A Semana
Aconteceu naquele verão, organizada pela
Editora Intrínseca, continua e o tema de hoje é
Uma história interessante ou misteriosa que já aconteceu no verão. Eu fiquei muito, muito indecisa sobre qual história contar para vocês, mas, inspirada por esse livro de contos incríveis, decidi pôr a cabeça para funcionar.
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Era noite e eu dirigia havia duas horas depois de um dia especialmente difícil. O sol sumira do horizonte havia algum tempo e, mesmo sem ele, o calor não dava trégua. Com os vidros do carro abaixados até onde era possível (nem tudo funcionava bem no veículo, infelizmente) uma brisa quente sacolejava meus cabelos úmidos de suor.
O caminho até a casa de veraneio não era dos mais agradáveis, considerando meu carro simples e as estradinhas de terra pelas quais tinha que viajar, mas eu só conseguia pensar que em aproximadamente uma hora eu poderia me permitir o desejado descanso. Eu teria todo o mês para caminhar pela areia e nadar nas águas cálidas daquela praia onde meus pais e meu irmão mais novo me aguardavam.
Eu passava pelo lugar mais isolado do caminho quando o carro começou a desacelerar e, com um estalido baixo, parou completamente. Peguei o celular dentro da bolsa, mas, como eu imaginava, não havia resquício de rede. Era inacreditável a minha falta de sorte. Fazia pouco mais de quinze minutos que eu havia deixado para trás o último aglomerado de casas da região. O próximo provavelmente se localizava uns trinta quilômetros à frente. Tudo que eu podia ver, além da estradinha de terra, independente da direção para a qual olhasse, era um campo verde e algumas árvores. Eu estava sozinha, no meio do nada, com um carro quebrado.
Mesmo sem experiência e qualquer conhecimento sobre mecânica, abri o capô e espiei lá dentro. Nada fazia muito sentido para mim, mas mantive meu olhar sobre o motor e seus companheiros por mais dois ou três minutos. Voltei para o interior do carro e girei a ignição. Nada. Meus instintos me faziam querer chutar a lataria e gritar de raiva, mas eu sabia que precisava pensar com clareza para decidir o que fazer. Saí do carro para esticar as pernas enquanto me acalmava, quando ouvi uma voz intensa e masculina às minhas costas:
– Tenho a impressão de que você precisa de ajuda.
Olhei na direção de onde vieram essas palavras enquanto tentava fazer meu coração desacelerar depois do susto. A voz pertencia a um homem forte e alto, com olhos azuis escuros intensos e que parecia estar envolto em uma névoa esbranquiçada. A luminosidade que me permitia enxergar o homem com clareza parecia provir dele mesmo e meu coração parou por um instante, antes de começar a bater enlouquecido outra vez. Sempre achei que veria algo semelhante se estivesse diante um fantasma, mas era assustador demais pensar naquilo.
– Qu... Quem é você?
O medo era nítido em minha voz, mas não foi possível controlar aquele sentimento. Minha mente gritava "de onde esse cara saiu?" e eu não conseguia imaginar qualquer resposta lógica para essa pergunta.
– Você não acreditaria se eu dissesse.
O homem tinha uma voz suave e tranquila, mas isso não ajudava em nada. Aquela luz que ele emanava não podia ser considerada normal e, quanto mais eu tentava racionalizar o que meus olhos viam, mais eu percebia que aquilo não podia ser desse mundo. Além disso, a forma como ele respondeu a minha pergunta foi mais assustadora do que se ele tivesse dito que era realmente um fantasma, como eu imaginava.
– O que é você?
Fiz um esforço para pronunciar essas palavras com alguma dignidade, mas elas saíram embargadas das lágrimas que tomavam meus olhos. Meus joelhos cederam e, quando tocaram o chão, toda a racionalidade já havia me abandonado, então me entreguei à vontade incontrolável de chorar. Em segundos os soluços tomaram conta de meu corpo e o rosto estava banhado em lágrimas.
Eu não estava com medo, eu estava apavorada. Sempre achei que fosse corajosa o bastante, mas nunca pensei que veria algo assim em toda a vida. Eu sabia que o homem à minha frente era diferente, mas que eu não sabia o que ele era, e quanto mais eu tentava me acalmar e dizer para mim mesma que eu não tinha razão para ficar assim, mais vergonha e medo eu sentia e mais chorava.
O estranho se aproximou cautelosamente e, com delicadeza, tomou minhas mãos.
– Ei... eu realmente sou algo que não posso explicar, mas você me conhece. Luiz, lembra?
Então eu me lembrei. Foi como se a menção ao nome abrisse uma comporta e fizesse desmoronar sobre mim uma enxurrada de lembranças. Lembrei dos verões que compartilhamos quando crianças, das brincadeiras na água e das guerras de sorvete. Lembrei dos passeios de bicicletas e dos piqueniques no parque e também da intensidade daquele olhar quando a ingenuidade da infância começava a ficar para trás. Lembrei da noite, há dez anos, em que fiquei esperando por ele e estava decidida que o beijaria, mas ele não apareceu. E ele nunca mais apareceu. Até esta noite.
– Por quê?
– Eu não posso te dizer o que sou, mas mesmo que você não me veja, estou o tempo todo com você. Sempre. E eu estou aqui agora porque quero te ajudar e porque sei que você precisa de ajuda – como se lesse meus pensamentos, ele sabia que minha pergunta não se referia a apenas agora, então a resposta abrangia diversas variáveis.
– E aquela noite... por que não foi? Por que desapareceu?
Outro tipo de desespero começava a tomar conta da minha voz, e eu o via refletido também em seus olhos.
– Eu sabia o que aconteceria e era tudo o que eu mais queria. Mas eu não podia. Não podia ser visto à noite, e agora você sabe bem porquê. Não podia me apaixonar, mas já era tarde. Então meu castigo foi não ser visto, por ninguém, por dez anos.
– Eu achei que...
– Eu nunca fugiria de você – ele não me deixou concluir, mas pareceu ler meus pensamentos. – E eu preciso muito fazer uma coisa, mesmo que saiba que provavelmente nunca mais poderei encontrar você.
Ele mal terminou de pronunciar a última palavra quando senti seus lábios nos meus. Meu coração começou a bater enlouquecidamente outra vez, mas agora por outro motivo. Deixei-me levar por aquele sentimento, a intensidade dos nossos lábios colados um ao outro em misto de necessidade urgente e delicadeza. Depois de dez anos, pude finalmente sentir o sabor dele em minha boca e foi tão delicioso quanto eu esperava, com todas as frustrações da falta dele me deixando. Eu mesma me sentia em queda livre, como se uma espécie de torpor estivesse tomando conta do meu corpo.
Quando o beijo teve fim, senti meu corpo pesado e meu cérebro enevoado. A confusão parecia tomar conta de mim, pois eu não estava mais no meio do nada, e sim em minha cama, na casa de veraneio. Percebi que ainda vestia as roupas com que viajei na noite passada, e a chave do carro estava na mesinha de cabeceira ao meu lado. Abri a janela, e o carro estava estacionado no espaço de cascalho ao lado da casa. Corri até lá, e o motor funcionou sem qualquer problema. Havia sido apenas um sonho, então.
O sonho mais vívido que já tive, definitivamente. Acho que as recordações nos recônditos desse lugar devem ter despertado essas lembranças tão antigas e reacendido meus desejos esquecidos, tão mais aflorados no verão. Pode ter sido isso. Não pude evitar que uma pontada de desânimo se abatesse sobre mim, porque esses acontecimentos emocionantes e românticos sempre limitam a acontecer somente nos meus sonhos. Sentei-me no pequeno sofá posicionado na varanda e olhei para as mãos cruzadas no meu colo. Foi quando vi, nos joelhos do jeans usado na noite passada, ainda no corpo, as marcas de ter me ajoelhado na terra da estrada.
~~*~~*~~
Claro que eu não tenho nem metade do dom dos autores de Aconteceu naquele verão para escrever um conto, mas tentei aguçar a curiosidade com uma história minha. E aí, o que acharam?
Oi Ju
ResponderExcluirNossa que legal, gostei da sua história e me deixou sim curiosa pelo livro. Ainda não tive contato com a obra, mas adoro livros de contos.
Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/
Oi, Ju!!
ResponderExcluirAdorei o seu conto!! Simplesmente maravilhoso, sem dúvida aguçou e muito minha curiosidade!! Acho que vou amar esse livro!!
Beijoss
Amei o seu conto, você com certeza consegue escrever muito bem. Fiquei super curiosa, e queria muito saber mais sobre a história. Parabéns!
ResponderExcluirAbraços :)
UAU! Que história incrivel, gostei dela demais. Fiquei imaginando ela em forma de 300 páginas, bem detalhada, contando flash's da infancia, do dia. Nossa gostei bastante, tu tens talento em! E nao vejo a hora de ler este livro.
ResponderExcluirOi Ju! Amei o seu conto, você escreve muito bem, parabéns, estou super curiosa para ler esse livro, curto muito contos, alguns desses autores já conheço e gosto da escrita dos mesmos e outros é uma excelente oportunidade para isso.
ResponderExcluirBjs
Que bacana Ju!!
ResponderExcluirParabéns!
Mais que nunca qro ler esse livro!
Bjs
Oiii ! adorei seu conto !! ótimo mesmo, você tem talento ein, gostei de saber que o que ela passou não era um sonho e que realmente aconteceu, você bem que poderia continuar com a história né hahah !
ResponderExcluirNossa que legal adorei sua historia achei que era conto do livro kkk. E confesso que achei quando o homem apareceu iria acontecer algo de terror, acho que estou numa onde de livros de terror rs. E me pegou com o sonho, pensei que pena achei que era real. Parabéns deveria escrever mais.
ResponderExcluirEu amei!! pensei que era um trecho do livro kkk
ResponderExcluirEle era um anjo só pode!! Amo demais!!!
rsrrs, essa era minha intenção Thaynara :)
ExcluirAdorei seu conto, não consegui parar de ler, eu imaginava um fantasma, mas acho que é outro ser sobrenatural, fiquei na dúvida. Você escreve muito bem, o conto me prendeu muito, li rápido para chegar até o fim e depois voltei, querendo entender mais...rs... Parabéns!
ResponderExcluirAbraço!
A Arte de Escrever
Que conto lindo, e apesar de você não ter a experiência dos autores, posso te dizer com toda certeza que o dom da escrita você tem, pois consegui sentir a profundidade dos sentimentos dos personagens. Parabéns adorei.
ResponderExcluirJu!
ResponderExcluirAdorei seu conto romântico e sobrenatural, passado ainda durante o verão.
Nem sabia que você escrevia tão bem... parabéns!
“O saber é saber que nada se sabe. Este é a definição do verdadeiro conhecimento.” (Confúcio)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de FEVEREIRO, livros + KIT DE MATERIAL ESCOLAR e 3 ganhadores, participem!
Nossa Ju,que lindo conto!
ResponderExcluirLeve,misterioso e romântico...
E tem tudo a ver com o livro. Um amor de verão. 🌞
Amei!
Parabéns pela história. Ficou super ótima.
ResponderExcluirGostei muito mesmo.