Apátrida - Ana Paula Bergamasco

Fonte da Imagem: Garota Eclética
Sinopse: Ganhador do Codex de Ouro 2011: Melhor drama. "Uma pequena vila na Polônia. Uma menina repleta de vida. Um encontro. Vidas Ceifadas. Sonhos Destruídos. Infâncias Roubadas. As recordações da personagem Irena amarram o leitor na História do Século XX. Baseado no estudo dos fatos que marcaram a época, o palco da narrativa é a conturbada Europa pós Primeira Guerra Mundial, culminando com a eclosão da Segunda Grande Guerra e a destruição que ela provocou na vida de milhões de pessoas. A narradora conduz a exposição em primeira pessoa, e remete o leitor a enxergar, através de seus olhos, o cotidiano a que ficou submetida. É um relato humano, sincero e envolvente que revela a passagem da vida infantil feliz da menina, para o tumulto da existência adulta, cheia de contradições." (Skoob)
BERGAMASCO, Ana Paula. Apátrida. Todas as falas, 2010. 338 p.

Irena nasceu na Polônia, em uma grande família de camponeses, algum tempo depois do fim da Primeira Guerra Mundial. A família, mesmo com poucos recursos, vivia bem, e a amizade e união que acometia os irmãos permitia que a vida fosse bastante próspera e feliz. Isso, entretanto, não impediu que Irena, desde cedo, se deparasse com a perda de pessoas que amava, como suas duas irmãs.

Ainda nova, viu-se apaixonada por seu amigo de infância, Jacob, judeu de uma família influente e rica da região que, mesmo correspondendo-a, optou por casar-se com outra judia, para alcançar as expectativas de seus pais e de sua sociedade.

Doente de amor, Irena começa a tentar refazer sua vida e, ao casar-se com Rurik, muda-se com ele para a Bielorrússia, a fim de viverem juntos da família do marido. Apesar da falta que sentia dos seus e de sua terra, Irena aprende a amar Rurik e constrói com ele um lar de felicidade. Tiveram juntos dois filhos, Jan e Bogdana, a qual morreu três dias após o nascimento.

Mas essa vida tranquila não duraria muito tempo. Quando um de seus irmãos, Andrzej, vai procurá-la na Bielorrússia e se casa com Yeva, uma oficial russa disfarçada, no momento em que os ares e a tensão da Segunda Guerra Mundial já davam sinais, sua vida começa a desmoronar. Yeva assume ter envenenado a mãe de Rurik e entrega a ele e a Andrzej como traidores, sendo ambos condenados à forca.

De volta à terra de sua família, Irena enfrenta outras perdas: seus pais, alguns irmãos e a própria liberdade. Em meio à guerra, vê atrocidades que nunca seria capaz de imaginar, passa fome e vê pessoas morrerem por causa dela e derrama mais lágrimas do que pensava possível.

“O navio começou vagarosamente a mover-se, em direção ao mar alto. As crianças esticaram-se para ver a cidade ficar para trás. Uma dor apertou meu peito. Lembrei-me que, a partir dali, dentro do mar da vida, eu estava só. Nem pátria possuía mais. Era como uma completa indigente, navegando rumo ao desconhecido. O futuro, só Deus o conhecia.”

Apátrida - Vários destinos. Uma guerra. Uma paixão., de Ana Paula Bergamasco, é uma história simplesmente incrível. Narrado em primeira pessoa pelo olhar da própria Irena, o livro é bastante intenso, intercalando momentos de várias fases da vida da protagonista, voltando a passados mais próximos, no Brasil, e mais distantes. Essa mistura de diversos momentos não faz com que a obra fique confusa e, pelo contrário, ainda previne, em junção à riqueza de detalhes, que os capítulos se tornem maçantes. Também interessante é que o fato de ir ao passado e voltar possibilita que saibamos os atos que deram origem a algo na vida dos personagens, e as conseqüências desses atos, bem delimitadas na narração.

Me apaixonei por Rurik, senti tristeza por Jacob, e até alguma afeição por Alfons. A vida amorosa de Irena não foi nada fácil, mesmo que tenha desfrutado alguns momentos de felicidade. Mas essa dificuldade não se restringiu ao amor: sua vida inteira teve altos e baixos, e Ana Paula deixa visível que foi preciso muita força de vontade da protagonista para simplesmente seguir em frente.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção durante toda a escrita da autora é a forma suave como consegue abordar situações tão delicadas, quase inocente, ao mesmo tempo em que não poupa nenhum detalhe das atrocidades da guerra, do sofrimento, da fome, entre tantas outras coisas repulsivas que muitos teimam em renegar. Além disso, em alguns trechos consegue-se comprovar, com passagens bem claras e possíveis, o que para mim foi uma das mensagens mais fortes do livro: todos perdem em uma guerra. O lado “vencedor” também tem perdas sociais e econômicas, por mais rápida que seja a guerra.

Irena, mesmo aparentando ter em sua sensibilidade uma fraqueza, mostrou-se uma mulher muito forte, e talvez tenha sido essa mesma sensibilidade que a tenha mantido a salvo, física e mentalmente, diante daquilo que via e da incerteza do futuro. Apegando-se à esperança, aos seus filhos e ao seu amor por Jacob, enfrentou seu sofrimento como podia e apegou-se à vida, mesmo que isso significasse abdicar de sua pátria, suas crenças e seu orgulho.

Não há como comentar todos os personagens, pois são muitos, mas Bergamasco nos presenteia com o destino que cada um deles leva, sem deixar nenhuma ponta em aberto. Mais um ponto para a obra, que se torna completa e incontestavelmente bem feita. Um livro que recomendo para todos, independente do tipo favorito de leitura, por conter mensagens para seres humanos, escritos nas entrelinhas da história de alguém sem rosto, que sofreu as selvajarias das inconsequências de alguns que se denominavam racionais e superiores.

“[...] Diga-me, em qual local do mundo há vencedores numa guerra?”
Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

18 comentários:

  1. ainda não tive oportunidade de ler este livro
    mas sempre encontro resenhas positivas e tenho muita vontade
    ainda mais por amar livros sobre esse tema

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Oi Julia!
    Já vi algumas resenhas desse livro que me agradam muito! Além da capa do livro ser muito bonita também :)
    Adorei a sua, está muito completa, cheia de detalhes!

    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Oi Julia!

    Eu já li Apátrida e amei, é um livro muito sensível e muito emocionante.

    B-jusss! ♥

    ResponderExcluir
  4. Ei Julia,

    Eu também amei o livro, história muito triste e muito bem narrada. Eu chorei litros em várias partes, quero muito ler o livro novo da autora também.

    bjos

    ResponderExcluir
  5. Oi Julia!
    Esse livro deve ser lindo e muito bom, só vejo comentários super positivos sobre ele!
    Eu não tenho tanta vontade de lê-lo pela temática em si, não gosto muito de livros que se passam nessa época por serem muito tristes, acabo ficando mal, então evito! E é exatamente por o livro ser tão bom que não pretendo ler, tenho certeza que vai mexer demais com minhas emoções!
    Resenha completíssima hein? Parabéns!
    Beijão!

    ResponderExcluir
  6. Não conhecia o livro,mas pela resenha me interessei bastante, ainda mais porque se passa em um período de guerra, e eu gosto de livros que mexem com as emoções do leitor.
    A capa é lindissima, e pretendo ler em breve.
    Bela resenha
    bjs

    ResponderExcluir
  7. Oii!
    Já conhecia o livro Apátrida, e sempre leio muitas resenhas positivas sobre ele!
    Parece ser daqueles livros que mexem com os sentimentos do leitor, queria muito ler a oportunidade de lê-lo algum dia.
    Beijos!

    Elidiane - Leitura entre amigas

    ResponderExcluir
  8. Oi Julia.
    Tenho muita vontade de ler esse livro.Apesar de se tratar de um tema triste, gosto de livros que mexem com os sentimentos do leitor, pois estes acabam sendo ótimos e difíceis de esquecer.
    Parabéns pela resenha.
    Beijos.
    http://booksedesenhos.blogspot.com

    ResponderExcluir
  9. Oi Júlia sempre li comentários muito positivos sobre esse livro e agora mais um pra me deixar com mais vontade ainda de ler.

    É sempre uma felicidade muito grande ver que os escritores brasileiros estão se saindo muito bem, escrevendo lindas histórias.

    Adorei a resenha.

    Beijos, Caline
    Mundo de Papel

    ResponderExcluir
  10. Confesso que é a terceira vez que vejo resenha desse livro em blog e mais uma delas...me encanto! Essa obra parece ser ótima e me chama muita atenção!
    Bjus!
    http://palomaviricio.blogspot.com

    ResponderExcluir
  11. Confesso que esse livro sempre me chamou a atenção exclusivamente pela capa. Porém sua resenha me deixou bem curiosa, espero em breve ter oportunidade de lê-lo.

    Beijos&beijos
    Book is life

    ResponderExcluir
  12. Oi Julia!

    Li este livro e adorei. Eu também gostei do Rurik e fiquei triste pelo que aconteceu. Mesmo sentindo uma certa raivinha do Alfons, também surge uma certa afeição, como vc disse, pois ele ajudou ela também em momentos difíceis, pois se fosse com outro só iria usá-la e depois jogar fora. Mas Irena é uma personagem ótima forte. O amor que ela tinha pelos filhos, mas digo em relação a Hanna, pois vc sabe né..A capa é linda e a história emocionante.

    beijos :D

    ResponderExcluir
  13. ei Ju,
    eu sempre leio coisas ótimas sobre esse livro e tenho um curiosidade para ler, porém eu não sou muito fã de dramas e esse livro parece ser muito triste. =/
    beijos.

    ResponderExcluir
  14. Olá!
    Faz tempo já que quero ler este livro, ele é bem do tipo que eu gosto!! Eu adoro esta capa!!

    Bjinhs
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  15. Oie Julia =)

    Nossa esse livro é um dos melhores que já li na minha vida! Me emocionei muito durante e depois da leitura. Sou do tipo de pessoa que tira muitas lições dos livros rs... e esse em especial me marcou mundo.

    É uma leitura que recomendo apesar de ser muito triste =(

    bjus


    anereis.

    mydearlibrary | bookreviews • music • culture
    @mydearlibrary

    ResponderExcluir
  16. Oi Julia!
    Li que você recomenda o livro independente do gosto de leitura, mas não consigo sentir vontade de ler esse livro. Acho que não faz o meu "tipo" mesmo :/

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

    ResponderExcluir
  17. Esse livro mexeu demais com meu psicológico e ainda mexe até hoje, toda vez que leio uma resenha dele. Mesmo depois de ter terminado a leitura, ainda passei dias sonhando com a história, de tão tocante e avassaladora que ela é. Chorei muito, fiquei arrasada, torci demais... Rurik ficou marcado em mim. Lindo, lindo. Uma obra de arte Apátrida!

    Bjs,
    Kel - It Cultura
    www.itcultura.com

    ResponderExcluir
  18. Oi Julia!
    Parabéns pela resenha! Adorei cada ponto que você ressaltou e tenho quase certeza de que esse é um livro difícil de ser resenhado. Gostei muito da história e quero muito ter a oportunidade de poder ler esse livro futuramente. Já tinha ouvido falar dessa autora, mas não sabia que esse livro era dela.
    Beijos!!!

    ResponderExcluir

Agradeço muito sua visita e peço que participe do blog, deixando um recadinho. Opiniões, idéias, sugestões, são muito importantes para fazer o blog cada vez melhor!
Assim que possível, retribuirei a visita.

Beijos, Julia G.