Sinopse: Duas vidas entrelaçadas por um mesmo propósito. Um carma que é passado por diferentes gerações unindo duas mulheres em épocas distintas. De um lado, está Maria Scarlet, uma prostituta de um passado distante que, após apanhar muito da vida, consegue se estabelecer como dona de um bordel. Com o tempo, o bordel ganha fama e se torna referência na pacata Holanda de 1750, derivando a qualidade de seu nome para a rua a qual o estabelecimento funcionava: “Red Street”, atualmente conhecida como “Red Light”. Do outro lado, está Anna Lara, uma mulher frágil e atormentada pelas lacunas do seu sombrio passado. Com o suporte de Maria Scarlet, Anna Lara cria defesas emocionais por meio da energia sexual que recebe de sua protetora e se torna participante ativa e assídua de toda forma de desvio sexual, ao lado de seu parceiro de vida, Jota Jr. Em um enredo psicológico completamente envolvente, Anna Lara esbarra nas lacunas sexuais escondidas nas partituras não terminadas de um universo promíscuo e misterioso. (Skoob)
Livro recebido em parceria com a Editora
Acredito que dificilmente teria lido Promíscuo ser de partitura finita, de Cris Coelho, se não tivesse recebido o livro como cortesia da Editora Pandorga. Tenho evitado romances eróticos nos últimos meses, pois só tenho encontrado mais do mesmo, e tinha a impressão de que a leitura não me conquistaria. Mas o livro estava ali, eu estava indecisa sobre o que ler, e as poucas páginas me convenceram a finalmente iniciar a leitura.
A primeira coisa a se tomar conhecimento sobre o livro é que suas poucas páginas enganam. A fonte pequena e a escrita concisa da autora conseguem incluir muito conteúdo em poucas linhas. Por essa razão, em 160 páginas, há muita história, passado e presente, vivências e lembranças. Na trama, ao mesmo tempo que acompanhamos a vida de Anna Lara no presente, o enredo resgata passagens de sua infância e os mistérios da mulher que a acompanha: Maria Scarlet. Desde o início, é possível perceber que a vida das duas estão entrelaçadas, mas as explicações para isso começam a aparecer mais para o final do livro, embora não sejam completamente entregues, já que o livro sugere a existência de uma continuação.
A narrativa concisa da autora não significa uma leitura simples e objetiva. Cris Coelho abusa das figuras de linguagem e da poesia, dando ao texto um toque sofisticado. É engraçado porque, ao mesmo tempo que enfeita as passagens de sua narrativa, consegue construir algo visceral e simples, sem se preocupar com as palavras ao narrar as minúcias da vida promíscua de Anna Lara. O texto consegue, numa mesma linha, ser refinado e belo, mas sujo e absurdamente carnal.
Aliás, as cenas eróticas criadas pela autora não são nada romantizadas e nem buscam envolver com narrações cheias de dedos e toques. Tratam-se pele e fogo, só isso, sem pudor. É algo cru, sem limites, sem barreiras, e qualquer fantasia, por mais escrota que possa parecer, pode ser incluída, sem julgamento. E é nesse aspecto que esbarra a questão principal do livro: Anna Lara se divide entre a vontade de se entregar a esse fogo e a sensação de que o que faz é errado, principalmente por conta dos ensinamentos religiosos que recebeu.
A religião é outro ponto bem debatido na obra, e se irradia para várias outras situações descritas no contexto. São citadas características da Umbanda, do Candomblé, do Espiritismo, da Igreja Evangélica, entre outras. Nesse aspecto, senti que a autora podia ter feito uma abordagem mais completa sobre as religiões, já que em alguns momentos a construção esbarrava em sensos comuns, sem uma análise mais aprofundada sobre cada uma delas. Entrelaçados a isso, não só a questão do sexo, mas também temas como aborto, vício, violência, suicídio e homossexualidade são tratados no enredo.
Fiquei um pouco frustrada com a ausência das respostas para os segredos narrados na obra. Por se tratar de um livro curto, pareceu-me desnecessário que tenha sido dividido em dois. Além do mais, fiquei bem irritada com o final. As atitudes da protagonista me levaram a criar uma antipatia por ela, em especial quando tudo o que fazia (mesmo aquilo que não queria) tinha uma única razão: Jota, seu marido. E isso só se confirmou quando, depois de tudo o que passou e do tempo que levou para se recuperar, ela voltou para aquilo logo que teve oportunidade.
Preciso registrar que Promíscuo ser de partitura finita me surpreendeu em alguns aspectos, principalmente no que se relaciona à construção textual da autora, mas, infelizmente, a trama não me conquistou, talvez por não ser um gênero que eu curto. De fato, foi bem diferente de tudo o que eu li nos últimos tempos, e vale lembrar que as notas do livro têm sido bem altas no Skoob, o que significa que, para aqueles que gostam de livros nesse estilo, talvez seja interessante dar uma chance para a obra.
