O dia seguinte - Rhidian Brook


Sinopse: Hamburgo, 1946. Milhares de pessoas vagam, sem abrigo, pela região denominada Zona de Ocupação Britânica. Encarregado de supervisionar a reconstrução da cidade arruinada e de comandar a desnazificação do povo derrotado, o coronel Lewis Morgan requisita uma casa junto ao rio Elba, onde deverá viver com sua esposa enlutada pela morte do primogênito e o filho mais novo do casal, dos quais esteve distante mais de um ano. Ao contrário do que se espera, porém, o oficial inglês não força os antigos proprietários alemães, um viúvo e sua filha, a abandonarem a casa: insiste em que as duas famílias dividam o mesmo espaço. Assim, nesse ambiente carregado de conflitos e tensões, personagens controversos cujas vidas emocionais são influenciadas pela política e pela história se revelam e tornam a possibilidade de uma reconciliação extremamente real. Um livro emocionante e convincente, "O dia seguinte" mostra que as cinzas da guerra encobrem não apenas o certo e o errado, mas também a verdade e a mentira. (Skoob)
BROOK, Rhidian. O dia seguinte. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. 272 p.


Pós Guerra. Por mais que me esforce, não consigo lembrar de ter lido algum livro que tratasse disso. As leituras sobre essa época da História sempre me fascinaram, mas algo que retrate esse ponto específico, logo após o fim da Guerra, ainda não tinha feito parte de minhas leituras. Por isso – e pela capa simples e linda –, eu logo iniciei a leitura de O dia seguinte, de Rhidian Brook.

Logo nas primeiras páginas, me vi mergulhada no enredo. Lewis Morgan, apesar de ser um oficial do exército Inglês que participou da Guerra, diferentemente da maioria das pessoas, não se deixou endurecer por ela, e conseguia ver nos alemães não uma nação que se achava superior, mas um povo derrotado pela Guerra e, agora, pela fome e pelo frio de um inverno rigoroso. Essa sensibilidade no protagonista foi colocada pelo autor de maneira sensível, realista. E por essa característica ele aceitou, na casa requisitada para que sua família viesse morar, que o antigo morador, alemão, permanecesse nela.

"(...) Era muito mais fácil derrubar do que construir: uma cidade erguida ao longo de milênios podia ser arrasada em um dia; a vida de um homem, encerrada em um segundo. Nos anos por vir, Edmund e os filhos dele saberiam os nomes de aviões, tanques, batalhas e invasões e lembrariam-se facilmente das atrocidades da época, dos nomes daqueles que as haviam cometido. Mas algum deles seria capaz de recordar o nome de um único reparador de fissuras ou consertador de paredes quebradas?" (p.251)

A escrita usada por Brook no livro tem uma polidez que mostra, delicadamente, que também daquele lado da Guerra existiam pessoas que não a desejavam e, mesmo assim, sofriam as consequências dela. Impressionou-me a forma como em menos de 300 páginas o autor conseguiu ilustrar tantos contextos diferentes – os selvagens órfãos, famílias alemãs, a fome, os destroços do que foi uma cidade e a necessidade de reconstrução.

Mais do que isso, o autor conseguiu se aprofundar nos personagens centrais, sempre com olhar em terceira pessoa, e demonstrou sua destruição interna causada também pela Guerra. Porque pessoas deixaram de viver, e mesmo aqueles que continuaram vivos tiveram a vida suspensa para que um ou outro fosse ao campo de batalha, sem saber se iria voltar. É o caso, por exemplo, do casamento de Lewis e Rachel que, depois de tantos anos afastados, não sabiam mais como ser um casal. Ou de Frieda e Lubert, que também não conseguiam ser filha e pai.

"(...) Era nesse legado – mais do que nas ruínas, na destruição material ou nas atrocidades – em que Lubert mais pensava: a ruptura e a reorganização de relacionamentos que um dia haviam parecido inquebráveis, um milhão de amantes perdendo os amores de suas vidas e tendo de recomeçar."

De alguma forma, eu sentia por quais caminhos o livro levaria os personagens. Muita coisa deixou de ser surpresa durante a leitura em virtude disso, mas nem por seu brilho ficou ofuscado. Pelo contrário, eu me sentia ainda mais atraída para as páginas, porque ao tempo que eu via com antecedência o problema, não conseguia imaginar a solução. E, da mesma forma como se deu durante toda a narração, a solução foi bonita, singela e doce.

O Dia Seguinte é um livro bonito, que não se diferencia por um ponto alto ou grandes acontecimentos, mas pelo fato de ser simples e verdadeiro, e tratar de uma realidade que, espero, nunca venha a se repetir em nossa História.


Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

7 comentários:

  1. Oi Ju
    Sabe que eu também gosto muito de livros com essa temática, e essa é a segunda resenha que eu leio desse livro e que me deixou mais curiosa.
    Quero muito ler.

    Beijinhos

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  2. Oi Júlia

    Também não me recordo de já ter lido algum livro de Pós Guerra, livros ambientados nessa época da história também sempre me fascinaram muito.
    Sua resenha ficou incrível e retratou bem toda a delicadeza e doçura que o livro parece trazer em suas páginas.
    A capa dele não entrega o que há em suas páginas. Certamente vou querer lê-lo.

    Beijos
    Mundo de Papel

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  3. Parece ser ótimo, nuca li livro sobre essa época da História, pós Guerra, fiquei bastante interessada em ler.

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  4. Oi, Ju!
    Também tenho um interesse enorme por essa temática, mas nunca achei livros que a retratassem bem. Fiquei muito curiosa pela leitura, espero gostar.

    Beijão!

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  5. Interessente, quero leeeer esse tipo do livro, sobre época, guerra. e tal... Só espero que gostar para ler!! :)

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  6. Boa tarde.
    Apesar de a temática se passar em um momento decisivo e histórico, é difícil para mim imaginar que realmente ocorreria isso na vida real, de dois lados "opostos" viverem em tanta harmonia, quando há pouco tempo estavam em guerra. Mas, claro, poderia ocorrer, e em livros, tudo pode ser...
    De todos os modos, imagino que deve ser um livro que passa grandes lições.
    Bjs.

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  7. Acho que também nunca li nenhum livro que tivesse com o contexto o pós-guerra. E surge esse livro para mostrar que os mais afetados nessas situações são as pessoas e as famílias, porque são eles que levam o baque direto disso: mortes de entes queridos, escassez de recursos, emocional abalado, etc.
    Deve ser um livro muito triste e profundo.

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