Semana passada, a Ju me convidou para escrever um texto narrando o processo de publicação de meu livro, Fugitivos, desde o nascimento da ideia até o dia do lançamento. Desde então, já apaguei três textos prontos, porque o resultado final parecia demasiado pessimista.
Mas, na verdade, o problema não estava no texto, uma vez que ele continha todas as verdades que aprendi nessa aventura pela busca de uma editora. O problema estava no que eu não contei.
Assim, neste, que espero seja o texto definitivo, não vou enfatizar alguns fatos.
Não vou dizer que nenhuma grande editora aceita obras com mais de trezentas páginas de autores desconhecidos, porque o custo é maior e temem o prejuízo de vendas fracas, sem mencionar uma maior campanha de marketing.
Não vou dizer que a enorme maioria das editoras pequenas realizam apenas um trabalho gráfico e de impressão, uma vez que o autor arca com metade dos custos de publicação e praticamente não existe divulgação ou revisão.
Não vou dizer que quase todas as editoras não se dispõem a dar um retorno quando à leitura do original enviado, informando apenas que entram em contato caso a obra agrade.
Não vou dizer que quase todas frisam que se o original não estiver dentro dos parâmetros de letra, espaçamento e margem, não será lido.
Nem vou dizer que grande parte nem recebe originais, prefere apenas um resumo de poucas linhas da história, como se isso fosse suficiente para qualificar a qualidade da obra.
Também não vou dizer que as grandes editoras encaminham os originais para blogs parceiros lerem e não o editor.
Não vou dizer que mesmo as editoras grandes preferem concentrar o marketing em quem já é conhecido e deixam o autor de primeiro livro trabalhar na sua própria divulgação.
E não vou dizer que quase todas deixam claro que não desejam que o autor pergunte sobre a obra que enviou, nem sequer se a receberam, explicando que o contato não será retornado.
Vou me concentrar em explicar que fiquei um ano escrevendo Fugitivos nas madrugadas dos dias de semana, uma vez que trabalho o dia todo e reservo os fins de semana para lazer. Vou dizer como foi emocionante entregar a obra impressa na Biblioteca Nacional e receber o certificado de direitos de cópia. Vou dizer que apesar de tudo o que não disse, continuei procurando editora atrás de editora, até que uma se interessou em arriscar na publicação de uma obra de tantas páginas. E vou dizer que foi único o dia que assinei contrato e iniciei oficialmente o processo de publicação.
Mas tudo isso que não disse e disse fica opaco diante do que realmente aprendi e conheci nesse período. Eu conheci pessoas incríveis. Não pessoalmente, mas virtualmente. Através das redes sociais, como o Instagram, Facebook, Twitter e, de forma mais direta, através de grupos de conversa do Whatsapp. Sem esquecer de mencionar também os blogs, a máquina que trata da divulgação da maioria dos livros vendidos no Brasil e que é tratada com cautela pelas editoras, para que os blogs não vejam que são o meio de marketing mais amplo e barato usado por essas mesmas editoras.
Em poucos meses, uma verdadeira legião de fãs se formou em volta de um livro que não leram, que conheciam apenas a sinopse e uma capa feita de forma precária por mim. Eles em nenhum momento cobraram qualquer retorno de mim, apenas a promessa de que um dia o livro estaria à venda e que eles poderiam ler.
Mais que isso, eu conheci muitas histórias pessoais, algumas alegres, outras nem tanto. História semelhantes às que meu livro narrava. Pessoas semelhantes às que meu livro dava a conhecer. Fiz amizades. Recebi ajuda. Dei ajuda. Fizemos brincadeiras, sorteios, jogos. Criamos situações onde todos se encontravam e se conheciam pessoalmente. Ouvi confidências e contei confidências. Fiz vínculos que levarei por toda minha vida.
Assim, o que aprendi escrevendo e publicando Fugitivos? Que a vida real, as pessoas reais, são muito mais emocionantes, misteriosas, heroicas e determinantes que qualquer personagem do melhor livro já escrito. Aprendi que o laço humano é algo único e que precisa ser cultivado com todo o amor e atenção que dispuser. Seja ele presencial, através da Internet ou de um aplicativo para celular. O que recebi em troca, foi a maior conquista que poderia conseguir.
E quanto ao que eu não disse, esqueça. Dificuldades todos encontramos. Passe por elas, sejam quais forem, e persiga seu sonho até conseguir realizá-lo. Não desanime. Não desista. Tenho certeza de que não se arrependerá. ;)
Semana passada, a Ju me convidou para escrever um texto narrando o processo de publicação de meu livro, Fugitivos, desde o nascimento da ideia até o dia do lançamento. Desde então, já apaguei três textos prontos, porque o resultado final parecia demasiado pessimista.
Mas, na verdade, o problema não estava no texto, uma vez que ele continha todas as verdades que aprendi nessa aventura pel...