O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

Sinopse: O retrato de Dorian Gray é o único romance escrito por Oscar Wilde. Tem como ponto de partida a relação entre o jovem Dorian e seu retrato, feito pelo pintor Basil. Certo dia, Dorian expressa a vontade de não envelhecer, como seu duplo no quadro. A partir de então, quem envelhece é o retrato, o que não torna mais simples a vida do jovem, que passa a desenvolver relações violentas tanto com as pessoas que o cercam quanto com o próprio retrato. Publicado na vigência do moralismo vitoriano, o livro e seu autor foram acusados de influenciar negativamente a juventude inglesa e de propor uma vida mundana e desregrada. Baseando-se em certas coincidências entre a vida do autor e do personagem, o romance foi também utilizado como argumento na acusação que levou à prisão de Wilde. (Skoob)
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Hedra, 2009. 320 p.


Minha primeira impressão do livro era que se tratava de uma autobiografia. Eu culpo a capa, ela dá essa impressão. Eu sou uma pessoa que pega um livro para ler e depois se esquece porque pegou, então eu começo a leitura sem saber do que se trata previamente. E O retrato de Dorian Gray surpreendentemente é uma história de ficção, não de não-ficção como eu imaginei.

O centro da história está em três personagens, acredito eu: Basil, Lord Henry e Dorian Gray.

"(...) tu, Henry, com o teu título e a tua fortuna; eu, com minha cabeça tal qual é, com a minha arte imperfeita quanto possa ser; Dorian Gray, com sua beleza - nós todos sofremos pelo que os deuses nos deram, havemos de sofrer terrivelmente..."

Basil é um pintor que, maravilhado pela beleza de um jovem adolescente que encontra, extasiado por sua personalidade, decide fazer dele seu modelo. E acaba criando o melhor retrato da sua carreira, que mostra muito mais de Basil do que de Dorian, na opinião dele, mostra seu amor e sua paixão pelo mesmo, por sua beleza e sua alma.

No meio disso, quando Lord Henry vê o retrato, quer conhecer aquele jovem que inebriou seu amigo, que inebria seus sentidos por sua beleza encantadora, mas Basil recusa-se a "compartilhá-lo", porque para ele, Dorian Gray, é tudo, é aquele que fez da sua arte sublime.

E então há Dorian Gray, que chega bem no momento que Basil compartilha suas opiniões com Lord Henry e então ouve as opiniões de Lord Henry, do Senhor dos Paradoxos e das Más Influências, vê seu quadro e... o que ele é sem sua beleza?

Dorian Gray roga, pragueja, que seu retrato envelheça no lugar dele, que tenha todas as suas rugas e pecados e o impossível faz-se possível e Dorian Gray não envelhece mais. Ao contrário do seu retrato.

"(...) o seu retrato pintado por Basil Hallward lhe seria um guia através da vida: seria para ele o que para alguns é a santidade, o mesmo que a consciência é para outros e o temor de Deus para todos."

O mais difícil do romance é, sem dúvida, a escrita. É um livro antigo, então esse é o problema principal. Eu sempre tenho um problema com esse fato, eu tenho que ler, traduzir, adaptar e então entender o que foi dito, porque há tanto floreio que eu duvido que alguém falava realmente assim antigamente. Eu demorei bem mais do que o normal para um livro desse tamanho.

Há também o fato de que é um pouco machista, não sei porque eu esperava algo diferente numa época machista. Lord Henry é um deles, afirmando que as mulheres foram emancipadas, mas gostam de serem escravas e dominadas... É um pouco irritante e eu só estava revirando os olhos ao ler isso.

Surpreendentemente (isso sempre me surpreende ao ler livros antigos), a história é bem atual. Se você adaptar as palavras para o que está acostumada e tirar tudo aquilo que não faz parte da sua vida, é fácil perceber que humanos são humanos e sempre serão, independente de quão seja a época que foi escrita e onde a história foi ambientada. Foi fácil ler sobre Dorian Gray, Lord Henry e Basil Hallward e adequá-los a atualidade, ao meu contexto.

"Mas o retrato?... Que dizer daquilo? Ele possuía o segredo de sua vida, revelava-lhe a história; havia lhe ensinado a amar sua própria beleza. Ensinar-lhe-ia a odiar sua própria alma? Deveria contemplá-lo ainda?"

O retrato de Dorian Gray é sobre três homens. Um que apaixona-se (não sei dizer se romanticamente ou apenas pela arte, mas acredito que seja a arte, porque machismo, por associação... embora Oscar Wilde tenha sido preso por ser gay) e acredita que seu amor é o centro de tudo, que não ver passado ou futuro além dele; outro personagem é a má influencia em pessoa, mas também não vamos dizer que é o culpado e tirar a culpa de Dorian Gray, porque Lord Henry tenha sua parcela de contribuição; e então há Dorian Gray, que vê a beleza como centro do seu mundo, que a contempla, que se contempla, como Narciso se contemplou, que acaba afundando-se em si mesmo e em um monte de erros, porque ainda parece jovem e bonito e sem mácula, pois é seu retrato que absorve seus erros e é em nosso rosto que está nossa culpa, e como não vê isso, nada disso, em si, Dorian Gray não aprende, apenas erra.
Yuki Kurohime
Yuki Kurohime

14 comentários:

  1. Este com certeza é um dos livros mais "pesados" da literatura mundial. Acabei lendo ele há tanto tempo que senti vontade reler ao viajar na sua resenha. Mas com certeza, é um livro que precisa de tempo, de paciência para ser lido.
    Não tem uma linguagem fácil e até o enredo fica ainda mais difícil em algumas partes.
    Não, não é ruim de forma alguma, pelo contrário, é maravilhoso. Só tem que ser lido com a mente e coração bem abertos!
    O filme também é bem denso e belo!Vale muito a pena!
    Beijo

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  2. Olá! Já vi muito falarem desse livro, essa sua resenha me deixou bem curiosa em conferi essa história, mas talvez essa escrita antiga muito floreada, seja um problema pra mim também.
    Bjs

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  3. Oi Bela!
    Confesso que não curto biografias, mas este livro eu gostaria mto de ler, ouvi flar super bem e espero ter oportunidade de conhecer um dia.
    Bjs!

    https://aguardiadasresenhas.blogspot.com/

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  4. Gostei muito da sua resenha, mas tenho certeza que vou passar longe desse livro.
    Teria dificuldade com a narrativa e para absorver e entender a história, além de me incomodar com esse machismo.

    Beijos

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  5. Oi Bela!
    "Eu sou uma pessoa que pega um livro para ler e depois se esquece porque pegou" eu na vida sempre! Já tinha ouvido falar desse livro, mas não é um tipo de leitura que me interessa, em geral, leio calhamaços de fantasia mais rápido do que livros de 200 paginas com esse estilo de literatura. O machismo é quase sempre predominante nesses livros né? Me irrita muito! E a escrita rebuscada também me dá pavor, fico imaginando como seria viver naquela época, principalmente sendo escritor. Beijos
    Entre Discos, Livros e Viagens

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  6. Olá Bela,
    A edição que eu tenho leva uma capa bem mais condizente com o livro, de fato esse parece uma autobiografia.
    A linguagem é sim o mais difícil, na primeira vez que li, precisei da internet para entender algumas coisas, e claro, isso acaba se tornando um tanto maçante, mas o enredo, aaah, esse é divino, eu adorei. Ele tem um certo peso de consciência, que alguns personagens demonstram ter, e outros não, achei legal ter trabalhado isso, e para mim, Dorian foi um personagem completamente egoísta, ele teve uma mudança radical!
    O machismo é sim presente, e não, não acho isso legal, mas condiz muito com a época, assim como as relações homossexuais.
    Enfim, indico o livro e a adaptação, também é muito boa!
    Beijos

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  7. Imagino o quanto foi meio difícil ler por causa da escrita antiga e pelo machismo incluso no contexto social. Mas a premissa é interessante se formos analisarmos de um ponto de vista atual como vc escreveu. Uma ficcão bastante diferente, fiquei curiosa sobre os três homens, espero que um dia eu possa ler.

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  8. Oi, Bela
    Esse livro tem uma linguagem difícil, mas com paciência e um dicionário penso que a leitura do mesmo vale a pena.
    Por tratar de uma sociedade lideradas por homens machistas que condiz com a época, quero ler esse livro parece uma ficção bem interessante.
    Beijos

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  9. Bela!
    Acredito que suas colocações são críveis. A tradução do início do século passado tornou as primeiras edições um tanto enfadonha, porém a meu ver, não tira o real desejo do Wide em mostrar à sociedade da época, o que acontecia de forma um tanto 'abafada' por trás das portas das ditas famílias inglesas. Acredito que seu intuito era mostrar como tudo era enrustido e com certeza ele escandalizou a 'perfeita' sociedade londrina.
    Não sei se chegou a assistir alguma versão do filme, tive oportunidade de assistir o original e uma versão mais recente, mais contemporânea e com uma adaptação mais voltada para a liberação que veio no final do século XX, ambas muito boa. Se tiver oportunidade, assista.
    Clássico é clássico e quem somos nós para julgá-los, concorda?
    Desejo uma ótima semana!
    “.A vida merece algo além do aumento da sua velocidade.” (Mahatma Gandhi)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA AGOSTO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  10. Clássicos geralmente trazem um tema bem atual, mesmo que escritos em diferentes épocas que a atual. Acho que a escrita não seria problema pra mim, gosto de alguns livros com escritas antigas, mas ainda não tive a oportunidade de ler esse. É a segunda resenha no dia que leio sobre esse livro, espero muito em breve consegui-lo para leitura!

    Beijos
    https://monautrecote.blogspot.com/

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  11. Tenho vontade de ler esse livro devido ser muito comentado, iria ter problemas com a escrita essa é minha dificuldade com clássicos, muitas palavras não dá para entender, mas mesmo assim fiquei curiosa em saber mais sobre os personagens e esse retrato curioso que envelhece. Que polêmica que causou esse livro e que personagem inusitado. O machismo infelizmente aparece e sempre irrita.

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  12. Eu ganhei esse livro de presente esses dias, mas podia jurar também que era uma autobiografia haha
    Mas gostei de ver sua resenha, assim acho que vai me interessar mais apesar do machismo que vai me irritar durante a leitura.
    Mas vou dar uma chance.

    beijinhos
    She is a Bookaholic

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  13. Esse livro é um clássico, com uma història maravilhosa. Por ter uma escrita difícil, preferi assisti ao filme, o que gostei muito e recomendo.

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  14. A princípio eu também achava que esse livro se trataria de uma autobiografia mas mesmo assim tentei me aventurar na leitura e acabei me decepcionando eu acho que as pessoas superestimam esse livro pelo fato dele Ser Um clássico mas eu não consegui me cativar na leitura e Em certas horas com detalhes do autor eu sinceramente tinha muita vontade de dormir

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