A Mentira - Helen Dunmore

Sinopse: Cornualha, Inglaterra 1920
Um Jovem Soldado volta para casa.
O horror das trincheiras e uma grande amizade ficam para trás.
E seu futuro lhe reserva as imprevisíveis consequências e uma mentira. (Skoob)
DUNMORE, Helen. A Mentira. Companhia Editora Nacional, 2015. 296 p.
 
Comecei a ler A Mentira um pouco no escuro, visto que a sinopse pouco revela sobre o enredo. Entretanto, o contexto e ambientação da obra me chamaram atenção, aqui temos um cenário pós-guerra e suas consequências na vida daqueles que sobreviveram. Um tema mais que interessante para refletir.

Daniel Branwell é um jovem soldado inglês que retorna para casa após Primeira Guerra sem muito pelo que lutar. Sem seu amigo de infância Frederick, logo ao regressar é pego pela morte da mãe. Todos os que faziam sentido para ele se foram e todos os horrores que presenciou em campo culminam em seu completo isolamento da cidade, e ele acaba indo morar com uma velha senhora.
 
Frederick Dennis e Daniel eram como irmãos. E apesar de pertencerem a classes sociais distintas, se davam muito bem e tinham um relacionamento que transcendia a amizade, chegando até a fazer juramento de sangue. Frederick, filho de engenheiro e frequentando as melhores escolas nunca deu muito valor ao estudo; Daniel, filho da empregada da casa Dennis, sempre decorou os mais extensos poemas. Superando as diferenças sociais, tornaram-se irmãos do peito e juntos vão para a guerra, deixando todos os sonhos e planos para trás. Daniel consegue regressar, mas os fantasmas da guerra e memórias do amigo não o deixam de fato ficar.

"- O problema, Felicia, é que conquistei minha ambição e agora não gosto do que vejo.
- Qual era sua ambição?
- Sobreviver."
 
Narrado em primeira pessoa por Daniel, A Mentira usa o período pós-guerra como pano de fundo para desenvolver sua história, que se passa toda pesando as dores e traumas da guerra e suas consequências após seu término. Daniel passa a viver em momentos intercalados de lucidez e devaneio, a ponto de não saber mais distinguir com precisão onde começa uma e termina outra, fazendo com que a obra se desenvolva sem grandes ações ou reviravoltas.

Apesar de ser um livro morno, eu gostei bastante. Como poucas explicações são dadas e o foco não é explícito, paira aqui várias ambiguidades; e talvez seja isso que permita o prosseguimento com a leitura, há um despertar de sentimentos no leitor, que tenta entender os acontecimentos e a cabeça do protagonista. A ambientação é fria e ao longo de toda narrativa imaginei a trama em tons cinzentos, tão sutil e calma que é sua desenrolada. Helen Dunmore não se prolonga em detalhes e perspectivas e a impressão que eu tenho é que ela estava absolutamente serena e sem pressa ao escrever este livro.
 
A narrativa de Dunmore é poética e fluída, ainda que esteja contando uma história densa e cheia de mistérios. Mesmo após o fim da leitura, não consigo distinguir a verdade acerca dos personagens, tão ambígua é sua construção. As passagens de tempo me deixaram um pouco confusa, mas foi algo que se acertou a partir da metade da obra. Em verdade todos os detalhes que haviam me incomodado na obra conseguiram se acertar a partir da entrada de uma personagem na história, levando rumo à trama.

"Fomos colocados em duplas para um cuidar dos pés do outro. Cuidar do próprio pé não é incentivo suficiente. Pode-se pensar que o egoísmo seria uma força poderosa, mas não era. Dizer a um homem que tire as peneiras, depois as botas, que seque cada dedo individualmente, examine os pés à procura de machucados e massageie-os com óleo de baleia, e dizer-lhe que se não fizer isso terá pé de trincheira, ficará com o pé preto e poderá ter até que amputá-lo... bem, é de imaginar que isso o motivaria a se cuidar. Mas não motiva. Ele está com frio, molhado e morto de cansaço, e  tudo o que quer é dormir um pouco. Agora, diga-lhe que é responsável pelos pés do homem ao lado e ele fará tudo isso."

É interessante observar como as guerras deixam marcas, não somente físicas, mas psicológicas. A quantidade de pessoas que se vão, a quantidade de amigos que se faz e que a qualquer momento podem ir embora, é enorme. A autora não abordou a questão com profundidade, mas os devaneios e silêncio do protagonista são mais que suficientes para expressar todo o peso que a guerra deixa.

Ainda que uma obra extremamente densa e morna, A Mentira me agradou bastante. É um livro que vale muito a leitura, tem uma narrativa poética e conflitos absolutamente interessantes.
 
Sofia
Sofia

20 comentários:

  1. Oiie! Nossa que história! Parabéns pela resenha tbm, ótima! Vou anotar ora ler, adorei ... Bjs!

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  2. Não conhecia o livro e gostei muito do que li na resenha. Falar de guerra ou pós-guerra é um assunto que nos faz refletir, principalmente quando relata os acontecimentos vividos por personagens fictícios ou não. Gostaria muio de ler esse livro.

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  3. Ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas pela sua resenha parece ser um livro muito profundo. Sou daqueles que gostam de livros mais dinâmicos e histórias que se desenrolam de maneira mais prática. O pano de fundo do livro é bem interessante, é um tema que nos causa certa curiosidade.

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  4. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas já quero ler. Amo livros sobre (pós)guerra, principalmente se forem ambientados na 1º ou na 2ª. Leio pelo menos uns 2 por mês sobre o assunto e esse já vai entrar pra minha lista.

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  5. O livro parece ter uma história interessante, mas não curto livros profundos demais e meio ''parados''...Enfim, que fiquei interessado, fiquei! Abraços.

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  6. Deve ser uma leitura interessante e comovente, esse período da guerra é muito sofrido, tanto para quem vai e para quem fica, pois a família também sofre e como foi dito não só fisicamente mas psicologicamente, o protagonista viu e passou por muitas coisas e não tem como se sentir bem diante de todo esse sofrimento.

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  7. Não conhecia esse livro, a resenha me deixou bastante curiosa em conferi essa história, parece ser ótima, bem emocionante.

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  8. Sua resenha está muito boa, não conhecia esse livro, e lendo um pouco mais da história acredito que ele não faz meu estilo de leituras, pois não curto livros de guerras.

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  9. Oii, adorei a resenha mas não curto muito esse genero. Mas para quem gostaa, esse livro e otimo *-*

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  10. Oi Sofia, eu não conhecia a escritora o livro parece ser lindo, com certeza vou le-lo e sua resenha esta incrivel bjs.

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  11. Gostei da resenha, mas o livro no momento eu acho que nao leria no momento esse livro.

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  12. Olá!
    Interessante a história, mas me sinto tão triste com o assunto Guerra!
    Sabe, eu não consigo entender o pq?
    Pois acaba com as pessoas que vão, com as que ficam! Enfim, é horrível...às vezes lendo ou vendo um filme sobre esse assunto, penso que talvez a pessoa que foi à guerra e sobreviveu gostaria era de ter morrido, pois tenho a sensação que nunca mais essa pessoa será a mesma...é muita dor e sofrimento.
    Ótima a sua resenha!
    Um super bjo!

    Alê - Bordados e Crochê
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  13. Por mais que a história tenha lá seu crédito, eu provavelmente demoraria muito para lê-la, já que não tem um clímax. Pode ser que um dia a oportunidade de ler esse livro venha, mas por enquanto, não está na minha lista de desejados.

    Abraços :)

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  14. Também não conhecia esse livro, mas a capa me chamou bastante a atenção e após ler sua resenha a premissa do livro me interessou muito, irei colocar na minha lista de futuras leituras, e com certeza se eu tiver a oportunidade vou ler esse livro.

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  15. Parece ser um livro muito bom, não é o tema que mais me agrada, mas li pensando no meu namorado, que ia adorar a leitura. Uma dica de presente :)

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  16. A capa é bem interessante, mas não sei se eu conseguiria ler...não gosto muito de temas sobre guerras.

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  17. Olá Sofia!!!
    O livro parece ser muito interessante, mas acho que não seria um livro que eu leria.
    Guerras deixam marca em qualquer pessoa e isso acaba mudando-as, mas contudo é uma ótima dica e sua resenha ficou muito boa.
    Até uma próxima o/

    lereliterario.blogspot.com

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