Sinopse: Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar. À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera pouco tempo antes. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem. O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço. (Skoob)
HURLEY, Andrew Michael Loney. Editora Intrínseca, 2016. 304 p.
Você pode contar uma mesma história de maneiras totalmente diferentes. Algumas são contadas de forma direta, com diálogos entre os personagens, que explicam o que está acontecendo e o que eles pensam. Outras, são contadas através de um narrador onipresente e onisciente, imparcial, mas que consegue transmitir tudo o que os personagens fazem, pensam e sentem. E existem aquelas histórias que são contadas através de insinuações, de descrições que apontam para algo, mas que na verdade querem mostrar outra coisa. Com diálogos dúbios, que ficam no ar, na imaginação do leitor tentar descobrir o que significam. Mas, acima de tudo, com descrições de ações que só ficam claras tarde demais, quando o leitor é surpreendido e se assusta com a verdade.
Loney é esse terceiro tipo de leitura, que não é direcionada para o leitor apressado, que gosta de começar e terminar um livro rapidamente, sem se prender nas páginas, tentando compreender o que acabou de ler. A obra de Hurley não é contada pelas palavras de letras negras, mas, sim, com o que ele não escreve entre elas. Cada diálogo, cada pensamento, cada ação, por mais corriqueira que seja, é impregnada por um duplo sentido, por um aviso de que as coisas não são o que parecem, que cada um dos personagens é motivado e guarda uma verdade dentro de si que não deixa transbordar. Mais do que isso, eles provam, através de suas confissões, que são guiados por uma fé, que é mais uma obstinação, do que realmente um temor a Deus.
Smith, como narrador, não esconde suas próprias imperfeições. Ele não omite o peso que é cuidar do irmão, que é mudo e possui um pequeno grau de atraso mental. Ele se esgueira nas sombras para ouvir as confissões que são feitas ao padre Bernard, e esconde a verdade sobre a morte de Wilfred, o padre que o educou como coroinha. Acompanhamos sua indignação diante da insistência na peregrinação de sua família e vizinhos, comandada por sua mãe, na tentativa de realizar o milagre de curar o irmão. Rodeando todo esse clima de inverdades, temos uma região deserta, fria e hostil, com traiçoeiros pântanos de areia e mudanças de maré que isolam áreas e afogam desavisados. Temos o total isolamento de qualquer coisa que nos traga calor. Ou segurança.
Desde o capítulo inicial, até o penúltimo, o leitor sente, em todas as frases, que algo de muito ruim irá acontecer. É como se estivéssemos assistindo a um filme de suspense, onde a música alta fica constante por toda a película. E quanto começamos o último capítulo, o personagem principal, Smith, alerta que o que ele irá contar a seguir é terrível, é nojento, é totalmente inadmissível. E, mesmo assim, quando terminamos a página final, não sabemos o que pensar. Não sabemos se compreendemos o que acabamos de ler. Não sabemos, sequer, dimensionar o tamanho do horror que aquelas palavras significam. Mas ficamos com a certeza de que o ser humano não tem a menor ideia de como viver. No que acreditar. No tamanho dos atos de crueldade que é capaz de cometer. Não sabemos separar o bom do mau. O milagre da blasfêmia. A fé da obstinação cega. A verdade da total mentira.
"Deixei esta parte por último, mas ela deve ser registrada com o mesmo grau de detalhe de todo o resto. Quando eles chegarem fazendo perguntas, como certamente o farão, preciso que as coisas estejam bem claras, não importa o horror."
Após finalizar Loney, eu precisei pesquisar na Internet sobre o significado de seu final. E fiquei surpreso por constatar que muitas pessoas reclamavam do ritmo lento da narrativa, da falta de diálogos, da falta de ação e de um final que não se mostrava tão assustador quanto imaginavam. Bem, eu li um livro diferente dessas pessoas. Loney não é um terror onde existe sangue jorrando, onde fantasmas aparecem a cada capítulo ou onde o final é um duelo apocalíptico. Loney é muito mais assustador do que isso. É uma leitura intimista, que precisa ser apreciada e não absorvida às pressas, e que guarda o horror nos pensamentos e nas ações egoístas e escabrosas de cada personagem. Ele demonstra o quanto a convicção cega em uma fé, que não reflete a bondade de Deus, pode destruir vidas, de como o ser humano pode usar a crueldade como resposta para o que não deseja, em como nosso desinteresse no próximo pode direcionar os desesperançados para o precipício da morte, e em como a falta de esperança pode ser mais mortal que uma bala no coração.
O horror de Loney reside na essência egoísta do ser humano e na sua competência para realizar, e aceitar, atrocidades em nome de Deus. Ou de outro que não Ele.
Loney é esse terceiro tipo de leitura, que não é direcionada para o leitor apressado, que gosta de começar e terminar um livro rapidamente, sem se prender nas páginas, tentando compreender o que acabou de ler. A obra de Hurley não é contada pelas palavras de letras negras, mas, sim, com o que ele não escreve entre elas. Cada diálogo, cada pensamento, cada ação, por mais corriqueira que seja, é impregnada por um duplo sentido, por um aviso de que as coisas não são o que parecem, que cada um dos personagens é motivado e guarda uma verdade dentro de si que não deixa transbordar. Mais do que isso, eles provam, através de suas confissões, que são guiados por uma fé, que é mais uma obstinação, do que realmente um temor a Deus.
"Sentia-se como um homem afogado, debatendo-se em busca de algo em que se agarrar. Uma coisa que poderia ajudá-lo a se manter à tona por um pouco mais de tempo, mesmo que, no fim, ele estivesse fadado a afundar."
Smith, como narrador, não esconde suas próprias imperfeições. Ele não omite o peso que é cuidar do irmão, que é mudo e possui um pequeno grau de atraso mental. Ele se esgueira nas sombras para ouvir as confissões que são feitas ao padre Bernard, e esconde a verdade sobre a morte de Wilfred, o padre que o educou como coroinha. Acompanhamos sua indignação diante da insistência na peregrinação de sua família e vizinhos, comandada por sua mãe, na tentativa de realizar o milagre de curar o irmão. Rodeando todo esse clima de inverdades, temos uma região deserta, fria e hostil, com traiçoeiros pântanos de areia e mudanças de maré que isolam áreas e afogam desavisados. Temos o total isolamento de qualquer coisa que nos traga calor. Ou segurança.
Desde o capítulo inicial, até o penúltimo, o leitor sente, em todas as frases, que algo de muito ruim irá acontecer. É como se estivéssemos assistindo a um filme de suspense, onde a música alta fica constante por toda a película. E quanto começamos o último capítulo, o personagem principal, Smith, alerta que o que ele irá contar a seguir é terrível, é nojento, é totalmente inadmissível. E, mesmo assim, quando terminamos a página final, não sabemos o que pensar. Não sabemos se compreendemos o que acabamos de ler. Não sabemos, sequer, dimensionar o tamanho do horror que aquelas palavras significam. Mas ficamos com a certeza de que o ser humano não tem a menor ideia de como viver. No que acreditar. No tamanho dos atos de crueldade que é capaz de cometer. Não sabemos separar o bom do mau. O milagre da blasfêmia. A fé da obstinação cega. A verdade da total mentira.
"Deixei esta parte por último, mas ela deve ser registrada com o mesmo grau de detalhe de todo o resto. Quando eles chegarem fazendo perguntas, como certamente o farão, preciso que as coisas estejam bem claras, não importa o horror."
Após finalizar Loney, eu precisei pesquisar na Internet sobre o significado de seu final. E fiquei surpreso por constatar que muitas pessoas reclamavam do ritmo lento da narrativa, da falta de diálogos, da falta de ação e de um final que não se mostrava tão assustador quanto imaginavam. Bem, eu li um livro diferente dessas pessoas. Loney não é um terror onde existe sangue jorrando, onde fantasmas aparecem a cada capítulo ou onde o final é um duelo apocalíptico. Loney é muito mais assustador do que isso. É uma leitura intimista, que precisa ser apreciada e não absorvida às pressas, e que guarda o horror nos pensamentos e nas ações egoístas e escabrosas de cada personagem. Ele demonstra o quanto a convicção cega em uma fé, que não reflete a bondade de Deus, pode destruir vidas, de como o ser humano pode usar a crueldade como resposta para o que não deseja, em como nosso desinteresse no próximo pode direcionar os desesperançados para o precipício da morte, e em como a falta de esperança pode ser mais mortal que uma bala no coração.
O horror de Loney reside na essência egoísta do ser humano e na sua competência para realizar, e aceitar, atrocidades em nome de Deus. Ou de outro que não Ele.
Eu gostei muito da sinopse desse livro mas não sei se a leitura me agradaria parece que ele é realmente parado e eu geralmente não tenho paciência pq não consigo me apegar a história/personagens e no fim acaba se tornando uma leitura arrastada.
ResponderExcluirOlá Carlos! Estava ansiosa pra ler uma resenha do livro, e confesso que me surpreendi mto com a história, desses horrores humanos estamos rodeados né...Eu amei, qro mto conferir e saber mais detalhes da história e seus personagens!
ResponderExcluirParabéns pela resenha!
Bjs!
Oi Carlos
ResponderExcluirMuito bom seus comentários sobre o livro, por ter já lido outro livro do autor, eu imagina que seria um terror diferente, e vejo que não me enganei. Estou bem curiosa para lê-lo.
Beijos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/
Já estava bastante interessada em ler esse livro só pela sinopse, e agora depois de ver essa resenha fiquei ainda mais curiosa em conferi essa história.
ResponderExcluirParece ser uma historia diferente. É muito bom quando o autor consegue surpreender o leitor com suas reviravoltas, achamos que sabemos o que esta acontecendo e num instante não é nada daquilo. Fiquei muito curiosa com esse livro e com o que Smith tem a revelar. E acontece muito na vida real pessoas usarem o nome de Deus nas suas atrocidades.
ResponderExcluirOlá Carlos,
ResponderExcluirEsse livro está desde o lançamento na minha lista de desejados, gosto demais do gênero suspense e pela sua resenha sei que vou gostar e estou super curioso, não tenho pressa para terminar o livro.
Abraços.
devoradordeletras.blogspot.com.br
Quero! Tá, Parei
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirEstou com esse livro adicionado a minha lista de desejados, desde o lançamento. Gostei muito da premissa que o livro oferece e lendo sua resenha, mais certa fiquei de que será uma ótima leitura. Gosto muito de um suspense bem trabalhado, um terror mais psicológico e reflexivo. Então, por tudo que você falou a respeito da obra, com certeza vou gostar. Abraços.
Fiquei interessada pelo livro quando vi esta capa e li a sinopse. Sua resenha só acrescentou urgência a esta vontade. O livro parece bem intenso, capaz de tirar o leitor da zona de conforto. Com certeza vou ler.
ResponderExcluirOi,acho que o horror do livro está justamente nas mentes reais e doentes de algumas pessoas.
ResponderExcluirTalvez quem não gostou muito da história,estava esperando uma fantasia e não a verdadeira crueldade humana...
Já sou fã! nunca li mas esse livro me traz grandes expectativas...
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