Sinopse: Ganhador do Prêmio de Ficção do Friends of American Writers e agora adaptado para o cinema, Entre irmãs é uma história de amor e lealdade, um romance arrebatador sobre a saga de uma família e de um país em transição.Nos anos 1920, as órfãs Emília e Luzia são as melhores costureiras de Taquaritinga do Norte, uma pequena cidade de Pernambuco. Fora isso, não podiam ser mais diferentes.
Morena e bonita, Emília é uma sonhadora que quer escapar da vida no interior e ter um casamento honrado. Já Luzia, depois de um acidente na infância que a deixou com o braço deformado, passou a ser tratada pelos vizinhos como uma mulher que não serve para se casar e, portanto, inútil.
Um dia, chega a Taquaritinga um bando de cangaceiros liderados por Carcará, um homem brutal que, como a ave da caatinga, arranca os olhos de suas presas. Impressionado com a franqueza e a inteligência de Luzia, ele a leva para ser a costureira de seu bando.
Após perder a irmã, a pessoa mais importante de sua vida, Emília se casa e vai para o Recife. Ali, em meio à revolução que leva Getúlio Vargas ao poder, ela descobre que Luzia ainda está viva e é agora uma das líderes do bando de Carcará.
Sem saber em que Luzia se transformou após tantos anos vagando por aquela terra escaldante e tão impiedosa quanto os cangaceiros, Emília precisa aprender algo que nunca lhe foi ensinado nas aulas de costura: como alinhavar o fio capaz de uni-las novamente.
PEEBLES, Frances de Pontes. Entre Irmãs. São Paulo: Editora Arqueiro, 2017. 576 p.
Quando eu terminei de assistir Entre Irmãs — no formato de minissérie que passou na Globo —, fiquei tão mexida com a história das irmãs Luzia e Emília que não consegui parar de pensar na adaptação por muito tempo. Foi só um tempo depois que me toquei que o filme/minissérie foi baseado em um livro, publicado originalmente como A Costureira e o Cangaceiro, e que a Editora Arqueiro havia relançado essa obra tão maravilhosa. Hoje, dias após ter finalizado a leitura, ainda penso nas melhores costureiras de Taquaritinga do Norte com um aperto no peito.
Emília e Luzia são duas jovens do interior de Pernambuco que foram criadas pela tia Sofia após a morte precoce dos seus pais. As irmãs não podiam ser mais diferentes: além das características físicas totalmente opostas, enquanto o sonho de Emília é se casar um cavalheiro e se tornar uma dama da sociedade para ir embora de uma vez do lugar onde vive, Luzia já aceitou o seu destino desesperançoso. Após um acidente ainda criança, a jovem ficou com o braço deformado e, obviamente, para os padrões daquela época — a história se passa nas décadas de 20 e 30 —, não despertava o interesse de nenhum rapaz.
Porém, a vida das irmãs toma um rumo totalmente diferente quando um bando de cangaceiros invadem Taquaritinga do Norte. Antônio, o Carcará e líder do grupo, se encanta com a personalidade de Luzia e resolve levá-la consigo. Não gosto muito de dizer que ela foi obrigada a acompanhar os cangaceiros, porque a todo momento Peebles deixa claro através dos pensamentos da personagem que ela foi por livre e espontânea vontade — até hoje não decidi se foi por medo de um dia ficar sozinha ou se foi porque ela também se encantou pelo Carcará.
Algum tempo depois da partida da irmã, tia Sofia acaba morrendo de desgosto. Sozinha e sem perspectiva nenhuma, Emília é "salva" por Degas Coelho, um estudante de Direito que mora em Recife e é da uma família extremamente respeitada na Capital. Assim, apesar de as coisas não acontecerem exatamente como ela imaginava, Emília se casa com Degas e, num piscar de olhos, se torna a sra. Coelho. Com uma narrativa em terceira pessoa que intercala os pontos de vista entre as duas protagonistas, vamos acompanhando os percalços de Emília para se integrar à sociedade ao mesmo tempo em que Luzia vai se tornando a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.
Frances de Pontes Peebles conseguiu, com maestria, intercalar o real com o ficcional. Isso porque, apesar de todos os personagens terem sido criados pela autora, ela inseriu fatos históricos que realmente aconteceram, como a Revolução de 1930 (movimento que chega ao poder encabeçado pelo político gaúcho Getúlio Vargas), o direito do voto feminino até mesmo a atividade da frenologia, uma teoria que dizia que era possível determinar o caráter e o grau de criminalidade das pessoas pela forma da cabeça. O mais legal de tudo é que em nenhum momento essas informações se tornaram cansativas, tudo era parte essencial da história de Luzia e Emília.
E por falar nas protagonistas, é impossível falar delas sem citar da força que ambas carregam consigo. Luzia, de longe minha personagem preferida, enfrenta não só o machismo dos cangaceiros — em certo ponto, acaba conquistando o respeito de todos —, mas também a caatinga, que era tão impiedosa quanto os homens. Emília, apesar de não passar fome ou sede, acaba se vendo mais sozinha que nunca, pois o casamento não é nem um pouco o que ela esperava. Além disso, tem que enfrentar, a todo momento, uma sociedade hipócrita e cheia de segredos.
Preciso confessar que, no começo, achei muito estranho o fato de a editora ter alterado o nome da obra, principalmente por minhas partes preferidas serem as relacionadas à Costureira e o Carcará, mas o título Entre Irmãs é realmente muito mais pertinente. Apesar de estarem separadas, vivendo vidas totalmente opostas, Emília e Luzia nunca deixavam de pensar uma na outra. Era uma sensação diferente e emocionante vê-las acompanhando a vida de cada uma apenas através dos jornais. O amor, a preocupação, o sentimento de cumplicidade e confiança nunca deixaram de existir, e é justamente por isso que, ao meu ver, o livro juntava a vida das duas.
No Brasil, o cangaço é considerado como um fenômeno de banditismo, por causa dos crimes e da violência extrema cometidas pelos bandos. Mas, pelos olhos de Luzia, eu só conseguia enxergar seres humanos tão frágeis quanto quaisquer outros, que sentiam fome, frio, dor e tristeza. Na maioria das vezes, eles só queriam justiça, e eu conseguia entendê-los. Apesar da matança e da crueldade, eu não conseguia ficar contra o bando de Carcará. Para ser sincera, eu sentia ódio dos políticos por caçarem o bando, ódio das pessoas que julgavam, ódio de quem queria medir a cabeça do Carcará, de Luzia e do resto dos seus seguidores para comprovar o mau-caratismo deles.
Apesar das quase 600 páginas, a leitura flui muito naturalmente. A escrita de Peebles é tão ágil que, quando a gente percebe, 100 páginas já se foram numa velocidade incrível. A história em si não foi nenhuma surpresa para mim — aliás, a adaptação de Breno Silveira segue quase fielmente a saga criada por Frances, o que eu amei —, mas ainda assim me surpreendi. A partir dos detalhes, Frances de Pontes Peebles apresenta uma trama tão bem alinhavada quanto as costuras de Emília e Luzia.
Ana!
ResponderExcluirAcho importante o passado nordestino e toda história do povo sofrido, ser retratada tão fielmente nesse livro, ainda mais em época tão conturbada como a revolução.
Como nordestina sinto o maior orgulho!
E acredito que além do drama e romance o mais importante são as convenções que a época impunha e o momento político como pano de fundo.
Deve ser um livro maravilhoso e quero assistir o filme também. Não assisti a série da Globo...
Desejo uma semana plena de luz e paz!
“O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.” (Blaise Pascal)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA JULHO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Quero ler e assistir a minissérie, não conhecia esse lado do cangaço e achei interessante o livro, pois da para saber mais sobre a vida que eles levam, gostei que vai contando a vida das irmãs e que mesmo separadas uma se preocupa com a outro, fiquei imaginado como seria o reencontro delas.
ResponderExcluirEste livro está na minha lista de desejados faz um bom tempo, mas em contrapartida, acabei vendo o filme recentemente! Aliás, um senhor filme, em todos os sentidos, tamanho e grandeza da obra!
ResponderExcluirRetratar um pouco da história do Nordeste foi lindo de se ver e a vida das duas irmãs, com seus dramas,medos, vontades e histórias, me deixaram com aquele sorriso bobo ao terminar de assistir.
Claro que o livro deve ser bem mais completo, por isso ainda pretendo ler com certeza.
Beijo
Olá Ana Clara,
ResponderExcluirEstá ai um livro que eu quero muito ler, li vários comentários positivos em relação a ele e a sua resenha não foi diferente, está na minha lista....ótima resenha...bjs.
http://devoradordeletras.blogspot.com/
Olá Ana!
ResponderExcluirAdorei a resenha, eu conheço a história por conta da mini série que passou, fiquei emocionada com as irmãs e espero poder ler o livro para ter mais detalhes...
Bjs!
Oi Ana!
ResponderExcluirEu não consegui assistir a mini série, mais ainda quero, só vi elogios sobre essa adaptação. Quanto ao livro, dá para perceber o quanto ele traz de características brasileiras, esse foi um dos pontos que mais me chamam atenção, e claro, conhecer a história dessas duas irmãs que carregam consigo tantos sentimentos e força. Sem dúvidas é um livro muito bem escrito, e quero ler.
Beijos
Olá! Também assisti a minissérie que passou na Globo, gostei muito, só depois fiquei sabendo que foi adaptação de um livro, agora essa sua resenha me deixou ainda mais curiosa em conferi essa história nas páginas do livro.
ResponderExcluirBjs
Não assisti a minissérie pois não é um tema que me prende, porém fiquei interessada no livro e em saber mais sobre Luzia. Gosto bastante do Nordeste e acho super importante essa representação.
ResponderExcluirCreio que se ler o livro irei querer assistir em seguida.
beijinhos
She is a Bookaholic
Olá, Ana
ResponderExcluirNão tive a oportunidade de assistir a minissérie porque faz mais de uma no que não vejo tv, alías só ligo ela para a netflix.
Quero muito ler esse livro amo história e nele a autora colocou os fatos que aconteceu mesmo. Concordo com a mudança do nome do livro Entre Irmãs é mais apropriado para o enredo.
Beijos
Moro na região nordeste e amo obras que puxam um pouco da história dessa terra que tem tanto para contar. Eu não lembro da minissérie e, na verdade já havia visto esse livro algumas vezes, mas não sabia que guardava algo assim. Parece uma bela leitura, longa, detalhada e que nos faz refletir.
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