O fundo é apenas o começo - Neal Shusterman e Brendan Shusterman

Sinopse: Uma poderosa jornada da mente humana, um mergulho profundo nas águas da doença mental. CADEN BOSCH está a bordo de um navio que ruma ao ponto mais remoto da Terra: Challenger Deep, uma depressão marinha situada a sudoeste da Fossa das Marianas. CADEN BOSCH é um aluno brilhante do ensino médio, cujos amigos estão começando a notar seu comportamento estranho. CADEN BOSCH é designado o artista de plantão do navio, para documentar a viagem com desenhos. CADEN BOSCH finge entrar para a equipe de corrida da escola, mas na verdade passa os dias caminhando quilômetros, absorto em pensamentos. CADEN BOSCH está dividido entre sua lealdade ao capitão e a tentação de se amotinar. CADEN BOSCH está dilacerado. Cativante e poderoso, O Fundo é Apenas o Começo é um romance que permanece muito além da última página, um pungente tour de force de um dos mais admirados autores contemporâneos da ficção jovem adulta. (Skoob)
SHUSTERMAN, Neal. SHUSTERMAN, Brendan. O fundo é apenas o começo. Valentina, 2018. 272 p.


"Há duas coisas que você sabe. A primeira: você esteve lá. A segunda: você não pode ter estado lá."

Acho que essa frase resume bem o livro. Você está lá, mas você não pode ter estado lá, mas você está e às vezes não. É totalmente o gato de Schrödinger, o gato morto vivo, sobreposição quântica... entenda como quiser. Ou simplesmente como doença mental.

Você está doente e sabe que está doente, sabe que nada daquilo é real, ao mesmo tempo que sabe que tudo é real, porque é real. Se você acredita que algo é real, então é real. Se você acredita que está no fundo, então você está preso num limbo para toda a eternidade, sem enxergar o tempo passar ou alguma luz chegar em você, por que você lembra? Você está no fundo. E o fundo é apenas o começo. E você está tentando, você se esforça, você não quer ficar ali, mas você não está ali para começo de conversa, então como sair?

"-Por que estou aqui? - pergunto. - Se tudo tem um propósito, com que fim estou neste navio?
Ele volta para suas cartas, escreve palavras e adiciona novas setas sobre o que já está lá, deposita em camadas seus pensamentos tão densos que só ele écapaz de decifrá-los.
-Fim, delfim, golfinho, golfada, entrada, porta: você é a porta para a salvação do mundo.
-Eu? Tem certeza?
-Tanto quanto de estarmos neste trem."

Eu realmente não sei dizer o que Caden tem. No começo, pensei que fosse depressão porque é isso que a sinopse diz (não diz, eu li errado), mas conforme fui lendo outros sintomas vão aparecendo. Ele está em mania, ele está depressivo, ele está tendo alucinações... Cada caso é um caso, como o livro mostra, e nomes são apenas para entender, para que os médicos consigam algum parâmetro para ajudar, e a única coisa que importa é que Caden precisa de ajuda, porque ele não está no controle do navio, apenas navegando sem rumo e sem saber em quem confiar.

Quem é seu amigo? Quem quer o seu bem? Em quem confiar? Quem matar? O papagaio ou o capitão?

Está parecendo um pouco confuso porque estou me sentindo eufórica e não sei como colocar meus pensamentos em ordem, eu sei. Tipo alguém em mania. No livro, há Caden e há Caden, dois personagens que não se conhecem até que o livro avança e percebe que são a mesma pessoa, o mesmo ser, que suas alucinações são a realidade - realidade no sentido que está acontecendo, mas não do jeito que ele imagina, e é isso que você percebe ao ler.

"-E então, por que estou aqui? - pergunto a ele.
-Exatamente - responde o papagaio. - POR QUE você está aqui? Ou devo perguntar: Por que VOCÊ está aqui? Ou talvez: Por que você está AQUI?"

O livro é narrado em terceira e segunda pessoa, mas a transição entre um e outro é tão natural que nem percebi, não me senti nenhum pouco incomodada em nenhum momento, não precisei me acostumar a esse tipo de narração.

Há realidade e fantasia no livro e nada faz sentido ao mesmo tempo que tudo faz. Eu amei a escrita, a confusão ordenada dela. Há ordem no caos. Você percebe isso pelos desenhos confusos, que foram feitos pelo filho do autor quando ele estava fundo demais, como ele tenta comunicar o que sente, porque quando você entende o que as imagens querem dizer, você o entende; enquanto você ler, você o entende.

Você entende quem são os personagens em seus delírios, você cria suposições e entra na mente de Caden e pensa como ele e começa acreditar no que ele diz, começa a perceber como é tão difícil separar realidade de alucinações, porque há ordem no caos e a luz e a escuridão estão lutando sempre e para sempre, e são tão apaixonadas uma pela outra que não conseguem ficar separadas.

"(...) eles não veem o que você vê quando olha nos olhos deles. Verdades que ninguém mais pode ver. Conspirações e conexões tão distorcidas e pegajosas como a teia de uma viúva-negra. Você vê demônios nos olhos do mundo, e o mundo vê um poço sem fundo nos seus."

Meu Deus. É lindo. Eu me senti... não triste, mas tão oprimida ao ler, tão pesada, aquela sensação de estar tão fincada em algo que perdesse de vista o que importa. Eu estava tendo algumas semanas péssimas e nem estava percebendo isso; quando eu percebi foi... uma leveza impressionante. Não estou comparando o que eu estava sentindo com o de Caden, nem de longe é daquele jeito, mas todos tem sua dificuldade e é tão ruim ver isso, tão difícil, e saber, perceber, não torna mais fácil, é apenas mais um passo para baixo para tomar impulso para cima, porque o fundo pode ser apenas o começo, pode ficar pior a cada momento, mas nada o impede de ser o começo para algo melhor, porque se ele é o começo, não pode ser o fim.

Gostaria de fazer uma observação adicional de o que for que você esteja sentindo é válido, não se menospreze. Talvez não seja algo grande do tipo do Caden, como eu disse, mas está tudo bem não está bem; você pode ficar ruim por um simples resfriado ou por algo mais complicado como uma tuberculose, por exemplo, a questão não é o tamanho, mas o simples fato de não estar bem. Se você está se sentindo mal, se você não sabe o que está sentindo, se você apenas sente que algo não está certo, procure ajuda.
Yuki Kurohime
Yuki Kurohime

10 comentários:

  1. Oi Bela!!
    Que resenha linda, parabéns!
    Pelo que acompanhei desse livro e agora lendo sua opinião sobre ele, só espero que surja pra ontem uma oportunidade de ler o livro...Já me conquistou de cara, não vejo a hora de conhecer a história.
    Bjs!

    https://aguardiadasresenhas.blogspot.com/

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  2. Acabei de ganhar este livro em um outro blog que acompanho e não vejo a hora de poder ter e ler ele. Estas histórias densas, que literalmente jogam o leitor nesse jogo de realidade e ilusão, são fascinantes, ainda mais quando todo o cenário é de verdade...ou não!
    Um se jogar dentro da imaginação, das vontades, dúvidas.
    Lerei em breve!!!
    Beijo

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  3. Oie, Bela!!
    Confesso que quando comecei a ler sua resenha, eu não compreendi absolutamente nada do que você queria passar sobre o livro. Tive que voltar a leitura algumas vezes. Ficou tudo muito confuso. Mas acho que para isso ter acontecido, é porque a história também é bastante confusa né? Rsrsrs
    Espero que eu tenha a oportunidade de ler O fundo é apenas o começo, para que assim eu possa compreender direito.

    Bjos

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  4. Olá, Bela
    Li algumas resenhas sobre esse livro e cada vez vejo que preciso ler esse livro urgente.
    Sou educadora e na creche onde trabalho estamos recebendo crianças com alguns transtornos, estamos participando de cursos e palestras a respeito.
    Penso que esse livro é de grande ajuda e deve ser surreal ler e sentir tudo o que Caden sente.
    Beijos!

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  5. Que resenha é essa? Nossa... senti tanto com essa resenha.
    Esse livro me parece forte, até pensei em não ler por receio de não ter emocional para tantos sentimentos.
    Mas a sua resenha me encantou, tão poética... espero ter a chance de ler esse livro.

    Beijos

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  6. Parece ser intrigante esse livro, no começo fiquei meio sem entender do que se tratava direito, a leitura deve mexer com as nossas emoções, acompanhar o personagem nessa luta de não saber ao certo o que é real ou não. A leitura deve deixar o leitor refletindo sobre tudo que o personagem passa e tantas outras pessoas também.

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  7. Confesso que é a primeira resenha que leio sobre o livro e imagino que esta " confusão" das parte do pensamento do personagem mesmo, mas ao desenvolver a leitura ela seja mais fácil de compreender. Parabéns pela resenha, creio que não deva ter sido fácil de escrever sobre estas historia.

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  8. Sara!
    Não li nada do autor ainda, embora tenha lido várias resenhas de outros livros dele.
    Gostei de ver que os capítulos são curtos e que ele aborda a mente de uma pessoa com esquizofrenia.
    Gosto dos livros com temas que abordem doenças psicológicas e que nos façam refletir e aprender mais.
    Nada faz sentido e tudo faz é um tanto dúbio, não é?
    Desejo um mês repleto de alegrias e uma semana abençoada.
    “Só são verdadeiramente felizes aqueles que procuram ser úteis aos outros.” (Albert Schweitzer)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA SETEMBRO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  9. Olá! Nossa essa é a primeira resenha que leio desse livro, gosto muito de ler histórias com pessoas com alguma doença psicológica, parece mega emocionante, fiquei super curiosa em conferi essa história, foi pra lista de desejados.
    Bjs

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  10. Quando eu comecei a ler a resenha desse livro e até mesmo a sinopse do próprio eu comecei a ficar muito confusa em relação as ideias que eram propostas na história mas com o decorrer da sua resenha pude perceber melhor sobre o que se tratava o livro e já estou completamente ansiosa para ler adoro livro quando eles abordam as questões de doenças mentais e psicológicas

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