DESSEN, Sarah Os bons segredos. Editora Seguinte, 2016. 408 p.Sinopse: Há segredos muito bons para serem guardados — e livros muito bons para serem esquecidos. Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, o queridinho da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paraplégico, e vai parar na prisão. Sem a referência do irmão, a garota muda de escola e passa a questionar seu papel dentro da família e no mundo. Então ela conhece os Chatham. Inserida no círculo caótico e acolhedor dessa família, Sydney pela primeira vez encontra pessoas que finalmente parecem enxergá-la de verdade. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, Os bons segredos conta a história de uma garota que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho. (Skoob)
Sydney, a narradora e personagem principal de Os bons segredos, se sente excluída da sua família, porque os pais só se preocupam com Peyton, o seu irmão mais velho. Ele é um garoto que teve tudo, além de ser simpático e muito bonito. Mesmo assim, jogou tudo fora com atitudes de um vândalo, marginal. Uma noite, dirigindo bêbado, ele atropela um garoto chamado David, que fica paralítico. Peyton é preso.
Os pais de Sydney não a notam. Eles apenas se preocupam em como Peyton está conseguindo superar a vida dentro de um presídio. Não se preocupam, sequer, em saber como está o garoto que foi atropelado. Então, Sydney, inconscientemente, assume sozinha toda a culpa moral do acontecido. E se tortura com isso.
Depois de mudar para um novo colégio, ela acaba criando amizade com Layla e Mac, dois irmãos que são donos de uma pizzaria. Através dessa relação, Sydney começa a enxergar a vida de forma diferente, além de conseguir forças para confrontar a situação dentro de sua casa. Que é agravada com a presença constante de um amigo de Peyton, que a assedia de forma cada vez menos discreta.
Os bons segredos é uma história reflexiva, sem ação ou acontecimentos marcantes. Na verdade, até o romance entre Sydney e Mac, por quem ela se apaixona aos poucos, não chega a ter um destaque. O que importa, realmente, são os sentimentos e a responsabilidade moral diante de um acidente que causa o sofrimento de duas pessoas (Peyton e David), e a relação de uma adolescente que não consegue apoio familiar.
Durante boa parte do livro, o leitor é levado a ficar com raiva, muita raiva, dos pais de Sydney. Não pelo que eles fazem, mas pelo que não fazem. Mas lá para o fim, quando Sydney, por acidente, faz algo que não devia e fica de castigo, mesmo sendo seu pecado infinitamente inferior aos que o irmão cometia, e depois de um diálogo que ela tem com a mãe, é que eu compreendi a real posição dos pais dela.
Não gosto de envolver citações religiosas, mas esta se aplica perfeitamente à essência de Os bons segredos: não é o filho perfeito que precisa de atenção, mas, sim, aquele que está perdido e não encontra o caminho. Essa é a moral da obra de Sarah Dessen. Por mais injusto que possa parecer, em algumas situações, precisamos abrir mão da atenção de nossos pais, para que eles consigam salvar algum membro da família. Mas isso não é fácil de compreender, ou de aceitar. Ainda mais quando estamos na fase de amadurecimento.
Ainda bem que existem livros que podem nos ajudar. ;)