O ódio que você semeia - Angie Thomas

Sinopse: Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa. Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar. (Skoob)
THOMAS, Angie. O ódio que você semeia. Rio de Janeiro: Editora Galera, 2017. 378 p.


No Brasil, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. Em agosto de 2014, Michael Brown foi morto, aos 18 anos, por um policial branco em Ferguson (Missouri). Ele não portava armas e não possuía antecedentes criminais. O júri decidiu não processar Darren Wilson "porque considerou que não existem provas suficientes para processá-lo pelo assassinato". Seis tiros tiraram a vida de Brown. Em julho do mesmo ano, Eric Garner foi asfixiado por um policial branco por cerca de 15 segundos que foram suficientes para matá-lo. O assassinato aconteceu em Nova Iorque. Eric Garner era negro. O policial que cometeu o crime também foi inocentado pelo júri. 

O ódio que você semeia foi inspirado na história desses dois jovens, que deram voz ao movimento global Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). O BLM começou nos Estados Unidos, onde ativistas saíam em favor às vítimas da violência policial. Assim como aconteceu com Brown e Garner, Khalil, melhor amigo da protagonista Starr, foi morto à tiros por um policial branco. Starr presenciou tudo. Khalil não estava fazendo nada de errado, não portava armas, era só um adolescente de 16 anos. A partir dessa experiência tão horrível, Starr começa a pensar sobre o que é justiça, se ela realmente existe e, o mais importante, se é válida. 

Nesta história, Angie Thomas aborda vários temas importantes para todo mundo, como racismo, injustiça, lutas diárias, privilégios e muitas outras questões que, sinceramente, precisam ser discutidas. Eu, como pessoa branca, não consigo explicar para nenhum de vocês de forma satisfatória o que foi ler a história de Starr. Quer dizer, meus pais nunca precisaram me ensinar o que fazer se eu fosse parada pela polícia em uma blitz. Eu nunca vi nenhuma pessoa sendo morta. Eu não tenho a mínima ideia de como é o barulho de um tiro. O livro traz, o tempo todo, esse tipo de reflexão e as coisas foram jogadas na minha cara de uma forma que tudo o que eu conseguia pensar é o quão privilegiada sou por não presenciar ou sofrer tanta coisa absurda simplesmente por ser branca, e eu realmente me senti péssima por isso.

Também somos inseridos no dia a dia de Starr, uma adolescente negra que estuda em um colégio branco, filha de um ex-presidiário que deu a volta por cima. Justamente pelo fato de frequentar um colégio fora do seu bairro, a gente consegue mais do que nunca enxergar o choque de duas realidades totalmente diferentes, opostas. Eu não consigo pensar em outra coisa para falar sobre O ódio que você semeia a não ser o quanto ele é importante e bom. A história é sensacional e, o melhor de tudo, real. A narrativa é sem comparações. Os personagens são incríveis. Tudo, tudo é digno nesse livro. 

Eu não sei como a história de Khalil e Starr chegará para outras pessoas, mas provavelmente vai ficar na minha cabeça por muito tempo. Cada capítulo me proporcionou uma emoção diferente e é isso o que eu quero sentir sempre que estou lendo um livro. Eu chorei porque é muito difícil saber de todos os meus privilégios enquanto tantas outras pessoas estão em outros lugares sofrendo, vendo pessoas queridas morrerem, sendo julgadas. 

O ódio que você semeia é um livro difícil, pouco confortável — não digo isso em um sentido pejorativo, e sim porque é uma história extremamente dolorosa —, mas necessário para mostrar que coisas ruins acontecem o tempo todo, mesmo que não aconteçam comigo. Às vezes tudo o que a gente precisa são histórias que nos mostrem a realidade, ainda que não sejam fáceis.
Ana Clara Magalhães
Ana Clara Magalhães

9 comentários:

  1. Olá Ana! LI este livro este ano e confesso que fui pega de surpresa com sua historia. Fiquei com aquele sentimento de dor e de luta pela personagem, de se colocar no lugar do outro. A personagem é uma guerreira que me ensinou muita coisa e terminei com aquele sentimento de amor ao próximo, sabe? Creio que este livro deveria ser leitura obrigatória. Na expectativa para conferir o filme, pois o livro com certeza é um dos meus favoritos.

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  2. Esse livro é tão necessário!
    A maneira que a Angie mostra essa realidade é tocante, e amei a família da Starr, eles equilibram essa parte tensa da história com o jeito leve de ser.

    Beijos

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  3. Não vejo a hora de poder ter e ler este livro!!!Tudo que já li até o momento sobre esta história tão real e ainda presente em nossos dias, é fabuloso. Não no sentido de ser bonita, mas no sentido de ser necessária. Sim, para trazer esta indignação, esta revolta e nos colocar também, não somente dentro da história destes jovens, mas na vida de tantos outros meninos e meninas que passam por isso diariamente!
    Quero muito ver a adaptação também!
    Beijo

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  4. Ana!
    Tremendo absurdo tanto preconceito em pleno século XXI, não admito.
    O mais importante é que o livro traz análises de fatos reais e imagino o quanto deve mesmo chocar, principalmente através dos detalhes.
    E ainda fala do luto, bem intrigante.
    Fiquei bem interessada em poder ler.
    “Sede felizes; os amigos desaparecem quando somos infelizes.” (Eurípedes)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA SETEMBRO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  5. Olá, Ana
    Não tive oportunidade para ler esse livro, mas quero muito ler.
    É um absurdo pessoas negras ensinarem seus filhos como comportam diante de policiais, no começo do mês estava assistindo a 14ª temporada de Grey's Anatomy e a médica Bailey ensinou seu filho a se comportar porque um menino chegou no hospital baleado por policial branco. O menino entrou no quintal do vizinho para conseguir entrar na sua casa que era do lado, só porque esqueceu a chave de casa.
    Muito difícil viver nos dias atuais com tanto racismo, tenho negros na família. Sou branca, mas tenho cabelos cacheados só não sou discriminada pela cor da minha pele. Somos todos iguais e vamos para o mesmo lugar quando morrer, ainda tento entender como as pessoas podem agir desta maneira.
    Beijos!

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  6. Olá! Tenho esse livro, porem ainda não tive coragem de pega pra ler, pois já sei que será uma leitura muito difícil, racismo e injustiça são uma temas que sempre me provocam muita indignação.
    Bjs

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  7. Eu Finalmente eu terminei de ler esse livro e eu fiquei completamente devastada com o fato de como a autora aborda a questão do racismo presente ainda na nossa sociedade e já estou sofrendo por antecipação do lançamento do filme

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  8. Quero ler é uma leitura tensa que mexe com as nossas emoções, é tanta injustiça que acontece e os culpados não são punidos. Que situação difícil para a personagem, presenciar a morte do amigo isso deixará marcas para sempre. Parece que tanto a trama quantos os personagens foram muito bem trabalhados de uma forma que a leitura envolve o leitor e o deixa refletindo sobre essas coisas ruins que podem acontecer com a pessoa ou algum conhecido.

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  9. Oi Ana!
    Tenho lido mtos comentários ótimos sobre esse livro, quero ter oportunidade de ler pois os assuntos abordados me prenderam atenção.
    Pelo que li, mtos leitores curtiram essa leitura.
    Já está nos meus desejados.
    Bjs!

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