Quando tudo faz sentido - Amy Zhang

Liz Emmerson é uma garota popular no colégio e tem uma vida aparentemente invejável. Por que ela tentaria tirar a própria vida, simulando um acidente de carro depois de assistir a uma aula sobre as Leis de Newton? Neste surpreendente romance de estreia, Amy Zhang, que nasceu na China e mora no estado de Nova York, aborda temas como abandono, bullying, depressão e suicídio com uma narrativa crua e pungente que vai arrebatar os fãs de obras como As vantagens de ser invisível, Nuvens de Ketchup e Meu coração e outros buracos negros, entre outros. Na trama, Liz é resgatada por Liam, um garoto que ela sempre desprezou, mas talvez uma das poucas pessoas ao seu redor capaz de enxergá-la além das aparências. Envolvente e emocionante, o livro – que prende também pelo mistério se a protagonista vai ou não sobreviver (e que só é revelado no final) – mostra a fragilidade, a solidão e os dilemas dos jovens de forma sensível e sincera. (Skoob).
ZHANG, Amy. Quando tudo faz sentido. Rocco, 2017.320 p.


Liz Emmerson sofre um acidente de carro e é levada para o hospital em estado crítico. Entrando e saindo de várias cirurgias, ninguém acredita que a bela e invencível Liz pode morrer a qualquer instante.

E ninguém sabe que o acidente não foi tão acidental quanto acham, mas uma tentativa de suicídio, todavia, apesar das muitas pessoas ali no hospital, esperando uma resposta, muitos não se importariam, porque Liz era amada e odiada e, para muitos, não faria diferença.

"Ela morreria, e talvez todo mundo esquecesse que ela sequer tinha vivido. (...) E não vou esquecer. Prometo a ela o que ninguém mais pode prometer. Prometo a ela, sempre."

Não existe muita coisa na sinopse do livro, apenas que Liz é popular, tem uma vida invejável (será?) e que decide que vai morrer num "acidente" de carro, mas que nada sai como esperado quando Liam, um garoto que ela despreza, a resgata, e, bem, essa sinopse não chega nem perto de descrever a história.

Qualquer um que leia isso vai pensar (eu pensei) que era uma história romântica, mas não é, esse não é o foco. Sim, Liam é apaixonado por Liz, mas teve um momento que a odiou, todos já tiveram esse momento com Liz Emmerson, mas ele a perdoou.

Ela não.

Liz não era uma pessoa boa, ela fez muitas coisas ruins e sabia disso e queria não fazer, entretanto ela não podia parar. E ela se culpa. E ela não quer mais isso. E ela queria que tudo parasse. Que o mundo parasse. Que ela parasse. Ela decide se parar.

"(...) tentou pensar em um motivo para seguir em frente. Não conseguiu. Porém conseguiu pensar em mil razões para desistir."

Num dia, três semanas antes da morte do seu pai, Liz decide que vai morrer, que vai fazer tudo parecer um acidente, e que vai ser no dia que o seu pai morreu também, porque assim será só um dia triste para sua mãe, porque, se ela não pode ser uma pessoa boa, se não pode mudar, ela também não precisa continuar prejudicando os outros.

Contudo Liz se deu uma semana antes de desistir de vez, para tentar ver se ela não podia mudar mesmo, se ela não podia ser melhor, mas... não conseguiu. Não valia a pena. Ela não valia a pena.

Liz acredita que não.

"Algumas pessoas morriam porque o mundo não as merecia.
Liz Emerson, por outro lado, não merecia o mundo."

Quando você ver uma história sobre bullying, você percebe como a pessoa que é o alvo não é forte, não se acha forte o bastante para fazer isso parar, mas o contrário também acontece. E isso foi o que eu achei interessante e inovador no livro, porque não é sobre quem sofre, é sobre outra vítima, quem pratica também é uma vítima. Liz foi uma vítima. De si mesma. Dos outros. Da vida. E ela não quer mais ser. Ela não quer mais fazer os outros se sentirem mal. Ela quer acabar com tudo e ela decide acabar consigo. Ela decide acabar com a causa para que não haja uma consequência. Ela decide que não merece viver e que precisa fazer algo bom uma única vez na sua vida, e que esse "algo bom" vai ser morrer.

Mas, em nenhum momento, você vai ler que Liz não teve culpa, porque ela teve. Liz é culpada, mas também é inocente. Somos todos inocentes, somos todos culpados (talvez alguns mais do que outros), mas estamos tentando e não podemos parar de tentar, porque ser uma pessoa boa é uma escolha e não acredite no contrário, e é difícil. Se não fosse, todos seriam.

E, não importa de qual lado esteja, você precisa pedir ajuda. Você pode pedir ajuda. Sim, você é forte. Sim, você pode lidar com isso. Mas você não está sozinho. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, não vai torná-lo fraco. Mas admitir que não é tão forte quanto todos acreditam, que você mostra que é? Vai fazê-lo forte. Vai ajudá-lo a ter o que se agarrar. Vai tornar claro que você não está sozinho.

"Eu a vi tentar enfrentar seus medos sozinha, orgulhosa demais para pedir ajuda, teimosa demais para admitir que estava com medo, pequena demais para combatê-los, cansada demais para escapar.
Eu observei Liz crescer.
Você ainda tem a mim."

O ponto alto da história é a narração, porque você não sabe quem está narrando e você quer descobrir - você quer saber se é alguém real, vivo; ou talvez seja um amigo imaginário; ou talvez um anjo da guarda; ou talvez... talvez seja a Morte, acompanhando Liz até aquele momento, vendo todas as suas escolhas. Sim, eu pensei que fosse a morte e... surpresa!

A capa é linda e não tenho vergonha de dizer que foi a primeira coisa que me chamou atenção (capa serve para isso). É um carro que sai da pista, que cai, e tem um monte de fórmulas de física, porque foi assim, durante a aula de física, falando sobre as Leis de Newton, que Liz decidiu morrer. E tem uma mão que segura o carro - o narrador onisciente? E a misteriosa frase "não existe acidente"... Por que o acidente não foi um acidente? Porque toda ação gera uma reação e então nada é acidental?

Outra coisa misteriosa é o titulo "quando tudo faz sentido", além de ser irônico, porque nada nunca faz sentido. Não tem um momento que tudo faz sentido, existem momentos que algumas coisas fazem sentido, mas não tudo. E Liz percebe isso quando gira o volante e está capotando e não morre de imediato, tudo faz sentido... as coisas não são tão simples.

A vida não é tão simples.

"A vida é mais que causa e efeito.
As coisas não eram tão simples assim.
Naquele momento, tudo se encaixou.
E Liz Emerson fechou os olhos.
Pisou no acelerador."

O livro aborda vários temas sérios, como aborto, bulimia, e, é claro, suicídio, de forma crua e direta e ainda sim poética - não tem como não ser por causa do narrador. E o livro é lindo. A história é triste, não me entenda mal, mas o livro é lindo. Eu adorei ele. E mal posso esperar por mais livros da autora, já estou de olho nos lançamentos dela.
Yuki Kurohime
Yuki Kurohime

14 comentários:

  1. Puxa, como tem saído livros com temas fortes assim nos últimos tempos. Estava lendo uma pesquisa estes dias que falava do alto índice de suicídio entre os jovens. Seria esta uma forma da literatura também ajudar nesse tema?
    Tenho seguido outro blog que agora sempre coloca um alerta em vermelho bem acima da resenha, quando o livro vai trazer algum tema forte, como suicídio, depressão ou assuntos que não são muito fáceis a nós.
    Talvez fosse uma dica!
    Ainda não conhecia este livro,mas já quero muito conhecer. Apesar de saber que vou sofrer..
    Beijo

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  2. Oi, Bela.

    A autora emite uma história bem construída, abordando com amplitude, temáticas importantes e conflituosas não só presentes na vida de adolescentes.

    Tudo isso dá uma boa somatória e história, capaz de manter o leitor ávido até o final do livro, pelo mesmo não ser esclarecedor, inicialmente, em relação ao desdobramento da vida da personagem.

    São temas que me interessam bastante, e eu com certeza quero muito lê-lo.

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  3. Oi Bela,
    Quero muito conhecer a escrita dessa autora, recentemente li uma resenha do lançamento O Fim do Mundo é Aqui e gostei muito da forma como a autora tratou os assuntos.
    Faz tempo que quero ler esse livro e conhecer a história da Liz, esse tipo de história sempre chama a minha atenção por abordar temas fortes e que infelizmente estão bem conhecidos atualmente, como o suicídio, bulling, drogas e tantos outros temas que a autora abordou durante a condução da narrativa.
    Pelo jeito a Liz é bem difícil de simpatizar, fiquei intrigada pra saber o que levou essa garota a agir dessa forma.
    Beijos

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  4. Oi, Bela
    Eu li esse livro em um dia porque eu fiquei tão chocada com a problemática. É um livro que mexe completamente com a gente, nos deixa a mercê e nos faz amar e odiar Liz no mesmo momento. Eu chorei muito por causa dela, mas também sofri o que as outras pessoas sentiam ao ver ela naquela situação. É um livro que todo mundo deveria ler, eu amei!
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com/

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  5. Bela!
    Gosto também de livros que abordam muito o aspecto psicológico das personagens e é um atrativo para leitura, embora tenha lido outras resenhas que diziam que as personagens quase não se comunicavam direito e tornava o livro sem sentido.
    Não sei, o que sei é que quero ler.
    Que o domingo seja abençoado!
    “Nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada, ou se quero descansar para desistir. “ (Clarice Lispector)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA JUNHO - 5 GANHADORES
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  6. Muito bom a autora abordar o suicídio, que sesta muito em alta e esses conflitos que a personagem passa é comum na realidade. Gostei por ter mistério que adoro e parece que deixa o leitor refletindo e se questionando sobre as atitudes da personagem, é muito bom que ela assume sua culpa e quer parar, pena que seja tentando o suicídio e não de outra forma.

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  7. Olá Bela!
    Não conhecia o livro ainda, pelos temas abordados parece m enredo bem forte, espero ler um dia, vou add aos desejados e torcer pra que surja uma oportunidade em breve, eu adorei conhecer.
    Bjs!

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  8. Olá! Gosto de histórias que aborda temas sérios, como aborto, bulimia, e suicídio, essa é a primeira resenha que leio desse livro, fiquei bastante curiosa em conferi isso tudo que foi dito aqui.

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  9. Puxa... quando li a sinopse pensei em uma coisa e quando li a resenha pensei em tantas outras coisas, como por exemplo o peso da leitura. É um tema meio pesado, analisando o suicidio e o bullying na vida de Liz. Fiquei muito curiosa por mais detalhes, espero ler o livro um diz. Ver o que levou Liz tomar tal decisão na aula de física e ver no que deu no fim da história.

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  10. Oi Bela,
    Ah, não imaginava que fosse uma história tão complexa, achei que seria mais no estilo adolescente e me surpreendi. Concordo com tudo o que disse, todos temos culpa e inocência, e a protagonista mostra bem isso, mas nesse caso a culpa foi bem maior já que ela tomou essa decisão, fico pensando em quais motivos a levaram a isso, e não é o que pensamos sempre que algo do tipo acontece na vida real?
    Também achei a capa muito linda!
    Bj

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  11. Ola, Bela
    Não conheço os livros da autora, é a primeira resenha que leio sobre esse livro.
    Adorei espero ler esse livro, porque ela aborda temas muito complexos que nos fazem refletir.
    A capa é maravilhosa.
    Beijos

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  12. Eu achei esse livro Deveras impactante acabei ficando com uma ressaca literária horrível Depois que terminei ele mas gostei da abordagem de temas complexos de forma tão simples nesse livro

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  13. Ouvi muitos comentários positivos acerca dessa autora, mas ainda não li nenhum livro dela. O que eu acho mais interessante neste, em específico, além do tema atual e relevante que é discutido ao longo do enredo, é a inversão da perspectiva que a autora faz: temos a visão do outro lado, daquele que pratica as más ações, e podemos perceber o quanto isso o afeta também, de alguma forma. Isso é uma inovação e tanto, no meu ponto de vista, não lembro de já ter lido outro livro que fale dessa versão da história, e acredito que isso é o maior ponto positivo do livro.

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  14. Realmente a sinopse não diz quase nada sobre o livro, eu ja tinha visto ele algumas vezes mas não tinha me chamado tanto atenção, ja com os detalhes da resenha acabei gostando e da mais vontade de ler.

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