Estação Onze - Emily St. John Mandel

Sinopse: Certa noite, o famoso ator Arthur Leander tem um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de Rei Lear. Jeevan Chaudhary, um paparazzo com treinamento em primeiros socorros, está na plateia e vai em seu auxílio. A atriz mirim Kirsten Raymonde observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto as cortinas se fecham, mas o ator já está morto. Nessa mesma noite, enquanto Jeevan volta para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados, e pela janela do apartamento em que se refugiou com o irmão, Jeevan vê os carros bloquearem a estrada, tiros serem disparados e a vida se desintegrar.
Quase vinte anos depois, Kirsten é uma atriz na Sinfonia Itinerante. Com a pequena trupe de artistas, ela viaja pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes.
Abarcando décadas, a narrativa vai e volta no tempo para descrever a vida antes e depois da pandemia. Enquanto Arthur se apaixona e desapaixona, enquanto Jeevan ouve os locutores dizerem boa-noite pela última vez e enquanto Kirsten é enredada por um suposto profeta, as reviravoltas do destino conectarão todos eles. Impressionante, único e comovente, Estação Onze reflete sobre arte, fama e efemeridade, e sobre como os relacionamentos nos ajudam a superar tudo, até mesmo o fim do mundo. (Skoob)
MANDEL, Emily St. John. Estação Onze. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. 320 p.

Como você se sentiria se o mundo que você conheceu simplesmente deixasse de existir? Do que sentiria mais falta?

99,9% da população mundial morreu com o surto de uma gripe altamente contagiosa e letal e, em pouco tempo, não havia mais energia elétrica, água encanada, sinais de telefone, internet. Os aviões deixaram de decolar e a gasolina estragou em pouco tempo, então também não havia mais carros e motores. É nesse "novo" mundo que se passa a história de Estação Onze, de Emily St. John Mandel.

Diferente de qualquer outro livro pós apocalíptico que eu já li, Estação Onze não é assustador, não traz aquele desespero comum em obras do gênero, que nos fazem sentir como se não existisse solução a não ser simplesmente sobreviver. Talvez por essa característica, ou pela ausência dessa característica, seja tão difícil definir a obra. Enquanto lia, eu percebia nas entrelinhas uma esperança infinita, uma vontade de fazer daquela nova vida uma vida.

"Todos os trailers da Sinfonia Itinerante estão assinalados com esse nome, 
SINFONIA ITINERANTE grafado em letras brancas dos dois lados, mas o trailer da frente leva dizeres adicionais: Porque sobreviver não é suficiente."

O enredo se passa vinte anos depois da doença, e a passagem desse tempo foi essencial para demonstrar que os que sobreviveram - e alguns que, inclusive, nasceram naquela nova realidade - puderam se habituar ao "mundo novo". Intercalados a esses trechos, outros narravam momentos de alguns personagens naquele período em que doença alcançava grandes proporções.

No novo presente, acompanha-se Kirsten e a Companhia Intinerante, que viaja de cidade em cidade para levar arte; nos outros capítulos, sabe-se o que aconteceu aos outros personagens que tinham caminhos entrelaçados, como Arthur, Clark, Miranda, Elizabeth e Jeevan.

"Vinte anos após a calamidade, eles continuavam viajando para cima e para baixo, pelas margens dos lagos Huron e Michigan; para oeste, chegando até Traverse City; a leste e ao norte, além do paralelo 49, até Kincardine. [...] A Sinfonia apresentava músicas - clássica, jazz, arranjos orquestrais e canções pop anteriores à calamidade - e Shakespeare. Às vezes, nos primeiros anos, apresentavam peças mais modernas, porém, o que era espantoso, o que ninguém poderia prever, era que o público parecia preferir Shakespeare aos demais espetáculos teatrais.
- As pessoas querem o que houve de melhor no mundo - dizia Dieter."

O importante na obra não era o que aconteceria depois de toda aquela devastação, mas o que havia acontecido de fato. Mandel interpôs, com sutileza, sua visão sobre o que esperaria das pessoas, a capacidade que teriam de superar e se adaptar, independente da dor que as mudanças tivessem causado. Também não era importante o que teria causado aquela calamidade. Em momento algum se fala sobre isso.

Estação Onze aborda, na verdade, relacionamentos e a importância que se dá atualmente a coisas voláteis, como a fama e o dinheiro e que, de uma hora para outra, podem não fazer mais diferença alguma. É o tipo de leitura que faz refletir sobre o que está escrito e o que está nas entrelinhas. Arthur é o maior exemplo da grande mensagem que a autora quis passar, e seu último capítulo ilustra fielmente que existem coisas maiores que a efemeridade. E que, ao mesmo tempo, tudo é efêmero, e depende de nós fazer valer a pena.

Eu não consegui largar o livro quando comecei, e até agora sinto a chama da esperança acesa em mim. Porque não importa quão grandes sejam os problemas, não importa a dimensão da devastação, é preciso seguir em frente, sobreviver e, ainda mais importante, viver. Dr. Onze e sua Estação Onze são as maiores provas disso.

















Ju
Ju

Apaixonada pela leitura desde a infância, tantos livros lidos que é impossível quantificar. Alguém que vê os livros como uma forma de viajar o mundo e lugares mais incríveis que possam ser criados pela imaginação, sem precisar sair do lugar. Tem o blog como uma forma de dividir experiências e, principalmente, as emoções que as leituras despertaram, para compartilhar idéias e aproveitar sugestões de leitura, envolvendo mais e mais pessoas em um mundo onde a imaginação não tem limites.

9 comentários:

  1. Oi Ju
    Gostei muito da sua opinião sobre o livro, foi primeira resenha dele que li e fiquei bem curiosa para conhecer a obra. O que mais me chamou a atenção foi o tema.

    Beijos

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  2. Oiee
    Eu quero ler esse livro mas por curiosidade mesmo,por que ele não despertou nenhuma sensação assim tão drástica em mim.É bom saber que você gostou tanto assim dele,pelo menos se decepcionar eu não vou.Essa capa está muito linda,a Editora parece ter sido super cuidadosa com a obra.
    Beijos

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  3. Oi Ju! Eu vi alguns comentários nada animadores sobre a obra, mas a sua resenha veio para me dar uma outra visão da história, confesso que estou repensando e possivelmente vou ler, o tema em si é interessante, espero que me capture facilmente.


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  4. sem dúvida é uma distopia diferente. sem focar na desgraça, na dor e sim no que realmente importa em livros assim que é a esperança do melhorar e tem uma boa mensagem, refletir o que vale a pena. não conhecia o livro, vou procurar mais sobre ele =)

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  5. Adorei sua resenha!
    Não conhecia muito sobre o livro, mas depois de seus comentários positivos na resenha não tem como não tê-lo adicionado em minha lista de leitura, adoro o tipo de livro que não se consegue parar de ler até chegar no final, fiquei ansiosa demais para começar a ler.

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  6. Ei Julia

    Uau, adorei a resenha. Eu recebi o livro, mas nem tinha olhado ainda sobre o que era, acredita? rsrs. Agora quero ler logo!!
    bjs

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  7. Já estava bastante interessada em ler esse livro só pela sinopse, e agora depois de ver essa resenha fiquei ainda mais ansiosa em conferi essa história, curto muito uma leitura que faz refletir, parece ótima, bem emocionante.

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  8. O que sabia desse livro tão bem falado em vlogs e outros blogs é que ele é uma distopia e que promete ser muito bom. Sua resenha me esclareceu melhor sobre ele e ainda bem que ele não é mais do mesmo. Gosto dessa trama trazendo mensagens importantes sobre a vida, sobre a efemeridade de algumas coisas e complexos relacionados à nossas vidas que a gente nem sempre para pra pensar. Entrou pra minha lista de desejados, com certeza <3 Sua resenha me instigou mais ainda com a leitura desse livro, gostei muito.

    Beijos
    http://mon-autre.blogspot.com.br/

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  9. Oie Ju =)

    Apesar de já ter visto esse livro em alguns blogs e redes sociais, a sua é a primeira resenha que leio dele. Confesso que tinha em mente outro tipo de história, mas após ler a sua resenha fiquei intrigada para conhecer melhor a mensagem que o livro passa. Me pareceu ser um daqueles livros que ficam com a gente por um bom tempo.

    Beijos e um ótimo final de semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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