Filho da Terra - Josy Stoque

Já se sentiu tão deslocado que faria qualquer coisa para ser aceito? E se você sempre agisse de maneira correta, como um bom filho, namorado e chefe e, mesmo assim, se tornasse um inimigo em sua própria casa? Na noite em que Lucca Gonçalves decide pedir a mão de Vitória em casamento, se depara com uma bela índia. O mundo se refaz no chocolate dos olhos dela e a força mística do ônix o instiga a acreditar no impossível.
Um homem enraizado na razão e soterrado por um amor inesperado.
STOQUE, Josy. Filho da Terra: a sensibilidade fere. (Os Qu4tro Elementos #2). Independente: 2014. 206 p.

Em Marcada a Fogo, primeiro volume da série Os Qu4tro Elementos, eu havia mergulhado no mundo criado por Josy Stoque cegamente, pois que pouco sabia sobre o enredo antes de ter o livro em mãos. Comentei na resenha do livro que, apesar de ter gostado bastante daquela primeira impressão, alguns aspectos da história haviam me deixado confusa, já que nem tudo teve a devida explicação. Com Filho da Terra, segundo livro da série, apesar de algumas impressões em comum, a leitura foi diferente. - e melhor.

A fantasia continua como gênero principal da história, e seus elementos caracterizadores foram mais aprofundados nesse volume. Grande parte daquilo que não havia ficado claro no primeiro livro foi melhor explicado aqui, como o mundo mágico dos Protetores, a natureza de seus poderes e mesmo os acontecimentos que congelou o coração da natureza. Com isso, foi mais fácil se envolver com o contexto narrado. Os segredos e mistérios ainda fazem parte do enredo, mas eles tomam seu devido lugar, sem ocupar espaço demais e, desta vez, são incapazes de deixar o leitor perdido.

"O medo teria cor? Para mim, sim. Era verde e todas as suas nuances. Foi assim que me senti aqui no coraçã do Pantanal, quando era apenas uma criança. Mas não temia mais. Eu era o verde, enraizava-me naquela terra marrom como uma árvore através do passo que estava disposto a dar."

Se no primeiro livro gostei de a ambientação em Foz do Iguaçu, fiquei surpresa com a descrição detalhada que Josy fez de Corumbá, no Mato Grosso. Não conheço o local, mas pelo que pesquisei na internet, Josy foi fiel às suas locações, inclusive no que se refere ao sítio arqueológico e ao parque existentes por lá, detalhes que aproximam a ficção do livro à nossa realidade.

A narração do livro, assim como no primeiro, é intercalada; em primeira pessoa, pelo protagonista, que em Filho da Terra é Lucca, e em terceira pessoa quando o enfoque se dá com os demais personagens, inclusive com Tamires, que era a protagonista do livro anterior. É uma estratégia ousada, mas interessante, e que deu certo nessa série, já que é possível se aproximar do protagonistas, sem deixar de acompanhar os demais personagens. Destaque para o trecho do livro que demonstra o passado, no coração da natureza, e que começa a deixar mais nítido como tudo começou.

"Agora que não estava mais prestando atenção a nenhuma conversa em particular, achei estranho que ainda pudesse ouvir. As vozes eram uma mistura de frases nítidas. Podia entender cada palavra, sem esforço algum. Ninguém estava falando alto, talvez até estivessem sussurrando. Por que podia ouvi-los com tanta clareza?"

Lucca, o protagonista, é o tipo de personagem que agrada, nem de mais, nem de menos. É seguro, sem ser arrogante; é doce, sem deixar de ser másculo; é sério, mas tem bom humor. Apesar de volúvel no começo, seu romance com Mainá convenceu e foi doce, puro, como poucos conseguem ser. Gostei mais da dinâmica desse segundo livro, que deixou de lado suspeitas e reflexões prolongadas de Tamires para narrar o que de fato acontecia, com Lucca.

"As sensações que revolviam dentro de mim me pareciam como uma energia, uma força viva e pulsante. Percebia que seus tentáculos corriam em meu sangue. Sentia a diferença nos meus músculos, interligados sobre os ossos, sua força se multiplicando a cada segundo. Minhas pernas podiam correr tanto quanto um guepardo. Meus braços tinham a força da mandíbula de um leão. Havia corrido ontem à noite da caverna de Mainá, cheguei ao meu carro em dois segundos contados.
A índia havia me chamado de deus. Seria mesmo possível que eu fosse?"

Quanto aos irmãos, Gustavo e Alexandre, sobre os quais eu afirmei na resenha anterior que precisava saber mais, tenho uma intuição sobre eles, mesmo que não haja nada expresso nesse segundo volume. Gustavo, que foi citado apenas algumas vezes, não apareceu. Alexandre, que teve destaque ainda mais agora, me trouxe enormes desconfianças.

Tenho gostado bastante do desenvolvimento dado à série, e acredito que os próximos volumes tenham ainda mais coisas boas para mostrar. A leitura é agradável, a linguagem é fácil, e muitos elementos podem ter sido trabalhados de forma surpreendentes, o que eu espero, de coração, que realmente aconteça.

http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/10/top-comentarista-outubro.html






Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

6 comentários:

  1. Oi Ju!

    Não li a resenha do primeiro livro, mas os autores nacionais estão fazendo jus ao país, viu? Fiquei curiosa pela ambientação desse livro, nunca vi nenhuma história que se passa no Mato Grosso e quando o autor é fiel, é melhor ainda.

    Beijo!
    http://www.roendolivros.com

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  2. Oie!
    Fiquei curiosa pra saber detalhes dessa relação do "místico" com a peculiaridade do Brasil. Legal ver vários autores usando aspectos culturais e lugares do Brasil como parte da história!!

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  3. Oi Ju
    Ainda não lio nada da autora, mas sou curiosa. Pelos seus comentários parece ser muito boa a série. Gosteii.

    Beijos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  4. Oi Julia, adorei sua resenha, flor! Essa história da série é minha preferida! Muito obrigada!!! Beijos

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  5. Oi Ju! Ainda não li nenhum livro dessa série, gosto muito da escrita da Josy Stoque e cada resenha que leio dos livros me deixa ainda mais interessada em conferi essa série.
    Beijos!

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  6. Não conhecia a serie, gostei muito agradeço por apresenta-la pra mim, não li a resenha porque ainda não li o primeiro livro mais fui la li e gostei muito da historia , assim que eu ler o primeiro volto aqui e venho ver sua resenha e opinião sobre esse segundo...
    Bjocas

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