Os companheiros do crepúsculo - François Bourgeon

Sinopse: Os Companheiros do Crepúsculo se passa na Idade Média durante a Guerra dos Cem Anos. A história é centrada nos personagens do Cavaleiro, Mariotte e Anicet, em sua busca por redenção ou pela simples sobrevivência. Misturando fantasia e lutas sangrentas, cenas cotidianas e um tom de erotismo, um dos destaques desta obra-prima das HQs é o belo e detalhado traço do autor, que transporta os leitores para os cenários e o clima da época. Imperdível para quem gosta de grandes histórias e para os amantes da arte dos quadrinhos! (Skoob)

BOURGEON, François. Os Companheiros do Crepúsculo. Nemo, 2013. 240 p.

Passada na Idade Média, durante a Guerra dos 100 Anos, Os Companheiros do Crepúsculo é considerado um dos melhores álbuns de quadrinhos de todos os tempos e é uma leitura essencial para qualquer amante dos quadrinhos. Não apenas pela história, que mistura fantasia com acontecimentos normais para a época, mas também pelo erotismo, pela caracterização histórica, pelos detalhes dos cenários e objetos em cada quadrinho, pela qualidade dos desenhos e das cores, frias como o coração da maioria dos personagens. Sim, porque a crueldade está tão presente quanto a delicadeza, talvez até em maior quantidade.


Certos trechos são difíceis de ler e olhar. Ao contrário de um livro, não podemos imaginar determinada cena com um aspecto menos repugnante do que o autor transmite. Os desenhos de Bourgeon deixam bem claro o que as palavras poderiam deixar passar. Aí você tem que olhar para o lado para seu estômago não revirar. O pior é que, se você pesquisar os anos em que a história se passa, ficará ainda mais chocado ao constatar que era exatamente assim que as pessoas viviam e agiam.


Mariotte é uma jovem e bela camponesa que vive sendo hostilizada pelos habitantes de sua vila. Tudo, porque ela é criada pela avó, de quem todos suspeitam ser uma bruxa. É fácil se apaixonar pela imoralidade e inconsequência de Mariotte, mesmo que isso acarrete a morte de inocentes. Logo no início da história, o leitor se depara com o que isso significa. Os quadrinhos que mostram o resultado de uma vingança, inicialmente inocente, são de chocar. Mesmo assim, compreendemos as atitudes da jovem, uma vez que antes desse acontecimento, o autor nos descreve pelo que ela passa diariamente e o quanto de raiva que ela acumula.


Anicet é um outro jovem morador da vila e o principal perseguidor de Mariotte. Ao longo da história fica claro que ele é apaixonado pela moça, mas sua covardia e desonestidade só causa um afastamento cada vez maior dela. No início, antipatizei com o personagem. Ao contrário de Mariotte, é fácil odiar Anicet, que faz qualquer coisa para sobreviver, sem se importar com os dois companheiros ou com qualquer outra pessoa. Mas aí me localizei no local e época em que eles vivem, onde a selvageria e o individualismo eram maiores do que qualquer racionalidade ou sentimento, e, aos poucos, ele se tornou menos antipático.


O Cavaleiro é o terceiro personagem e é quem resgata Mariotte e Anicet do que restou da vingança da moça. Ele é um homem de rosto tão deformado quanto sua alma. Isso devido a um erro que cometeu e que custou a vida da mulher que amava. Usa o elmo de sua armadura durante a maior parte do tempo, mas mesmo quando está sem ela, os enquadramentos e posições desenhadas por Bourgeon escondem a parte desfigurada do rosto. Suas atitudes, ao contrário de Mariotte e Anicet, são sempre calculadas para um objetivo: se redimir e condenar os responsáveis pelo erro que cometeu.


O Cavaleiro, Mariotte e Anicet são completamente diferentes entre si. Tanto em personalidade quanto em moralidade. Juntos, vivem três aventuras divididas nos álbuns lançados entre 1984 e 1991: O Sortilégio do Bosque das Brumas, Os Olhos de Estranho da Cidade Glauca e O Último Canto das Malaterre. A edição lançada pelo Nemo reúne os três, o que torna o entendimento da história mais fácil. Isso, porque a realidade do que passam se confunde com aventuras repletas de seres fantasiosos, que vivem em lugares que não deveriam existir.


O último álbum é o que contém a aventura mais longa, a mais verídica e a mais cruel. Sem seres fantásticos, os três precisam lidar com inimigos mortais, que não possuem qualquer pudor em matar, molestar e trair. E percebemos, por se tratar da última parte, que qualquer um dos três pode terminar morto nas mãos deles.

Cada quadrinho de Os Companheiros do Crepúsculo deve ser apreciado com cautela, porque os detalhes são muitos. Não leia como se fosse um gibi de heróis, do contrário vai ser perder na sequência de eventos e deixar passar as mensagens escondidas nos cantos de linhas retas. Os diálogos são complexos e cheios de informações; os desenhos, exprimem os olhares de cada personagem com dualidade, deixando o leitor sem saber em quem pode ou não confiar, o que demonstra a genialidade do autor.


Os Companheiros do Crepúsculo, apesar de ser uma leitura obrigatória, não é fácil de ler e nem é para qualquer pessoa. A crueldade e frieza da época podem incomodar os mais sensíveis. Mas não são assim a melhores obras de arte? O que elas conseguem causar em quem as admira?
Carl
Carl

11 comentários:

  1. Oi Carlos,
    Você sabe que eu não sou muito adepta dos quadrinhos, mas você, principalmente, e a Sofia, na última resenha, estão me deixando curiosos? As fotos que colocaram de cada quadrinho têm mostrado que muita coisa pode ser dita além das palavras, e as resenhas intensas de vocês mostram que tudo vai além de simples desenhos. Adorei a resenha :)

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    1. Olá, Ju!
      Está deixando passar obras de muita qualidade. Já foi época que quadrinhos era coisa de criança, ou só de menino. Como disse naquela resenha do Batman, a coisas mudaram,e muito! Hoje existem quadrinhos que dão um banho em muito livro! rsssss
      Bjs

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  2. Achei interessante a história, mas como não curto quadrinhos, não me interessei muito, mas a resenha está ótima, e com certeza quem curte quadrinhos vai gostar.

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  3. Oie Ju =)

    Awn *-* Como não amar quadrinhos <3!
    Eu sou suspeita por que adoro desde de sempre.
    Já adicionei esse na minha listinha *-*

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Oie!

    Adorei a resenha, e apesar de não gostar muito de quadrinhos nesse estilo, fiquei bem curiosa.
    Saudades de passar aqui no seu blog.

    Marina Lima.
    |Meu Doce Apartamento | Literatura, Culinária, Caseirices & muito amor ♥

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  6. Oi Carlos, veio me aventurando em HQ's ultimamente e já anotei a dica, porém não para agora, vou esperar ficar mais ambientada neste forma de leitura e aí sim, me dedicar a uma leitura mais densa como esta.

    Beijos,
    Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  7. Oi, Carlos!
    Eu não costumava me aventurar muito nos quadrinhos, apesar de não ter nenhum problema com eles, só que hoje eles me chamam bem mais atenção do que antes. Achei interessante a ambientação desse livro, mas confesso que as ilustrações não me conquistaram :/ Acho que o mais interessante nessas obras é a quantidade de informações.

    Beijo

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  8. Nossa curto muito HQs e história que se passam na época da Idade Média, fiquei doida pra ler esse livro, foi pra lista de desejados.

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  9. sem duvida, são quadrinhos de uma intensidade que incomoda, mas acredito que esteja justamente aí o que prende a atenção do leitor. é uma história crua, sem muita suavidade, mas válida. quando tiver oportunidade, quero conhecer.

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  10. Essa HQ deve ser maravilhosa,eu nem sou tão adepta assim mas gostei.As ilustrações conseguem deixar a história ainda mais intensa,por que ler é uma coisa mais visualizar dá uma vivacidade sem tamanho.A história em si me interessou muito,tanto que já quero arrumar onde comprar.

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