Sinopse: "A maior astúcia do Diabo é nos convencer de que ele não existe", escreveu o poeta francês Charles Baudelaire. Já a grande astúcia de Andrew Pyper, autor de O Demonologista (DarkSide® Books, 2015), é fazer até o mais cético dos leitores duvidar de suas certezas. E, se possível, evitar caminhos mal-iluminados. O personagem que dá título ao best-seller internacional é David Ullman, renomado professor da Universidade de Columbia, especializado na figura literária do Diabo - principalmente na obra-prima de John Milton, Paraíso Perdido. Para David, o Anjo Caído é apenas um ser mitológico. Ao aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, David começa a ter motivos pessoais para mudar de opinião. O que seria apenas um boa desculpa para tirar férias na Itália com sua filha de 12 anos se transforma em uma jornada assustadora aos recantos mais sombrios da alma. Enquanto corre contra o tempo, David precisa decifrar pistas escondidas no clássico Paraíso Perdido, e usar tudo o que aprendeu para enfrentar O Inominável e salvar sua filha do Inferno. Este é um daqueles livros que você não consegue largar até acabar a última página, ainda que vá precisar de muita coragem para seguir em frente. O Demonologista ganhou o Prêmio de Melhor Romance do International Thriller Writers Award (2014), concorrendo com autores como Stephen King. Entrou em diversas listas de melhores livros de 2013, foi finalista do Shirley Jackson Award (2013) e do Sunburst Award (2014), chegou ao topo da lista dos mais vendidos do jornal canadense Globe and Mail e foi publicado em mais de uma dezena de países. (Skoob)
PYPER, Andrew. O Demonologista. DarkSide Books, 2015. 320 p.
Para um livro de terror funcionar, ele precisa incutir medo no leitor, sem que ele precise se esforçar muito para imaginar as cenas do que lê. Precisa ser algo familiar, mas, ao mesmo tempo, inesperado. O principal elemento dos filmes de terror, a música e o som em tom alto nos momentos de susto, não existem nos livros. Ou seja, tudo reside no uso das palavras certas e na imaginação. A história é importante, mas não é essencial, porque, mesmo que ela seja boa, complexa, sem o medo, o objetivo fracassa.
Bem, nesse ponto, O Demonologista passa com louvor. Os trechos onde o Inominável – assim chamado, porque, em grande parte do livro, David Ullman, o narrador e personagem principal, não sabe o nome de com qual demônio está lidando –, aparece e exerce sua influência nas pessoas mortas, é assustador. Ou mesmo nos pesadelos de David, quando alguns segredos vão sendo revelados sobre o motivo dele ter sido o escolhido. Mas o mais assustador, na verdade, são as leituras do diário de Tess, a filha desaparecida de David, onde tudo o que está acontecendo com ele, foi revelado ou indicado pela filha muito antes, como se ela já soubesse o que iria acontecer.
As descrições do autor nos momentos de terror são precisas, claras, e surpreendem. Não tanto pelos detalhes, mas pela indução deles. Como exemplo, tem a passagem em que David está conversando com o Inominável em um parque deserto, e o demônio tem a forma de um menino que já morreu. Durante a conversa, ele sente a presença de algo ainda pior no meio das árvores da floresta em frente, mas não consegue olhar de tanto pavor, apenas ouve a respiração pesada e o peso dos passos do que está no meio das árvores. Essa parte é assustadora, e você se surpreende olhando para os lados durante a leitura, confirmando se está realmente sozinho com seu livro.
No início da leitura, fiquei decepcionado por o autor usar a passagem bíblica mais famosa sobre demônios, que é quando Jesus pergunta para um possuído o nome de quem está no comando, e ouve de resposta que é Legião, porque são muitos. Ela é usada à exaustão na maioria dos filmes de mesmo tema, mas, aos poucos, entendi que foi uma escolha acertada. Isso, porque ele mescla toda a história com Paraíso Perdido, a obra mais famosa do escritor inglês, John Milton. A história, dividia em dois arcos narrativos, sendo um de Lúcifer e o outro de Adão e Eva, é contada em versos métricos sem rima, reunidos em 12 livros a partir de 1674. Nela, existem diversos seguidores de Lúcifer, que o auxiliam na revolta contra Deus. David sabe que o Inominável é um desses seguidores, mas não sabe qual. E o demônio quer que David descubra o seu nome, porque se ele o pronunciar, terá poder sobre David. Então realmente existe uma coerência lógica e certa sobre a escolha.
Para resgatar Tess, sua filha, David precisa seguir as pistas deixadas pelo Inominável por meio país. A viagem não tem o objetivo da descoberta, mas da peregrinação, que causa um enorme desgaste físico e mental, deixando David cada vez mais suscetível à influência do demônio. Entretanto, o amor pela filha exerce uma força contrária, que o liberta nos momentos de maior desespero e o revigora para conseguir chegar ao final de sua flagelação.
Junto a David, temos dois personagens secundários de grande importância: Elaine O’Brian, a colega de trabalho por quem é apaixonado, mas com quem não pôde assumir o sentimento, por ser casado. E o Perseguidor, um assassino contratado para impedir David de tornar público a prova de que o demônio realmente existe e que ele quer se revelar ao mundo.
O’Brian está com câncer e acompanha David na busca por Tess, porque não tem nada a perder. Ela é a voz da razão, da lucidez, que o impele a descobrir os motivos e o nome do Inominável. Ela, de certa forma, é o próprio leitor, que faz as perguntas certas para o entendimento do que está acontecendo. O relacionamento entre os dois é cheio de nuances sobre o que podem ou não fazer, sobre o que podem ou não sentir.
O Perseguidor, embora apareça bem menos do que O’Brian, causa sempre uma tensão enorme, porque ele nunca se esconde, ele sempre revela sua presença e dá todas as chances que lhe são permitidas para que David entregue o documento visual da existência do demônio. As frases que ele solta tem sempre duplo sentido, sempre carregam uma mensagem ameaçadora e uma intimidação. E quando ele ataca, ele o faz sem misericórdia, sem chance de indulgência.
Entretanto, nem tudo é perfeito. Uma coisa me incomodou um pouco. Os diálogos, embora muito bem elaborados, parecem ser pronunciados sempre pelo mesmo personagem. Eles parecem refletir sempre a mesma acidez. As respostas de todos são sempre atrevidas, desprovidas da personalidade que identifica quem a pronuncia. Não existe uma diferença entre a qualidade das palavras, como se todos os personagens fossem o mesmo, e o que dizem só muda de acordo com a situação. Isso, por um lado, torna as conversas inteligentes, mas ignora que cada um tem uma altura diferente de conhecimento e de capacidade de resposta.
E, ao contrário da maioria dos filmes de terror, onde o final sempre peca pela cena a mais, ou pela falta dessa cena, o fim de O Demonologista deixará você soltar um suspiro de tranquilidade e fará seu rosto criar um pequeno sorriso de felicidade.
Bem, nesse ponto, O Demonologista passa com louvor. Os trechos onde o Inominável – assim chamado, porque, em grande parte do livro, David Ullman, o narrador e personagem principal, não sabe o nome de com qual demônio está lidando –, aparece e exerce sua influência nas pessoas mortas, é assustador. Ou mesmo nos pesadelos de David, quando alguns segredos vão sendo revelados sobre o motivo dele ter sido o escolhido. Mas o mais assustador, na verdade, são as leituras do diário de Tess, a filha desaparecida de David, onde tudo o que está acontecendo com ele, foi revelado ou indicado pela filha muito antes, como se ela já soubesse o que iria acontecer.
"Ao parar, os olhos do homem giram para trás em sua órbitas para mostrar o branco injetado. Faz uma pausa inacreditavelmente longa para respirar. Prende a respiração. Solta-a em palavras que carregam o cheiro acre de carne carbonizada."
As descrições do autor nos momentos de terror são precisas, claras, e surpreendem. Não tanto pelos detalhes, mas pela indução deles. Como exemplo, tem a passagem em que David está conversando com o Inominável em um parque deserto, e o demônio tem a forma de um menino que já morreu. Durante a conversa, ele sente a presença de algo ainda pior no meio das árvores da floresta em frente, mas não consegue olhar de tanto pavor, apenas ouve a respiração pesada e o peso dos passos do que está no meio das árvores. Essa parte é assustadora, e você se surpreende olhando para os lados durante a leitura, confirmando se está realmente sozinho com seu livro.
No início da leitura, fiquei decepcionado por o autor usar a passagem bíblica mais famosa sobre demônios, que é quando Jesus pergunta para um possuído o nome de quem está no comando, e ouve de resposta que é Legião, porque são muitos. Ela é usada à exaustão na maioria dos filmes de mesmo tema, mas, aos poucos, entendi que foi uma escolha acertada. Isso, porque ele mescla toda a história com Paraíso Perdido, a obra mais famosa do escritor inglês, John Milton. A história, dividia em dois arcos narrativos, sendo um de Lúcifer e o outro de Adão e Eva, é contada em versos métricos sem rima, reunidos em 12 livros a partir de 1674. Nela, existem diversos seguidores de Lúcifer, que o auxiliam na revolta contra Deus. David sabe que o Inominável é um desses seguidores, mas não sabe qual. E o demônio quer que David descubra o seu nome, porque se ele o pronunciar, terá poder sobre David. Então realmente existe uma coerência lógica e certa sobre a escolha.
"Não consigo ver, mas sei que algo observa por entre as árvores. Uma densidade tão forte que faz o ar se curvar, uma espécie de gravidade lateral que puxa e distende tudo em volta. Não comunica nada por meio de seu silêncio inchado, apenas privação, interminável e insaciável. Este é o território por onde ele vaga, sem cessar. Magoado e faminto."
Para resgatar Tess, sua filha, David precisa seguir as pistas deixadas pelo Inominável por meio país. A viagem não tem o objetivo da descoberta, mas da peregrinação, que causa um enorme desgaste físico e mental, deixando David cada vez mais suscetível à influência do demônio. Entretanto, o amor pela filha exerce uma força contrária, que o liberta nos momentos de maior desespero e o revigora para conseguir chegar ao final de sua flagelação.
Junto a David, temos dois personagens secundários de grande importância: Elaine O’Brian, a colega de trabalho por quem é apaixonado, mas com quem não pôde assumir o sentimento, por ser casado. E o Perseguidor, um assassino contratado para impedir David de tornar público a prova de que o demônio realmente existe e que ele quer se revelar ao mundo.
"Ela abre a boca para falar, mas um par de braços a cerca e a puxa de volta para o nevoeiro. Braços longos demais para pertencerem a um homem. Escurecidos por pelos que parecem os de um animal. Suas garras manchadas de terra, como as de um quadrúpede."
O’Brian está com câncer e acompanha David na busca por Tess, porque não tem nada a perder. Ela é a voz da razão, da lucidez, que o impele a descobrir os motivos e o nome do Inominável. Ela, de certa forma, é o próprio leitor, que faz as perguntas certas para o entendimento do que está acontecendo. O relacionamento entre os dois é cheio de nuances sobre o que podem ou não fazer, sobre o que podem ou não sentir.
O Perseguidor, embora apareça bem menos do que O’Brian, causa sempre uma tensão enorme, porque ele nunca se esconde, ele sempre revela sua presença e dá todas as chances que lhe são permitidas para que David entregue o documento visual da existência do demônio. As frases que ele solta tem sempre duplo sentido, sempre carregam uma mensagem ameaçadora e uma intimidação. E quando ele ataca, ele o faz sem misericórdia, sem chance de indulgência.
"As unhas de uma das mãos arranham a lateral do carro, buscando onde se agarrar. Um baque nauseante quando a roda traseira do Mustang passa por cima da garota. Paro. Saio do carro e vou pata trás. Eu me ajoelho para olhar debaixo do chassi, procuro ao longo das valas nos dois lados da estrada. Nada da garota."
Entretanto, nem tudo é perfeito. Uma coisa me incomodou um pouco. Os diálogos, embora muito bem elaborados, parecem ser pronunciados sempre pelo mesmo personagem. Eles parecem refletir sempre a mesma acidez. As respostas de todos são sempre atrevidas, desprovidas da personalidade que identifica quem a pronuncia. Não existe uma diferença entre a qualidade das palavras, como se todos os personagens fossem o mesmo, e o que dizem só muda de acordo com a situação. Isso, por um lado, torna as conversas inteligentes, mas ignora que cada um tem uma altura diferente de conhecimento e de capacidade de resposta.
E, ao contrário da maioria dos filmes de terror, onde o final sempre peca pela cena a mais, ou pela falta dessa cena, o fim de O Demonologista deixará você soltar um suspiro de tranquilidade e fará seu rosto criar um pequeno sorriso de felicidade.
Já estava bastante interessada em ler esse livro só pela sinopse, e agora depois de ver essa resenha fiquei ainda mais curiosa em conferi essa história, apesar de terror não ser meu gênero favorito.
ResponderExcluirOi, Milena!
ExcluirNão espera uma história tão legal. Fiquei surpreso. Recomendo a leitura!
Bjs
Oie
ResponderExcluirAcho que foi a primeira resenha que eu li do livro, e achei bem interessante o contexto, eu não imaginei que era assim a trama e o pano de fundo. Estou curiosa para ler este livro, não tenho costume de ler livros de terror, mas este ano eu me aventurei e curti muito.
Adorei sua resenha Carlos.
Beijos
Oi, Nessa!
ExcluirObrigado :) Eu tinha uma ideia diferente desse livro e fiquei surpreso positivamente. Se pude, não deixe de ler.
Bjs
Não conhecia o livro em questão, confesso que não leio muitos livros do gênero, mas sua resenha, mais do que completa, me deixou bastante curiosa. Também não costumo assistir filmes de terror, mas quando envolvem demônios eu acabo me interessando. Seria o caso desse livro. Gostei muito das suas descrições sobre os personagens e sobre a história em si, uma pena os diálogos não terem agradado, me incomodaria também essa contradição nas personalidades e no que cada um fala como se fosse a mesma pessoa. Mas sua resenha me instigou bastante pra leitura dessa obra.
ResponderExcluirBeijos
http://mon-autre.blogspot.com.br/
Olá, Jeniffer!
ExcluirOs diálogos são todos muito bem escritos e inteligentes. Na mesma proporção, como se todos os personagens tivessem a mesma facilidade para se expressar. Mas isso não impedi a apreciação, só achei um pouco estranho...rsssss
Bjs
Já tinha visto o livro, mas ainda não tinha lido nem uma sinopse nem a resenha, achei super interessante esse livro, e a diagramação ta linda, parece ser bem assustador.
ResponderExcluirMariele,ele é assustador, mas nada exagerado. Acho que a leitura é tranquila rsssss abs
ExcluirPrimeira resenha desse livro que li, e me deixou com mais certeza de que preciso dele! hahahaha. Sou apaixonada por terror, sempre fui. E hoje em dia anda meio complicado para achar bons filmes de terror, e o mesmo acontece com livros. Eu acompanho a página da editora Dark Side e fico maluca com os lançamentos deles! O Demonologista é um deles que eu estou louca para adquirir logo.
ResponderExcluirAdorei a sua resenha, de verdade. Muito bem feita, e aguçou demais a minha curiosidade. Com certeza iri procurar o livro. :)
Lovecats | allieprovier.blogspot.com
Obrigado, Allie! Realmente, hoje não existem filmes de terror como aqueles mais antigos. Tudo é exagerado demais, com efeitos demais... :(
Excluirolha Carlos, ñ sou muito fã de livros/filmes com essa temática, é meio que trauma com o Exorcista hahaha. e sempre acho que livros assim, nunca tem nada de novo para mostrar, apesar de nesse caso, o autor equilibrou bem as situações. o suspense, a ansiosidade sempre ali a espreita. quem sabe eu leia =)
ResponderExcluirPode ler, Aninha! Não é tão pesado quanto o Exorcista ;)
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