TRIGUEIRO, Marcel.
. Editora Bookmakers, 2013. 462 p.
O terror estava se espalhando pelo Brasil. O terrorista, de alguma forma conseguia informações, inclusive algumas mais íntimas, da vida de milhares de cidadãos. E, no Rio de Janeiro, a ameaça era concreta: alguns dos que recebiam e-mails avisando de sua própria morte eram mesmo assassinados. Proporcionalmente, talvez fosse um número pequeno de mortes, mas suficiente para alavancar o pânico.
Matheus Erming, perito da Polícia Federal, especialista em Computação Forense, estava encarregado dessa investigação. Mas as coisas não eram tão fáceis quando as investigações saíam de seu campo de investigação, ao tempo em que a ameaça começava a se aproximar, e mesmo sua família, a quilômetros de distância, poderia estar em perigo.
"Gabriela relaxou um pouco. Em cinco minutos saberiam, afinal, que surpresa seu chefe preparava. Terminada a contagem regressiva, uma mensagem diferente, de outro remetente, chegou à caixa de entrada de Gabriela, que já estava atenta ao software de e-mail.
'Hora da explosão - Remetente: aabjc023@gmail.com'
Gabriela associou imediatamente aquele remetente às ações terroristas. Todos entraram em pânico. Decerto a mensagem fora enviada aos demais funcionários. Instintivamente, se levantaram das suas cadeiras e começaram uma fuga desordenada. Gabriela, com lágrimas de desespero nos olhos, pensou na mochila abandonada na mesa próxima a elas. Ela e sua amiga correram para a saída das baias, tropeçando nas próprias cadeiras. Gabriela pensava na filha da amiga, ansiando para que aquele fosse um dos casos de ameaça não concretizada de terrorismo. Para o seu azar, não era o caso." (p. 139)
Quando recebi um e-mail de Marcel Trigueiro perguntando se eu estaria interessada em ler e resenhar seu primeiro livro,
O Próximo Alvo, logo aceitei. Há tempos venho me surpreendendo com os autores brasileiros que tenho lido e percebendo o potencial que tantos leitores ainda resistem em apreciar. Tenho inúmeros exemplos a serem citados de livros nacionais bem escritos e amarrados e que conseguem agradar o público para o qual são voltados. E, felizmente, a obra de Marcel é um deles.
Na corrida incessante dos personagens para acabar com os atos de terror, o autor conseguiu inserir diversos temas que raramente conseguem ser bem colocados em uma trama, o que certamente exigiu conhecimento técnico e alguma pesquisa. Grande parte da investigação, por exemplo, se baseava em computação forense, tema complicado do qual poucos entendem. Mas não pense que, por não conhecer de tecnologia, não será possível compreender o que se passa na história. Há explicações e exemplos, tudo com uma linguagem bem simples e acessível.
Outro cuidado que o autor teve foi o uso, nessa investigação, de quase todos os órgãos disponíveis do Estado, principalmente os de Polícia e do Judiciário, que obrigatoriamente seriam acionados, se o caso fosse real. Como um dos meus objetos de estudo na faculdade são as funções desses órgãos, um livro – para mim – pode se perder se não souber citar corretamente a responsabilidade de cada um deles, já que parece precipitado citar alguma coisa sobre a qual não se conhece realmente. Tal cuidado prova que o autor se informou para montar sua obra.
Além disso, é sempre fantástico ver cenários nacionais em obras literárias, e Marcel conseguiu se aproveitar bem desses recursos. O Rio de Janeiro, de uma forma ou de outra, foi citado e “visitado” por todos os cantos, assim como alguns outros estados também.
O romance policial é narrado em terceira pessoa, o que permite que os leitores tenham a impressão de que veem a cena de fora, com uma percepção mais ampla. Ao mesmo tempo, a narrativa não perde o foco dos personagens centrais da cena, inclusive em seu íntimo, especialmente em relação a Matheus, o protagonista da história. Essa inserção psicológica, contudo, não permitiu grande aproximação com o personagem, possivelmente por ele ser lógico até mesmo quando trata de seus sentimentos. A exceção, neste caso, talvez fosse Luana, única que conseguia despertar nele alguma coisa parecida com paixão.
De maneira geral, a história teve um fluxo ótimo, com as pistas e acontecimentos interligados, de modo que fazia sentido. A amarração foi condizente, seguindo uma sequência lógica. O autor também conseguiu inserir um grande número de personagens sem se perder, tendo todos sua importância no contexto. Isso, sem contar a escrita envolvente, que eu não diria ser de um autor iniciante, se não soubesse.
O único ponto falho, em minha opinião, foi o ritmo dos acontecimentos. O início e o fim foram bem dosados, mas em algum ponto na metade do livro, em alguns capítulos específicos, mais longos, havia pouca ação, muita investigação interna e vários detalhes técnicos que deixaram a leitura um pouco mais cansativa e lenta. Nada que fizesse querer abandonar o livro, somente não rendia tanto. Depois, quase sem perceber, a história voltou ao seu fôlego inicial, e levou a um final quase surpreendente – quase, pois algo me “sussurrou” sobre quem seria o responsável por tudo aquilo, e acertei –, fechando o enredo de forma satisfatória.
Quem sabe esse primeiro livro não leve a uma daquelas séries de detetive com romances independentes – e cem por cento nacional? Eu leria, com certeza.