Diga aos lobos que estou em casa - Carol Rifka Brunt

Sinopse: 1987. Só existe uma pessoa no mundo inteiro que compreende June Elbus, de 14 anos. Essa pessoa é o seu tio, o renomado pintor Finn Weiss. Tímida na escola, vivendo uma relação distante com a irmã mais velha, June só se sente “ela mesma” na companhia de Finn; ele é seu padrinho, seu confidente e seu melhor amigo. Quando o tio morre precocemente de uma doença sobre a qual a mãe de June prefere não falar, o mundo da garota desaba. Porém, a morte de Finn traz uma surpresa para a vida de June – alguém que a ajudará a curar a sua dor e a reavaliar o que ela pensa saber sobre Finn, sobre sua família e sobre si mesma. No funeral, June observa um homem desconhecido que não tem coragem de se juntar aos familiares de Finn. Dias depois, ela recebe um pacote pelo correio. Dentro dele há um lindo bule que pertenceu a seu tio e um bilhete de Toby, o homem que apareceu no funeral, pedindo uma oportunidade para encontrá-la. À medida que os dois se aproximam, June descobre que não é a única que tem saudades de Finn. Se ela conseguir confiar realmente no inesperado novo amigo, ele poderá se tornar a pessoa mais importante do mundo para June. "Diga Aos Lobos Que Estou Em Casa" é uma história sensível que fala de amadurecimento, perda do amor e reencontro, um retrato inesquecível sobre a maneira como a compaixão pode nos reconstruir. (Skoob)
BRUNT, Carol Rifka. Diga aos lobos que estou em casa. Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2014. 464 p.


Em 1986, a AIDS não era totalmente conhecida e o tratamento ainda inexistente. Em razão da doença, June, de 15 anos, perdeu seu melhor amigo, seu tio Finn. Mais sozinha do que nunca, a indiferença de sua irmã, Greta, pelo seu sofrimento só as afastava ainda mais, doendo profundamente pela lembrança do que elas costumavam ser. E doía, também, descobrir uma parte da vida de Finn que ele mantivera por tanto tempo escondida dela.

June nunca imaginara que Finn tinha Toby, um inglês, também infectado pelo vírus da doença, que agora estava tão sozinho quanto ela. Apesar de ter de adequar todas as suas memórias com o tio à nova informação da existência do rapaz, June poderia descobrir em Toby uma nova companhia – e um outro amigo.

Como tantas outras vezes que já comentei aqui, não li a sinopse de Diga aos lobos que estou em casa, de Carol Rifka Brunt antes de pegar o livro, mas a classificação Young Adult instigou a curiosidade.

"E, bem naquele momento, senti meu coração amolecer por Toby, porque eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Eu entendia que quase qualquer coisa no mundo podia nos fazer lembrar de Finn. [...] Coisas que você nunca vira com Finn podiam fazê-lo se lembrar dele, porque ele seria a pessoa para quem você quereria mostrar aquilo." (p. 237)

A diagramação do livro foi toda bem cuidada, com pequenos detalhes no início de cada cena, bem como com letras confortáveis para a leitura. O tom de cor da capa – para quem gosta – é fascinante, e os vários desenhos no espaço negativo têm significado para a obra, seja pela questão da arte de Finn, seja pela imaginação ativa de June. O conteúdo, porém, não foi tão encantador.

Há de ser ressaltado que o tema escolhido para a obra foi bastante inusitado, pelo contexto em que se inseriu os acontecimentos, e também interessante. Ao contar a história de June, em primeira pessoa, a autora conta também a vida de outros personagens de seu convívio cotidiano. Algumas lembranças de um período anterior ao dos acontecimentos narrados, inseridas no contexto, sem nexo temporal, auxiliam na compreensão da protagonista, e mostram um pouco como sua mente funciona.

O fato de o livro tratar da AIDS a partir do ponto de vista de alguém que ama a pessoa doente e que tem um olhar livre de preconceito torna a construção mais sensível e valiosa. Contudo, o perfil da protagonista se mostra aquém do esperado, já que a impressão é de que, em virtude das situações impostas pela vida, sua atitude seria mais madura e adulta. O fato de ser ainda bastante criança, sinceramente, me frustrou.

Os pensamentos de June são infantis, com toda a sua fascinação pela idade média, brincadeiras e lamentações sobre coisas que, após certa fase, vemos que não tem tanta importância. Estes foram alguns dos fatores que eu não esperava, e a leitura se tornou cansativa por se arrastar desta forma até a metade do livro.

Provavelmente este seria um elemento desejável ao enredo, principalmente porque, após a segunda metade do livro, o amadurecimento da protagonista é visível. Além disso, foi importante para que June pudesse compreender um pouco mais a irmã. Contudo, ainda que racionalmente eu possa explicar a necessidade dos elementos citados para a história, isso não ajudou em relação ao envolvimento com o enredo. A impressão era a de que o contexto dava voltas, sem que saísse do mesmo lugar.

É importante citar, contudo, que, na segunda metade da obra, o texto se torna mais agradável e conseguiu atingir o ritmo certo. June começa a se ver mais verdadeiramente, perde a película da inocência no olhar, mas não deixa de se encantar com as coisas, por, finalmente, ver como elas são. June amadurece, cresce, e até mesmo uma insinuação de romance tem lugar na história.

O livro de Brunt não foi, para mim, uma grande obra, mas tem alguns bons elementos e um final tão bonito que é difícil não se sentir tocado.
Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

12 comentários:

  1. Eu estou pensando em ler e sua resenha me instigou apesar das suas críticas. Vai para a lista.

    beijos,
    Carissa
    www.carissavieira.com

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  2. Oi,

    também não tinha lido a sinopse do livro e fiquei surpresa em saber que ele trata sobre a AIDS! É um tema bastante polemico e definitivamente bem emocionante! Amei sua resenha, me deixou louca para ler o livro!

    Bjs

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  3. nunca imaginei que esse livro fosse um YA e muito menos tocasse num tema tão tenso como a AIDS em 86. hum, realmente, antes de descobrir a doença com a morte do tio, era compreensível que June tivesse e agisse quase como uma criança, com 15 anos e na época que se passa o livro é compreensível, mas depois do baque, era de se esperar que ela tivesse atitudes mais maduras. mesmo assim, gostei do plot da história e sua resenha só reforçou meu desejo de ler esse livro o quanto antes =)

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  4. Oie Ju =)

    Infelizmente esse livro não me chamou a atenção. Cheguei até a tentar dar uma chance para a história, mas não consegui ir em frente com a leitura.

    A história tem uma ótima premissa, mas não conseguiu me conquistar. O que foi realmente uma pena =/

    Beijos e uma ótima semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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  5. Eu evito ao máximo ler sinopses de livros porque alguma delas acaba com a emoção do primeiro contato com a leitura... e ao ler sua resenha, fiquei surpresa em saber que este livro trata sobre AIDS... nunca imaginei! Apesar das críticas, o que disse sobre o final me deixou muito curiosa para ler a obra! Parabéns pela resenha ^^

    Beijos!
    @PollyanaCampos
    Entre Livros e Personagens

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  6. Amei o título, amei a capa, amei o tema...
    Quero esse livro pra mim! *-*
    Beijos flor,
    Ana

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  7. Oi Julia!
    Essa foi minha melhor leitura deste ano, confesso. Amei demasiadamente este livro.
    É uma pena que ele não tenha te agradado tanto e a história ter se tornado cansativa em dado momento.
    Comigo, a leitura fluiu normalmente e eu realmente me emocionei com toda a história em si. O desfecho me deixou completamente emocionado e o desenvolvimento da protagonista foi bastante notável para mim.
    Espero imensamente ler outros livros da autora e amar ainda mais.
    Abraço!

    "Palavras ao Vento..."
    www.leandro-de-lira.com

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  8. Julia, tudo bem?!
    Não lembro se já comentei, mas ganhei esse livro de aniversário do meu primo. Eu não tinha parado para pesquisar sobre ele, mas adorei conhecer um pouco mais sobre sua temática. Pelo que percebi, o livro aborda temas um pouco 'tabus' para a época, e acho que vou gostar da leitura.

    Beijos,
    Blog Procurei em Sonhos

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  9. É bem ruim quando o livro só fica bom no meio
    Porque as pessoas acabam desistindo sem chegar nessa parte
    Já tenho esse livro aqui e futuramente pretendo ler

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

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  10. Achei o assunto tratado bem interessante. Apesar de, como você disse, ter alguns pontos de leitura arrastada, acho que leria a obra.

    M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de Maio

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  11. Oi Julia
    Estou as voltas com esse livro. Há mais de um mês que eu paro e retomo a leitura e ela parece não sair do lugar.
    A história é bom e eu sinto o potencial dela, mas a June como você bem disse não ajuda em nada. Ela tem quase 15 anos, mas parece uma criança. Esperava atitudes e pensamento mais maduros da parte dela.
    O livro tem muitas páginas desnecessárias.
    Acho que ainda demorará mais algum tempo até que eu consiga terminar, mas o fato do final ser bonito me deixou um pouco mais animada.

    Beijos
    http://mundo-de-papel1.blogspot.com.br

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  12. Olá Julia,

    Esse livro esta na minha lista de espera de leitura e estou muito curioso em relação a ele, mesmo depois dos pontos negativos aqui citados...abraços.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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