stalkear, eu achei ridículo. Se a pessoa te aceitou como amigo e não te bloqueia de ver o que posta é óbvio que você não só pode, como VAI ver. A Kate só não viu no feed dela porque nunca devia entrar ou ignorava os da filha. Olhar o que é público não tem nada de errado a menos que ela te peça para não olhar. Mas enfim, recomendo muito o livro.

Leia Mais
17 comentários
Compartilhe:

Um de nós está mentindo - Karen McManus

Cinco alunos entram em detenção na escola e apenas quatro saem com vida. Todos são suspeitos e cada um tem algo a esconder. Numa tarde de segunda-feira, cinco estudantes do colégio Bayview entram na sala de detenção: Bronwyn, a gênia, comprometida a estudar em Yale, nunca quebra as regras. Addy, a bela, a perfeita definição da princesa do baile de primavera. Nate, o criminoso, já em liberdade condicional por tráfico de drogas. Cooper, o atleta, astro do time de beisebol. E Simon, o pária, criador do mais famoso app de fofocas da escola. Só que Simon não consegue ir embora. Antes do fim da detenção, ele está morto. E, de acordo com os investigadores, a sua morte não foi acidental. Na segunda, ele morreu. Mas na terça, planejava postar fofocas bem quentes sobre os companheiros de detenção. O que faz os quatro serem suspeitos do seu assassinato. Ou são eles as vítimas perfeitas de um assassino que continua à solta? Todo mundo tem segredos, certo? O que realmente importa é até onde você iria para proteger os seus. (Skoob)
MCMANUS, Karen M. Um de nós está mentindo. Galera Recorde, 2018. 384 p.


Tenho que dizer que eu estou orgulhosa de mim mesma. Eu não fui até o último capítulo para saber quem é o culpado ou pulei um capítulo para descobrir o que eu queria em específico. Eu fui tão, mas tão paciente, que estou orgulhosa, porque saber quem matou Simon e quais são os segredos de cada um dos protagonistas foi sensacional. A emoção foi maravilhosa. Eu tive que dizer muito para mim mesma "Não, não, não, Izabela! Supere isso! Supere isso! Você consegue!".

Mentira.

Eu pulei algumas partes e acidentalmente (foi de propósito) descobri quem matou Simon, mas então esqueci e descobri que estava errada. Contexto é tudo, gente!

"Bayview é um colégio fofoqueiro, mas pelo menos o Falando Nisso não paira mais sobre a cabeça de todo mundo. E, sendo cem por cento sincera, tenho que admitir — isto é um alívio."

Todos estão mentindo, é claro. E quem matou Simon foi a maior surpresa e mentira e eu não esperava por aquela. Ao entender o contexto.

O livro soube mesclar bem romance e mistério, só que... acabou ficando um pouco nem lá nem cá e parece um pouco superficial. Eu queria um pouco mais de aprofundamento. Eu esperava algo mais bem trabalhado, minhas expectativas eram altas. Eles citam o acontecimento, como "oh, sabe hoje de manhã? Aconteceu isso", ao invés de colocar, provavelmente para não deixar muito extenso ou repetitivo, mas tinha cenas que eu realmente queria ver, que eu iria adorar ler.

Eu iria adorar ver mais as interações entre os personagens, porque eu gostei do pouco que teve deles, da breve olhada no âmago deles que mostrou que eles são mais do que aparentam ser. Eu gostei da Bronwyn e do Nate, deles um com o outro, mas não foi nada "uau", foi um pouco o clichê de sempre. Addy foi a maior surpresa sem dúvida, a reviravolta do personagem dela, o crescimento que ela teve... sensacional. Cooper também foi um personagem que eu gostei, o segredo dele foi o que mais demorou para revelar, não que eu esteja reclamando, pois acredito que faltou uma enrolada na descoberta dos segredos dos personagens. Eu comecei a leitura e... bam! Eu sabia o segredo de cada um.

"Vocês acham que eu estava brincando a respeito de ter matado Simon? Leiam e chorem, molecada. Todo mundo na detenção com Simon na semana passada tinha um motivo muito especial para querer vê-lo morto. Prova A: a postagem acima, que ele estava prestes a publicar no Falando Nisso.
Agora eis o dever de casa: liguem os pontos. Será que está todo mundo mancomunado ou alguém está no controle?
Quem é o manipulador e quem são as marionetes?
Vou dar uma pista para vocês começarem: todo mundo está mentindo.
Valendo!"

Por ser narrado em primeira pessoa, não houve um momento que eu duvidei deles e eu acho que a melhor parte de uma história de mistério é duvidar dos protagonistas, dos "mocinhos". A voz de cada personagem estava muito bem distinta, o que é complicado de fazer num livro em que a narração dos quatro protagonistas é em primeira pessoa.

Se não deu para perceber, tenho sentimentos mistos por esse livro. Eu acho que ele foi bem escrito e eu gostei dele, todavia não sou cega para os erros, mas os erros vêm acompanhados de algo positivo e... Eu estou perdida. Cadê outro livro para me ajudar a ter uma opinião concreta sobre essa autora?

Leia Mais
16 comentários
Compartilhe:

Os Segredos dos Olhos de Lady Clare - Carol Townend

Sinopse: Enquanto investiga a causa do aumento de bandidos em Troyes, sir Arthur Ferrer encontra a misteriosa Clare, uma possível filha ilegítima do conde de Fontaine, da Bretanha. Ele então percebe que ela pode ser a chave para a sua própria salvação. A honra exige que Arthur a leve até o pai para que possa ser reconhecida, mas o desejo prefere que ela fique em seus braços.
Será possível conciliar honra e desejo?
A autora Carol Townend mais uma vez convida as leitoras para uma viagem inesquecível de volta a condados, cortes e reinos e às incríveis histórias de amor entre nobres da (nem tão) alta sociedade da época. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
TOWNEND, Carol. Os Segredos dos Olhos de Lady Clare. Editora Harlequin, 2018. 256 p.


"Ele me deu todas as razões para estar sempre em fuga, pois já nasci condenada por este cabelo vermelho dramático e olhos incomuns."

Clare teve uma vida difícil. Ela não sabe quem são seus pais e não tem memória nenhuma de sua infância. Clare é uma escrava que fugiu e conseguiu abrigo na casa de Geoffrey e, em troca, ela faz companhia a Nell, irmã de Geoffrey, e sua mãe doente. Só que o cavaleiro acaba morto ao se aliar a bandidos em busca de dinheiro para o tratamento de sua mãe.

Sir Arthur Ferrer é o capitão dos Cavaleiros Guardiões e conhece Clare durante o Torneio da Noite de Reis. Os olhos incomuns, cada um de uma cor, chamam a atenção de Arthur e o deixam com a impressão de já ter visto olhos semelhantes em algum lugar. Depois de um tempo, o cavaleiro lembra do conde Myrrdin, dono de olhos iguais aos de Clare. Seria ela a filha ilegitima do conde? Arthur então conta suas suspeitas ao conde Henry, que, por sua vez, dá a ele a missão de levar Clare até seu suposto pai a Arthur. Mas algo que o cavaleiro não contava era durante a viagem se apaixonar pela bela mulher de cabelos vermelhos e olhos incomuns.

"Arthur, fui vítima das vontades dos outros durante minha vida toda. Esta é a primeira vez que ouço a voz do meu coração."

Esse é o segundo volume da série Os Cavaleiros de Champagne, que está sendo relançado com nova edição e capa pela Editora Harlequin. Preciso dizer que a editora está fazendo um ótimo trabalho porque as edições estão lindas e, apesar de não curtir muito pessoas nas capas, a modelo lembra muito nossa protagonista. E mesmo sendo uma série, são histórias independentes, portanto não tem problema ler fora de ordem.

Achei bem interessante o fato dessa história se passar nos anos 1174 e ter um background medieval. Temos palavras bem diferentes, que eram comuns na época, o que enriqueceu a leitura. A escrita é fluida e é um livro bem rápido de ler. Mas preciso confessar que fiquei um pouco decepcionada em vários pontos.

Os personagens não me conquistaram nem um pouco. Não sei por que não consegui me conectar aos personagens. Geralmente, fico encantada com os protagonistas masculinos dos livros de época, mas Arthur não conquistou meu coração nem me fez suspirar. As protagonistas me conquistam com suas personalidades e o fato de serem bem a frente de seu tempo, mas achei Clare bem chatinha e sem sal. O romance não me convenceu e atração que surgiu entre os dois foi bem do nada. 

A maioria dos conflitos criados pela autora entre o casal poderiam ter sido resolvidos com uma simples conversa, mas são arrastados deixando a leitura cansativa em alguns pontos. Mas o suspense que a autora criou conseguiu prender minha atenção e foi o que me impulsionou a continuar a leitura até o fim. Enfim, o livro não é ruim, mas senti falta de algo que me conquistasse.

Uma coisa muito interessante que descobri enquanto fazia essa resenha é que a autora é formada em história, o que com certeza contribuiu para a descrição dos lugares e costumes da época. Bom, apesar das minhas ressalvas quanto a essa leitura, foi um bom livro. Gostei do cunho histórico e a trama me prendeu portanto recomendo se você está em busca de um romance de época despretensioso.


Leia Mais
15 comentários
Compartilhe:

Promoção: O que Alice esqueceu

Olá queridos, o que acharam das postagens da #SemanaEspecialLianeMoriarty? Depois da resenha de O que Alice Esqueceu e de discutirmos outros livros de Liane Moriarty e os diversos temas presentes nas obras da autora, que tal encerrar a semana com um sorteio de um exemplar do mais novo lançamento da Editora Intrínseca?

Espero que vocês participem muito porque esse livro é incrível!

Para participar é simples! Basta seguir o blog Conjunto da Obra pelo Google Friend Connect (clicar em "Participar deste site" na barra lateral direita) e preencher essa entrada no formulário. Depois, várias outras entradas serão abertas, para quem quiser ter ainda mais chances.

a Rafflecopter giveaway
As inscrições serão feitas por meio da ferramenta Rafflecopter. Para os que ainda têm dúvidas sobre como utilizá-la, podem ver este tutorial aqui. As inscrições são válidas até dia 15 de julho, e o resultado será divulgado em até 7 dias, neste mesmo post.

Após o resultado, o Conjunto da Obra entrará em contato com o vencedor por e-mail, que deverá ser respondido em até 24 horas. O exemplar será remetido pela Editora Intrínseca.

Boa sorte!

Leia Mais
24 comentários
Compartilhe:

Contagem Regressiva - Ken Follett

Sinopse: Certa manhã, um homem acorda no chão de uma estação de trem, sem saber como foi parar ali. Não faz ideia de onde mora nem o que faz para viver. Não lembra sequer o próprio nome. Quando se convence de que é um morador de rua que sofre de alcoolismo, uma matéria no jornal sobre o lançamento de um satélite chama sua atenção e o faz desconfiar de que sua situação não é o que parece.
O ano é 1958 e os Estados Unidos estão prestes a lançar seu primeiro satélite, numa tentativa desesperada de se equiparar à União Soviética, com seu Sputnik, e recuperar a liderança na corrida espacial.
À medida que Luke remonta a história da própria vida e junta as peças do que está por trás de sua amnésia, percebe que seu destino está ligado ao foguete que será disparado dali a algumas horas em Cabo Canaveral.
Ao mesmo tempo, descobre segredos muito bem guardados sobre sua esposa, seu melhor amigo e a mulher que ele um dia amou mais que tudo. Em meio a mentiras, traição e a ameaça real de controle da mente, Luke precisa correr contra o tempo para conter a onda de destruição que se aproxima a cada segundo. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
FOLLETT, Ken. Contagem Regressiva: três dias que poderiam mudar o cenário político mundial. Editora Arqueiro, 2018. 320 p.


Não fazia ideia que os filmes de Os Pilares da Terra eram baseados em livros de Ken Follett quando os assisti, lá em 2010, antes mesmo que Hayley Atwell e Eddie Redmayne se tornassem conhecidos como são hoje. Desde que soube disso, porém, quis ler algo do autor, mas a oportunidade só surgiu agora, com Contagem Regressiva, publicado este ano pela Editora Arqueiro.

Ironias à parte - ou não -, o livro foi lançado no Brasil bem próximo às comemorações dos 60 anos do lançamento do primeiro satélite espacial americano, o Explorer I. A obra começa com uma nota histórica que conta sobre o adiamento do lançamento, em duas noites consecutivas, por razões que aparentavam não ser realísticas. Até achei que o autor tinha criado essa nota para dar o start em sua obra, então fui buscar fontes seguras que divulgassem essa informação, e encontrei nessa matéria publicada no blog da NASA. Isso significa que Ken Follett criou todo um enredo fictício a partir de uma verdade e, para ser justa, trata-se de um enredo viciante.

Na trama, Luke acorda sem memória nenhuma sobre sua vida, ainda que consiga lembrar de outros conhecimentos não biográficos, como matemática, história e inglês. A princípio, não sabe nem mesmo seu nome, mas tudo parece querer lhe convencer de que é um morador de rua. O problema é que algumas coisas não fazem sentido para ele, então ele resolve descobrir quem ele é e porque perdeu a memória.

"O que havia acontecido na noite anterior? Não conseguia lembrar.
O medo histérico começou a retornar quando percebeu que não conseguia se lembrar de nada."

A trama construída por Ken Follett é absolutamente viciante. Assim como Luke, o leitor também não faz ideia de como o protagonista foi parar naquela situação, então os detalhes são descobertos junto com o personagem. É instigante acompanhar as relações feitas por Luke, detalhes que ele descobre sobre si mesmo para continuar sua busca. Afinal, ele não sabe nada sobre si mesmo, então de que ponto ele poderia partir para buscar algo? Essas maquinações o levam de detalhe em detalhe, até finalmente chegar a pessoas que podem auxiliá-lo, amigos do passado.

Os capítulos se intercalam, tanto entre os personagens, quanto em relação à época. No que se refere ao ponto de vista, o texto vai além da visão de Luke, pois mostra também outros personagens, como Elspeth, Anthony e Billie, sempre em terceira pessoa. Além disso, enquanto alguns capítulos se passam em 1958, ano do lançamento do satélite espacial americano, em plena Guerra Fria, outros retornam para 1943 para mostrar os personagens quando jovens, ainda em Harvard, na época da Segunda Guerra Mundial, e como a amizade entre eles surgiu.

"Mais uma vez Luke pensou se estava imaginando coisas. Tinha acordado num mundo desconcertante onde qualquer coisa podia ser verdade."

Embora mostre a visão de todos eles, ainda assim é difícil saber suas intenções. É quase como se eles não gostassem de admitir seus defeitos nem para eles mesmos, o que impede de saber quem está de que lado. O próprio Luke pode ser o "vilão", pois ele nem lembra o que fez até perder a memória. Essa construção é quase enlouquecedora, porque se quer logo compreender o que aconteceu, o que nos faz devorar as páginas para desvendar o mistério.

Contagem regressiva é um romance envolvente e carregado de adrenalina. O livro é repleto de cenas de ação, entremeado por espionagem em plena Guerra Fria e conta ainda com romance e traição. É aquele tipo de livro que diverte e te faz procurar as pistas junto com o personagem e, quando se percebe, já chegou ao fim.

Leia Mais
12 comentários
Compartilhe:

Semana Especial #3: Os temas de Liane Moriarty


O que Alice esqueceu é o novo lançamento da autora Liane Moriarty pela Editora Intrínseca e chegou às livrarias no último dia 15. O livro havia sido lançado no Brasil há alguns anos, com o título As lembranças de Alice, mas agora ganhou uma nova edição, com capa semelhante aos demais livros da autora lançados pela Editora. Para comemorar o lançamento, a Editora Intrínseca convidou os blogs parceiros para uma Semana Especial dedicada a Liane Moriarty.

A ideia de hoje é falar um pouquinho sobre os temas das tramas criadas por Liane Moriarty. Nas primeiras postagens, acabei mencionando um pouco isso, mas agora tentarei resumir os tópicos tratados pela autora para ver se convenço de vez todo mundo a conhecer a obra dela. rsrs

Se você abrir um livro de Liane Moriarty, não tenha dúvida que irá encontrar:

a) conflitos familiares: Liane não economiza nesses conflitos, que, em geral, movimentam suas tramas. Ela aborda sem medo as difíceis relações entre pais e filhos, principalmente na época da adolescência, as dificuldades do casamento, seja pelo desgaste da relação ou por alguma traição, a competitividade natural entre irmãos, os sentimentos conflitantes em relação às pessoas que amamos, os traumas que os adultos carregam por causa dos pais, entre outros. A autora consegue se aprofundar nas minúcias das questões psicológicas de seus personagens e das dificuldades das relações humanas e, mesmo que seus enredos sejam bastante cotidianos, ela disseca essas relações, como vi em poucas obras.

b) mulheres fortes: as mulheres sempre estão no centro das histórias criadas por Liane Moriarty e, ainda que cada uma delas seja exatamente como eu e você, cheia de inseguranças, defeitos e problemas para resolver, a autora consegue mostrar o quanto uma mulher consegue se desdobrar para fazer tudo dar certo. Em alguns casos, suas personagens vão muito além do que acreditam que podem suportar, pelo bem daqueles que amam.

c) transformações: Liane sabe como ninguém abordar as transformações pelas quais as pessoas passam durante sua vida. Todos os seus livros mostram, por exemplo, ao analisar seus personagens, os reflexos da infância e das referências para a construção de sua vida adulta. Mas não é só isso; a autora consegue mostrar como a rotina nos transforma, como o peso das responsabilidades nos moldam e como as pequenas decisões podem implicar grandes mudanças. O mais interessante disso é que, ao lermos um livro da autora, conseguimos visualizar exatamente que ponto representou tal mudança. Mas e quanto às nossas vidas reais? O quanto mudamos e o que causou isso? Sempre que leio seus livros, não consigo evitar de analisar as transformações pelas quais passou minha própria vida.

d) crises nos relacionamentos: ainda que esse tema esteja diretamente relacionado aos itens "a" e "c", achei relevante trazer um tópico específico para ele. Isso porque é um tema bem central trazido nas obras de Liane Moriarty, em especial quando se tratam de casamentos de muitos anos. Vamos ser sinceros: as pessoas mudam, os sentimentos mudam e às vezes aquilo que relacionamento se tornou talvez não seja mais suficiente. Depois de anos, não há mais aquele sentimento do início, aquela sensação de descoberta, a rotina e o cansaço vão tomando conta e, por consequência, as brigas também. Liane mostra muito bem essa transformação em seus livros e nos faz ficar divididos entre manter aquilo que um dia foi tão bom ou tentar buscar algo novo e melhor. São ilustrações sinceras e dolorosas sobre relacionamentos, mas extremamente verdadeiras.

e)  relatos sinceros sobre sentimentos: Nos livros de Liane, seus personagens são demonstrados por inteiro, sem máscaras. A autora vai ao âmago do ser humano e não esconde nada - seja o que há de melhor, seja o pior. Inveja, raiva, egoísmo, amor, doçura, tudo está escancarado e misturado. Por isso mesmo, seus personagens são sempre tão reais e é fácil se identificar com eles, o que contribui muito também para o sentimento de empatia. Em suas tramas, a autora sempre insere aquela percepção, por algum personagem, de que a vida do outro é melhor, perfeita; mas Liane faz questão de desconstruir todos esses mitos e mostrar que todo mundo tem problemas.

f) perdão: Ironicamente ou não, todos os livros da autora terminam com algum tipo de perdão. Liane mostra que o perdão é um processo, uma decisão difícil, e que perdoar é uma forma linda de se livrar da dor. Claro que não é fácil, mas isso não significa que seja ruim.

Esses itens são só alguns dos temas bastante comuns nos livros de Liane Moriarty, mas existem outros que estão presentes, como a dificuldade de criação de filhos, o desejo de ter filhos, inseminação artificial, adoção, esperanças e frustrações dos personagens, entre muitos outros. Os livros são sempre muito ricos na análise humana e, talvez por isso, tão apaixonantes.

Leia Mais
17 comentários
Compartilhe:

Semana Especial #2: Outros livros de Liane Moriarty


O que Alice esqueceu é o novo lançamento da autora Liane Moriarty pela Editora Intrínseca e chegou às livrarias no último dia 15. O livro havia sido lançado no Brasil há alguns anos, com o título As lembranças de Alice, mas agora ganhou uma nova edição, com capa semelhante aos demais livros da autora lançados pela Editora.

Para comemorar o lançamento, a Editora Intrínseca convidou os blogs parceiros para uma Semana Especial dedicada a Liane Moriarty. Fã da autora que sou, não poderia ficar de fora. Ontem contei para vocês o que eu achei dessa nova obra - se não ficou claro, eu amei. Hoje vamos relembrar os outros livros da autora e já adianto para vocês: para quem gosta de um enredo com personagens bem construídos, instigante e repleto de dramas familiares, Liane Moriarty é sem dúvidas a escolha certa.

É engraçado pensar que minha relação com Liane Moriarty começou exatamente quando começou minha parceria com a Editora Intrínseca. Isso porque, quando o blog foi selecionado como parceiro, lá em 2014, a Editora mandou uma cartinha de boas vindas acompanhada de um exemplar de O segredo do meu marido. Aquele carinho todo foi um pouco inesperado e, por isso, mesmo antes de começar a ler o livro, criei uma afeição pela trama. Não demorei muito para iniciar a leitura e me vi completamente surpresa por ter sido fisgada por um enredo quase "banal", com um toque sombrio e divertido ao mesmo tempo, que conseguiu ser instigante e misterioso mesmo assim. Na época em que escrevi a resenha, mencionei que "É uma obra que nos deixa vidrados, porque consegue a mistura exata entre mistério, drama, romance e outros elementos que, mesmo em menor escala, conseguem suprir o que poderia faltar." Até hoje, ainda é meu favorito da autora, ao lado agora de O que Alice esqueceu, como mencionei na resenha.

No ano seguinte, Pequenas Grandes Mentiras chegou às livrarias já com um burburinho, pela expectativa do lançamento da série de televisão baseada no livro. Mais uma vez Liane Moriarty conseguiu criar um enredo cotidiano cheio de humor, ironia e muito mistério. Embora conte uma história de assassinato, Liane foge do comum, porque o mistério não é sobre quem matou, mas sobre quem morreu, muito embora seja no comum que a autora consiga surpreender, já que as situações criadas por ela são aquelas que poderiam acontecer com qualquer um. Além disso, a autora usa seu enredo para se aprofundar em questões relevantes como violência doméstica, educação dos filhos e preconceito.

Em 2017, chegou às livrarias Até que a culpa nos separe. O livro foi bem trabalhado no que trata da construção de seus personagens e dos conflitos existentes entre eles, mas senti que faltou algo a esse enredo. Em comparação aos outros livros da autora, senti que esse foi o mais fraco, mas talvez seja só porque tive minhas expectativas frustradas, como expliquei na resenha. Ainda assim, foi uma boa leitura e serviu para suprir a falta de outras obras da autora.

De qualquer modo, sei que sempre que outro livro da autora for publicado, estarei ansiosa pela leitura. Liane tem um jeito particular de tocar o leitor e quero me ver envolvida com cada novo enredo que a autora criar.

Leia Mais
17 comentários
Compartilhe:

O que Alice esqueceu - Liane Moriarty

Sinopse: Alice tinha certeza de que era feliz: aos 29 anos, casada com Nick, um marido lindo e amoroso, aguardando o nascimento do primeiro filho rodeada pela linda família formada por sua irmã, a mãe atenciosa e a avó. Mas tudo parece ir por água abaixo quando ela acorda no chão da academia... dez anos depois!
Enquanto tenta descobrir o que aconteceu nesse período, Alice percebe que se tornou alguém muito diferente: uma pessoa que não tem quase nada em comum com quem ela era na juventude e, pior, de quem ela não gosta nem um pouco.
Ao retratar a vida doméstica moderna provocando no leitor muitas risadas e surpresas, Liane Moriarty constrói uma narrativa ao mesmo tempo ágil e leve sobre recomeços, o que queremos lembrar e o que nos esforçamos para esquecer. (Skoob)

Livro recebido em parceria com a Editora.
MORIARTY, Liane. O que Alice esqueceu. Editora Intrínseca, 2018. 416 p.


Sempre que vejo algo sobre um novo lançamento de Liane Moriarty, pouco me importa a sinopse, sei que vou ler. Tanto que já li todos os livros dela lançados aqui no Brasil pela Intrínseca e O que Alice esqueceu só veio para reforçar essa certeza, pois se tornou meu segundo - ou primeiro (ainda estou em dúvida) - livro favorito da autora, em embate apenas com O segredo do meu marido.

No livro, Alice sofreu um acidente e esqueceu seus últimos dez anos. Ela ainda pensa que é recém casada, apaixonada por Nick e que eles esperam seu primeiro filho. Só que, diferentemente, ela tem três filhos, está se divorciando, se distanciou de sua família e se tornou uma pessoa completamente diferente. Conforme descobre verdade sobre si mesma, ela sente que, durante esses dez anos, uma usurpadora esteve em seu lugar.

"Esse foi o dia em que Alice Mary Love foi à academia e, num descuido, perdeu uma década de vida."

A trama é construída pela perspectiva de três personagens, que se intercalam para ampliar a percepção dos acontecimentos: Alice, em terceira pessoa, Elizabeth, irmã de Alice, por meio de suas anotações pessoais para o seu terapeuta, como um diário, e Frannie, "avó" das duas, por meio de um blog. Achei um pouco irritante que algumas cenas fossem interrompidas para mudar de uma personagem para outra, mas, no contexto, acredito que essa construção foi fundamental para aprofundar outros personagens que não poderiam ser compreendidos apenas pelo ponto de vista de Alice.

Liane Moriarty tem uma escrita envolvente e é difícil largar o livro. Li até sentir meus olhos ficarem secos e pesados, e mesmo assim não queria parar. Embora a história gire em torno de coisas bastante cotidianas, a forma como a autora constrói sua narrativa insere um mistério que queremos logo desvendar. Algo mudou Alice durante esses dez anos, algo dissolveu seu casamento, algo a transformou em uma mulher que ela não imaginava que podia ser, mas ela não lembra, e a curiosidade de saber o que é enorme.

O mistério em si não é grande coisa, então não é bom criar expectativas sobre isso, mas é a simplicidade que desperta reflexões durante a leitura. Afinal, não são as coisas do dia a dia que nos transformam cada dia um pouquinho mais? Acredito que o que envolve nos livros de Moriarty é seu dom de transformar coisas simples e comuns em tópicos instigantes e, a partir disso, fazer o leitor repensar a si mesmo. Por exemplo, será que o meu eu de hoje gostaria de mim mesma daqui a dez anos? E o meu eu de dez anos atrás, o que pensaria de mim hoje?

"Alice detestava a pessoa que tinha se tornado. A única parte boa eram as roupas."


A construção dos personagens é outro ponto alto da trama. Ninguém é apenas uma ou outra coisa, as pessoas são muito mais profundas que isso. Liane não os coloca em caixinhas, mas trabalha suas diversas facetas de forma rica e fascinante. Por exemplo, Elizabeth, irmã de Alice, quis tanto um filho que passou a fazer disso a questão da sua vida, sentia que ninguém a compreendia e qualquer palavra se tornava uma ofensa contra ela. Ela não era uma pessoa má ou boa, só uma pessoa frustrada, desesperançosa, que não conseguiu evitar que isso influenciasse todos os demais aspectos de sua vida. E isso se repete com praticamente todos os personagens, que são trabalhados por todos os ângulos possíveis.

Alice mesmo é uma pessoa comum, cheia de defeitos e qualidades, e é por isso que foi tão fácil se identificar com ela - seja com a Alice de 29 anos, seja com a de 39. Todo mundo já teve momentos cheios de sonhos e esperança, assim como teve aquelas situações cheias de frustrações que ofuscavam todo o resto. No caso da protagonista, perder a memória pode ter sido uma bênção, para poder ver sua vida atual a partir de uma perspectiva menos parcial, pois aquilo nem parecia ter acontecido com ela. Para mim, mostrou que às vezes é preciso se afastar de um sentimento para rever a importância das coisas em nossas vidas e da necessidade de cuidar, no dia a dia, de nossos relacionamentos.

O que Alice esqueceu foi o livro que eu achei mais leve e divertido de Liane Moriarty, sem um grande suspense e sem o tom de ironia que eu sempre percebo por traz de se texto. Não que esses aspectos fossem ruins em outros livros, mas esse conseguiu me atingir de uma forma que eu não esperava. Além disso, o livro é mais voltado para o romance e eu amei isso. Relacionamentos sempre são aspectos importantes nos livros da autora, mas de alguma forma esse foi o que mais me envolveu, e eu só queria que existissem mais cenas que mostrassem o ponto de vista de Nick, pois eu amei esse homem. 

Ainda que eu fale mais e mais sobre o livro, nunca conseguirei abordar todos os tópicos que me encantaram em O que Alice esqueceu, desde a redescoberta, pela protagonista, de seus filhos, já crescidos, como indivíduos, até a necessidade de lidar com a dor da perda, do fim de um relacionamento, a dificuldade de comunicação quando tudo o que poderia já foi dito, ou de descobrir a imensa capacidade que se tem de se reconstruir. Terminei a leitura com lágrimas nos olhos e feliz, muito feliz, de ter conhecido esse outro lado de Liane Moriarty.

Leia Mais
18 comentários
Compartilhe:

Quando tudo faz sentido - Amy Zhang

Liz Emmerson é uma garota popular no colégio e tem uma vida aparentemente invejável. Por que ela tentaria tirar a própria vida, simulando um acidente de carro depois de assistir a uma aula sobre as Leis de Newton? Neste surpreendente romance de estreia, Amy Zhang, que nasceu na China e mora no estado de Nova York, aborda temas como abandono, bullying, depressão e suicídio com uma narrativa crua e pungente que vai arrebatar os fãs de obras como As vantagens de ser invisível, Nuvens de Ketchup e Meu coração e outros buracos negros, entre outros. Na trama, Liz é resgatada por Liam, um garoto que ela sempre desprezou, mas talvez uma das poucas pessoas ao seu redor capaz de enxergá-la além das aparências. Envolvente e emocionante, o livro – que prende também pelo mistério se a protagonista vai ou não sobreviver (e que só é revelado no final) – mostra a fragilidade, a solidão e os dilemas dos jovens de forma sensível e sincera. (Skoob).
ZHANG, Amy. Quando tudo faz sentido. Rocco, 2017.320 p.


Liz Emmerson sofre um acidente de carro e é levada para o hospital em estado crítico. Entrando e saindo de várias cirurgias, ninguém acredita que a bela e invencível Liz pode morrer a qualquer instante.

E ninguém sabe que o acidente não foi tão acidental quanto acham, mas uma tentativa de suicídio, todavia, apesar das muitas pessoas ali no hospital, esperando uma resposta, muitos não se importariam, porque Liz era amada e odiada e, para muitos, não faria diferença.

"Ela morreria, e talvez todo mundo esquecesse que ela sequer tinha vivido. (...) E não vou esquecer. Prometo a ela o que ninguém mais pode prometer. Prometo a ela, sempre."

Não existe muita coisa na sinopse do livro, apenas que Liz é popular, tem uma vida invejável (será?) e que decide que vai morrer num "acidente" de carro, mas que nada sai como esperado quando Liam, um garoto que ela despreza, a resgata, e, bem, essa sinopse não chega nem perto de descrever a história.

Qualquer um que leia isso vai pensar (eu pensei) que era uma história romântica, mas não é, esse não é o foco. Sim, Liam é apaixonado por Liz, mas teve um momento que a odiou, todos já tiveram esse momento com Liz Emmerson, mas ele a perdoou.

Ela não.

Liz não era uma pessoa boa, ela fez muitas coisas ruins e sabia disso e queria não fazer, entretanto ela não podia parar. E ela se culpa. E ela não quer mais isso. E ela queria que tudo parasse. Que o mundo parasse. Que ela parasse. Ela decide se parar.

"(...) tentou pensar em um motivo para seguir em frente. Não conseguiu. Porém conseguiu pensar em mil razões para desistir."

Num dia, três semanas antes da morte do seu pai, Liz decide que vai morrer, que vai fazer tudo parecer um acidente, e que vai ser no dia que o seu pai morreu também, porque assim será só um dia triste para sua mãe, porque, se ela não pode ser uma pessoa boa, se não pode mudar, ela também não precisa continuar prejudicando os outros.

Contudo Liz se deu uma semana antes de desistir de vez, para tentar ver se ela não podia mudar mesmo, se ela não podia ser melhor, mas... não conseguiu. Não valia a pena. Ela não valia a pena.

Liz acredita que não.

"Algumas pessoas morriam porque o mundo não as merecia.
Liz Emerson, por outro lado, não merecia o mundo."

Quando você ver uma história sobre bullying, você percebe como a pessoa que é o alvo não é forte, não se acha forte o bastante para fazer isso parar, mas o contrário também acontece. E isso foi o que eu achei interessante e inovador no livro, porque não é sobre quem sofre, é sobre outra vítima, quem pratica também é uma vítima. Liz foi uma vítima. De si mesma. Dos outros. Da vida. E ela não quer mais ser. Ela não quer mais fazer os outros se sentirem mal. Ela quer acabar com tudo e ela decide acabar consigo. Ela decide acabar com a causa para que não haja uma consequência. Ela decide que não merece viver e que precisa fazer algo bom uma única vez na sua vida, e que esse "algo bom" vai ser morrer.

Mas, em nenhum momento, você vai ler que Liz não teve culpa, porque ela teve. Liz é culpada, mas também é inocente. Somos todos inocentes, somos todos culpados (talvez alguns mais do que outros), mas estamos tentando e não podemos parar de tentar, porque ser uma pessoa boa é uma escolha e não acredite no contrário, e é difícil. Se não fosse, todos seriam.

E, não importa de qual lado esteja, você precisa pedir ajuda. Você pode pedir ajuda. Sim, você é forte. Sim, você pode lidar com isso. Mas você não está sozinho. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, não vai torná-lo fraco. Mas admitir que não é tão forte quanto todos acreditam, que você mostra que é? Vai fazê-lo forte. Vai ajudá-lo a ter o que se agarrar. Vai tornar claro que você não está sozinho.

"Eu a vi tentar enfrentar seus medos sozinha, orgulhosa demais para pedir ajuda, teimosa demais para admitir que estava com medo, pequena demais para combatê-los, cansada demais para escapar.
Eu observei Liz crescer.
Você ainda tem a mim."

O ponto alto da história é a narração, porque você não sabe quem está narrando e você quer descobrir - você quer saber se é alguém real, vivo; ou talvez seja um amigo imaginário; ou talvez um anjo da guarda; ou talvez... talvez seja a Morte, acompanhando Liz até aquele momento, vendo todas as suas escolhas. Sim, eu pensei que fosse a morte e... surpresa!

A capa é linda e não tenho vergonha de dizer que foi a primeira coisa que me chamou atenção (capa serve para isso). É um carro que sai da pista, que cai, e tem um monte de fórmulas de física, porque foi assim, durante a aula de física, falando sobre as Leis de Newton, que Liz decidiu morrer. E tem uma mão que segura o carro - o narrador onisciente? E a misteriosa frase "não existe acidente"... Por que o acidente não foi um acidente? Porque toda ação gera uma reação e então nada é acidental?

Outra coisa misteriosa é o titulo "quando tudo faz sentido", além de ser irônico, porque nada nunca faz sentido. Não tem um momento que tudo faz sentido, existem momentos que algumas coisas fazem sentido, mas não tudo. E Liz percebe isso quando gira o volante e está capotando e não morre de imediato, tudo faz sentido... as coisas não são tão simples.

A vida não é tão simples.

"A vida é mais que causa e efeito.
As coisas não eram tão simples assim.
Naquele momento, tudo se encaixou.
E Liz Emerson fechou os olhos.
Pisou no acelerador."

O livro aborda vários temas sérios, como aborto, bulimia, e, é claro, suicídio, de forma crua e direta e ainda sim poética - não tem como não ser por causa do narrador. E o livro é lindo. A história é triste, não me entenda mal, mas o livro é lindo. Eu adorei ele. E mal posso esperar por mais livros da autora, já estou de olho nos lançamentos dela.

Leia Mais
14 comentários
Compartilhe:

Últimas mensagens recebidas - Emily Trunko

Sinopse: Quando uma mensagem é a última, ela pode significar um fim, uma perda, ou até um alívio. E se você fosse o destinatário?
A partir de contribuições anônimas, a jovem Emily Trunko reuniu nesta coletânea mensagens que contam histórias reais sobre os mais variados tipos de despedida: o fim de uma amizade, o término de um relacionamento ou até mesmo um acontecimento trágico que muda a vida do destinatário e do remetente para sempre.
Enviadas por celular, por e-mail ou pelas redes sociais, essas mensagens narram perdas profundas e inspiram muita reflexão. Será que não deveríamos expressar mais o amor que sentimos pelas pessoas enquanto isso ainda é possível? Ou, em alguns casos, nos afastar o quanto antes daquelas que nos fazem mal? (Skoob)

Livro recebido como cortesia da Editora.
TRUNKO, Emily. Últimas mensagens recebidas. Editora Seguinte, 2018. 176 p.


Meu irmão fala muito, muito mesmo. Ele é aquele tipo de pessoa que não consegue ficar em silêncio, a menos que esteja tão concentrado na TV ou no celular que nem perceba que não está falando. Mesmo assim, ele fala - com TV, celular e tudo. Por que estou contando isso? Porque estava sozinha em casa lendo Últimas mensagens recebidas quando ele chegou, falando. Quando levantei os olhos, o que quer que ele estivesse dizendo se esvaiu, e ele me perguntou se eu estava chorando. Sim, eu estava. Com um nó enorme na garganta, por causa daquele tipo de dor que tive poucas vezes na vida, e que espero não ter novamente. A dor, dessa vez, não era minha, mas eu a senti ainda assim.

Assim como em Cartas secretas jamais enviadas, Emily Trunko reuniu em um Tumblr os depoimentos de diversas pessoas que remetem, de forma anônima, as últimas mensagens que receberam de alguém e que marcaram um fim - seja o fim de um relacionamento, o distanciamento de uma amizade, a perda de um ente querido. Algumas mensagens são carinhosas, outras são despropositadas, mas muitas delas são carregadas de sentimentos pesados, como raiva, ingratidão, entre outros.


Apesar de se tratar de um livro curto, ler Últimas mensagens recebidas não é fácil, acho até que mais difícil do que Cartas Secretas Jamais Enviadas, porque todos os casos vão mostrar uma perda, um final. Ele desperta os mais diversos tipos de sentimentos, desde a sensação de luto, a raiva por uma injustiça, e até o arrependimento por alguma coisa que fizemos ou deixamos de fazer. São mensagens verdadeiras e sem filtro, por mais cruéis que tenham sido, seja em seu texto ou na "ironia" do destino. É fácil se identificar com os acontecimentos contados em cada página, acredito que todo mundo já passou por pelo menos uma daquelas situações.

O livro em si também é lindo, de capa dura e todo colorido nas cores preta, vermelha, branca e roxa, com algumas ilustrações, mas em geral com um design bem clean. Algumas mensagens têm uma explicação como nota de rodapé, para que o leitor conheça todas as circunstâncias em que ela foi enviada. Outras são tão diretas que não precisam de explicações. Algumas páginas mostram diálogos completos. Outras contêm apenas uma frase.


Ler Últimas mensagens recebidas é renovador, porque faz pensar sobre as decisões que tomamos na vida, mesmo sobre aquelas que parecem mais simples. Porém, se trata de um livro denso e carregado, daquele tipo que te destrói em pedacinhos para que, só depois, você possa se reconstruir. Ao final, o livro traz instruções para quem sente que precisa de ajuda, com contatos de grupos de apoio emocional e prevenção ao suicídio. Acho que a importância maior do livro é alertar de que ninguém está sozinho e que, por mais doloroso que seja, é possível superar.

Leia Mais
14 comentários
Compartilhe:

Conjunto de Séries #25: 3%


3% foi a primeira série brasileira a entrar no catálogo da Netflix, no início de 2017.  Na época, segundo informações da empresa, a série alcançou um sucesso imenso no exterior e se tornou a série de língua não inglesa mais assistida nos Estados Unidos. Logo assisti a primeira temporada, mas não sei porque não comentei sobre ela aqui. Este ano a segunda temporada chegou ao streaming e, depois de assistir, achei bem justo comentar com vocês dessa vez.

Na trama, o mundo é dividido entre o continente, sem recursos de qualquer tipo e extremamente miserável, e o Maralto, uma ilha super desenvolvida, com tecnologia de ponta e aparentemente perfeita. O único modo de passar do "lado de cá" para o "lado de lá" é ser aprovado no processo, uma seleção a que todos os jovens de 20 anos se submetem, mas em que apenas 3% são escolhidos.

A primeira temporada é toda voltada para demonstrar o processo em si. Os personagens principais estão na casa dos 20 anos e querem ser aprovados para uma vida melhor. Durante a trama, acompanhamos as provas pelas quais eles passam, quem é eliminado e quem segue na disputa, bem como as atitudes desesperadas de algumas pessoas. O Maralto, tão desejado, é apenas mencionado, e não é foco dessa temporada. A temporada termina com a imagem dos aprovados a caminho do Maralto, mas conhecer a ilha, só mesmo na temporada seguinte.


A segunda temporada, portanto, é um pouco mais ampla e mostra aspectos desse mundo que não tinham sido tão bem explorados. Além de mostrar o Maralto e seu funcionamento, também é possível acompanhar a forma como a ilha foi idealizada e construída, na forma de flashbacks, sem esquecer daqueles que ficaram no continente.

Li algumas críticas negativas sobre a série enquanto assistia, em especial quanto à primeira temporada, mas acho que os brasileiros deveriam ser menos rígidos quando se trata de produto nacional. A série tinha um orçamento limitado e, como todas as tramas fictícias, algumas inconsistências sempre aparecem, mas não achei nada tão grave no que diz respeito a 3%. Ouso dizer até que alguns dos pontos mais criticados, como a escolha de um elenco  em sua maioria pouco conhecido, foram aspectos positivos no meu ponto de vista.

De todo modo, a trama trata de um futuro distópico, mas não impossível, em que os recursos do planeta foram esgotados e as pessoas vivem em condições degradantes. Não só isso, apenas poucos privilegiados podem viver em condições dignas (não parece um pouco a realidade?) e justificam a diferenciação com base no merecimento. A crítica social é escancarada, e acho que esse foi um dos pontos fortes da série.

O mais desafiador da série é compreender os personagens. Ninguém mostra sua verdadeira face, então é difícil saber quais as intenções de cada um. Eles tomam atitudes dúbias, às vezes parecem querer uma coisa, mas na verdade querem outra. É impossível saber que rumo as coisas vão tomar, já que tudo pode mudar bem rapidamente.

Eu gostei bastante do enredo e fiquei bem feliz em saber que a série já foi renovada para uma terceira temporada. Lendo um pouco sobre ela para fazer essa postagem, descobri que a ideia é que tenha cinco temporadas (espero que sim!). E um detalhe bem legal que descobri nessas leituras, foi que a série teve origem com um grupo de estudantes da USP, que disponibilizaram um piloto no youtube em 2011. Quem tiver interesse em assistir e saber um pouco mais sobre isso, pode ler essa matéria aqui.

Não vou dizer 3% é uma trama inovadora, pois construiu um enredo bastante batido em outras obras literárias e cinematográficas, mas não deixa de ser instigante, principalmente na segunda temporada, que consegue se aprofundar nas vidas de diversos personagens e abordar debates bastante atuais.

Leia Mais
14 comentários
Compartilhe:

Tênis ou Tiaras - Grace Dent

Sinopse: Olha só, para começo de conversa, eu nem queria um diário. Passei seis meses usando a palavra “iPod” em todas as minhas frases, e para quê? Mas até que foi bom: esse ano definitivamente foi fora do comum... Tudo começou no Festival de Inverno da minha escola. Juro que tudo aquilo era para ser uma piada inocente, mas acabou com uma pancadaria generalizada e com a “Academia de Encrenqueiros” nos jornais – de novo. Aí minha melhor amiga se apaixonou pelo Bezzie. E, de repente, Carrie ficou totalmente chata, e só pensa em Bezzie pra cá, Bezzie pra lá... Aí arrumei um emprego na Comidas Tilak, que faz comida oriental congelada, e agora eu fico fedendo a kafta de carneiro o tempo todo. E nem me deixaram passar um gloss, porque é contra as normas da empresa. Aí minha irmã, Cava-Sue, brigou com a minha mãe, saiu de casa e não dá notícias há dois dias. Depois que Cava-Sue começou a estudar teatro, está muito chata e só escuta bandas esquisitas e “não-comerciais”. Mas qual a graça de ouvir uma banda que ninguém conhece? (Skoob)
DENT, Grace. Tênis ou Tiaras. Diário de uma Encrenqueira #1. Galera Record, 2010. 240p. 


Shiraz Bailey Wood mora no condado de Essex próximo a Londres, em um distrito chamado Goodmayes. Ela quase sempre fala o que pensa, por isso acha que se daria bem na TV e tem vontade de entrar no Big Brother, e não quer entrar numa faculdade. Os amigos dela também não querem, não é à toa que a escola deles teve a nota mais baixa nos exames. Mas isso não é só por eles serem vagabundos e preguiçosos, a própria mãe dela acha que faculdade é pra preguiçosos que preferem gastar dinheiro estudando em vez de trabalhar duro. A irmã dela, a Cava-Sue (eu sei, o nome dela, e dos outros é muito estranho), não ajuda a melhorar essa imagem, já que é uma tremenda hipster que diz que "prefere escutar bandas que ninguém conhece porque isso é original" e finge não conhecer as músicas comerciais. Essa citação abaixo define tanta gente.

"É muito estranho porque, quanto mais coisas inteligentes Cava-Sue aprende na faculdade, mais superficiais ficam as coisas que ela fala."

Essa coleção em inglês se chama Diary of a CHAV, CHAV é tipo um estereótipo britânico de pessoas "encrenqueiras", mas que usam roupas de marca tipo Adidas e bonés/capuz, comem no MC Donald's, poderia ser tipo as "maloqueiras" do Brasil. Ou pessoas do funk. Mas não julguem a Shiraz, ela é bem legal. A verdade é que ela e a melhor amiga, Carrie, sofrem o maior preconceito por andar de casaco com capuz (quando eu li achei bizarro) como se elas fossem delinquentes. Pra ajudar, ainda tem o fato delas estudarem na Academia Mayflower, que está sempre nos jornais como "Academia de Encrenqueiros Mayflower". Não que elas sejam santas também, a Shiraz foi responsável por uma confusão, mas não chega no nível das CHAV, que batem nos outros sem motivo nenhum. Por isso eu nem acho que ela seja uma, aliás, ela só se encaixa na roupa, e acho muito chato julgar as pessoas por isso.

Encontrei uns errinhos de edição, do tipo o nome da personagem "Uma" com letra minúscula, e às vezes dizia que ela tava no 1º ano do Ensino Médio, outras no 8º e aí quando ela mudou de série, ela disse que agora tava no 9º, então não entendi bem como são as séries por lá.

O livro é superdivertido, eu copiei várias passagens. A graça dele é essa mesmo, já que o livro é narrado como diário, então não chega a ter um clímax. Não acontece uma coisa bombástica que te deixa curioso pra ler, o máximo que pode te deixar assim são algumas coisas na sinopse que demoram bastante pra acontecer (aí vai de você ler a sinopse ou não). Eu achei que esse livro pode ser tipo o Querido Diário Otário adolescente q acho que quem gostou, pode gostar desse também. Ele é bem curtinho e a leitura flui muito. Eu comecei numa noite e terminei no dia seguinte, mas dá para terminar no mesmo dia tranquilamente.

Uma coisa que eu amei no livro são o tanto de referências dele. Adoro livros que citam músicas e tal. Shi adora hip hop (como é fácil de prever) e R&B e odeia Westlife, uma boyband britânica que eu até gosto, o que me faz supor que ela não é fã de músicas melosas. Ela colocou um rap pesado como toque de celular da mãe dela e eu fico imaginando a reação das pessoas quando toca e se chegam a ouvir as partes mais explícitas. Esse é um dos exemplos de como a Shiraz é engraçada. Também citam os 500 programas da Inglaterra que eu não conheço nenhum, mas tá valendo, e redes sociais, principalmente o Orkut, saudade. Sim, eu sei, elas combinam mais com Orkut que Facebook ou qualquer outra, só ver o perfil delas kk. A Carrie diz pra Shi no perfil dela "Academia de Enquenqueiras 4 ever" kkkk Elas são completamente o tipo de pessoa que escreveria "mal te conheço, mas já te considero pacas" em um depoimento. O Orkut tinha aquela coisa mais "brega", sei lá, né? E esse é o único motivo que eu imagino pra elas usarem Orkut (se elas usarem, porque podem ter mudado o nome da rede social na edição brasileira) porque que eu saiba o Orkut só fez sucesso mesmo no Brasil e na Índia.

Enfim, super recomendo para quem quer uma leitura leve e divertida. A coleção tem mais 4 livros lançados, mas aqui no Brasil só tem mais 2,  infelizmente.

Leia Mais
15 comentários
Compartilhe: