A Caderneta Vermelha - Antoine Laurien

Sinopse: Caminhando pelas ruas de Paris em uma manhã tranquila, o livreiro Laurent Letellier encontra uma bolsa feminina abandonada. Não há nada em seu interior que indique a quem ela pertence — nenhum documento, endereço, celular ou informações de contato. A bolsa contém, no entanto, uma série de outros objetos. Entre eles, uma curiosa caderneta vermelha repleta de anotações, ideias e pensamentos que revelam a Laurent uma pessoa que ele certamente adoraria conhecer. Decidido a encontrar a dona da bolsa, mas tendo à sua disposição pouquíssimas pistas que possam ajudá-lo, Laurent se vê diante de um dilema: como encontrar uma mulher, cujo nome ele desconhece, em uma cidade de milhões de habitantes? (Skoob)
LAURAIN, Antoine. A Caderneta Vermelha. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.

Conheço muito pouco sobre a literatura francesa, mas, no último ano, as obras dessa nacionalidade têm chegado até mim com maior frequência. Também tenho assistido a alguns filmes oriundos daquele país e, por alguma incrível coincidência - ou pela utilização indiscriminada e recorrente dos mesmos critérios pelos autores - quase todas as histórias que conheci até hoje têm uma construção semelhante: um objeto perdido, alguém encarregado de encontrar seu dono, pouquíssimas pistas e uma busca quase irracional que, é claro, tem tudo para resultar em um romance. Foi o que aconteceu, por exemplo, em O leitor do trem das 6h27 e, agora, em A Caderneta Vermelha, de Antoine Laurain.

A construção assemelhada entre as obras, devo ressaltar, não se trata de um problema, e longe de mim reclamar disso; trata-se de uma constatação que implica, na verdade, na confissão de que essa característica tem me cativado mais a cada leitura, especialmente pelas sutilezas que os franceses conseguem inserir em seus textos e pela doçura de cada um desses romances. A forma como isso é colocado transparece certa bondade intrínseca dos personagens, e a falta de malícia, o interesse pelo ser (não pelo parecer ou pelo ter) dá base mais sólida aos sentimentos deles.

"Eram quase onze horas da noite. Sempre sentado no chão e agora rodeado de objetos, Laurent estava mergulhado na caderneta Moleskine vermelha que guardava em dezenas de páginas os pensamentos da desconhecida, às vezes rasurados, sublinhados ou escritos em maiúsculas. A letra era elegante e desenvolta. Ela devia tê-los registrado ao sabor de seus impulsos, certamente em varandas de cafeterias ou durante trajetos de metrô. Laurent estava fascinado por aquelas reflexões que se sucediam, aleatórias, tocantes, desmioladas, sensuais. Ele havia aberto uma porta que levava à mente da mulher da bolsa lilás e, embora se sentisse meio descortês por ler as páginas da cadernetinha, não conseguia largá-la." (p. 26)

A Caderneta Vermelha tem como apaixonante pano de fundo a cidade do amor, Paris. A cidade, porém, não é protagonista nesta história, e sim a caderneta de Laure, repleta dos seus pensamentos mais aleatórios e desinibidos. São esses pensamentos volúveis que despertam a atenção de Laurent, a tal ponto que toda a vida do livreiro passa a ser influenciada pelo fato de ter encontrado a bolsa de uma mulher desconhecida.

Mesmo com suas pouquíssimas páginas, que não chegam a cento e cinquenta, o autor consegue desenhar aos leitores os aspectos mais essenciais de seus personagens. Claro que não há aprofundamento sobre cada um deles, isso nem seria possível, mas o pouco que se passa a conhecer permite que o leitor tenha as arestas e desenvolva, dentro delas, todos os demais aspectos acessórios. Eu adoraria conhecer um pouco mais sobre alguns personagens, como Willian, Claire, Chloé, e os protagonistas, mas a delimitação feita por Laurain é suficiente para compreendê-los.

"Chloé suspirou e prosseguiu: Ela é muito apegada ao passado, o espelho é antigo, uma lembrança de família, o espelhinho da avó, talvez, o perfume não é comum, ninguém mais usa Habanita, ela escreve coisas espantosas na caderneta, ganha dedicatória no romance de um autor que você venera... É uma mulher para você, concluiu, com um sorriso irônico." (p. 51)

O fato de Laurent ser um livreiro também agrega muito à trama. Em primeiro, porque os livros fazem parte do dia a dia do personagem. Em segundo, porque uma obra tão concisa consegue referenciar uma quantidade de livros e autores como jamais tinha visto, de JK a Modiano, de Marc Levy a Huysmans. Modiano, inclusive, chega a fazer parte da trama, e como leitora, foi incrível ser engolfada por toda essa literatura.

Os capítulos de A Caderneta Vermelha são curtos e a leitura é bastante rápida. Para se ter ideia, li o livro em apenas uma hora. Eu adorei seu enredo e, para quem quer conhecer um pouco da literatura francesa, aí está uma ótima opção.
Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

13 comentários:

  1. Olá, Ju. Eu baixei o livro para ler mas ainda não tive oportunidade de começar. Eu amei a capa dele, é romântica e chamativa e com certeza sei que vou amar a história.
    Abraços!
    Leitora Encantada

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  2. Conheço muito pouco sobre essa literatura também, mas o fato de ser sobrte objetos perdidos e encontrar os donos, chamou minha atenção gosto de assuntos enigmáticos e misteriosos. Fico imaginando estar no lugar da dona da bolsa, só de imaginar perder algo pessoal e saber que alguém esta lendo. Gosto de livros que tenham referencias de outros autores, quando não conheço, gosto de anotar os nomes para procurar depois.

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  3. Nunca li nada da literatura francesa. Achei uma boa começar com A Caderneta Vermelha já que é bem curto e conta uma história tão interessante. Obrigado pela dica! ^^

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  4. Tenho muito preconceito com os filmes franceses, geralmente acho eles bem parados e ruins, já a literatura eu só tive contato com um livro e gostei muito dele. Nunca li nenhum livro com essa fórmula e fiquei curiosa, achei a história bem bonitinha.

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  5. Olá Ju! Estou doida pra ler esse livro, curto muito literatura frances, parece ser bem emocionante e cada resenha que leio dele me deixa ainda mais ansiosa em conferi essa história.
    Bjs

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  6. acho q nunca li nada da literatura francesa, vou já procurar aqui
    é sempre bom variar um pouco, sair do eixo inglaterra-eua
    sem falar q eu amo o cinema francÊs

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  7. Olá! Doida pra ler, apesar de nunca ter lido literatura francesa, me surpreendi com esse livro desde q vi e agora lendo uma resenha como está me deixou ainda mais com vontade de conferir!
    Bjs!

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  8. Olá!
    Que delícia de leitura Julia!
    Já li algumas resenhas desse livro, e todos falam da sutileza existente nele.
    Ansiosa para ler...
    E claro querendo saber como vai acontecer esse romance.
    Um super bjo!

    Alê - Bordados e Crochê
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  9. Oi.
    Nunca li nada da literatura francesa, mas está ai uma ótima dica para iniciar! Achei a capa muito suave e romântica e a sinopse bem convidativa. Lendo sua resenha, fiquei mais curiosa e ansiosa para conhecer a fundo essa história tão bonita. Vou conferir! Obrigada. Bjos.

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  10. Oi tudo bem..
    Ainda não li nada da literatura francesa o que é um pecado meu,esse livro parece ser bem interessante apesar de ser bem curto,não gosto muito de livro curtos porque não tem como ter aprofundamento sobre cada sobre os personagens ,mas ate que esse eu me aventuraria..
    um abraço e muito sucesso :)

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  11. Acredito que nunca li literatura francesa, se li não sabia que era :)
    Adorei a ideia do livro, conhecer uma pessoa através de suas anotações e objetos deve ser bem interessante. Gostei do fato do livro trazer referencias de outras obras. Se tiver a oportunidade com certeza lerei o livro.

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  12. Esse livro parece muito bom, fiquei com vontade de ler.

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  13. Olá Ju!!!
    A capa desse livro é simplesmente fofa e chama muita atenção, porém assim a premissa dele não me prende e pelo conteúdo não sei se me faria gostar da história.
    No entanto, admito que sua resenha está maravilhosa e é interessante que livros de romances franceses estão aparecendo pertinho de vc rsrsrs

    lereliterario.blogspot.com

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