O leitor do trem das 6h27 - Jean-Paul Didierlaurent

Sinopse: Operário discreto de uma usina que destrói encalhe de livros, Guylain Vignolles é um solteiro na casa dos trinta anos que leva uma vida monótona e solitária. Todos os dias, esse amante das palavras salva algumas páginas dos dentes de metal da ameaçadora máquina que opera.
A cada trajeto até o trabalho, ele lê no trem das 6h27 os trechos que escaparam do triturador na véspera. Um dia, Guylain encontra textos de um misterioso desconhecido que vão fazê-lo buscar cores diferentes para seu mundo e escrever uma nova história para sua vida.
Com delicadeza e comicidade, Didierlaurent revela um universo singular, pleno de amor e poesia, em que os personagens mais banais são seres extraordinários e a literatura remedia a monotonia cotidiana. (Skoob)
DIDIERLAURENT, Jean-Paul. O leitor do trem das 6h27. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2015. 176 p.

Quando O leitor do trem das 6h27 chegou para mim, eu fiquei realmente impressionada com a pequenez do livro em seus 17x12cm e suas 176 páginas. Nunca vi um livro tão pequeno antes que não fosse infantil, e fiquei pensando que tipo de história ele poderia contar com tão pouco. Independente do que eu pudesse estar esperando, foi uma leitura diferente, que me levou a extremos entre o não gostar e o gostar, mas que conseguiu, no fim, me cativar ao seu próprio modo.

O livro é narrado pelo ponto de vista de Guylain Vignolles, um operário de uma usina que destrói livros encalhados. Ele se sente extremamente infeliz de ter de fazer isso, especialmente depois do acidente de seu amigo Giuseppe, mas não vê outra alternativa em sua vida. O único momento importante do seu dia é o caminho para o trabalho, no trem das 6h27, enquanto lê as poucas páginas de livros que conseguiu resgatar das garras da "coisa" no dia anterior.

"[...] Só o ato de ler tinha importância a seus olhos. Ele expelia todos os textos com a mesma dedicação obstinada. E, a cada vez, a magia se operava. As palavras, ao sair de seus lábios, levavam com elas um pouco da náusea que o sufocava ao se aproximar da usina"

Os capítulos de O leitor do trem das 6h27 não têm mais do que três ou quatro páginas cada, o que geralmente é um ponto positivo em uma obra. Nesse caso, porém, trouxe também algumas desvantagens, já que pouco é demonstrado sobre o protagonista em cada capítulo, muitos detalhes pela metade, especificidades que só vão ser descritas depois de várias páginas, e isso é um pouco frustrante. É difícil saber a cidade onde ele trabalha, a função que ele realiza ou como é a sua vida, de verdade, nos primeiros capítulos. Conta-se, por exemplo, sobre a "coisa", sobre como ela se parece, sobre como ele se sente em relação a ela, para só mais tarde explicar o que a "coisa" é. E isso acontece com todos os aspectos da história: são apresentados alguns detalhes para depois se falar sobre o todo, o que exige muita dedução do leitor e torna o texto um pouco cansativo.

Por outro lado, essa omissão inicial contribuiu para outro aspecto da obra: Didierlaurent abusa da simplicidade, do costumeiro, do absurdo diário para compor sua trama. Não há qualquer ingrediente que dê tempero ao livro, são fatos cotidianos que se tornam centrais, acentuados pelo exagero. Guylain, por exemplo, tem em sua rotina aquilo que acredita ser o que de pior pode existir, e as minúcias dos acontecimentos mais banais são enaltecidas no livro. Por pior que isso possa parecer dito dessa forma, é exatamente essa característica que agrada na obra, que, sob esse aspecto, lembrou-me em muito o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que eu adoro.

"Alguns dos idosos vieram falar com Guylain para lhe agradecer calorosamente a visita, lamentando a brevidade. As bochechas estavam coradas, havia brilho nos olhares. Parecia que a leitura de Huguette trouxera um pouco de vida ao Glicínias. [...] Guylain foi embora depressa, não sem antes prometer que voltaria no sábado seguinte. Não se sentia tão vivo havia muito tempo."

O livro traz ainda um romance, também no estilo de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, muito fofo. E foi isso o que me fez gostar mesmo de O leitor do trem das 6h27. Há um toque de conto de fadas, uma delicadeza implícita, certa ingenuidade dos personagens que nos conquista. Aquela sensação de que provavelmente algo assim nunca nos aconteceria na "vida real", mas que queríamos que acontecesse mesmo assim.

Em síntese, O leitor do trem das 6h27 pode não ser um livro memorável e fascinante, mas é uma boa companhia por algumas horas que, na sua simplicidade, consegue surpreender.















Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

10 comentários:

  1. Oi Ju!

    Tive uma experiência assim com Sereia de Vidro que, acredite, é bem menor que O Leitor do Trem das 6h27... Nunca pensei que poderia encontrar uma história tão bom em tão poucas páginas, mas enfim... Eu gosto muito de livros que envolvem livros, mas geralmente fico bem triste quando a história envolve destruí-los ou algo do tipo. Mas confesso para você que o que mais me deixou curiosa sobre a história foi o romance a lá Amélie Poulain, que eu também amo, amo, amo.

    Beijo!
    ww.roendolivros.com

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  2. Oi, Julia!
    Gente, que livro pequeno e fino! Nunca ia jurar só de ver pelas fotos.
    Ele parece ser bem fofo, E depois que você disse de Amelie Poulain, eu já quero pra ontem!
    Beijos
    Balaio de Babados

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  3. Oi Ju! Nossa que livro pequeno, já fiquei bastante interessada em ler só pela sinopse, e depois de ler a resenha fiquei ainda mais ansiosa em conferi essa história que parece ser maravilhosa.
    Bjs

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  4. Oie Ju =)

    Não conhecia o livro, mas essa é uma característica da editora Intrínseca, sempre trazer livros diferentes e originais.

    Ele parece uma graça e pela sua resenha a história é bem interessante.
    Dica anotada ;)

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  5. Bem Julia!
    Se o livro traz ao menos um romance que consegue obter o objetivo que é entreter o leitor, já está valendo, né?
    Acredito que o autor quis criar um certo suspense ao não entregar de primeira o sentido das coisas e capítulos pequenos são sempre mais fáceis de acompanhar.
    Achei o livro bem diferente e nunca tinha ouvido falar dele.
    “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!”(Mario Quintana)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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  6. Olá!!
    Nossa como é pequeno fiquei super surpresa agora, e mais surpresa ainda de saber quem uma historia tão legal nessas poucas e pequenas paginas, as vezes é bom ler algo assim mais simples principalmente quando se saí de um livro mais tenso, e apesar de tudo que falta no livro, me pareceu bem legal. quero ler.
    Bjocas

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  7. Realmente o livro aparenta ser bem pequeno, mas mesmo assim fiquei bem curiosa em relação a história e pretendo lê-lo, parece ser muito bom.
    Sua resenha está muito boa.

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  8. Amei sua resenha! Mostrou todos os lados do livro. Não li esse livro, mas realmente parece ser uma boa companhia para passar o tempo.

    Www.cidadedosleitores.blogspot.com (TÁ ROLANDO SORTEIO)

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  9. Julia, o que mais me chamou a atenção nesta obra foi o seu título, O leitor do trem das 6h27. Entretanto, a história não me agradou tanto assim, curti toda a história da infelicidade com a destruição de livros e a leitura durante a passagem de trem, mas o desenvolver da história geral não conseguiu me agradar. Fica para uma próxima!

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  10. Emprego difícil esse, ter que destruir os livros, também ia querer ler antes de que a coisa destruísse. Até que seria melhor a historia , devido ao tema abordado, é uma pena que deixa a desejar. Mas que bom que o romance salva um pouco o livro.

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