Sinopse: August Pullman, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso ele nunca frequentou uma escola de verdade... até agora. Todo mundo sabe que é difícil ser um aluno novo, mais ainda quando se tem um rosto tão diferente. Prestes a começar o quinto ano em um colégio particular de Nova York, Auggie tem uma missão nada fácil pela frente: convencer os colegas de que, apesar da aparência incomum, ele é um menino igual a todos os outros. Narrado da perspectiva de Auggie e também de seus familiares e amigos, com momentos comoventes e outros descontraídos, Extraordinário consegue captar o impacto que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos, família, amigos e comunidade - um impacto forte, comovente e, sem dúvida nenhuma, extraordinariamente positivo, que vai tocar todo tipo de leitor. (Skoob)
PALACIO, R.J. Extraordinário. Intrínseca: 2013. 320 p.
Por várias vezes, ao passar pelas livrarias ou em blogs literários, eu vi a capa de Extraordinário. Não senti vontade de saber mais sobre a história. Entretanto, aos poucos, minha curiosidade cresceu e venceu a indiferença. Acabei por ler a sinopse. Isso só fez com que demorasse um pouco mais para comprar o livro.
Não me entendam mal.
O motivo não era a história em si, mas o fato de que eu tinha certeza do que ela contaria. Um menino com o rosto disforme forçado a conviver com crianças da mesma idade, ou pouco mais velhas, ou pouco mais novas. É fácil imaginar o que ele teria que enfrentar por causa da reação discriminatória das pessoas. Na minha mente, era bem claro as situações constrangedoras, os diálogos emotivos e motivacionais, as situações tristes, a solidão infligida por sua aparência, a depressão, etc. Assim, não conseguia encontrar motivo para comprar o livro.
Até que um dia, quando estava lanchando nas Americanas, vi uma promoção onde o livro saía por R$ 14,90. É constrangedor, mas foi por isso que comprei Extraordinário.
Como o livro é pequeno, decidi começar a ler logo. E o que encontrei foi exatamente o que esperava, ou seja, um menino deformado, com vergonha do mundo, que fica relutante com a decisão dos pais de o matricularem em uma escola. Ele fica desesperado pela iminente ameaça de conviver com crianças de aparência normal. Ele sabe que elas o isolariam por sentirem asco de sua aparência. E todos sabemos como crianças podem ser cruéis quanto à aparência dos outros.
August, ou Auggie, tem dez anos, é doce e não há como não gostar dele. Nem como não sentir compaixão por sua situação. A autora é cuidadosa na retratação de seu comportamento, de seus pensamentos, de seus medos, de suas inseguranças, de todos os seus sentimentos. E ela é dura na descrição de sua aparência. Não poupa detalhes e nos joga na cara o quanto seria difícil olhar para Auggie sem desviar o rosto.
Só que, para minha enorme surpresa, toda minha percepção do que estava lendo mudou quando comecei a parte dois, das oito partes do livro. Sim, não existem capítulos, mas oito narrativas de diferentes personagens sobre a mesma história. E isso jogou meu preconceito longe, porque comecei a ler algo que não esperava.
Na parte dois, quem passa a narrar a história é Via, a irmã de Auggie, de 14 anos. Através de uma narrativa pautada pela falta de inclusão na vida da família, ela nos conta que abriu mão de tudo, inclusive da atenção dos pais, para que o irmão pudesse ser feliz, ou melhor, que sofresse menos.
Apesar disso, ela ama o irmão com todas as forças. Sem perceber, ele também é o seu centro de equilíbrio. Via demonstra que é através dos sacrifícios individuais e escolhidos por vontade própria que moldamos nosso caráter.
Na parte três, a história é narrada por Summer, uma menina que estuda no colégio onde August é matriculado e que é a única que se senta com ele na hora do recreio. Os dois ficam amigos e ela, por escolha própria, ignora os cochichos e as brincadeiras maldosas sobre sua nova amizade. Aos olhos de Summer, August é apenas diferente e ela enxerga nele a simpatia que ele transmite com suas ações e suas conversas, escondendo sua aparência.
Jack é dono da parte quatro e ele é o único garoto amigo de August. De forma diferente de Summer, Jack é obrigado a fazer uma escolha. Depois de um desentendimento no Halloween, Jack abre mão de suas amizades para ficar ao lado de August. Ele é perseguido e mesmo assim mantém suas convicções, por escolha própria.
A quinta parte quem conta é Justin, o namorado de Via. No caso dele, não há um sacrifício, mas sim um papel de protetor. Ele defende August e Jack da turma do bullyng e encontra na família de Via um entendimento diferente para a palavra amor e superação. Ele passa a compreender o significado da palavra família.
Miranda, a melhor amiga de Via, narra a parte sete. As duas brigam no início do livro, e até essa parte conhecemos apenas o lado da história contado por Via. Aí, sem mais, descobrimos que algumas atitudes podem parecer incoerentes ou ingratas, mas apenas porque não conhecemos o contexto. Miranda gosta de August como se ele fosse seu irmão. E ama Via. Mas a adolescência é complicada sem motivo, apenas porque é. E Miranda nos apresenta a um sacrifício que faz para manter a amizade de Via, para pedir desculpas e para demonstrar o quanto gosta de August. É uma das partes mais emocionantes do livro.
Sem dúvida, August é extraordinário por enfrentar a vida com o problema que tem. Mas ele não tem escolha. É seu carma. No entanto, através da narração de Via, Summer, Jack, Justin e Miranda, descobrimos o quanto os cinco são extraordinários por abrirem mão de escolhas fáceis para ajudarem August a suportar seu sofrimento. Não por obrigação, mas porque eles querem, porque amam Auggie. Isso é muito bonito e tão difícil de se encontrar no mundo real.
E me arrependo muito por ter virado a cara para Auggie e não ter comprado e lido esse livro há mais tempo.
Não me entendam mal.
O motivo não era a história em si, mas o fato de que eu tinha certeza do que ela contaria. Um menino com o rosto disforme forçado a conviver com crianças da mesma idade, ou pouco mais velhas, ou pouco mais novas. É fácil imaginar o que ele teria que enfrentar por causa da reação discriminatória das pessoas. Na minha mente, era bem claro as situações constrangedoras, os diálogos emotivos e motivacionais, as situações tristes, a solidão infligida por sua aparência, a depressão, etc. Assim, não conseguia encontrar motivo para comprar o livro.
Até que um dia, quando estava lanchando nas Americanas, vi uma promoção onde o livro saía por R$ 14,90. É constrangedor, mas foi por isso que comprei Extraordinário.
Como o livro é pequeno, decidi começar a ler logo. E o que encontrei foi exatamente o que esperava, ou seja, um menino deformado, com vergonha do mundo, que fica relutante com a decisão dos pais de o matricularem em uma escola. Ele fica desesperado pela iminente ameaça de conviver com crianças de aparência normal. Ele sabe que elas o isolariam por sentirem asco de sua aparência. E todos sabemos como crianças podem ser cruéis quanto à aparência dos outros.
August, ou Auggie, tem dez anos, é doce e não há como não gostar dele. Nem como não sentir compaixão por sua situação. A autora é cuidadosa na retratação de seu comportamento, de seus pensamentos, de seus medos, de suas inseguranças, de todos os seus sentimentos. E ela é dura na descrição de sua aparência. Não poupa detalhes e nos joga na cara o quanto seria difícil olhar para Auggie sem desviar o rosto.
“Se eu encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse fazer um desejo, pediria para ter um rosto comum, em que ninguém nunca prestasse atenção. Pediria para poder andar na rua sem que as pessoas me vissem e depois fingissem olhar para o outro lado.”
Só que, para minha enorme surpresa, toda minha percepção do que estava lendo mudou quando comecei a parte dois, das oito partes do livro. Sim, não existem capítulos, mas oito narrativas de diferentes personagens sobre a mesma história. E isso jogou meu preconceito longe, porque comecei a ler algo que não esperava.
Na parte dois, quem passa a narrar a história é Via, a irmã de Auggie, de 14 anos. Através de uma narrativa pautada pela falta de inclusão na vida da família, ela nos conta que abriu mão de tudo, inclusive da atenção dos pais, para que o irmão pudesse ser feliz, ou melhor, que sofresse menos.
“A mamãe e o papai sempre disseram que eu era a menininha mais compreensiva do mundo. Mas a questão é que eu apenas entendia que reclamar não adiantaria nada. Eu vi August depois das cirurgias: seu rosto inchado e enfaixado, seu corpinho cheio de cateteres e tubos para mantê-lo vivo. Depois que você vê alguém passando por isso, parece loucura reclamar por não ter ganhado o brinquedo que pediu ou porque sua mãe perdeu a peça da escola. Aprendi isso aos seis anos. Ninguém nunca me disse. Eu simplesmente soube.”
Apesar disso, ela ama o irmão com todas as forças. Sem perceber, ele também é o seu centro de equilíbrio. Via demonstra que é através dos sacrifícios individuais e escolhidos por vontade própria que moldamos nosso caráter.
Na parte três, a história é narrada por Summer, uma menina que estuda no colégio onde August é matriculado e que é a única que se senta com ele na hora do recreio. Os dois ficam amigos e ela, por escolha própria, ignora os cochichos e as brincadeiras maldosas sobre sua nova amizade. Aos olhos de Summer, August é apenas diferente e ela enxerga nele a simpatia que ele transmite com suas ações e suas conversas, escondendo sua aparência.
“Admito que demora um pouco para a gente se acostumar com o rosto do August. Eu já me sento com ele há duas semanas, e digamos apenas que ele não come da maneira mais limpinha do mundo. Mas, apesar disso, ele é muito legal. Também devo dizer que não sinto mais pena. Essa pode ter sido a razão que me fez sentar perto dele na primeira vez, mas não é por isso que continuo. Almoço com August porque ele é divertido.”
Jack é dono da parte quatro e ele é o único garoto amigo de August. De forma diferente de Summer, Jack é obrigado a fazer uma escolha. Depois de um desentendimento no Halloween, Jack abre mão de suas amizades para ficar ao lado de August. Ele é perseguido e mesmo assim mantém suas convicções, por escolha própria.
“– É tão estranho – comentei – as pessoas não falarem com você, fingirem que você não existe.
August abriu um sorriso.
– Acha mesmo? – perguntou, sarcástico. – Bem vindo ao meu mundo! ”
August abriu um sorriso.
– Acha mesmo? – perguntou, sarcástico. – Bem vindo ao meu mundo! ”
A quinta parte quem conta é Justin, o namorado de Via. No caso dele, não há um sacrifício, mas sim um papel de protetor. Ele defende August e Jack da turma do bullyng e encontra na família de Via um entendimento diferente para a palavra amor e superação. Ele passa a compreender o significado da palavra família.
“Na família da Olivia eles dizem amo você uns para os outros o tempo todo. Não me lembro da última vez que alguém da minha família me disse isso. Quando fui para casa, todos os meus tiques haviam sumido.”
Miranda, a melhor amiga de Via, narra a parte sete. As duas brigam no início do livro, e até essa parte conhecemos apenas o lado da história contado por Via. Aí, sem mais, descobrimos que algumas atitudes podem parecer incoerentes ou ingratas, mas apenas porque não conhecemos o contexto. Miranda gosta de August como se ele fosse seu irmão. E ama Via. Mas a adolescência é complicada sem motivo, apenas porque é. E Miranda nos apresenta a um sacrifício que faz para manter a amizade de Via, para pedir desculpas e para demonstrar o quanto gosta de August. É uma das partes mais emocionantes do livro.
“Conheço o August desde que eu tinha seis anos. Eu o vi crescer. Brinquei com ele. Assisti a todos os seus episódios de Star Wars por causa dele, para que pudéssemos conversar sobre os aliens, os caçadores de recompensas e tudo o mais. Fui eu quem lhe deu o capacete de astronauta que ele não tirou da cabeça por dois anos. Quer dizer, eu meio que conquistei o direito de pensar nele como meu irmão.”
Sem dúvida, August é extraordinário por enfrentar a vida com o problema que tem. Mas ele não tem escolha. É seu carma. No entanto, através da narração de Via, Summer, Jack, Justin e Miranda, descobrimos o quanto os cinco são extraordinários por abrirem mão de escolhas fáceis para ajudarem August a suportar seu sofrimento. Não por obrigação, mas porque eles querem, porque amam Auggie. Isso é muito bonito e tão difícil de se encontrar no mundo real.
E me arrependo muito por ter virado a cara para Auggie e não ter comprado e lido esse livro há mais tempo.
Oie
ResponderExcluirEu achei lindo este livro, ele passa uma bela mensagem. E já estou louca para ler o outro livro que foi lançado a pouco tempo.
Acho que este livro deveria ser uma leitura obrigatória.
Beijos
Nessa, esse outro livro é somente com frases do professor de August, não é?
ExcluirOi Carlos,
ResponderExcluirEu sempre quiz ler o livro e sempre tive um ponto de vista como o seu, quando um dia eu estava na Americanas e vi ele, e comprei imediatamente, pois é muito dificil encontrar livros legais e bons, por aqui! Isso foi semana passada, ainda não tive oportunidade de ler, mas espero ler em breve!
Mayla
meulivromeutudo.blogspot.com.br
Leia, sim, Mayla. Ele é fininho, de leitura rápida e fácil. Abs ;)
ExcluirOi Carlos
ResponderExcluirExtraordinário é um livro tocante e cheio de lições. Assim como você relutei um tempo para ler, porque não queria acompanhar o sofrimento de Auggie. Achei que seria um livro bem deprimente, mas me surpreendi ao encontrar um garoto que consegue passar por cima do preconceito, mesmo que algumas vezes saia machucado, e que nos ensina tantas coisas sobre a vida.
Extraordinário me surpreendeu porque apesar de trata sobre temas pesados, não é um livro triste. Muito lindo!
Abraços
Mundo de Papel
Caline, acho que esse realmente é o diferencial: é um livro alegre, que, apesar de tudo, não te deixa de baixo astral. Uma coisa que esqueci de adicionar na resenha, é o comentário que a autora faz nas notas de agradecimento sobre a menina que ela viu na porta da sorveteria e que a inspirou a escrever o livro, dando a entender que a menina tinha a mesma deficiência que August. Abs
ExcluirCarlos, adorei sua resenha! Eu li Extraordinário há algum tempo, já, mas também esperava mais ou menos o mesmo que você - e também fui surpreendida. Acho que a autora conseguiu mostrar a questão do bullying e da discriminação de outra forma, sem tanta pieguice. E esse é o grande ponto positivo de Extraordinário pra mim.
ResponderExcluirTambém acho. Isso deixou a leitura leve, mas sem menosprezar a situação de garotos como August. Obrigado e abs ;)
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá tudo bem? Dizem ser um ótimo livro, essencial leitura para a vida, já tenho o livro aqui na minha estante com base nesses comentários, mas até agora não tive tempo para tal leitura, espero fazer em breve!
ResponderExcluirBeijos Joi Cardoso
Estante Diagonal
Obrigado por comentar, Joi! Espero que leia em breve. É um bom livro, sem dúvida. Abs
ExcluirOi Carlos!
ResponderExcluirAh, eu amo esse livro com todas as minhas forças! August é o garotinho mais incrível do mundo, por suportar tantas coisas horríveis que acontecem com ele! O livro é uma lição de vida para todos nós e consegue ser lindo e leve ao mesmo tempo. <3
Beijo!
http://www.roendolivros.com/
É isso mesmo, Ana! Obrigado pelo comentário :)
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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