Janice Diniz (JD): Comecei a escrever na adolescência e por influência das minhas leituras. Com o passar do tempo, percebi que muitas vezes eu queria ler um tipo de história que não encontrava nas bibliotecas. Talvez até encontrasse nas livrarias, mas naquela época eu frequentava mais eram as bibliotecas. Ainda assim, li muita literatura russa, francesa, norte-americana e brasileira. E essa mistura talvez tenha construído um pouco o meu estilo de escrita. Apesar de na adolescência também ter sido fã alucinada dos romances açucarados da Harlequin, li um pessoal mais durão, como o Camus, Henry Miller e Marguerite Duras. E acredito que essas leituras mais o meu próprio modo de ver as coisas – sem muito enfeite colorido, sedimentou esse estilo mais seco e irônico de narrar. Minha opinião sobre o amor, liberdade feminina, existência, sistema econômico ou qualquer outro assunto está dissolvido na minha narração e com a desconfiança, angústia e inconformismo que também fazem parte da minha personalidade.
CdO: Na resenha que fiz para Terra Ardente fica claro que minha relação com seus personagens foi de amor e ódio (mais amor do que ódio, devo dizer), principalmente por eles fugirem tanto do convencional. Você não criou personagens bonitinhos ou fofos, e acho que foi isso o que mais encantou seus leitores. Como foi o processo de criação deles? Quais as maiores dificuldades na hora de desenhá-los e, principalmente, de manter suas características fiéis por toda a obra?
JD: Bem, o subtítulo de Terra Ardente já dá essa prévia do “amor e ódio” que você sentiu kkkk Não sei criar personagens fofos com enchimentos de algodão doce e a leveza de um isopor kkk Mas estou treinando para isso, um dia chego lá kkk A Nova, por exemplo, era para ser “bonitinha e fofinha”, mas de repente veio à tona toda aquela carga dramática de amor não correspondido e, de certa forma, de vítima de um homem que criava toda uma expectativa de amor no futuro que talvez ele jamais tivesse intenção de consumá-la. O que eu podia fazer? Esse tipo de situação existe na vida real e eu não consegui fechar os olhos e criar uma Bridget Jones kkkk
Quando elaborei os protagonistas, criei o núcleo de cada um deles, ou seja, os secundários com os quais se relacionariam de forma mais próxima, assim como determinei a aparência, a idade e o conflito a ser trabalhado. Depois que comecei a escrever, seguindo as anotações prévias do “esqueleto de cada personagem principal” passei a vê-los por dentro, principalmente quando interagiam entre si, suas ações e reações e, a partir disso, da história já estar nos trilhos, começou o processo interno de criação da personalidade, o perfil psicológico e a sua carga emocional. Fiz questão de seguir uma linha psicológica na construção de cada um deles para, desse modo, não ferir a coerência de suas atitudes. Por isso, às vezes, os leitores esperam que aconteça algo e ocorre o inesperado, porque os personagens possuem a sua coerência psicológica, estão presos a ela. Em contrapartida, a maior dificuldade é em relação às mudanças na trama sem sair muito desse molde engessado, que é o comportamento deles. Como exemplo disso, o que acontece com Thales Dolejal. Em Terra Ardente ele é quase um canalha, ainda que não seja necessariamente um dos vilões. Já em Céu em Chamas, por mais que demonstre ainda uma personalidade gananciosa e egoísta, também revela outros traços menos malévolos, digamos assim kkk E, em Fogo no Cerrado, conhecemos enfim o homem por inteiro. Agora, se ele é bom ou ruim, cada leitor terá a sua opinião a respeito.
CdO: Os livros que mais gosto, normalmente, contêm histórias em que os autores arriscam suas fichas e são ousados, muitas vezes, inclusive, fazendo o contrário do que os leitores desejam que façam. Percebe-se, em Terra Ardente, algumas passagens assim. Até onde vai sua coragem de arriscar grandes reviravoltas na história?
JD: Gosto de ler histórias com ação, com coisas acontecendo o tempo inteiro. E por isso também prefiro escrever histórias também assim, com ação e que, de certa forma, é um contraponto às análises psicológicas e filosóficas, já que os personagens são postos à prova em relação a questões éticas como traição, lealdade, assassinato, justiça com as próprias mãos, etc. Questões sobre liberdade (incluindo a sexual) feminina e sobre o sistema capitalista, por exemplo, são dissolvidas em cenas de tiroteios, perseguição de carros, corrida de cavalos, tensão sexual e crimes que são investigados (ou não). Quanto a minha coragem, bem, escrevi uma história que não é sobrenatural, não é chick-lit nem romance histórico, ou seja, não apostei em gêneros que já possuem sua vitrine no mercado. Então acho que a minha coragem é parecida com a do 007 kkkk E ainda mais reviravoltas ocorrerão nos próximos dois livros.
CdO: Alguns personagens não se fazem tão marcantes no enredo, mesmo que tenham um papel importante na história, como os coronéis e o filho de Karen. Nos próximos livros, você pretende dar mais ênfase a eles ou novos personagens surgirão?
JD: Os personagens secundários somente ganham maior destaque quando são importantes à trama fundamental, que é a luta pelo poder e controle da cidade. Matarana é uma cidade rica economicamente disputada por um coronel e um empresário do agronegócio. Essa é a linha condutora da série. Em Terra Ardente os personagens são apresentados aos leitores, bem como a própria cidade. E já nos outros dois livros, eles entram em ação, sem mais delongas. Com cinco protagonistas, não se pode despender muitas páginas para os secundários logo no primeiro livro, ainda mais por eles justamente serem os secundários. O coronel Marau continua ativo no resto da trama. Quanto ao Johnny, a parte dele é a de aparecer na cena em que a Karen, sua mãe, está e nada mais. Nunca pensei em desenvolver uma trama especial para ele, envolvendo o ambiente escolar e algo tipicamente adolescente, mesmo porque desvirtuaria da trama original e acabaria se tornando uma espécie de novela da Globo cheia de personagens e subtramas kkkk Ah, e sim, um novo personagem, jovem e carismático, aparece em Céu em Chamas.
CdO: Algum de nossos queridos vai nos decepcionar nas continuações? (Morro de medo de isso acontecer!).
JD: Essa é a pergunta mais difícil! kkkk Não sei o que poderia ser considerado “ruim”, por parte deles, que provocasse decepção nas leitoras. O bem e o mal, na série, possuem uma linha tênue entre si e isso se mostra também na personalidade dos personagens, inclusive em relação aos queridinhos. Um deles, por exemplo, se tornou queridinho justamente por ser perigoso e não “charmosamente perigoso”, há uma suspeita de assassinato cometido por ele, então, pode acontecer desse personagem justificar a sua periculosidade. Mas não acredito que seja o motivo para uma decepção. Acho que se ele se tornasse um “apaixonado frouxo” é que decepcionaria mais kkk
Karen tem má fama na cidade. Envolvida com corridas de cavalo, dívidas que podem levá-la à falência e uma vida afetiva que segue a regra dos três encontros e nunca mais, ela não pode fracassar. No seu encalço, dois fazendeiros ambicionando tomarem-lhe a propriedade. Com a vida em risco e sozinha num lugar hostil, ela tenta sobreviver e cuidar da avó e do filho. Se for preciso, seduzirá o delegado de polícia de Matarana para protegê-la – um caubói da lei que se comporta como um xerife durão do velho-oeste americano. Mas Karen não é a única mulher em apuros. A jornalista Nova Monteiro investiga um latifundiário suspeito de aliciar trabalhadores. Abandonou o sudeste para ficar ao lado do homem que ama desde a infância. Um amor que tem tudo para não se concretizar. O que Nova não sabe, porém, é que, segundo boatos, a chuva de cinzas na estação do estio não é somente das queimadas, mas também dos corpos dos forasteiros que se metem com os poderosos da região. Assim, ela faz duas descobertas: que luta pela causa errada e que o amor verdadeiro é um sentimento bruto que pode nascer do medo. Matarana, a cidade das aparências, onde nem sempre o mocinho é bom e o vilão, mau. Um faroeste moderno com mulheres fortes, homens destemidos, pistoleiros, matadores de aluguel e paixões devastadoras. A humanidade posta à prova em situações-limite.
Ju, essa foi uma das melhores entrevistas que me recordo já ter lido em blogs literários, não apenas pelas deliciosas respostas da Janice (que me deixaram morrendo de saudades de Matarana e louca pra ler Céu Em Chamas), mas pelas suas excelentes perguntas e forma de conduzir a entrevista. Parabéns de verdade!
ResponderExcluirVou aguardar super ansiosa pela segunda parte, até porque estou curiosa pela surpresa desde que você anunciou no twitter haha!
Eu acho incrível como os livros refletem muito de cada autor, por isso que acho quase impossível não colocar um pouco de si na hora de escrever. É muito difícil não falar de algo segundo o que se acredita ou se sente, e acho que é isso que dá a identidade e o estilo de cada obra.
A narrativa de Terra Ardente realmente foi uma das coisas que mais me chamou a atenção, mas o que de fato nos conquista são as personagens, sem dúvida alguma, e adorei entender melhor sobre o processo de criação de cada uma. A Janice acertou em cheio partindo do psicológico delas, tornou tudo muito mais real e plausível!
Parabéns, de novo, pela postagem!
Beijão!
Gostei bastante da entrevista
ResponderExcluirÉ muito bom conhecer mais sobre os autores
E ainda não conhecia esse livro
Beijos
@pocketlibro
http://pocketlibro.blogspot.com.br
Adorei a entrevista, acho que os blogs tem mesmo que investir mais nessa interação com os autores.
ResponderExcluirBeijos. Tudo Tem Refrão
Adorei a entrevista!
ResponderExcluirSó conheço o livro de nome mesmo, mas fiquei com vontade de ler.
Parece ser muito bom!
BjO
http://the-sook.blogspot.com.br/
Hum...que entrevista tudo de bom! Adoreiii a autora e fiquei mais curiosa ainda pelo livro dela!^^ Parece ser uma pessoa muito simpática.
ResponderExcluirBeijos!
Paloma Viricio-Jornalismo na Alma
SOS!!! e é só a primeira parte!! como é que tu me vem com essa de personagem novo Janice??!! e o nosso queridinho que talvez vá confirmar sua fama de perigoso!!! *SAI QUICANDO PELA CASA* OOWW!! quem não leu Terra Ardente tem que dá um jeito de ler,foi o melhor livro nacional que li em 2012 com certeza. ler essa entrevista é ficar com um sorriso no rosto,ver a autora falando dos personagens que mexeram com a imaginação da gente é ótimo!eu sempre vi Matarana como um personagem do livro também,tipo não dá pra não sentir a presença da cidade na vida de quem mora lá.nem posso falar muito pra não estragar a leitura de quem não conhece o livro.e ainda mais com essa capa que,eeerrr, ham ham, muito bem feita,é impossível não querer ter um exemplar. deu pra perceber que sou fã né. rsrs ansiosa pra ler a segunda parte da entrevista!!
ResponderExcluirOLá Julia,
ResponderExcluirGostei demais da entrevista e tenho muita vontade de ler esse livro, mais essa capa da segunda edição esta horrível, a primeira era bem melhor nem se compara....abçs.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/
Eu não conhecia este livro Ju! Parabéns pela entrevista, me deixou bem curiosa pela obra!!
ResponderExcluirxoxo
http://amigadaleitora.blogspot.com.br
Oi Ju, que coisa linda de entrevista! *.* A Janice escreve muito bem, e concordo com você, ela tem uma forma peculiar, algo que poucos autores alcançam quando decidem seguir por uma trama que não escolhe somente um gênero literário para seguir. Eu curti taaanto esse livro, e estou louca pela continuação. Essa relação de amor e ódio define bem a caracterização desses personagens, e sem dúvida, o fato de gostarmos tanto deles. São essas inconstâncias que os tornam reais, próximos do nosso dia a dia. Se a Janice tivesse feito personagens 'feitos de algodão doce' nós não iríamos partilhar dos sentimentos narrados, pq. afinal, somos humanos, erramos, pecamos, mudamos, queremos personagens assim ora bolas, ahuahau Que saudades do Rodrigo *.* E, essa última resposta foi sobre o Franco Dona Janice? Assim se mata a gente de curiosidade! Beijokas
ResponderExcluirOi, Pah,
ExcluirSim, senhorita, é sobre ele kkk
O teu Rodrigo é durão, mas não é perigoso kkk
Beijão!
a autora é bem humorada mesmo né? kkkkk adorei *-* sério.
ResponderExcluirsuper entrevista, bem legal ela nao ter personagens perfeitos, porque eu odeio gente perfeita kkkkkkk
mas a sinopse do livro é meio cansativa O_O dá pra fazer um resumo da sinopse kkkkkkkkk
bjs
muito boa a entrevista, não é?
ResponderExcluirAdorei a maneira que vc guiou as perguntas, por acaso, és jornalista? rsrs
Conheço o livro, porém, nunca li... infelizmente!
Parabéns, Jú pela entrevista!
Beijos *-*
Clicandolivros.blogspot.com.br
Poxa, não conhecia a autora e a entrevista foi uma ótima forma de conhecê-la. O que mais me deixou curiosa foi seu comentário com relação ao livro, da escrita ser diferente. Deixou-me super curiosa!
ResponderExcluirUAU.. Terminei de ler a entrevista com mais vontade ainda de ler. Ótimo post!
Luizando
Oi Julia.
ResponderExcluirExcelente a sua entrevista, caprichou hein?
Também adorei as respostas da autora, ela parece ser bem simpática,gostei de conhecer um pouquinho mais a seu respeito.É agora mesmo que pretendo ler a série :)
Beijos.
Oi Julia!
ResponderExcluirConfesso que a resposta que ela deu para a última pergunta foi ótima! rs
Ela faz certo. Se ela deturpasse a imagem do personagem, seria péssimo.
Enfim, curti muito a entrevista. (:
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.com
Conheci a autora e seu livro a pouco tempo e tantas amigas blogueiras falaram bem do livro que eu estou desesperada para lê-lo,adorei conhecer um pouco mais a autora e cada dia me convenço mais que de que vou adorar o livro.
ResponderExcluirÓtima iniciativa,todo mundo precisa conhecer mais os autores nacionais.
beijos
Bianca
http://www.apaixonadasporlivros.com.br/
Uauuuuuu..adorei a entrevista e estou louca pra ler o livro..adoro romances Country....
ResponderExcluirbjs e parabens pelo blog e pela iniciativa
Adoro isso dela gostar de escrever ação. Ainda não tive oportunidade de ler Terra Ardente, mas pelas inúmeras resenhas fantásticas que já li, tenho certeza que seria o tipo de livro que eu adoraria. E eu nem sabia que existiria continuação, que show! Agora mesmo preciso ler *-*
ResponderExcluirBjs,
Kel
www.itcultura.com.br
Conheco a autora a um tempinho ja, acho ela muito simpatica e super legal com seus seguidores e amigos, pelo que percebo nas rede sociais.
ResponderExcluirPs: G-zuis que capa é essa, ficou meio cara de romances da Herle.. (sei la o nome da editora)
Super concordo com a Aione, ótima entrevista e deu vontade ainda mais de ler os livros da Janice.
ResponderExcluirAo meu ver, acho que deve ser no mínimo complicado trabalhar com personagens secundários, acho que mais que os protagonistas. Ter maior cuidado para não ficarem esquecidos e ter um enredo pra cada um.. os protagonistas já tem uma coisa certa, a seguir..
Enfim, sucesso para a Janice :D
Só queria saber se o livro dela vende na Saraiva ou na cultura =/
Oi, Nana,
ExcluirTem à venda no Blog de Terra Ardente, na Editora Lexia e, agora, na Amazon.
Abração,
Janice Diniz
Adorei! Não imaginava que o livro era tudo isso, ja o desejava, mas com a entrevista puder perceber alguns aspectos. Eu sou fã de livros com personagens fofos, o que me deixa mais curiosa com ele, essa relacao de amor e odio com os personagens, os aspectos economicos da cidade, a vida das mulheres, puxa, é muito mais do que eu esperava do livro e so me deixa mais louca pra ler! Janice é uma fofa, espero ter e ler, de preferencia com a nova edicao em breve.
ResponderExcluirbj