Todo Dia - David Levithan

Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor. (Skoob)
LEVITHAN, David. Todo Dia. Galera Record: 2013, 280p.

Sempre tenho medo de ler algo quando as minhas expectativas são altas. É algo que não se tem como controlar, eu sei, ainda mais quando tantos leitores fazem inserem um livro entre seus favoritos e tecem inúmeros comentários sobre a história ser tão maravilhosa. Não foi assim para mim, infelizmente. Todo Dia, de David Levithan, foi uma leitura boa, muito boa, mas não chegou a me tirar dos eixos nem ganhou meu coração.

"Todo dia sou uma pessoa diferente. Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa. 
Sempre foi assim."

Nas primeiras 100 páginas, fiquei me perguntando o que, afinal, tinha conquistado os leitores. São somente várias vidas que A nos apresenta e que vive sem interferir, isto é, não vive. Depois de um tempo, percebi-me mergulhada no enredo e, assim como Rhiannon, queria entender que corpo A assumiria no dia seguinte e logo me vi voando nas páginas para terminar a obra e compreender o que aconteceria na vida dos personagens.

"Sou um andarilho e, por mais solitário que isso possa ser, também é uma tremenda libertação. Nunca vou me definir sob os mesmos critérios das outras pessoas. Nunca vou sentir a pressão dos amigos ou o fardo das expectativas dos pais. Posso considerar todo mundo parte de um todo, e me concentrar no todo, não nas partes. Aprendi a observar, muito melhor do que a maioria das pessoas faz. O passado não me ofusca, nem o futuro me motiva. Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver."

A narrativa em primeira pessoa por parte de A aproxima o leitor do personagem e ajuda a entender a condição do protagonista de uma forma natural - não é estranho vê-lo pensar em sua situação, nem forçado quando ele nos faz aceitar sua situação. Pelo ponto de vista dele, também é fácil nos questionarmos a respeito de muita coisa, do modo como vivemos, dos padrões de beleza, do amor pelo amor, sem interesse, e dos tantos outros preconceitos que temos inconscientes. Como ter preconceito em relação a ser homem ou ser mulher, em relação a amar alguém do mesmo sexo ou de sexo diferente, quando se pode ser qualquer coisa diferente todos os dias e ver que, no fundo, todos são apenas pessoas?

O melhor de tudo foi a forma como David Levithan mostrou como as diversas experiências de A trouxe a ele uma compreensão do mundo que quase ninguém tem, uma tolerância e um desapego quase inexistentes hoje. Porque, no fim, o que ele queria era que permanecessem as pessoas, as lembranças. Eu achei lindo como o sentimento de bondade vindo de outra pessoa, o amor por todos sem distinção, fez com que o personagem quisesse mudar, quisesse deixar sua marca no mundo e fazer a diferença.

"Essa é a armadilha de ter algo para o qual se viver:
Todo o resto parece sem vida."
 
Quando teve a oportunidade de ter o que queria, A deixou de lado por amor, por princípios.  Acredito que nunca, na literatura, encontrei alguém menos egoísta e com tanta pureza para simplesmente fazer aquilo que era certo, deixando a si mesmo de lado.

Porém, foi essa mesma abdicação que me conquistou que fez com que o livro terminasse bom, mas não perfeito. Porque A abriu mão das respostas que ele e eu tanto queríamos e, talvez nem seja esse o motivo exato, mas eu senti que algo faltou ao livro, algo que realmente me convencesse e ganhasse meu coração. Porque por mais que A tivesse sentido o amor, buscado uma forma de viver o sentimento - o mais puro deles, devo dizer -, isso nunca aconteceu por inteiro, já que ele sempre foi apenas uma parte de alguém. E por mais que eu gostasse de A exatamente por ser quem era, eu o queria por inteiro no final.

"O que acabou me criando problema foi o conceito de 'amanhã'. Porque, depois de um tempo, comecei a perceber que as pessoas continuavam a falar sobre fazer coisas no dia seguinte. Juntas. E, se eu questionasse, me olhavam de um jeito estranho. Para todas as outras pessoas parecia haver um amanhã em comum. Mas não para mim. E eu dizia: 'Você não vai estar lá", e elas respondiam: 'Claro que vou.' Então eu acordava e elas não estavam lá. E meus novos pais não tinham ideia do motivo da minha chateação."

Todo Dia é lindo, não há como negar, só não conseguiu me conquistar inteiramente e não chegou perto de se tornar meu favorito.

Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

3 comentários:

  1. Oie Ju =)

    Confesso que a principio não tinha muita curiosidade a respeito dos livros desse autor. Mas, ai entre uma resenha e outra acabei dando o braço a torcer e adquiri esse livro em e-book.
    Ainda não tive a oportunidade de ler, mas espero me encantar como todos que já leram ^^

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  2. Oi, Ju!
    É uma pena que você não tenha se encantado tanto com este livro. Eu adorei a leitura de "Todo Dia". Não entrou para a lista de favoritos, mas foi uma ótima leitura. E todas as mensagens que o autor quis passar me encantaram.
    Espero que leia "Dois Garotos se Beijando" e se encante mais. É o melhor livro dele em minha opinião.
    Adorei saber sua opinião.
    Abraço!

    "Palavras ao Vento..."
    www.leandro-de-lira.com

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  3. nunca li nada do Levithan ainda. vi resenhas divididas sobre Todo Dia mas todas com esse mesmo desprendimento do personagem, um ser altruísta é o que A é. e acho que o autor acertou em fazer o leitor sentir o que A sente mas não se conformar com certas atitudes dele. tenho curiosidade em ler Todo Dia, quem sabe agora eu comece =)

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