O Museu das Coisas Intangíveis - Wendy Wunder

Sinopse: Noah, o irmãozinho de oito anos de Zoe, tem uma síndrome rara. Ele aprendeu a ler quando tinha dois anos.
Entende a teoria da relatividade de Einstein e já leu todos os livros do Stephen Hawking. É obcecado pelo cosmo e fala constantemente sobre isso, sem nem mesmo perceber se você está escutando ou não.
Apesar disso tudo, não consegue processar qualquer coisa irracional ou intangível. Emoções são um mistério para ele. Sonhar ou imaginar é algo totalmente estranho.
Zoe, para ajudá-lo, criou para ele, o Museu das Coisas Intangíveis, com instalações conceituais artísticas complexas, improvisadas no porão de sua casa.
Medo, inveja, coragem, despreocupação, verdade, perdão, vergonha: e tantos sentimentos que ela tenta ilustrar e definir para ele todos os dias.
Zoe acredita que Hannah, sua melhor amiga, não tem controle sobre as coisas intangíveis da vida.
Um dia, Zoe convence Hannah pegar a estrada juntas, e assim como fez com seu irmão, ela começa a expor sua amiga a situações que procuram mostrar o significado e o valor de todas essas coisas, fazendo com que ambas percebam o que realmente querem da vida. (Skoob)

Livro recebido como cortesia da editora 
WUNDER, Wendy. O Museu das Coisas Intangíveis. Novo Conceito, 2018.


Hannah tem um pai alcoólatra que acabou de roubar o dinheiro que ela ganhou vendendo cachorro quente, ideia que ele mesmo teve pois não quer pagar pela sua faculdade. Sua melhor amiga, Zoe, tem transtorno bipolar e durante um de seus episódios resolve fazer uma viagem de carro com Hannah e ensinar para ela coisas intangíveis do mesmo jeito que faz com seu irmão, que tem síndrome de Asperger.

Hannah e Zoe moram numa cidade pequena de Nova Jérsei na qual a educação pública é um fiasco. As feiras de ciência tem dez participantes e apenas os pais de um deles se importa. Como falta professores, quando os alunos terminam as partes mais básicas não precisam mais ir à escola à tarde, porque não tem quem ensine os avançados. Eles não tem mais quadra de ginástica, aula de artes ou extracurriculares. Por tudo isso, Hannah e Zoe entram no sótão da escola particular da cidade para ter um aprendizado decente.

Também por isso, apesar de superinteligente, Hannah sequer fez as provas de entrada na universidade e a única faculdade que ela pensa em fazer é a comunitária da cidade porque não acha que com essa educação ela conseguiria qualquer outra coisa, muito menos o dinheiro. Eu gostei bastante dessa parte do livro que é mais no começo, mas ela volta a mencionar faculdade porque claro que é importante, já que elas estão no último ano, acho. Faculdades gratuitas são um luxo que muitos brasileiros não percebem. E mesmo as que têm mensalidades são muito mais baratas. E ver que o ensino público pode ser ruim também nos Estados Unidos é bom para as pessoas que idolatram demais o país.

Também é triste a vida familiar da Hannah que além do pai alcoólatra que a explora e envergonha, tem uma mãe depressiva que mal sai de casa e por isso Hannah teve que começar a sair para pagar as contas. Ela também sempre cozinha. Zoe foi abandonada pelo pai, que antes disso era abusivo com a mãe, e parece que isso teve influência nela. Ela é muito interessada em garotos e não nos bons.

"Um casal de patos voa baixo e furiosamente sobra a superfície do lago. 
- Eles se unem para a vida toda, sabia? - Danny diz.
- Porque a vida deles é curta - retruco, sarcástica.
- Você é do tipo garota-do-copo-meio-vazio, né?
- Não, na verdade não. Eu simplesmente gosto de surpresas, então mantenho minhas expectativas baixas.
Ele parece refletir por um momento e então diz:
- A diferença é sutil."

A parte da viagem é legal porque passa por vários estados do EUA que nós nunca vimos retratados como Dakota do Sul e Wyoming. Como é mais difícil ter acesso a material de outros países para ver viagens pelo interior deles, é legal para mim fazer isso com os Estados Unidos pelo menos. A capa é muito legal e nos óculos delas têm elementos relacionados à viagem. Só é complicado às vezes se divertir com elas se divertindo na viagem quando a gente se lembra de como a Zoe está. Não que precise lembrar, porque geralmente dá pra perceber.

Sobre o que me incomodou um pouco foi como a Zoe tenta convencer a Hannah de fazer várias coisas porque toda a parte dos "ensinamentos" dela é para ela deixar de ser tão certinha. Eu não tenho problema com personagens fazendo coisas erradas, mas quando é desse jeito pode ser que a Hannah só esteja fazendo por ser pressionada, o que não é legal. Além disso, elas fizeram coisas que dão cadeia. Ela também me irrita com algumas verdades que ela pensa que tem, mas eu gosto dela. Também é complicado dizer quem é a Zoe e quem é o desbalanço químico no cérebro. Tem diversas coisas complicadas com relação a ela. Em consequência, a amizade delas também.

Sobre a bipolaridade da Zoe, eu vi uma resenha dizer que ficou decepcionada com como trataram e com a Hannah não ajudando. Mas não acho que tem como cobrar muito da amiga da mesma idade quando nem a mãe ENFERMEIRA faz a menina tomar remédios. Ela passou uma semana inteira no quarto, dormindo quase o tempo todo e a mãe dela só resolveu interná-la como já havia feito aos 14 anos e não funcionou nada porque ela escondia os remédios em vez de tomar. Quando a Hannah contou isso, esse é um momento que ela podia ter dito pra Zoe não fazer isso ou contado pra alguém, mas também ela só tinha 14 anos e tava em choque e provavelmente não sabia muita coisa.

Mas apesar de ela ir nessa viagem e embarcar nas loucuras que a Zoe quer fazer durante ela, dá pra ver que no geral a Hannah costuma ajudar ela contra essas impulsividades. E ela também chegou a criar um código quando crianças pra Zoe comunicar (pra si mesma e pra Hannah) que estava no estado depressivo ou maníaco. E ela durante a viagem tenta várias vezes dizer para Zoe voltar para casa ou que ela está nesse estado. Se ela não tivesse ido, não teria adiantado muito, a menos que ela desse um jeito de prender a Zoe até comunicar a mãe dela, e vai saber as consequências disso também.

Noah, irmão da Zoe, aparece pouco porque não vai para a viagem, mas ele é muito fofo. O jeito que a Zoe ensina ele dos sentimentos, que pessoas com a síndrome não entendem bem pois são subjetivos, é supercriativo e lindo. Mostra o quão ela na verdade é uma boa pessoa. É um museu de verdade porque ela criava como uma instalação sobre aquele sentimento. Faz um coração com uma faca, usa sofás, marionetes, depoimentos de pessoas. Cada capítulo tem como título uma "coisa intangível" que a Zoe ensinou para o Noah ou para a Hannah. No caso da Hannah, são todos durante a viagem antes do Estado em que ela vai começar. Os do Noah também acredito que tiveram a ver com o que aconteceu no capítulo, apesar de eles não mostrarem o Noah, pois o ensinamento dele foi todo falado em um mesmo capítulo. Mas era aquele sentimento aplicado às meninas.

Esse livro foi meio que uma surpresa. Eu só aceitei ler porque vinha de cortesia e baseado na sinopse e uma resenha negativa. Eu gostei dele, mas não sei dizer se recomendo. Se você não é fã de personagens fazendo muita coisa errada, não leia. Eu parei em algumas partes por uns segundos por ser tão certinha quanto a Hannah e não ter coragem de ver o que ia acontecer rs. E é um livro triste. Tenho várias emoções, até ao mesmo tempo, provavelmente porque é como é conviver com alguém bipolar que não se trata. Mesmo quando vocês estão no melhor dos momentos, você acaba descobrindo que a pessoa está num episódio. Porque qualquer alto ou baixo é perigoso.
Mah
Mah

Escrever (por prazer) me acalma e resenhas são uma terapia pra mim. Assim como doces, séries e ler. Autora do Programa Resistir, um podcast sobre suicídio.

7 comentários:

  1. Esse livro deixa a dúvida ler ou não ler, não gosto dessas coisas erradas quer dizer muito erradas um pouquinho passa, mas por outro lado é uma historia que mexe com a gente e deixa pensando nessas mães das personagens. Que triste ver a educação desse jeito pensei que as escolas dos EUA eram bem melhores, mas só sei o que vejo em filmes rs.

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  2. Que capa maravilhosa!Confesso que não tinha lido nada a respeito deste livro,mas adoro enredos tristes e este livro parece ser bom nisso.. rs
    O ser humano ou é muito correto ou muito do avesso. Meio termo? Dificilmente.
    Por isso com certeza, o livro vai para a lista de desejados!!
    Beijo

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  3. Oi, Mah
    Quando vi que alguns blogs tinha recebido esse livro fiquei encantada com a capa.
    Sua resenha é a primeira que leio, mesmo Zoe fazendo coisas erradas quero ler. Fiquei interessada em saber como é desenvolvida a trama tendo uma personagem bipolar que não faz o tratamento e parece ser uma pessoa incrível ao mesmo tempo.
    Beijos

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  4. Olá! Essa é a primeira vez que vejo falar desse livro, também não gosto desse tipo de personagem e duvido muito que gostaria dessa leitura, história bem triste.
    Bjs

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  5. Oi Mah
    O livro parece interessante. Confuso, mas interessante. Acho que as cagadas das personagens me irritaria também, mas sei lá...

    Vidas em Preto e Branco

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  6. Oi Mah,

    Esse é mais um livro que eu fico conhecendo aqui, gostei demais da premissa, a capa também é bem legal, já vai para a minha lista de desejados.


    Beijos.



    http://devoradordeletras.blogspot.com/

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